terça-feira, 14 de março de 2017

MANÁ DIÁRIO (GENESIS 39.1-40.23) - MISSº VERONILTON PAZ

MANÁ DIÁRIO – GÊNESIS 39.1-40.23
                                                                                
JOSÉ, O FILHO USADO POR DEUS EM MEIO ÁS ADVERSIDADES, LONGE DA CASA DO SEU PAI
O poeta Gonçalves Dias compôs um poema intitulado Canção do Exílio, vejamos a primeira e a ultima estrofes: “Minha terra tem palmeiras/Onde canta o Sabiá/As aves, que aqui gorjeiam/Não gorjeiam como lá”.  “Não permita Deus que eu morra/Sem que eu volte para lá/Sem que disfrute os primores/Que não encontro por cá/Sem qu'inda aviste as palmeiras/Onde canta o Sabiá”. Semelhante ao exilado da canção, também José agora longe da casa do seu Pai chega ao Egito como Escravo de Potifar, aquele rapaz foi uma benção ali no Egito, aquele rapaz mesmo vivendo dias tenebrosos, de filho mais intimo do seu pai (Gn 37.3), passa a ser escravo de um estranho (Gn 39.1), mas um detalhe que reverbera é que tanto lá na casa do pai como aqui Deus estava como ele, Deus era com aquele jovem, vamos extrair algumas lições baseados no tema acima descrito.
                        
Primeira, O Senhor abençoa um lugar não por causa do seu servo, mas por amor ao seu servo. José foi um servo e a palavra grega da septuaginta usada para este tipo de pessoa é “leitogós” e significa o “servo abençoador”, tudo que ele coloca a mão, dá certo. Foi exatamente o que aconteceu com José, Deus abençoava até ímpios por amor dele, conforme está escrito: ”1 José foi levado ao Egito, e Potifar, oficial de Faraó, comandante da guarda, egípcio, comprou-o dos ismaelitas que o tinham levado para lá. 2 O SENHOR era com José, que veio a ser homem próspero; e estava na casa de seu senhor egípcio. 3 Vendo Potifar que o SENHOR era com ele e que tudo o que ele fazia o SENHOR prosperava em suas mãos, 4 logrou José mercê perante ele, a quem servia; e ele o pôs por mordomo de sua casa e lhe passou às mãos tudo o que tinha. 5 E, desde que o fizera mordomo de sua casa e sobre tudo o que tinha, o SENHOR abençoou a casa do egípcio por amor de José; a bênção do SENHOR estava sobre tudo o que tinha, tanto em casa como no campo. Potifar tudo o que tinha confiou às mãos de José, de maneira que, tendo-o por mordomo, de nada sabia, além do pão com que se alimentava. José era formoso de porte e de aparência” (Gn 39.1-6). Como eu e voce temos nos comportado tem levado a benção de Deus aos que estão perto de nós, veja como Deus se preocupa com as demais áreas da vida, pois ele deu subsistência para casa do ímpio Potifar, por intermédio do seu servo José, de tal forma que José tornou-se uma espécie de chefe naquele lugar, Calvino, o reformador francês dizia que os crentes deveriam ser os melhores em tudo que fizessem, pois Deus quer abençoar o mundo por meio das nossas vidas, sejamos como José foi, um servo abençoador, que possamos ser um canal de benção para as pessoas, lembrando que Deus não fez nada por causa de José, mas por amor de José (v.5), assim não sejamos orgulhosos, achando que Deus faz algo por nossa causa, Ele faz por que nos ama, Ele não precisa de nenhum de nós, mas por amor nos usa para abençoar o mundo. Porém, advirto que muitas vezes para agirmos e sermos bênçãos passamos por revezes, isto aconteceu com José e veremos um pouco abaixo.

Segunda, O Senhor abençoa o seu servo, mesmo quando ele está sofrendo injustiças, o Senhor será com Ele. Nesta parte vem ma parte aconteceu uma parte muito amarga da estada de José pelo Egito, começando com mulher de Potifar querendo ter relações com ele, o rapaz não quis, agora a visão dele sobre pecado é que é fenomenal: “[...] cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” (v.9), para José, antes se ele possuísse aquela mulher que pertencia a Potifar, antes de pecar contra o homem, pecaria contra Deus, pois o pecado, antes de ofender aos homens, é uma ofensa a santidade de Deus. A mulher não se intimidou e tentou seduzi-lo de todas as formas, chegando ao cumulo de agarrá-lo e puxar suas vestes, o moço fugiu e ela ficou com suas vestes, as quais arrancou dele, mentiu para o seu marido e aquele servo abençoador foi parar na prisão, de maneira injusta, (v. 7-20), ou seja crente lutas, injustiças, é vitima de enganações, trambicagens, este evangelho que mostra o crente isento de sofrimentos não é o que Cristo e os apóstolos ensinaram, José, servo que por ser fiel ao seu Deus e não querer negociata para possui a mulher do outro, foi parar na prisão, mas uma coisa é certa, Deus estava como ele. José, aquele servo abençoador da casa de Potifar, não foi para prisão por mão do seu senhor terreno, mas pela boa mão da providencia de Deus, quando você for tirado de um lugar para outro, mesmo que seu ministério tenha sido profícuo, nunca fique no passado, viva o presente, foi isso que José fez, antes estava como mordomo e foi benção, agora estava como presidiário pelo crime de fidelidade a Deus, o que ele fez? Foi benção de tal forma que o carcereiro entregou as chaves da prisão e Ele, isto pode ser visto nas palavras da narração: “21 O SENHOR, porém, era com José, e lhe foi benigno, e lhe deu mercê perante o carcereiro; 22 o qual confiou às mãos de José todos os presos que estavam no cárcere; e ele fazia tudo quanto se devia fazer ali.23 E nenhum cuidado tinha o carcereiro de todas as coisas que estavam nas mãos de José, porquanto o SENHOR era com ele, e tudo o que ele fazia o SENHOR prosperava” (v.21-23), aquele jovem foi para prisão como se fosse culpado de estupro, mas Deus pela sua providencia amorosa e perfeita o fez chegar ali para que por intermédio dele, o Senhor manifestasse a sua glória na terra do Egito, texto inicia dizendo que o Senhor era com José (v.21), fez com que ele caísse na graça do carcereiro e este deu a José o cargo de líder dos outros presos (v.22), aqui nós aprendemos que aquele a quem Deus escolheu para ser líder não pode terceirizar seu ministério, pois onde ele estiver, vão surgir situações para ele administrar e seu chamado vai aparecer. Outra questão interessante é que aquele que Deus escolheu para ser líder, a obra de Deus prospera nas suas mãos, então esta história de dizer que queremos qualidade e não quantidade é conversa fiada de líder preguiçoso, pois a qualidade  gera quantidade, José foi um ramo frutífero, um líder que onde chegava liderava e fazia conforme a direção de Deus, por isso o carcereiro não tinha preocupação com a cadeia, pois José dava conta do serviço (v.23). Como nós temos agido onde o Senhor tem nos colocado? Temos sido benção? José foi, nós também devemos ser, mesmo que você não tenha um cargo de liderança formal, mas você é agente da graça de Deus para abençoar pessoas, assim faça isto. Mesmo em meio ao caos precisamos ser boca de Deus, assim agiu o menino José, exaurindo um pouco sobre isto, aprenderemos mais uma lição abaixo.

Terceira, O Senhor abençoa o servo de tal forma que, mesmo em meio às tribulações, ele é boca de Deus. 40.1-23
Continuando o cotidiano de José na prisão, chegaram ali mais dois presos que eram oficiais do rei do Egito, sobre este encontro iremos extrair alguns aprendizados: a) Um acontecimento casual, para os homens, como uma prisão, na agenda de Deus é uma oportunidade para que Ele seja exaltado por meio do seu servo: “1 Passadas estas coisas, aconteceu que o mordomo do rei do Egito e o padeiro ofenderam o seu senhor, o rei do Egito. 2 Indignou-se Faraó contra os seus dois oficiais, o copeiro-chefe e o padeiro-chefe. 3 E mandou detê-los na casa do comandante da guarda, no cárcere onde José estava preso. 4 O comandante da guarda pô-los a cargo de José, para que os servisse; e por algum tempo estiveram na prisão. 5 E ambos sonharam, cada um o seu sonho, na mesma noite; cada sonho com a sua própria significação, o copeiro e o padeiro do rei do Egito, que se achavam encarcerados. 6 Vindo José, pela manhã, viu-os, e eis que estavam turbados. 7 Então, perguntou aos oficiais de Faraó, que com ele estavam no cárcere da casa do seu senhor: Por que tendes, hoje, triste o semblante? 8 Eles responderam: Tivemos um sonho, e não há quem o possa interpretar. Disse-lhes José: Porventura, não pertencem a Deus as interpretações? Contai-me o sonho” (v.18). Aqueles homens estavam na prisão por terem ofendido seu senhor, estiveram na prisão por algum tempo (v.4), José ali obedecendo ordens do comandante da guarda estava servindo a eles, ou seja, José até na prisão foi um “leitogós” (servo abençoador), quem nasce para abençoar sempre vai fazer isto. A prisão pode ser um acontecimento humano, mas na agenda de Deus, ali era o lugar que Deus preparou para honrar o seu servo, por isso Ele enviou para lá oficiais do rei, porque Deus queria ser exaltado por meio do seu servo, este momento estava começando a surgir e ali na prisão, iniciou este movimento santo, Se você está em uma situação desagradável, saiba que aí é o lugar que Deus vai ser exaltado por seu intermédio. b) Um acontecimento cotidiano, para os homens, como um sonho, na agenda de Deus é uma oportunidade de Dele falar por intermédio do seu servo: 9 Então, o copeiro-chefe contou o seu sonho a José e lhe disse: Em meu sonho havia uma videira perante mim. 10 E, na videira, três ramos; ao brotar a vide, havia flores, e seus cachos produziam uvas maduras. 11 O copo de Faraó estava na minha mão; tomei as uvas, e as espremi no copo de Faraó, e o dei na própria mão de Faraó. 12 Então, lhe disse José: Esta é a sua interpretação: os três ramos são três dias; 13 dentro ainda de três dias, Faraó te reabilitará e te reintegrará no teu cargo, e tu lhe darás o copo na própria mão dele, segundo o costume antigo, quando lhe eras copeiro. 14 Porém lembra-te de mim, quando tudo te correr bem; e rogo-te que sejas bondoso para comigo, e faças menção de mim a Faraó, e me faças sair desta casa; 15 porque, de fato, fui roubado da terra dos hebreus; e, aqui, nada fiz, para que me pusessem nesta masmorra. 16 Vendo o padeiro-chefe que a interpretação era boa, disse a José: Eu também sonhei, e eis que três cestos de pão alvo me estavam sobre a cabeça; 17 e no cesto mais alto havia de todos os manjares de Faraó, arte de padeiro; e as aves os comiam do cesto na minha cabeça. 18 Então, lhe disse José: A interpretação é esta: os três cestos são três dias; 19 dentro ainda de três dias, Faraó te tirará fora a cabeça e te pendurará num madeiro, e as aves te comerão as carnes” (v.9-19). Aqueles dois sonharam, mas aqueles sonhos eram ,na realidade, Deus querendo demonstrar seu poder ali por meio do seu servo José, ele de fato interpretou os sonhos da forma que Deus lhe entregou a revelação, antes ele havia dito que a Deus pertenciam as interpretações (v.8), agora Deus o usa para tal façanha de dizer o que estava no oculto, porém, Ele dava a Deus toda a glória, aprendemos que quando Deus nos usar, não devemos querer nos gloriar, mas dá a Deus toda a glória, ele atribuía não a sua espiritualidade as bênçãos e interpretações de sonhos que Deus lhe dava, mas sempre ao Senhor, Deus fala por intermédio dos seus servos, mas Ele não nos dá o direito de querer a sua glória para nós, José foi usado por Deus para dizer que um ia viver e o outro morrer, mas José não estava no lugar de Deus. Nós também ao vermos Deus usar nosso ministério devemos pensar, que Ele não precisa de homens, Ele se serve de homens para realizar a sua vontade Ele usa acontecimentos cotidianos, como sonhos ou outro meio qualquer para falar e realizar a sua vontade por nosso intermédio. A Ele seja toda glória! c) Um acontecimento normal, para os homens, como uma festa de aniversario, na agenda de Deus é uma oportunidade Dele ser honrado pelas palavras do seu servo. “20 No terceiro dia, que era aniversário de nascimento de Faraó, deu este um banquete a todos os seus servos; e, no meio destes, reabilitou o copeiro-chefe e condenou o padeiro-chefe. 21 Ao copeiro-chefe reintegrou no seu cargo, no qual dava o copo na mão de Faraó; 22 mas ao padeiro-chefe enforcou, como José havia interpretado” (v.20-22). Aquilo que Deus fala se cumpre, nós precisamos ser boca de Deus, José assim era, disse que o copeiro-chefe ia voltar ao seu cardo e ele voltou (v.20-21), da mesma maneira, o padeiro-chefe foi enforcado como José falou anteriormente (v.22). O grande problema da igreja moderna é que ela tem a Palavra de Deus, mas não temos sido boca de Deus. Ele não tem sido honrado pelas palavras da nossa boca, muitas vezes vivemos uma aridez tão grande que mesmo pregando a Palavra de Deus, ela não tem sido verdade na nossa boca, vida e ministério. As palavras de José não caíram por chão porque Deus estava com ele, ele tinha intimidade com Deus, era benção na casa de Potifar, mas também na prisão, não apenas a Palavra física estava na sua boca, Deus fazia que sua Palavra fosse verdade na boca dele. Peçamos a Deus que Ele faça que sua Palavra seja verdade na nossa boca! d) Um acontecimento providencial como um livramento da morte, na agenda de Deus é uma oportunidade dele provar a gratidão ou ingratidão das pessoas. “23 O copeiro-chefe, todavia, não se lembrou de José, porém dele se esqueceu” (v.23), queridos Deus muitas vezes realiza coisas maravilhosas, Ele faz isso mesmo sabendo que não terá gratidão, mas ingratidão. Depois de tudo aquilo, mesmo José tendo dito que se lembrasse dele que estava ali preso injustamente, ele se esqueceu, muitos querem apenas pedir, esquecem de ser gratos, esquecem quem os abençoou, esquecem quem foi canal de benção para eles, a ingratidão é algo que nem sequer deveria estar na vida de quem se declara cristão, mas muitos reclamam da chuva e do  sol, do frio e do calor,  quando tem algo, dizem não ter nada, a Bíblia ordena ser gratos, conforme Paulo escreveu: 18 Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”(I Ts 5.18), aquele Copeiro-Chefe ingrato nos representa muitas vezes quando reclamamos da vida que nossos pais nos dão, quando reclamamos da comida, e muitas vezes murmuramos contra Deus. Esquecer é uma atitude de ingratidão diante da benção recebida, não esqueça as bênçãos que você recebeu, lembre que foi Deus que deu, mas lembre também das pessoas que Ele usou para te abençoar.

Concluímos lembrando que: 1. O Senhor abençoa um lugar não por causa do seu servo, mas por amor ao seu servo (Gn 39.1-6); 2. O Senhor abençoa o seu servo, mesmo quando ele está sofrendo injustiças, o Senhor será com Ele (Gn 39.7-23); 3. O Senhor abençoa o servo de tal forma que, mesmo em meio às tribulações, ele é boca de Deus (Gn 40.1-23). Como nós temos nos temos nos comportado quando Deus nos usa? Damos a Ele toda a glória, lembrando que tudo que faz não é por nossa causa, mas porque nos ama?. Como reagimos quando somos injustiçados, partimos para o desespero ou esperamos na providencia de Deus, sabendo que Deus está conosco ali? Temos sido boca de Deus ou estamos vivendo uma vida Arida. José foi chamado de ramo frutífero (Gn 49.22), que nós também tenhamos frutos de justiça, santidade e confiança em Deus. Lembre-se que Deus é soberano, tudo que acontece Ele está no controle, Ele pode nos usar para a sua glória! Quem Ele faça com que sua glória seja promovida por nosso intermédio. Em Nome de Jesus! Amém!

AUTOR: Veronilton Paz da Silva – Licenciado ao Sagrado Ministério (PRVP); Missionário Presbiteriano na Cidade de Sumé-PB (JMN/IPB); Bacharel em Teologia (IBHT); Licenciado em Letras – Língua Portuguesa (UEPB); Formação Presbiteriana de Evangelista/Missionário (CPO/IBN e CEIBEL); Pos Graduando em Estudos Teológicos (CPAJ/Mackenzie).





segunda-feira, 13 de março de 2017

O Velho Chico chegou

Monteiro (PB), 12 - No semiárido dos Estados de Pernambuco e Paraíba, região consumida pela seca há seis anos, a grande atração tem sido a água. Mais especificamente, a água que, desde a virada do ano, foi preenchendo os 217 quilômetros do Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco. Ela sai da represa da Usina de Itaparica, formada pelo Rio São Francisco, na divisa da Bahia, atravessa quatro municípios de Pernambuco - Floresta, Betânia, Custódia e Sertânia - até desembocar na cidade de Monteiro, na Paraíba.

À medida que a água avançou, primeiro na beira de povoados, depois nas cidades maiores, foi recebida com deslumbramento. Famílias inteiras vestem roupas de banho e mergulham nas represas da Transposição. Os mais audaciosos se jogam no canal, mesmo sem ter noção da profundidade. O gesto mais trivial por lá é tirar selfie com a água.

“A gente faz a foto para registrar e acreditar que não estamos imaginando: olha aí, a água do Chico chegou. Depois de séculos, mas chegou”, diz Rafael Barbosa dos Santos, 26 anos, desempregado, que junto de uma amiga, a técnica de enfermagem Raquel Simplício dos Santos, 31 anos, se autofotografava, quinta-feira passada, no final da Transposição, em Monteiro.

Lazer

No último mês, não faltaram episódios para ilustrar o surto de euforia. No município de Floresta, dois nadadores morreram afogados. Em Sertânia, os banhistas ocupam as represas, sem a menor cerimônia, desde o carnaval. “É impressionante, no domingo, vira o piscinão, a prainha de uma quantidade absurda de pessoas”, diz a comerciante Iranuedja Moreira de Aquino, 42 anos, que se espantou quando foi ver com os próprios olhos a aglomeração. Seu marido, Paulo Cesar Santana, 50 anos, tem uma justificativa para o descontrole coletivo. “Quando a gente, que vive na estiagem, vê uma represa cheia, se sente como ganhador da Mega-Sena, não qualquer Mega-Sena, a da virada.”

Há uma semana, a água ensaiou uma tragédia. O reservatório Barreiro, em Sertânia, se rompeu. A força da água foi tão violenta que abriu uma cratera na pista da rodovia quilômetros à frente. As causas estão sendo apuradas, mas quem mora no entorno conta que o reservatório encheu rápido demais. Na véspera do acidente, dava a impressão de que iria transbordar.

O auge do encantamento ocorreu na sexta-feira passada, em Monteiro, na cerimônia de inauguração do Eixo Leste. A cidade já estava mobilizada pela manhã. O casal Aldo Lídio e Luciana Ferreira levou os filhos Abraão, de 10 anos, e Sara, 4, para a borda da Transposição. “Queremos participar desse momento histórico”, disse Aldo. E foi de tirar o fôlego. Um jorro de água eclodiu da Transposição e promoveu o milagre da engenharia hidráulica: o leito estorricado do rio Paraíba, vazio há seis anos, foi inundado em minutos. Tornou-se tão caudaloso que ninguém na multidão, assombrada com o feito, teve coragem de mergulhar. O rio Paraíba é estratégico. Alimenta os principais açudes do Estado e cheio vai tirar centenas de municípios do racionamento.

Deserto

O entorno do Eixo Leste da Transposição é desolador. São centenas de quilômetros de desertos, preenchidos por arbustos retorcidos, terra ocre, rios secos e rebanhos de cabras magras. As poucas manchas verdes são plantações de palma, tipo de cacto que alimenta o gado. A região sempre foi pouco desenvolvida, já que agricultura, indústria e urbanização só prosperam com garantia de água. E a prolongada estiagem fez dessa carestia uma rotina insustentável para os padrões de vida no século 21.

Luiza Aurélia da Silva, 68 anos, moradora do assentamento Serra Negra, em Floresta, passou a infância buscando água em lata, na cabeça e em lombo de burro. Saía ao amanhecer e voltava na hora do almoço. Hoje, as 64 famílias do assentamento são abastecidas por um poço, de água salobra, e por carros pipas da prefeitura. Parte da comida vinha do cultivo de feijão e milho. “Como não chove, todo ano a gente planta e todo ano perde quase tudo”, diz Luiza.

Mas quis Deus, diz ela, que a Transposição passasse do lado do assentamento. A sua casa está a poucos metros do canal. A expectativa por lá é que haverá irrigação para o plantio de culturas comerciais, como a melancia, viabilizando uma vida nova. “Um hectare irrigado vale mais do que 10 secos. Meu tempo passou, mas meus filhos e netos poderão ter uma vida melhor”, diz Luiza.

A falta de água, porém, não é problema apenas de comunidades pobres e isoladas. Entre os moradores do semiárido não se fala outra coisa: que o governo acelerou a conclusão da Transposição Leste para evitar o colapso no abastecimento do polo econômico de Campina Grande e mais 18 cidades. Na área vivem 800 mil habitantes. Todos dependem do açude Epitácio Pessoa, conhecido como Boqueirão. Hoje, ele está no volume morto, com 3% de água.

O garçom José Gonçalves, 67 anos, lembra que até Juscelino Kubitschek inaugurar o Boqueirão, nos anos 50, os moradores de Campina Grande tiravam água de um chafariz. Gonçalves recorda que ele mesmo carregava galões. Com o crescimento da cidade, aquilo parecia ter ficado para trás. Há um ano, o desabastecimento voltou: ele teve de reequipar a casa com uma caixa d’água adicional e baldes de 100 litros, além de manter um estoque com 12 galões de 20 litros água mineral para fazer comida. “Agora, só o rio São Francisco nos salva”, diz ele.

O ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, nega que o cronograma de obras foi acelerado para atender a uma única cidade, mas confirma que Campina Grande havia se tornado preocupação. “A informação é que em setembro a água vai acabar, mas como o volume morto já é uma reserva comprometida, a cidade poderia ficar sem água a qualquer momento”, diz. Barbalho lembra que a Transposição é apenas um ponto de partida. Várias obras adicionais, como o Ramal do Agreste e o Ramal Juá, estão em andamento para criar, enfim, uma rede segura de abastecimento contra a estiagem.

Apreensão. Como isso depende de obras adicionais, de saneamento e encanamento, os moradores da região ainda estão preocupados. “Nossa pergunta agora é: quando a água do São Francisco chega às torneiras?”, pergunta a comerciante Gilvanete Pires, de 53 anos, proprietária de um café em Monteiro. Para fazer a limpeza do estabelecimento, gasta, por semana, mais de R$ 300 em água de carro-pipa. Também precisa desembolsar R$ 50 com tambores de água mineral para preparar as refeições que serve na hora do almoço. Todos os meses, recebe a conta de água, apesar de não receber uma gota. São mais de R$ 200 por mês.

O agricultor José Severino da Silva Irmão, o Zequinha, tem a mesma preocupação. Em um sítio da família, em Sertânia, ele cria um bezerro, duas vacas, três bois, seis cachorros e 17 jumentos, que recolheu na estrada porque ninguém mais os quer. Hoje, ele busca água no vizinho e colhe mandacaru para engrossar a ração. No entanto, se a Transposição regularizar o abastecimento dos açudes, a água deixará de ser problema e ele poderá garantir uma alimentação melhor para os animais e ampliar o rebanho. “Por ora, a única coisa que a Transposição nos dá é alegria - alegria de ver a belezura da água.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Extraído de: http://www.em.com.br/app/noticia/economia/2017/03/12/internas_economia,853619/o-velho-chico-chegou.shtml?ref=yfp