As eleições
municipais estão se aproximando e nosso contexto atual não está muito propício
ao otimismo. A crise de liderança política atinge a todas as nações e a nossa
tem sofrido muito. Diante disso qual deve ser nosso papel como cristãos?
Isolar-nos e rejeitar todo e qualquer envolvimento político? Ou será que
devemos criar um partido ou nos associar a candidatos do meio evangélico para
defender os interesses da igreja?
Por perceber a necessidade de responder essas perguntas, resolvi escrever esse artigo.
Muitos cristãos tem
se aventurado na política sob pretexto de salvar a igreja dos ataques do mundo.
Alguns se envolvem em partidos cujos ideais são opostos ao aos ideais cristãos
e ainda acham que vão transformar o mundo. Mas infelizmente não é isso que
muitos dos candidatos que usam o evangelho como plataforma de governo tem em
mente. Há uma busca de interesses denominacionais, partidários e até mesmo
particulares.
Existem candidatos
que entram na política para defender sua denominação. Eles se ajuntam e formam
um colégio eleitoral onde se comprometem a eleger o candidato tal, que é da
denominação tal, para defender os direitos dela.
Outros são lançados
na política com interesses puramente eleitoreiros. São partidos que enxergam o
público evangélico como uma grande fatia do mercado e investem nos candidatos
evangélicos apenas para eleger seus partidos.
E há aqueles cujo
objetivo maior é apenas a satisfação de seus interesses pessoais. Quanto a
estes não tenho muito o que dizer. Seus objetivos falam por si só.
Eu reconheço que há
muito que mudar no quadro político do país. E que a idéia de candidatos com
princípios cristãos seja muito tentadora do ponto de vista ético para consertar
esta situação. Mas será que só o fato de ser cristão habilita alguém a um cargo
publico?
Somos criaturas políticas
A política é um dom
de Deus. É por causa da imagem de Deus no homem que este é um ser político.
Numa conceituação
moderna, política é a ciência moral normativa do governo da sociedade civil[1].
Neste sentido, política está relacionada ao mandato social. Já no ato da
criação o Senhor deu ao homem tarefas políticas: crescer, multiplicar, cultivar
o jardim... todas essas ordens são políticas.
Por isso o problema
não é com a política, mas com o homem. Por causa da queda, a corrupção do
pecado afetou toda capacidade humana de desenvolver de forma correta o
potencial que Deus lhe deu na criação. A política não é corrupta, os homens
políticos (falo de todos os homens em geral e não apenas candidatos) é que são.
Por isso o papel do cristianismo na política é de grande importância.
O cristianismo não é
uma religião meramente restrita aos atos de adoração litúrgica nos templos cristãos.
O cristianismo é uma religião de princípios que afetam a maneira de enxergar a
vida em todas as suas áreas. Paulo diz que a Escritura, que é a única regra de
fé e prática, é capaz de tornar o homem “perfeito para toda boa obra” (2 Tm
3.16,17). Isso inclui a política.
Quer dizer que todos
os cristãos devem se tornar candidatos ao um cargo público? Não! Isso é apenas
para mostrar que nós não podemos nos alienar da política e viver como se não
tivesse nada a ver conosco.
O papel da Igreja é
ser instrumento de Deus na obra de salvação que faz do homem uma nova criatura
capaz de exercer os dons que Ele deu em todas as áreas da existência humana,
inclusive na política. O papel da Igreja é pregar o evangelho que transforma
vidas. É manter um comportamento ético que faça diferença além dos muros do
templo.
E se algum cristão
tem o dom e o chamado para política pública, este deve assumir sua
responsabilidade e exercer seu mandato guiado por uma cosmovisão bíblica. E a
igreja deve orar por ele encomendando-o à graça de Deus. Isso significa que
devemos formar um partido cristão, ou manifestar apoio público a algum
candidato cristão?
Política para todos
Muitos cristãos tem
se candidatado a cargos públicos. Muitas igrejas têm buscado votar em
candidatos de suas denominações. E isso não é pecaminoso se a motivação for um
governo justo para todas as pessoas e não apenas para defender interesses
pessoais e ou de um grupo em detrimento da maioria.
Na Teologia Bíblica
existe um aspecto da doutrina da Graça chamado de Graça Comum. Esta é aquela
ação proveniente da graça de Deus pelo qual ele cuida e sustenta todos os
homens em geral, e age no mundo de tal maneira a restringir os males de suas
ações, e por meio delas, proclamar Sua Glória.
A graça comum inclui
a capacidade dos homens de produzir arte, tecnologia, avanços científicos,
zelar pela ética e pela moral, ainda que sejam corruptos e não tenham qualquer
temor de Deus em seu coração. Deus é quem faz isso para que sua glória seja
proclamada e o mundo viva em razoável tranqüilidade.
Dentro da graça
comum está a capacidade política do ser humano. Uma pessoa pode não ser cristã
e ainda assim realizar um governo excelente em prol de todos e não apenas de
alguns, como deve ser a política bem feita.
Cristãos que foram
devidamente vocacionados por Deus para a política, que exerçam uma liderança
eficaz para todas as pessoas, que demonstrem capacidade para assumir o que o
cargo público exige, devem ser o alvo de nossas orações e votos.
Não apenas pelo fato
de ser crente, mas de ser habilitado para isso. Cristãos que se candidatam
apenas para defender igreja devem ser rejeitados. Por sua graça, Deus cuida do
bem comum de todos e não apenas de alguns. Não devemos ser partidaristas, mas
correspondendo ao mandamento de amar ao próximo devemos selecionar aqueles que
de fato estão interessados no bem estar comum, sejam crentes ou não.
Lembremos que Deus é
glorificado em tudo, quer na vida correta do justo, sobre os quais resplandece
sua graça e misericórdia, quer na impiedade dos ímpios, sobre os quais pesa sua
ira e justa condenação.
Assim não é
obrigatório votar em cristãos, mas é imprescindível votarmos naqueles que foram
dotados por Deus de habilidades governamentais e de liderança, quer sejam
crentes ou não. Isso demanda atenção, oração e cuidado na hora da escolha.
Concluindo, nós cristãos
temos um papel singular na política pública. Temos a responsabilidade de pregar
o evangelho que habilita o homem para toda boa obra; a responsabilidade de incentivar
àqueles que foram dotados por Deus para o exercício da política pública; a
responsabilidade de votar consciente e em busca do bem comum; e a responsabilidade
de orar por aqueles que se acham investido de autoridade.
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