A FORMA BÍBLICA DE BATISMO É ASPERSÃO.
FONTE: www.presbiterianoscalvinistas.blogspot.com
O texto que lhe envio, de autoria do irmão Túlio César, dá dicas
importantes do vocábulo "baptizo" aos quais creio que os estudantes não saibam justamente por causa da alienação causada pela teologia dos imersionistas em torno dessa ordenança (sacramento).
Boa leitura!
Abraço
Nélio
O Batismo Cristão: Imersão ou Aspersão?
Túlio Cesar Costa Leite[2]
O modo de administrar o batismo não é muito debatido entre os presbiterianos. Isto pode dar origem ao entendimento falso de que não temos base bíblica para sustentar a aspersão. Na verdade falamos pouco sobre o assunto porque consideramos a forma de batizar de importância relativa. Em outras palavras, não cremos que a validade
desta ordenança de Cristo dependa da quantidade de água empregada ou do modo como esta água é aplicada.
De fato, é com tristeza que somos obrigados a escrever sobre este assunto, pois poderíamos usar o nosso tempo em questões mais úteis do que debates acerca de cerimônias externas. Talvez nesse ponto estejamos nos igualando aos católicos romanos debatendo com os ortodoxos sobre a maneira correta de fazer o sinal da cruz, ou aos membros de certa igreja disputando acerca da maneira correta de
receber a ceia, se sentados nos bancos ou ajoelhados no altar.
Porém, como freqüentemente somos acusados de laborar em erro por batizarmos por aspersão, pretendemos demonstrar que se a validade depende da forma, então o único batismo válido é por aspersão ou efusão, mas nunca por imersão.
Uma comparação com a Ceia
Uma questão que se apresenta logo no início é: se a validade do
batismo depende da forma de sua administração, o que dizer da Ceia?
Será que existe alguma igreja que celebre a ceia exatamente como o
Senhor a instituiu? Uma porção de água que se derrama ou se esborrifa
sobre a cabeça de alguém está tão próximo da imersão como uma migalha
de pão e um gole de suco de uva está de uma refeição oriental.
Portanto, se a pouca água invalida o batismo, pouco pão e vinho
invalida a ceia. Aliás, existem igrejas que questionam o uso de pão
comum na Ceia, argumentando que o correto é usar pão sem fermento;
então por que a maior parte dessas mesmas igrejas -- senão todas --
usa suco de uva se a Bíblia diz claramente que a bebida era vinho?
Sim, vinho que embriagava se consumido em demasia (1 Co11.21)!
Se aceitarmos que podemos receber a ceia de pé, ou sentados ou
ajoelhados ou deitados numa cama; se ela pode ser celebrada num
cenáculo, numa casa ou num templo; se podemos usar mais ou menos pão,
ou mais ou menos vinho (ou suco de uva!), etc., por que, então, a
forma da outra ordenança é tão importante? Entendemos que não há
hierarquia entre as ordenanças. As duas são igualmente importantes,
instituídas pelo mesmo Senhor, mas cremos que sua importância está na
essência e significado e não em suas variadas formas de administração.
Quando Paulo escreve que há um só batismo (Ef 4.5), será que ele
estava falando aí da forma de administrá-lo? Até uma leitura
superficial do contexto mostra que não.
Respondendo às objeções
Antes de demonstrar que a forma "correta"[3] de administrar o batismo
é a aspersão. Façamos uma análise rápida dos argumentos usados em
defesa da imersão.
a) Batizar significa imergir somente. "No grego secular bapto,
baptizo e baptismos expressam a idéia de imersão; conseqüentemente
devem ter a mesma significação quando usada no NT."
Quanto a isto temos duas objeções:
1ª) Supondo (somente supondo) que no grego secular batizar significa
somente imergir, não se segue necessariamente que o NT tenha empregado
a palavra com o mesmo sentido exclusivo.
A palavra que designa o outro sacramento -- CEIA --, não é utilizada
no sentido fixo e uniforme que recebe no meio secular. No tempo do NT
significava uma refeição completa, a principal do dia, nunca tomar
uma migalha de pão e um gole de vinho. Se o sentido original e
uniforme do vocábulo empregado com relação a uma ordenança não se
conserva, por que deveria ser fixo com relação ao outro? Pois não há
diferença de importância entre ambos.
Ainda que no grego clássico batizar significasse somente imergir, não
podemos pretender que esse tivesse de ser o seu sentido no NT. Há
muitas outras palavras que tem no NT sentido completamente diferente
do que tem no grego clássico. Por exemplo: LOGOS, quando se aplica à
Segunda Pessoa da Trindade. Que escritor profano empregou esta palavra
com tal sentido?
2ª) A palavra "baptizo" não significa somente imergir. Pode expressar
a idéia de imersão parcial, imersão total, absorção ou efusão. Também
pode ser empregada com o sentido de derramar sobre, lavar, limpar,
tingir, manchar. Tudo isso pode ser comprovado consultando-se qualquer
bom dicionário de língua grega.
Alexander Carson, um batista, escreveu: "meu critério é que este
vocábulo (baptizo) significa sempre submergir; e que sempre se refere
ao modo. Pois bem: dado que, tendo todos os lexicógrafos e
comentaristas contra mim, será necessário dizer duas palavras a
respeito da autoridade dos dicionários"[4]
b) A expressão aplicada a João, o Batista: "João batizava também em
Enon (...) porque havia ali muitas águas" (Jo 3:23).
Em Enon havia "muitas águas". Essas "muitas águas" na verdade eram
muitas fontes ou arroios. Não há dúvida que eram fios d'água, pois não
havia rios caudalosos perto de Enon. Essas fontes eram preciosas para
saciar a sede das multidões que atendiam ao ministério de João. Tais
fontes, porém, não serviam para a imersão. Para a imersão é
necessário muita água, mas a frase diz muitas águas. João não podia
usar mais água que a de um pequeno arroio, e isso era perfeitamente
adequado! Se o modo de administrar o batismo era a imersão, por que
João deixou o Jordão para fixar-se em Enon? Onde estava, no Jordão,
havia muita água. Para quê buscá-la em outro lugar? Portanto esta
frase não tem nenhuma força para determinar o modo do batismo.
c) A expressão de Paulo em Rm. 6.4 "fomos, pois, sepultados com ele
na morte pelo batismo.."
Que modo de batizar parece com um sepultamento? Se pensarmos num
ataúde baixando à terra e por ela sendo coberto, a imersão pode
parecer mais com um sepultamento. Mas estamos tratando de um símbolo.
E um símbolo pode parecer tanto com aquilo que significa quanto uma
aliança de casamento "parece" com a fidelidade. De fato, esta
semelhança perde qualquer sentido quando vemos que Paulo se refere ao
sepultamento de Cristo! E como Cristo foi sepultado? "e o depositou no
seu túmulo novo que fizera abrir na rocha; e rolando uma grande pedra
para a entrada do sepulcro, se retirou." (Mt. 27.60). Portanto Rm. 6.4
nada acrescenta sobre a forma de batismo e esta não é a intenção do
apóstolo ao escrever o capítulo 6. Provavelmente ele se entristeceria
ao constatar como cristãos se deixaram distrair das questões
importantes, ensinadas neste capítulo, acerca do pecado e da graça
para se deterem em exterioridades. O Apóstolo não tinha em mente fixar
norma sobre a forma de batismo, nem aqui nem em nenhum outro trecho de
suas epístolas.
Há, talvez, outros argumentos de menor peso, porém cremos que eles se
desfarão se tratarmos logo de demonstrar o que afirmamos: o modo
"correto" de batizar é a aspersão.
O Batismo: Uma novidade?
Talvez muitos cristãos imaginem que os judeus não conheciam nem
praticavam nada semelhante ao que é descrito em Marcos 1.4...
"apareceu João Batista no deserto[5], pregando batismo de
arrependimento."
Será que João Batista introduziu um rito completamente novo,
desconhecido aos judeus? Vemos que o NT não explica o ritual do
batismo, dando a entender que os judeus não necessitavam de
explicações. Isso porque o batismo não foi uma cerimônia introduzida
por Jesus, João ou os apóstolos, mas era uma prática comum entre os
judeus desde os primórdios de sua organização como povo. Estes
batismos eram feitos usando-se a água ou outro elemento, como o
sangue.
Vejamos alguns textos:
"Quando voltam da praça, não correm sem se aspergirem (no original
grego "batizarem"); e há muitas outras cousas que receberam para
observar, como a lavagem ("batismo") de copos, jarros de metal e
camas. (Mc 7.4)
"O fariseu, porém, admirou-se ao ver que Jesus não se lavara
(batizara) primeiro, antes de comer. (Lc 11.38)
Também Eclesiático[6] 34.25 diz: "Ao que se lava (batiza) depois de
haver tocado um corpo morto, e torna a tocá-lo outra vez, de que lhe
valerá o ter-se lavado?"
Todas estas passagens dão a entender que os batismos eram cerimônias comuns:
... não comem sem se batizarem...
... cousas que receberam para guardar, como o batismo de copos...
... ao que se batiza depois de haver tocado um cadáver...
Não falamos ainda sobre o modo como se batizavam. O fato é que se
batizavam e que os batismos eram fato normal entre eles,
independentemente da disputa acerca do significado da palavra.
Note que estes "batismos" não são invenção humana. O autor de Hebreus
fala de "diversas abluções (no original "diversos batismos") impostas
até ao tempo oportuno de reforma." (9.10; ver tb Hb 6.2). Impostos
quando e onde? Com certeza, na Lei de Moisés, que prescrevia
minuciosamente as "oferendas e sacrifícios, embora (...) ineficazes
para aperfeiçoar aquele que presta culto". (Hb 9.9).
Portanto, quando Jesus veio, encontrou o povo praticando esses
diversos batismos (o deles mesmos, dos copos, das camas, etc) como
uma prática cotidiana. Insistimos em que se note a forma normal e
familiar do NT tratar a matéria. João aparece batizando no deserto,
porém não há surpresas; não se dão explicações. Ele veio pregando o
batismo "de arrependimento". Nova era a doutrina que pregava, não a
cerimônia que praticava. De fato, a cerimônia era algo que o povo
esperava ver o Messias realizar, bem como todo profeta verdadeiro. Por
isso, quando João lhes disse que ele não era o Cristo, nem Elias, nem
o profeta, a pergunta imediata que lhe fizeram foi: "Por que, pois,
batizas?"[7] dando a entender, claramente, duas coisas:
a) que os profetas tinham o costume de batizar;
b) que esperavam que o Messias fizesse o mesmo na sua vinda.
Quando o próprio Senhor foi a João, embora não necessitasse de
arrependimento ou purificação, disse a ele "... convém que cumpramos
toda a justiça." Justiça aqui significa "aquilo que a Lei exige".
Estas palavras contêm o princípio geral pela qual o Senhor se conduzia
-- obedecer a todas as ordenanças da Lei de Moisés, pois foram
instituídas por Deus. Portanto, os batismos eram cerimônias
eminentemente religiosas 'impostos' pela Lei.
Os batismos dos judeus não eram feitos por imersão
A esta altura poderíamos pedir, àqueles que acham a forma essencial,
que demonstrem que os batismos que os judeus praticavam eram sempre
por imersão. Levando-se em conta os seus princípios exclusivistas
("nós estamos certos, eles errados"), são necessariamente obrigados a
fazê-lo.
Porém, tentaremos demonstrar uma proposição negativa. Tais batismos
nunca eram feitos por imersão.
a) a imersão não está estabelecida
Apesar de aqueles diversos batismos serem "impostos" ao povo como
qualquer outra parte do ritual judaico, em lugar algum da Lei de
Moisés se estabelece a imersão. Não se pode dar um só exemplo de que
se exigisse do judeu a imersão em água em cumprimento a uma cerimônia
religiosa.
Se não se pode provar a imersão, se não existe um mandamento, como
poderíamos concluir que "era assim", e mais, que "quem não faz assim"
está errado!
b) Os batismos eram por aspersão ou efusão
Não vemos a imersão em nenhum lugar do AT, mas a Lei Mosaica ordena
expressamente o modo destes batismos:
"Assim lhes farás para os purificar: asperge sobre eles água da
purificação ...." (Nm 8.7);
"Eleazar, o sacerdote, tomará do sangue com o dedo e dele aspergirá
para a frente da tenda da congregação ... (Nm 19:18).[8]
Vemos, pois, que na Antiga Aliança o modo de purificação estava
claramente ordenado. Supor que se batizavam ou purificavam por imersão
é supor que agiam sem mandamento, ou pior, contra o mandamento. Os
batismos judaicos eram "impostos" (Hb 9:10) pela Lei. Eram simples
purificações, como os textos demonstram e o modo era a aspersão, nunca
a imersão.
c) As aspersões e efusões são chamados batismos.
Mostramos que a aspersão era ordenada e praticada e a imersão era
desconhecida. Além disso, a tradução grega dos escritos judaicos
refere-se a este método de purificação por aspersão usando a palavra
"batizar". Preste atenção: Esta palavra que, tantas e tantas vezes e
em tanta confiança nos dizem significar submergir - e nada além disso
-, se aplica a estas aspersões judaicas. A tradução grega de
Eclesiástico 34:25 diz:
"Aquele que se batiza depois de haver tocado num corpo morto, e torna
a tocá-lo, de que lhe valerá a ter-se lavado?"
Já vimos que o modo como se realizava este batismo por haver alguém
tocado num corpo morto, está claramente ordenado na Lei de Moisés:
"Todo aquele que tocar o cadáver de qualquer pessoa e não se
purificar, contaminou o Tabernáculo do Senhor, e essa pessoa será
cortada de Israel; porquanto a água da purificação não foi aspergida
sobre ele, [por isso] imundo será, e a sua imundícia será sobre ele"
(Nm 19:13).8
Portanto, vemos que o NT utilizou uma palavra que já era usada há pelo
menos 200 anos para designar estas cerimônias. Se a palavra batizar
era usada, por centenas de anos, para indicar a aspersão, por que
ensinar que no tempo do Senhor e de João Batista os judeus realizavam
seus batismos de outro modo?
Muito antes da vinda de Jesus já se havia lido que aspergir-se por
causa dos mortos era como batizar-se por eles [9]. Dizer que o método
era a imersão é ir contra toda a evidência, visto que a aspersão
aparece ensinada universalmente no AT.
d) "batizar" equivale a "lavar".
Por exemplo Mt. 15:2 - "Por que transgridem os teus discípulos a
tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem. Comparado
com Lc 11:38 "O fariseu, porém, admirou-se ao ver que Jesus não se
lavara (no grego: batizara) primeiro, antes de comer".
Aquele se batiza por haver tocado num corpo morto, e torna a tocar
nele, de que se valerá o ter-se lavado? Portanto lavar e batizar podem
ser usadas para descrever a mesma ação.
e) O batismo judeu era um rito cotidiano.
Os judeus não só se "batizavam" antes das refeições, ou "batizavam" as
mãos antes de comer, mas batizavam-se também por causa de outras
impurezas, como, por exemplo, quando se contaminavam, tocando um corpo
morto. O mesmo faziam com as mesas e camas. Note que estes batismos de
mãos antes das refeições não eram feitos com motivações higiênicas
conforme fazemos atualmente. Era o cumprimento de um ritual religioso.
Se tudo isso era feito por imersão, cada família deveria ter um lugar
apropriado. Neste caso o batistério seria um lugar essencial de cada
casa judaica. Porém, não há evidência histórica ou bíblica que
houvesse tal lugar em alguma casa, quer rica, quer pobre.
Não sendo necessária a imersão, deveria, então, existir alguma coisa
para cumprir seus rituais de outra forma.
De fato, o NT se refere a vasilhas com capacidade para conter de 80 a
100 litros, pequenas demais para se imergir alguém, mas grandes o
suficiente para se meterem as mãos nelas com o propósito de se retirar
água usada para aspergir ou derramar sobre pessoas ou objetos. São as
talhas de pedra mencionadas nas Bodas de Caná da Galiléia, "que os
judeus usavam para as purificações." (Jo 2.6)
f) O livro de Hebreus confirma os batismos por aspersão ou efusão
O livro de Hebreus (9.10) faz menção às "diversas abluções (batismos)
impostas" ao povo. Já vimos que a Lei de Moisés não ordena a imersão,
portanto estes "batismos impostos não podiam ser realizados dessa
forma.
Também, pelo contexto imediato, fica claro que eram batismos "com o
sangue de bodes, touros e as cinzas de uma novilha aspergidos sobre os
contaminados" (9.13).
O autor de Hebreus contrasta o culto judaico com a dispensação cristã.
No primeiro havia regulamentos com respeito a comidas e bebidas, e
diversos batismos e ordenanças acerca da carne. O sangue dos animais
ou as cinzas de uma novilha misturadas à água, aspergidos sobre os
imundos cerimonialmente os santificavam quanto à purificação da carne.
Na dispensação cristã, o sangue de Cristo é eficaz. No primeiro,
"Moisés (...) tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã e
escarlate e aspergiu o livro da Lei e o povo, além do tabernáculo e
seus utensílios" (Hb 9.19,21).
Sem discussão, estes são os "diversos batismos" a que se refere o v.10.
E sempre por aspersão!
g) A figura do Batismo com o Espírito Santo favorece a efusão ou aspersão
Observe a linguagem bíblica empregada em relação a este tema.
"Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados
com o Espírito Santo." (At 1.15).
No capítulo seguinte a promessa se cumpre e Pedro explica o acontecido
ao povo usando a profecia de Joel: "e acontecerá nos últimos dias, diz
o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne... até
sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu
Espírito."
Vemos assim, sem discussão que a ação de Deus derramar o seu Espírito
sobre os discípulos é chamada de batismo com o Espírito Santo. Temos
aqui, indiscutivelmente um batismo por efusão, um batismo no mais
elevado sentido da palavra. E já que o próprio Espírito o representou
como um derramamento e o chamou de batismo nas Escrituras que Ele
mesmo inspirou, por que querer impor uma forma diversa? Por que
afirmar, contra toda evidência, que a imersão é a única forma correta?
Quando, em imediata relação com o derramamento do Espírito, se
menciona o batismo com água de cerca de três mil pessoas, não é
duvidoso, para dizer o mínimo, que estas pessoas tenham sido metidas
na água ao invés de se aplicar água sobre elas? O mais sublime
batismo, o do Espírito Santo -- do qual o outro é um tipo -- é por
efusão. Será o tipo administrado de um modo totalmente diferente?
h) Esperava-se que o Messias batizasse, e a forma esperada era a aspersão
Já vimos que os judeus esperavam que o Messias batizasse.
"Por que batizas, se não és o Cristo...?" foi a pergunta que fizeram a
João Batista (Jo. 1.25). Qual a origem desta expectativa? Tentarei
explicar. Referindo-se ao Messias, o texto de Isaías 52.15 diz:
"Assim causará admiração às nações..." (Edição Revista
e Atualizada).
Até 1960, porém, em lugar de "causar admiração" o verbo hebraico
"nazah" era traduzido por aspergirá. A profecia seria, então, "ele aspergirá a muitas nações." "A nova tradução, mui discutível, funda-se mais em razões exegéticas que filológicas."[10]
De fato, a Edição Contemporânea da Bíblia traz:
"...assim borrifará a muitas nações."
Em uma visão da Nova Aliança, o profeta Ezequiel assim escreve:
"então, aspergirei água pura sobre vós e ficareis purificados" (v.
25).
A esta promessa seguem-se as promessas da concessão de um novo
espírito e coração (v.26) e de que o Espírito faria morada dentro do
homem (v.27) para fazê-lo obedecer à Lei. Veja também Jr 31.31-33.
Reconhecemos, então, que os profetas utilizaram um ritual de
purificação, por eles conhecido, como um símbolo da real purificação
que o Messias realizaria no impuro coração humano. Os tradutores da
Bíblia viva corretamente parafraseiam Is. 52:15 da seguinte forma:
"... com seu sofrimento ele purificará a muitas nações."
O Messias "aspergirá a muitas nações ....".
"Aspergirei água pura sobre vós ...."
"Por que batizas, se não és o Cristo (...) ?"
Mais uma vez, nenhum indício de imersão e uma forte evidência em favor
da aspersão.
i) A simplicidade dos batismos no NT.
Cremos já ter estabelecido solidamente o fato de que, se havemos de
invalidar o batismo de alguém por causa da maneira como foi aplicado,
não será o daqueles que foram batizados por aspersão. Se o leitor
tiver um pouco mais de paciência poderemos ainda nos deter no exame
dos batismos descritos no NT.
Uma evidência em favor da aspersão no NT é o fato de que as pessoas
eram batizadas imediatamente, no lugar em que se convertiam, quer
fosse na cidade, quer no deserto; numa casa ou em uma estrada; na
prisão ou à margem de um rio; no inverno ou no verão. Não havia
demora, não há referência alguma à saída para um lugar adequado para a
imersão.
Quando alguém cria, no mesmo instante e no mesmo lugar havia sempre o
necessário para ser batizado. Por isso, é muito difícil crer que fosse
assim, se se praticasse a imersão. Pode-se supor, sim, mas é uma
suposição altamente improvável. Vejamos alguns exemplos:
Paulo (At 9). Após sua queda e cegueira no caminho de Damasco, Paulo
permaneceu três dias em jejum na casa de Judas. Ananias, guiado por
Deus, entra na casa e, após breve instrução, batiza Paulo. Diz o
texto: "a seguir, levantou-se e foi batizado".
Havia um tanque na casa? foram a outro lugar? O texto não diz. A única
"prova" seria o pretendido significado de "batizar". Todas as
circunstâncias são contra a imersão: na mesma casa, em pé, sem demora
para preparar-se, sem sair nem entrar, pondo-se imediatamente a
serviço de Cristo.
O carcereiro de Filipos (At 16). Convertido na prisão a altas horas da
noite e, lá mesmo, imediatamente batizado junto com os seus. Foram a
algum rio em plena noite? Havia um tanque na prisão? Quantas
dificuldades o texto apresenta se partirmos do pressuposto de que
batizar significa imergir, e nada mais. Por outro lado, quão simples
se torna o relato, se se leva em conta que, para o povo judeu, era
coisa natural o batizar-se por aspersão ou efusão.
Cornélio e sua casa (At 10). Sobre este episódio, se diz que o
"Espírito Santo caiu sobre todos os que ouviam a palavra.
"Admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do
"Espírito Santo". "Quando comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre
eles, como também sobre nós, no princípio. Então me lembrei da palavra
do Senhor quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós
sereis batizados com o Espírito Santo (At 10.44; 11:15-16).
"Porventura pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados
estes que, assim como nós, receberam o dom do Espírito Santo?" (At
10:47). Pedro batizou estas pessoas por imersão? De um lado somente
uma suposição contra toda evidência. De outro porém, além da forte
impressão que Cornélio foi batizado em sua própria casa, há o registro
de que o "derramamento" do Espírito fez Pedro pensar que os termos
batizar, derramar e cair - aplicados ao Espírito Santo - implicavam
uma idéia semelhante à água.
Filipe e o eunuco (At 8:26-39). Comumente este é um texto julgado
claramente em favor da imersão. Em sua viagem, o etíope lia Isaías 53;
provavelmente ele tinha acabado de ler o último versículo do capítulo
52 "ele aspergirá muitas nações". Filipe lhe explicou a passagem e,
quando chegaram a um lugar onde havia água, desceram a ela e Filipe
batizou o eunuco. Por imersão? Mesmo entendendo o texto como uma
entrada real na água, nem por isso fica demonstrada a imersão. Leve-se
em conta que as sandálias podiam ser facilmente tiradas, e que isto
estaria de acordo com os costumes orientais e que, depois de descerem
à água, Filipe lhe administrou o rito do batismo por aspersão ou
efusão. Por outro lado, é muito duvidoso que no lugar deserto onde se
encontravam houvesse uma corrente de água com profundidade suficiente
para submergir o eunuco.
Tudo indica que não esperaram para obter roupas próprias para o
batismo e não é provável que o viajante se submergisse com a roupa que
trazia ao corpo. O texto diz simplesmente que, após o batismo o eunuco
"foi seguindo seu caminho cheio de júbilo". Diz o texto, também, que
Filipe foi "arrebatado pelo Espírito do Senhor" para Azoto. Não
podemos presumir que o Eunuco seguiu viagem pingando água e Filipe
achou-se repentinamente em Azoto com as roupas encharcadas.
Os três mil de Atos 2 (vv 37-41). No mesmo dia em que os discípulos
foram batizados do alto pelo derramamento do Espírito sobre eles, mais
três mil almas foram acrescentadas à Igreja. Foram submergidos estes
convertidos? Para responder que sim, só se pode dar como prova o
pretenso significado da palavra batismo, o qual já descartamos. Nada
mais no texto pode sugerir a submersão. Porém, para negá-la,
amontoa-se uma série de circunstâncias: Não havia lugar para realizar
essa forma de batismo, nem no templo, nem nos arredores onde estavam
reunidos. Quem sabe foram em procissão até a porta dos ovelhas onde
havia um tanque, pediram licença à multidão de enfermos que lá jazia
(Jo 5:1-3) e passaram horas e horas, provavelmente até tarde da noite,
submergindo três mil pessoas.
Será que naquele dia Jerusalém presenciou multidões de pessoas
andando pelas ruas, a caminho de suas casas com as roupas gotejando,
encharcadas, coladas a seus corpos?
Todos esses obstáculos, mais o fato de o batismo do Espírito Santo
ter sido descrito como um derramamento, na realidade se opõe
fortemente à idéia da imersão, ao passo que se harmoniza perfeitamente
com a aspersão ou efusão. Para esta última forma de batismo havia
tempo suficiente; o lugar onde estavam era adequado, não era preciso
uma muda de roupa e ninguém necessitou voltar molhado para casa. Não
há, portanto, contradição entre o batismo do Espírito e o da água. A
palavra batizar se emprega em ambos os casos, com o mesmo sentido,
pois tanto a água como o Espírito são derramados sobre as pessoas.
Uma palavra final
Um estimado amigo batista contou-me a seguinte história:
"Em Z.... um lugar árido da África, um missionário estava obtendo uma
boa quantidade de convertidos. Porém a água era pouca e preciosa. O
que fazer? O missionário, então, cavou um buraco no chão, cobriu-o com
um oleado e comprou, de um fornecedor, vários galões água a 20 dólares
o galão! Com o tempo, o aguadeiro passou a gradativamente aumentar o
preço do galão. Quando o missionário reclamou, o homem replicou. "Há
tanta areia aqui, por que você não batiza com ela? Se você se dá ao
luxo dessa extravagância, é porque tem condições de pagar por ela."
Volta e meia surge um novo pregador no rádio, denunciando coisas que
não tem nenhuma importância. Movem céus e terra para falar do "erro"
daqueles que não tem, na igreja, a cerimônia do lava-pés, tão
claramente ordenada por Jesus. Todas as igrejas estão erradas, menos a
do pregador, que restaurou a ordenança. Há aquelas igrejas que usam
pão fermentado na ceia -- o fermento é símbolo do pecado! Que dizer
daqueles que constróem batistérios, quando não há nenhuma referência a
eles nas Escrituras? Que grande pecado cometem as igrejas que não tem
costume de se saudar com o ósculo santo! E aqueles que não se
cumprimentam com "a paz do Senhor"? Quantas árvores teriam que ser
transformadas em papel para tratarmos de tão importantes questões!
Pretendemos ter provado solidamente que a forma "correta" do batismo é
a aspersão. Mas que importância tem isso? Talvez alguma, se, ao menos,
tornar mais maleáveis gente como aquele missionário de Z... que
deveria usar a água para matar a sede daquelas pessoas -- misericórdia
quero e não holocaustos!
Que nosso Senhor, na sua volta, não encontre seus filhos, como
crianças (para não usar outra palavra), a contender a respeito dos
mosquitos e engolindo os camelos.
Glória somente a Deus.
______________
[1]Este trabalho é, em linhas gerais, um resumo dos pontos principais
do livro com o título em epígrafe, de Charles Hodge, publicado pela
Casa Editora Presbiteriana, em 1ª edição, em 1988.
Charles Hodge (1797-1878) foi o teólogo presbiteriano mais influente
dos EUA no século 19.
[2] Agradeço às estimadas irmãs Emília e Rosana a digitação deste texto.
[3] Entre aspas para lembrar que estamos usando a palavra no sentido
daqueles que vêem importância na forma. Poderíamos trocar "correta"
por "usual".
[4] On Baptism, p.79, citado por Hodge em O Batismo Cristão, p.8,
negritos acrescentados. Transcrevemos, a seguir, parte do verbete
"Batismo", do Dicionário Bíblico de Davis, publicado pela Junta de
Educação Religiosa da Igreja Batista:
"BATISMO - O rito de lavar com água simbolizando a purificação
religiosa, ou consagração a Deus, era usado com muita freqüência,
conforme as prescrições legais que se encontram em Ex. 19:4; 30:20;
40:12; Lv 15; 16:26,28: 17:15; 22:4,6; Nm 19:8 (...). O modo pelo qual
João batizava não é claramente descrito, porém, como Jesus entrasse no
Jordão para receber o batismo, Mc. 1: 9,10, é possível que fosse
administrado por aspersão ou por imersão. (...)
Conquanto a palavra "baptismo" derive do verbo grego "baptizo", que
significa etimologicamente imergir, isto não prova que a imersão seja
o único modo de batizar, indispensável e necessário. Pois é certo que
muitos casos há, em que a palavra batizar não tem o sentido [de]
imergir, como em Lc. 11:38, e Mc 7:4. A Escritura, em parte alguma,
prescreve o modo de batizar."
Este verbete suscitou uma nota da Casa Publicadora Batista na qual,
após elogiar o Dicionário de Davis, afirma que "no nosso entender"
Davis feriu "frontalmente a mais acertada exegese neste caso".
[5] Que lugar improvável para imersões!
[6] Livro apócrifo, porém útil como referência histórica.
[7] Jo 1.19-25
[8] É salutar ler todo o capítulo 19 de Números, que trata da
preparação da água purificadora (água adicionada às cinzas de uma
novilha sacrificada) que deveria ser aspergida sobre todo o homem ou
objeto impuro. O livro de Hebreus se reporta a este capítulo ao
registrar que "se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma
novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à
purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo
Espírito Eterno a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a
nossa consciência de obras mortas, para servimos ao Deus vivo! " Hb
9:13-14. ver tb 9:19 e Ex 24:6,8
[9] Nesse ponto Hodge dá uma importante contribuição para a
interpretação de 1Co 15:29 que transcrevo em linhas gerais:
Onde teve origem este costume ?
a) Instituição divina ou
b) Superstição humana.
No caso de b por que o apóstolo não o condena ?
No caso de a, onde está o mandamento ?
- Tem a palavra batizar significado literal ou equivalerá a angústia,
aflição ou desgosto (Lc 12:50; Mc 10:38)
- O que significa para, em lugar de, por causa de ?
- Os mortos referidos são os fisicamente ou espiritualmente ?
Se admitirmos que as pessoas a quem Paulo se refere são judeus, as
dificuldades se desvanecem. Admitindo-se o contraste no versículo
seguinte entre "os que se batizam pelos mortos" e "nós estamos em
perigo", pode-se concluir a possibilidade de os primeiros serem
judeus. Que outro povo tinha tal costume ?
O apóstolo trata da doutrina da ressurreição. O argumento do v. 30 é:
se não há ressurreição dos mortos, por que estamos em perigo cada
momento ? Por que corremos tantos riscos ? Por que não dizer: "Comamos
e bebamos porque amanhã morreremos ?" O mesmo ocorre com v. anterior:
a conduta dos judeus mostra que também eles crêem numa vida futura de
outro modo por que se batizavam pelos (ou por causa dos) mortos ? Para
que querem eles limpar-se da impureza, se não existe um além, uma
ressurreição ? Por que se preocupam com a culpa, se sua existência
acaba com a morte ?
[10] Sabatini Lalli, em nota de rodapé, no livro citado.
Assim comenta o NCB o v. 15 de Is 52: "Borrifará (15), palavra que
alguns tradutores dizem corresponder a "surpreenderá". Aquele que uma
vez surpreendeu toda a gente pelo seu sofrimento tornará a assombrá-la
com seu triunfo e exaltação. O verbo "borrifar" assim empregado sugere
antecipação profética da obra do Servo como purificador expiatório."
Novo Comentário da Bíblia, vol. 2, p. 731. Ed. Vida Nova.
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Nélio Macedo