Por Vincent Cheung
Quando alguém for tentado, jamais deverá
dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado
pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau
desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo
concebido, dá à luz o pecado, o e pecado após ter se consumado, gera a
morte.
Meus amados irmãos, não se deixem
enganar. Toda boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do
Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes. Por Sua decisão
Ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos os primeiros
frutos de tudo o que Ele criou. (Tg 1.13-18)
Séculos de tradição religiosa tem
insistido em que Deus não pode ser o autor do pecado. Eu tenho refutado
isto em um número de lugares.[1] Existe a aceitação de que para Deus ser
a causa metafísica direta de todo o mal comprometeria a Sua retidão. Eu
tenho demonstrado que isto não tem base e não é inteligente, e negar
que Deus é o autor do pecado é negar também a Sua soberania e
providência. De fato, é um ataque ao Seu próprio Ser e posição como
Deus.
Pois que todo acontecimento, seja bom ou
mal, tem de ter uma causa metafísica. Se não existe causa, então este
acontecimento seria ele próprio Deus; contudo, não estamos falando sobre
Deus, mas sobre o que acontece na Sua criação. Se a causa não é Deus,
então deve ser alguma outra coisa. E se for alguma outra coisa, então
este acontecimento e a sua causa estão fora do controle direto de Deus.
Isto é uma forma da heresia do dualismo, a de que existem duas ou mais
forças mais elevadas trabalhando no universo, talvez uma para reger o
bem e a outra para reger o mal. É uma filosofia pagã, e é resultado da
doutrina de que Deus não é o autor do pecado.
Todos os tipos de aceitações arbitrárias
são contrabandeadas para dentro da discussão. Algumas pessoas pensam
que para Deus ser o “autor” do pecado é o mesmo que Ele “cometer” pecado
– isto é, para Deus causar o mal no sentido metafísico seria para Ele o
mesmo que praticar o mal no sentido moral. Mas esta suposição é
destruída apenas por se afirmá-la claramente deste modo. É óbvio que as
duas pertencem a duas diferentes categorias de ações e acontecimentos.
Acrescentando, uma vez que Deus é quem define o Bem e o mal, para Ele
cometer o mal, Ele antes deve estabalecer que seria um mal Ele fazer tal
coisa, e então ir adiante e fazê-la. Em outras palavras, a menos que
Deus desaprove a Si mesmo, então o que for que Ele faça é justo por
definição. Não cabe aos teólogos definir o mal para Ele, dizendo-Lhe
que, mesmo sendo Deus sobre todas as coisas, Ele não deve reinar
diretamente sobre o mal, mas que Deus tem que ser Deus somente sobre o
bem, e satã deve ser o deus sobre o mal, para reger um reino que o
próprio Deus não pode tocar. Tal doutrina é uma blasfêmia da mais alta
categoria. Insistimos que Deus é o autor de todas as coisas; portanto
Deus é o autor do pecado.
Algumas pessoas fazem a objeção de que
se Deus controla diretamente todas as coisas, então isto se transforma
na doutrina do panteísmo. Esta objeção nos economiza tempo porque ela
imediatamente nos mostra a falta de inteligência deles e a sua
habilidade inferior como pensadores, de modo que não os levaremos muito a
sério daqui para frente. A objeção brota do absurdo princípio de que
Deus se identifica com o que Ele controla, de modo que se Deus controla
diretamente todas as coisas, então Ele é identificado com todas as
coisas, o que é panteísmo. Sendo esta aceitação arbitrária e sem
justificativa, nós eliminamos a objeção simplesmente pela exposição e
rejeição da hipótese.
A pessoa que exibe a suposição é então deixada com um infeliz dilema. Ou seja, já que eles
assumem que Deus se identifica com aquilo que Ele controla, então eles
têm de negar que Deus controla diretamente qualquer parte da Sua
criação, ou têm de afirmar que Deus é identificado com qualquer coisa
que Ele tenha controle direto. Eles precisam então afirmar que Deus não
tem controle direto sobre qualquer coisa, ou que Deus é identificado com
pelo menos uma parte da Sua criação. Qualquer das duas opções faria
deles não-Cristãos. Em sua tentativa de apresentar uma objeção
inteligente contra a total soberania de Deus e controle direto sobre
todas as coisas, eles se tornaram pagãos e heréticos.
A tradição antibíblica e irracional de
que Deus não pode ser o autor do pecado subestima o Seu poder e
necessidade quando se trata da existência e funcionamento da criação.
Parece que as pessoas pensam que Deus é apenas uma pessoa muito boa, e o
diabo uma pessoa muito má. Mas a diferença é muito maior que isto. Deus
não é unicamente a força oposta na mesma categoria de satã, mas Ele
está numa categoria completamente diferente. Ele é o poder direto e
necessário e contínuo em todas as coisas. O próprio satã depende do
poder direto e constante de Deus para lhe causar cada um dos seus
pensamentos e movimentos. Sem Deus, nada pode existir ou continuar a
existir, e sem Ele, absolutamente nada pode acontecer, seja bom ou mau.
Tiago não pode estar tentando distanciar
Deus da existência do mal, ou dizer que não é o autor do pecado, porque
a questão não faria sentido aqui quando o contexto explícito diz
respeito a provações e tentações. Como demonstrarei adiante, não faria
sentido, primeiro, porque a questão não seria condizente com o que o
restante da Bíblia ensina, e, segundo, porque ele não teria sucesso em
defender a questão assim – este não é o modo de resolver o assunto. Em
outras palavras, se Tiago está tentando de algum modo “exonerar” Deus do
mal, o resto da Bíblia mostra que Deus não precisa ser exonerado, e que
mesmo que precisasse, Ele não poderia ser exonerado pelo que se afirma.
Se Deus parece ser “culpado” pela existência do mal e da tentação, este
texto nada faz para anular isso. Mas nada há de errado com Tiago. O
problema real é que a passagem tem sido mal interpretada – ele não está
afirmando o que as pessoas fazem-no dizer.
Deus sempre tem sido revelado como
alguém que leva as pessoas à tentação. Nós reconhecemos que há
diferenças entre um teste de sofrimento, um teste de obediência e um
teste de sedução. Mesmo parecendo que o último seja o de maior
relevância, é bom que se inclua todos eles nesta discussão por duas
razões. Primeira, eles não são completamente separáveis, visto que, por
exemplo, um teste pode ter a ver com a persistência em obediência de uma
pessoa diante da sedução. Isto descreveria a tentação que Adão e Eva
experimentaram. Segunda, e apoiada pela primeira razão, mesmo um teste
de sofrimento, ou de obediência, pode ser o que é simplesmente porque
ele apela para o desejo de uma pessoa, até um desejo mal, de modo que
passar no teste ou suportar com sucesso a dificuldade requer uma medida
de autocontrole, ou uma negação dos próprios desejos. Assim sendo, todos
os tipos de teste são relevantes para o texto de Tiago, de modo que o
controle de Deus sobre estes tipos de testes também podem ser citados
para lançar luz à discussão. Contudo, a inclusão não se faz necessária,
mas serve apenas para produzir uma explicação mais abrangente, uma vez
que veremos que Deus controla até o teste de sedução e guia as pessoas
para os enfrentar.
Consideremos o teste de Abraão (Gn 22).
Deus ordenou-lhe que sacrificasse o seu filho Isaque. A criança era o
cumprimento da divina promessa. Não havia uma boa razão para que ele
perecesse; sem dúvida, a Escritura diz que Abraão acreditou que se ele
sacrificasse Isaque, Deus o levantaria das cinzas. A questão aqui é que
Deus instituiu o teste e criou a oportunidade para Abraão pecar. E mesmo
ele crendo que a criança seria levantada da morte, Abraão teria pecado
se tivesse permitido que seu desejo de isentar o seu filho da provação
sobrepujasse o seu desejo de agradar a Deus. De qualquer modo, Deus, e
somente Ele, instituiu o teste e levou o patriarca a uma possível
rebelião. Abraão não concebeu isso. Satã estava fora disso.
Em 2 Sm 24.1, a Bíblia diz que Deus
incitou Davi a pecar por efetuar o censo. Então, em 1 Cr 21.1, está dito
que foi satã quem incitou Davi a isto. Estranhamente, considerando a
passagem em Tiago, um comentarista escreve que 1 Cr 21.1 revela a “causa
real” de 2 Sm 24.1. Dependendo do que ele tem em mente, isto é no
mínimo uma observação descuidada. Se Deus foi quem dirigiu satã a
incitar Davi ao pecado, então como Deus não é em certo sentido, e num
melhor sentido, a causa “real”? Dada a teologia do comentarista, ele
talvez devesse dizer “causa imediata”. Contudo, eu ainda discordaria do
uso de “causa imediata”. Exatamente como nós vivemos, nos movemos e
temos a nossa existência em Deus, o próprio Satã não pode ser a causa
imediata de coisa alguma de modo a descartar a causação direta
de Deus. Neste sentido, Deus é a causa única ou imediata de qualquer
objeto, pensamento ou acontecimento, seja bom ou ruim. As criaturas são,
no máximo, a causa relativa, aparente, perceptível ou descritiva.
Segue-se daí que quando se trata de metafísica, não existe uma “causa
secundária” – as palavras “secundária” e “causa” são ambas enganadoras. O
termo pode, no máximo, se referir a uma causa relativa ou aparente, uma
relação perceptível entre dois objetos ou acontecimentos, mas nunca
poderá servir como explicação metafísica. É melhor abandonar o seu uso.
Então o comentarista está errado em
chamar satã a causa “real”, caso ele, no mínimo, reconheça que foi Deus
quem dirigiu satã a incitar Davi ao pecado. Mas se por “real” ele se
refere à causa metafísica, então é ainda pior. Isso poderia significar
que 2 Sm 24.1 não tem lugar na Bíblia, e neste caso o comentarista negou
a inerrância bíblica, mostrando que ele é um descrente e não tem
autoridade para ensinar aos cristãos o que a passagem de Tiago quer
dizer, ou poderia significar que ele faz de satã a explicação metafísica
para Deus, caso em que o comentarista rejeitou a Deus e se tornou
adorador de satã. Qualquer destas possibilidades faria a sua opinião
sobre Tiago pior que inútil. Em vez disso, nós dizemos que 2 Sm 24.1 é a
explicação para 1 Cr 21.1, e que Deus é a explicação metafísica para
satã.
Deuteronômio 8.2 diz: “Lembrem-se de
como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto,
durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de
conhecer as suas intenções, se iriam obedecer os Seus mandamentos ou
não”. Foi Deus, não outro, quem os guiou através do deserto para
testá-los, para revelar se eles iriam ou não guardar os Seus
mandamentos. Em outras palavras, Deus os guiou através de situações nas
quais eles poderiam – e aparentemente muito mais que não – desobedecer
aos Seus mandamentos. Então em Deuteronômio 13, Moisés diz que quando um
falso profeta anuncia um sinal ou milagre que sem dúvida acontece, mas
então diz ao povo que adore um falso deus, “O Senhor, o seu Deus, está
pondo vocês à prova para ver se o amam de todo o coração e de toda a
alma”. O que é que o comentarista vai dizer, que um falso profeta é uma
explicação para Deus? Ou que o falso profeta é a causa “real”? Com
tantos tolos como este ao longo de toda a história da igreja para
defender a honra de Deus, os ateus e os céticos dificilmente se fazem
necessários – os teólogos fazem o trabalho deles suficientemente bem.
Não, Deus é a explicação para os falsos profetas. Ele controla os falsos
profetas e os usa para testar o Seu povo.
Em 1 Reis 22, o Senhor perguntou: “Quem
enganará Acabe para que ataque Ramote-Gileade e morra lá?” E um mau
espírito respondeu: “Eu o enganarei… Irei e serei um espírito mentiroso
na boca de todos os profetas do rei”. O Senhor disse que o espírito
seria bem sucedido. Então o profeta Micaias explicou: “O Senhor pôs um
espírito mentiroso na boca destes seus profetas. O Senhor decretou a sua
desgraça”. Os demônios e os falsos profetas enganaram Acabe porque o
Senhor havia “decretado o desastre” para ele. Em 1 Samuel 2, quando Eli
alertou os seus filhos dos pecados deles, o versículo 25 diz: “Seus
filhos, contudo não deram ouvidos à repreensão de seu pai, pois o Senhor
queria matá-los”. Assim Deus controla as más escolhas dos homens. Ele
pode fazer uma pessoa crer em qualquer coisa, pensar em qualquer coisa e
decidir qualquer coisa. Deus é a explicação para o mal, tanto para a
tentação como para a rendição à tentação. Ele reina sobre todas as
coisas – ele controla o tentador, a tentação e o tentado.
O próprio Jesus foi “levado pelo
Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4:1). É verdade
que Jesus resistiu à tentação por nossa causa; contudo, permanece que
foi o Espírito Santo quem levou Jesus à tentação. Se estiver errado por
uma questão de princípios para Deus levar alguém para a tentação, então
seria errado para Ele levar Jesus à tentação. Mas nada houve de errado
nisto, e Deus tem levado o Seu povo à tentação desde a criação da
humanidade. Isto tanto é o caso que quando Jesus ensinou os Seus
discípulos a orar, Ele os ensinou a dizer “e não nos induzas à tentação”
(ACF, ARC), porque é Deus quem faz isto. E então Ele acrescentou, “mas
livra-nos do mal”, ou do maligno, porque é Deus quem ordena satã a
incitar o mal.
Voltando ao nosso texto, como é que tudo
isto se encaixa com o versículo 13, que diz que “Deus não pode ser
tentado pelo mal, e Ele não tenta a ninguém”? O versículo é verdadeiro, e
ele combina com o restante das Escrituras. Nas outras passagens que
acabamos de examinar, ainda que Deus decrete o pecado e o mal, Ele não
se torna o tentador para seduzir as pessoas, mas envia espíritos maus e
falsos profetas para apresentarem a verdadeira tentação. Novamente, isto
não distancia Deus do pecado e do mal, visto que “nele vivemos, movemos
e somos”, e Ele tem de ser a energia direta que impulsiona todo pecado e
todo o mal. Contudo, como expliquei, Deus não se identifica com o que
Ele cria e com o que Ele causa. Quando Deus cria uma pedra, Ele não se
torna uma pedra. Quando Deus destrói um planeta, Ele mesmo não é
destruído. Aqueles que estão desesperados para se opor ao ensinamento
bíblico da absoluta soberania divina asseveram que esta doutrina
equivale ao panteísmo, mas quando eles fazem esta afirmação, ela se
torna uma hipótese no próprio sistema deles, requerendo que aceitem pelo
menos um panteísmo parcial para preservar algum controle a Deus, ou
neguem a Deus absolutamente qualquer controle no universo. Qualquer
opção faria deles não-cristãos. Mas nós permanecemos sem dano ao
rejeitar esta hipótese estúpida. Deus não é aquilo que Ele cria, causa
ou controla.
Então, Deus controla diretamente todos
os aspectos da tentação, mas Ele próprio não é o tentador. Ele não tenta
as pessoas no sentido em que satã tentou Eva e o Senhor Jesus. Ele não
fala instruindo as pessoas a cometerem o erro. De fato, é impossível
para Ele ser o tentador por causa de Sua própria natureza – visto ser
Ele quem define o certo e o errado, qualquer coisa que Ele dissesse a
alguém para fazer seria a coisa certa a ser feita. Se Ele tivesse dito a
Eva que comesse o fruto, então teria sido certo a ela comê-lo. Não
teria havido tentação, pois ao dizer a ela para comer o fruto Ele
suspenderia a proibição original. Mas se Ele tivesse levado satã a dizer
isto, então teria havido a tentação. E foi isto o que aconteceu com
Eva, com Davi, com Acabe e assim por diante. Semelhantemente, se Ele
tivesse dito a Jesus para transformar pedras em pão, isto não teria sido
uma tentação; de fato, se isto tivesse vindo como uma declaração ou
mandamento, Jesus teria de fazer tal coisa para cumprir a vontade do
Pai.
Portanto, Deus é o autor do pecado, mas
Ele não é o tentador. É obvio que isto de modo algum distancia Deus do
mal, mas somente especifica o Seu relacionamento com ele. Assim temos de
supor que quando Tiago enfatiza que Deus não tenta, não tem a intenção
de distanciar Deus do pecado. Isto se torna até mais claro quando Ele
não nomeia satã como o tentador, mas dirige o foco para o mau desejo de
uma pessoa, o qual é o fator espiritual e psicológico que a leva a
sucumbir à tentação. Se Tiago está interessado na identificação do
tentador, porque é que ele não aponta para o diabo? A Escritura o
retrata como tal em Gênesis, quando tentou Eva, e nos Evangelhos, quando
tentou Jesus. E mais adiante na carta, Tiago mostra que ele está
consciente do demônio quando ele escreve: “Resistam ao diabo, e ele
fugirá de vocês” (4: 7). Se a intenção dele é identificar o tentador,
especialmente em contraste com Deus, este seria o lugar para fazê-lo.
Mas ele não menciona o demônio aqui porque ele tem um propósito
diferente.
Assim, afirmar que Deus não é o autor do
pecado baseando-se no versículo 13 é se desviar da finalidade do texto,
e esta utilização errada termina por roubar o estudante das Escrituras
de sua valiosa instrução. Se Tiago quer distanciar Deus do mal, ainda
que fosse possível, o que ele escreve aqui não é a maneira de fazê-lo.
Alguém pode se queixar de que mesmo que Deus não seja o autor do pecado,
e mesmo não sendo Ele o tentador, por que permite o mal, e por que
permite a tentação? E se for sem dúvida necessário distanciar Deus do
mal para exonerá-LO, a única maneira de fazer isto do modo significativo
e numa amplitude adequada é destronando Deus e estabelecendo satã como
uma força de competição que controla diretamente o mal. Mas se satã
estiver livre do controle direto de Deus, então o próprio satã será um
outro “Deus”, se é que ainda pudéssemos de algum modo chamar cada um de
Deus. Por esta razão é tão perigoso e blasfemo negar que Deus é o autor
do pecado. Não que estejamos especialmente interessados em conectar Deus
com o mal, mas que estamos especialmente interessados em afirmar que
Deus é verdadeiramente Deus, que Ele exerce controle direto sobre todas
as coisas, e temos de insistir que este controle inclui o mal quando as
pessoas tentam negar isto, como querendo fazer um favor a Deus.
Tudo isso é para remover falsas
tradições religiosas de modo a podermos ler a passagem e aprender o que
ela realmente ensina. Em Gênesis satã foi o tentador, e quando ele falou
à mulher, ele apelou para os seus maus desejos: “Quando a mulher viu
que o fruto da árvore era bom para se comer e agradável a vista, e assim
desejável para se obter sabedoria, ela pegou e comeu dele” (3.6). Tiago
não está falando de metafísica, e não está tentando identificar o
tentador. Ele quer que assumamos a responsabilidade e que confrontemos a
tentação. Isto não se alcança culpando a soberania de Deus. O decreto
divino não é algo que possamos ditar ou negociar. Isto também não é
feito culpando o diabo por ser o tentador. Nós não temos soberania sobre
o diabo, e não podemos impedi-lo de ser o tentador. Porém, somos
responsáveis pelo exame dos nossos desejos, e se eles nos fazem
suscetíveis às tentações, temos de resisti-los. Devemos estar sempre
atentos aos nossos pensamentos e motivos, para cultivarmos aqueles que
nos mantêm no caminho da retidão e anularmos aqueles que nos arrastariam
para longe de Deus, levando-nos para o caminho da rebelião e da
transgressão. Esta é a maneira de dominar as tentações.
Dos nossos desejos nasce o pecado (v.
15), mas da verdade de Deus nasce nossos espíritos renovados como
crentes em Jesus Cristo (v. 18), de modo que “pudéssemos ser como que as
primícias de toda a criação”. Naturalmente, os cristãos são as
primícias, mas não no sentido cronológico, visto que as outras coisas na
criação foram feitas antes de nós, e as nossas conversões aconteceram
em diferentes ocasiões no tempo. Para ser exato, somos as primícias de
tudo que Ele criou em termos de categoria, honra e prioridade. Isto traz
à tona a diferença em status entre cristãos e não-cristãos. Nós somos
as primícias porque Deus nos fez nascer na fé cristã, apesar de outros
serem humanos como nós, eles não são conversos, e assim não são as
primícias. Os cristãos, portanto, são de uma qualidade inteiramente
superior da humanidade. Assim, não é de admirar que Tiago tenha escrito:
“Meus amados irmãos, não se deixem enganar. Toda boa dádiva e todo o
dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como
sombras inconstantes” (vv 16-17). Que insulto é, se tudo o que tiramos
desta passagem for a falsa inferência de que Deus não é o autor do
pecado. Que doutrina patética. Que teologia fraca. Tiago não está
interessado nisto.
Cristãos, não se deixem enganar. Não
permaneçam na escravidão de tradições religiosas que declaram
reverenciar a Deus e defender a Sua retidão, mas que de fato estão
cheias de descrença, arrogância e que impõem a Deus limitações
concebidas pelos homens que Ele nunca colocou em Si mesmo. Não aceitem
qualquer coisa a menos do que o apóstolo nos diga. Se Deus deu a você o
nascimento espiritual pelo Evangelho de Jesus Cristo, então fez de você
as primícias da criação. Ele é o Seu Pai. Ele não é seu inimigo. Deus é o
Senhor que controla as tentações, e pela mesma razão Ele é também o
Senhor que o ensina a superá-las e a crescer na fé neste processo.
Portanto, quando enfrentar sofrimentos e tentações, não se torne amargo e
nem use a Sua soberania contra Ele, mas examine os seus próprios
pensamentos e motivos. A maneira de lidar com tentações é afirmando a
bondade de Deus e confrontar as suas compulsões, necessidades e
ambições. Se você aprender a dominar os seus maus desejos, então você
porá um fim ao pecado antes que ele tenha a chance de conceber. Isto foi
o que Deus disse a Caim, mas ele não deu ouvidos, e matou o seu próprio
irmão (Gn 4.6-7).
NOTAS:
[1] – Veja Vincent Cheung, Teologia Sistemática, Comentário sobre Efésios, O Autor do Pecado e Blasfêmia e Mistério.