sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Bem-aventurados os puros de coração

Referência: Mateus 5:8
INTRODUÇÃO
1. Esta bem-aventurança trata da essência da vida cristã. Esse é o alvo final da vida: ver a Deus.
2. Só aqueles que reconhecem sua total carência e choram pelos seus pecados, podem ser ser cheios de Deus e mansos diante dos homens. Só os que reconhecem que são pecadores podem ter corações puros.
3. Vamos interpretar este texto apartir de suas três expressões principais: coração, pureza, verão a Deus.
I. ONDE A PUREZA DEVE SER CULTIVADA
1. Qual é o sentido bíblico de coração?
· O coração é tido como o centro da personalidade. Não indica meramente a sede dos afetos e das emoções. Nas Escrituras “coração” inclui mente, emoção e vontade. Fala do homem na sua totalidade. Jesus está falando que a pureza deve penetrar em todos os corredores da nossa vida: nossos pensamentos, emoções, motivações, desejos e vontade.
2. O coração é a fonte de todas as nossas dificuldades
· Jesus esclareceu: “Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt 15:19). É um erro pensar que o mal está no meio ambiente. Adão caiu no paraíso, num ambiente perfeito. O coração é enganoso…mais do que todas as coisas e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jr 17:9). John Locke, Augusto Comte, Jean Jacques Rousseau estavam equivocados acerca do homem.
· De tudo o que o homem deve guardar, principalmente deve guardar o seu coração. Dele procedem as fontes da vida. Davi orou: “Que as palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença”.
· Algumas pessoas tratam com seus pecados como Joquebede tratou seu filho Moisés: 1) Escondem seus pecados num cesto betumado; 2) deixam por um momento seus pecados, mas ficam de olho neles; 3) buscam avidamente seus pecados para alimentá-los.
3. Porque a pureza deve ser principalmente no coração?
a) Porque a pureza exterior pode ser apenas aparente – Deus vê não a aparência, mas o coração. Jesus condenou a hipocrisia dos fariseus que mantinham uma santidade exterior, mas eram impuros por dentro. Limpavam o exterior do copo, mas havia sujeira dentro. Eram como sepulcros caiados (Mt 23:25,27). Os fariseus eram bons apenas na aparência. Por isso Jesus disse: “Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no Reino dos céus” (Mt 5:20).
b) Porque o coração é o lugar da morada de Deus – Deus habita no coração. Se o nosso corpo é o templo do Espírito, o coração é o santo dos santos. Deus habita com o abatido e contrito de coração (Is 57:15; Ef 3:17). O coração puro é o paraíso de Deus, onde ele se deleita em habitar.
4. Sinais de um coração puro
a) Um coração puro serve a Deus com integridade – Quem tem o coração puro faz as coisas com sinceridade. Quando seus lábios estão orando, seu coração está orando, como Ana fez (1 Sm 1:13). Quadno seus lábios cantam, ele está adorando de coração ao Senhor (Ef 5:19). Deus ama o coração quebrantado, mas não o coração dividido (Os 10:2).
b) Um coração puro evita a aparência do mal – Um coração puro afasta-se de toda a aparência do mal (1 Ts 5:22). Ele não flerta o pecado. Ele não vive na região do perigo. Ele não paquera a tentação. Ele foge do perigo como José do Egito. Ele foge porque respeita a santidade de Deus. Ele foge da aparência do mal para não escandalizar os fracos. Ele foge da aparência do mal para não ser pedra de tropeço para o ímpio.
II. O QUE SIGNIFICA PUREZA DE CORAÇÃO
1. Os cinco tipos de pureza à luz da Bíblia
1) Pureza primitiva – É o tipo de pureza que existe apenas em Deus. É tão essencial em Deus como a luz é para o sol.
2) Pureza criada – Esta é a criação de um ser puro, antes da Queda. Deus criou anjos em pureza, e criou o homem em pureza. Ambos caíram.
3) Pureza final – Esta é a categoria de glorificação. No fim dos tempos, todos os salvos serão completamente puros. “seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1 Jo 3:2).
4) Pureza posicional – Esta é a pureza que temos agora, atribuída pela justiça de Cristo.
5) Pureza prática – Apenas Deus conhece a pureza primitiva. Apenas Deus pode conceder a pureza criada. Algum dia, Deus concederá a todos os santos a pureza máxima. Neste exato momento, todos os santos têm a pureza posicional. Mas agora somos desafiados por Deus: “Purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2 Co 7:1).
2. O sentido bíblico da palavra pureza
a) Sentido comum da Palavra – A palavra grega usada aqui (kázaros) tem vários significados: 1) Era usada para designar a roupa suja que foi lavada; 2) Era usada para designar o trigo que tinha sido separado da sua palha. Com o mesmo significado era usado para um exército do qual se tinha eliminado os soldados descontentes ou medrosos; 3) Era usada para descrever o vinho ou leite que não havia sido adulterado mediante adição de água; algo sem mescla; 4) Era usado para o ouro puro sem escória.
b) O sentido bíblico da Palavra – A palavra “limpos” significa: 1) destituído de hipocrisia – Uma devoção não-dividida. Salmo 86:11: “Dispõe-me o coração para só temer o teu nome”. A nossa grande dificuldade é nosso coração dúplice. Uma parte do meu ser quer conhecer, adorar e agradar a Deus, mas uma outra porção quer algo diferente. Romanos 7:22-23: “Porque no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei que guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros”. O coração limpo é o coração que não está dividido. 2) destituído de contaminação – sem mácula, puro, íntegro. “Buscai a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12:14).
3. Razões para termos um coração puro
a) Porque esta é uma ordem de Deus – “Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pe 1:16). “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1 Ts 4:3). Pode não ser a expressa vontade de Deus que você seja rico, mas é a clara vontade de Deus que você seja santo.
b) Porque a pureza é o propósito da nossa eleição – “Deus nos escolheu em Cristo para sermos santos e irrepreensíveis” (Ef 1:4). Deus nos escolheu não por causa da nossa santidade, mas para a santidade. Deus nos predestinou para sermos conformes a imagem de Jesus (Rm 8:29). A não ser que você seja santo, você não terá nenhum sinal da eleição sobre sua vida.
c) Porque a pureza é o propósito da nossa redenção – Se Deus pudéssemos ir ao céu em nossos pecados, Cristo não precisaria ter morrido na cruz. Cristo nos remiu não no pecado, mas do pecado, para purificar um povo totalmente seu (Tt 2:14). Cristo morreu não apenas para nos livrar da ira, mas também do pecado.
4. Por que devemos ter um coração puro?
a) Devemos ter um coração puro por amor a nós mesmos – A Bíblia que para os puros, todas as coisas são puras (Tt 1:15). Suas ofertas são impuras, suas orações são impuras, seu louvor é impuro. Um coração impuro contamina tudo o que faz. Suas obras são obras mortas (Hb 6:1).
b) Devemos ter um coração puro por amor a Deus – Deus é santo. Ele é tão puro de olhos que não pode contemplar o mal. Sem santidade ninguém verá o Senhor. Não há comunhão das trevas com a luz e Deus é luz. Os nossos pecados fazem separação entre nós e Deus.
c) Devemos ter um coração puro porque é isto que nos torna parecidos com Deus – Adão foi muito infeliz quando quis ser igual a Deus em sua onisciência; devemos ser iguais a Deus em santidade. A imagem de Deus em nós consiste em santidade. Se não formos santos, o Senhor nos dirá: “Eu nunca vos conheci”.
5. Como ter um coração puro?
a) Observando a Palavra de Deus – A Palavra de Deus é pura e ela nos lava (Jo 15:3). Jesus orou: “Pai, santifica-os na verdade, a tua Palavra é a verdade” (Jo 17:17). A Palavra é como o espelho que mostra a nossa impureza e como a água que nos lava da impureza.
b) Banhando-nos nas lágrimas do arrependimento – Pedro maculou-se com o seu pecado, negando a Jesus, mas suas lágrimas de arrependimento lavaram-lhe a alma. Maria Madalena lavou os pés de Jesus com suas lágrimas. Com suas lágrimas ela lavou seu coração e os pés de Jesus.
c) Purificando-nos no sangue de Cristo – O sangue de Cristo é uma fonte de purificação. Seu sangue nos limpa de todo pecado (1 JO 1:7).
d) Recebendo a purificação do Espírito – O Espírito é comparado ao fogo (At 2:3). O fogo tem uma natureza purificadora. Ele refina e limpa os metais. Ele separa a escória do ouro. O Espírito é comparado ao vento. O vento purifica o ar. O Espírito é comparado à água. A água limpa.
e) Clamando a Deus por um coração puro – “Quem pode tirar uma coisa pura de uma impura?” Jó 14:4; 15:14). Só Deus pode! Devemos orar como Davi: “Cria em mim, ó Deus um coração puro” (Sl 51:10). Devemos lutar em oração como Jacó. Devemos derramar a nossa alma como Ana.
III. A GLORIOSA RECOMPENSA DE SE TER UM CORAÇÃO PURO: VERÃO A DEUS
1. Eles verão a Deus nesta vida e na vida porvir
· Agora vemos a Deus pela fé. Agora, vêmo-lo nas obras da criação, da providência e da redenção. Mas, então veremos face a face. Agora vemos como por espelho, mas então veremos já sem véu. Então, conheceremos como também somos conhecidos.
· A visão de Deus na vida porvir é o céu dos céus. Embora, nos deleitaremos na incontável assembléia dos santos, embora unir-nos aos coros engelicais será uma grande glória, a maior de todas as glórias, a maior de todas as recompensas será a visão que teremos de Deus. Essa é a promessa mais consoladora.
· Jó encontrou refúgio para a sua dor, quando disse: “Eu sei que o meu redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra. Depois revestido esse meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão…” (Jó 19:25-27).
2. Excelências da nossa visão de Deus no céu
1) Nossa visão de Deus no céu será visão transparente – “Agora, vemos como por espelho, obscuramente, mas depois, conheceremos como também somos conhecidos” (1 Co 13:12). Diz João que nós o veremos como ele é (1 Jo 3:2). O menor crente no céu tem uma compreensão mais ampla de Deus de que o maior teólogo na terra.
2) Nossa visão de Deus na glória será uma visão transcendente – Paulo diz que nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (1 Co 2:9). Quando João viu aquele que está no trono em Apocalipse 4 ele apenas descreveu o seu fulgor. As palavras não podiam descrever a magnitude daquela revelação. Se a visão que temos de Deus agora já é sublime, como não será aquela gloriosa visão, quando o veremos face a face? Quando Jesus foi transfigurado seu rosto brilhava como o sol e sua roupa como a luz. Todas as luzes do sol e das estrelas serão eclipsadas diante da glória da visão de Deus.
3) Nossa visão de Deus será uma visão transformadora – João diz: “Sabemos que quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1 Jo 3:2).Os remidos serão transformados na glória. Nós somos co-participantes da natureza divina. Também receberemos um corpo de glória, semelhante ao corpo de Cristo.
4) Nossa visão de Deus será uma visão de profunda alegria – “Fizeste-me conhecer os caminhos da vida, encher-me-ás de alegria na tua presença” (At 2:28). Na prença de Deus há plenitude de alegria, delícias perpetuamente (Sl 16:11). Se já agora, não vendo a Deus, podemos exultar com alegria indizível e cheia de glória, imagine a alegria de estarmos com Deus, vendo a Deus face a face por toda a eternidade!
5) Nossa visão de Deus não será apenas uma visão gloriosa, mas uma fruição bendita – Quando entrarmos na glória, o Senhor vai nos receber dizendo: “Entrem no gozo do teu Senhor” (Mt 25:21). Na presença de Deus tem plenitude de alegria (Sl 16:11). Coloque o mundo inteiro em seu coração, e ele continuará vazio. Mas Deus satisfaz. Quando você ver o Senhor na sua glória, os encantantos da terra perdem o seu encanto. Só Deus satisfaz.
6) Nossa visão de Deus será uma visão que jamais perde o seu encanto – O filho pródigo sentiu-se entediado da Casa do Pai. Adão e Eva queriam algo mais do que a beleza de um jardim. Salomão não safisfez sua alma com os prazeres, riquezas e fama. Mas jamais ficaremos entediados de ver a Deus. Deus é infinito, inesgotável. Veremos a Deus por toda a eternidade sem jamais esgotarmos a beleza e a glória de Deus.
7) Nossa visão de Deus será uma visão abençoadora – Adão e Eva desejaram comer o fruto e isso lhes trouxe cegueira e morte espiritual. Acã viu uma barra de ouro e por cobiça-la sua vida foi destruída. Davi olhou para Bate-Seba e sua família foi assolada. Mas você jamais será pleno, feliz, glorificado até que veja o Senhor.
8) Nossa visão de Deus será uma visão perpétua – Aqui nós nos separamos e nos despedimos daqueles a quem amamos. Mas nós estaremos com Deus e veremos a Deus por toda a eternidade.
9) Nossa visão de Deus será uma visão repentina – Quando um remido fecha os olhos neste mundo, ele imediatamente é levado para o seio de Abraão, para contemplar o Senhor na sua glória. Tão logo a morte feche os nossos olhos aqui, abri-lo-emos na glória.
CONCLUSÃO
1. Uma terrível sentença – Aqueles que têm o coração impuro, não verão a Deus. Sem santificação ninguém verá o Senhor. Aqueles que se recusaram a ser lavados no sangue do Cordeiro serão banidos para sempre da face do Senhor e viverão para sempre nas trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes. Ó Deus é luz, Deus é amor. Longe de Deus só reina treva, ódio. Hoje, Deus pode purificar o seu coração, dar-lhe um novo coração e fazer de você uma pessoa feliz, bem-aventurada.
2. Uma gloriosa herança – Os limpos de coração verão a Deus. Mais do que tesouros, mais do que glórias humanas, nossa maior recompensa é Deus. Ele é melhor do que todas as suas dádivas. Ele é a nossa herança. Teremos a Deus, veremos a Deus por toda a eternidade! Oh que glória isso será! Ilustração: Martyn Lloyd-Jones: “Não orem por minha cura, não me detenham da glória. Dwight Liman Moody: “Afasta-se a terra, aproxima-se o céu, estou entrando na glória”.
Rev. Hernandes Dias Lopes.
www.hernandesdiaslopes.com.br
Prefeita de Monteiro investe na agricultura familiar
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Ao distribuir no início desta semana, 10 mil quilos de sementes selecionadas de milho e feijão e 10 mil raquetes de palma forrageira resistente à cochonilha do carmin, a prefeita Edna Henrique confirmou que a Prefeitura estará investindo fortemente na agricultura familiar, em parceria com o governo estadual e governo federal.

A prefeita informou que está montando no CENDOV – Centro Integrado de Desenvolvimento da Ovinocaprinocultura uma equipe técnica para dar todo o suporte aos produtores e associações comunitárias, inclusive na elaboração e encaminhamento de projetos.

Edna Henrique confirmou também que a Prefeitura de Monteiro já montou todo o projeto para realização da 1ª Expofeira da Agricultura Familiar e Exposição de Animais do Semiárido, que pretende realizar no período de 26 a 29 de maio.

“Estamos somente aguardando a definição de apoios dos parceiros para confirmarmos a realização desse evento que terá um papel muito importante para a economia da nossa região”, comentou a prefeita.

Midia10

A doutrina da imputação

E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta. Fm 18

Numa forma bastante simplificada, imputar significa “colocar na conta de”, “atribuir a”. Nas Escrituras, o termo imputar denota atribuir alguma coisa a uma pessoa ou encarregar alguém de algo ou, ainda, lançar alguma coisa na conta de alguém. Num sentido judicial, a imputação pode ser a base para recompensa e punição. O termo imputar e seus cognatos são utilizados várias vezes para traduzir o verbo hebraico chashabh e o verbo grego logizomai (ISBE).

O conceito está intimamente relacionado a três grandes verdades teológicas: o pecado original (a culpa de Adão é imputada a todos os seus descendentes), a expiação (nossos pecados são imputados a Cristo) e a justificação (a justiça de Cristo é imputada a nós). Ou seja, a imputação está fortemente ligada à reconciliação entre Deus e o homem. Na carta de Paulo a Filemon a idéia é belamente exemplificada. Paulo pede a Filemon que se reconcilie com Onésimo e para isso aceita que a dívida deste seja lançada em sua própria conta.

A imputação da culpa de Adão à sua descendência

O pecado original é um defeito da natureza humana causada pela Queda e consiste na perda e, consequentemente, na ausência da retidão original. O pecado original consiste na culpa hereditária, imputada a toda descendência de Adão e na corrupção hereditária, transmitida a todos os descendentes de Adão e Eva por geração.

No que se refere à imputação do pecado original, os teólogos constumam distinguir, e discordar quanto, a imputação mediata e imediata. Imputação mediata refere-se à divina atribuição da culpa pelo pecado por causa da corrupção hereditária de todas as pessoas. Assim, a imputação mediata é dependente da corrupção individual dos seres humanos. Por outro lado, a imputação imediata refere-se à divina atribuição de culpa a todas as pessoas por causa da Queda, isto é, a culpa pela Queda é atribuída a toda descendência de Adão e Eva à parte de sua corrupção hereditária. Os luteranos tendem a reconhecer tanto a imputação mediata quanto a imediata, os reformados, seguindo a teologia dos pactos e sua visão de Adão como representante federal, tendem a aceitar a imputação imediata apenas, excluindo a imputação mediata. A escola de Saumur vai na direção contrária, ensinando a imputação mediata apenas, o que é rejeitado pelos calvinistas, pois é prejudicial à imputação da satisfação de Cristo. Os socianianos e alguns arminianos negam qualquer tipo de imputação do pecado. Pelágio, acreditava que Deus criava todas as almas diretamente, por isso cada pessoa nascia inocente e imaculada. Para Armínio, a culpa pelo pecado de Adão não era imputada diretamente, mas apenas quando o homem aliava-se a esse pecado pelos seus próprio. Embora não considerasse que o homem nasce com a retidão original, entendia que “Deus concede a cada indivíduo, desde a primeira aurora da consciência, luz que é suficiente para anular a influência da depravação herdada”.

Paulo escreve que “por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5:12). Esclarece o apóstolo que “pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores”, ou seja, o pecado de um foi imputado a toda a raça, haja vista ser este homem representante de todos, por isso que “todos morrem em Adão” (1Co 15:22).

A imputação dos nossos pecado a Cristo

Além da culpa herdada pelo pecado de Adão, cada pessoa é culpada pelos seus próprios pecados. Quanto ao Senhor Jesus, devido à sua concepção sobrenatural, nasceu livre da culpa pelo pecado de Adão e durante toda sua vida nunca pecou. Porém, quando “Aquele que não conheceu pecado” morreu como nosso substituto, Deus “O fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5:21). Então, Cristo estava “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça” (1Pe 2:24), pois “o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos” (Is 53:6).

Embora o termo imputação não apareça em textos bíblicos sobre a transferência de nossos pecados a Cristo, o conceito é tipificado no sistema sacrifical do Antigo Testamento. “E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária; e deixará o bode no deserto” (Lv 16:21-22). A aplicação disso a Cristo é visto, por exemplo, em Hb 2:9: “aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”.

A imputação da justiça de Cristo a nós

De Gênesis a Apocalipse a Bíblia ensina que a condição do pecador é a de “um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Ap 3:17, cf. Gn 3:7). Diante da expectativa de encontrar-se com Deus, sua reação instintiva é de vestir-se de justiça própria, mas o Senhor considera “todas as nossas justiças como trapo da imundícia” (Is 64:6). Somente quando Deus nos veste com Sua justiça, podemos dizer “regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas jóias” (Is 66:10). E este vestir de Deus vem a nós por imputação.

A imputação da satisfação de Cristo é a base da justificação pela graça mediante a fé. O pagamento de Cristo pelos pecados é imputado a nós, de forma que não precisamos mais pagar pelos nossos pecados. Os injustos são considerados justos sobre o fundamento de sua fé. E como a justa satisfação de Cristo é imputada imediatamente aos crentes, sem que nenhuma justiça esteja presente neles ou quallquer satisfação seja feita por eles antes da imputação, então a imputação do pecado também deve ser imediata.

A imputação da retidão de Cristo ao crente é o tema do quarto capítulo de Romanos, além de outras passagens. Pela Sua vida de perfeita obediência, Jesus é chamado de “o Santo e Justo” (At 3:14). Jesus viveu uma vida santa não apenas para Si, “mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4:24-25). É somente por causa da justiça de Cristo a nós atribuída que poderemos, naquele dia, ser apresentados “imaculados diante da sua glória” (Jd 24). Aliás, em qualquer momento, nós so podemos ficar em pé na presença de Deus por causa da justiça que Cristo atribuiu a nós pela Sua morte sacrificial em nosso favor.

Implicações

É impossível referir todas as implicações que podemos derivar da doutrina da imputação. Refiro-me a três delas, apenas. A primeira, é que sendo descendência de Adão, não nascemos inocentes e somos culpados diante de Deus. Considerar isso injusto é também insurgir-se contra a justificação pela fé, pois o mecanismo, por assim dizer, é o mesmo. Somos culpados diante de um Deus três vezes santo.

Em segundo lugar, é que sendo justificados através da imputação da justiça de Cristo, não temos do que nos gloriar diante de Deus. Não somos menos merecedores do inferno do que aqueles que para lá vão. Se podemos comparecer diante de Deus em retidão, isso é devido unicamente, à justiça de outro, a saber, Jesus Cristo. Portanto, toda glória é devida a Ele, e nada a nós.

Finalmente, há a segurança que a doutrina da imputação nos dá. Pois se somos aceitos diante de Deus pela justiça de Cristo, e sendo esta perfeita, não há por que temer pela nossa segurança eterna. Paulo se refere a isso quando diz “agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). No final do capítulo ele pergunta: “quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8:33). Portanto, se cremos na justificação por imputação a nós da justiça de Cristo, não tememos pela nossa salvação eterna.

Soli Deo Gloria
Clóvis Gonçalves

História da Igreja Reformada



Na manhã do dia 31 de outubro de 1517 AD., Martinho Lutero, monge agostiniano e professor de teologia da Universidade de Wittemberg, Alemanha, fixou, na porta da Igreja do castelo de Wittemberg, 95 teses ou declarações, lançando assim as bases para a Reforma Religiosa do século XVI. Portanto, estamos completando, no dia 31 de outubro deste ano, 493 anos de Reforma Protestante.
Segundo Cairns (1984, p.240), a Reforma pode ser conceituada como: “Um movimento de reforma religiosa [na Igreja Católica romana] objetivando voltar à pureza original do Cristianismo do Novo Testamento e resultando na formação de Igrejas nacionais, entre 1517 a 1563.”
Apesar da contribuição de fatores intelectuais, morais, sociais, políticos e econômicos para o advento da Reforma, o mais importante e decisivo desses fatores foi o teológico. A Igreja Católica Romana, desde a época do imperador Constantino, 323 AD., já vinha acumulando uma série de desvios teológicos, em relação ao ensino das Sagradas Escrituras, e no início do século XVI, a Igreja havia chegado a ponto de vender indulgências ou “passagens para o céu.” As indulgências eram documentos que as pessoas adquiriam por uma importância em dinheiro e que, segundo a Igreja Católica Romana, livrava aqueles que as comprassem das penas do pecado. As indulgências tinham sido declaradas como dogma, em 1343 AD., pelo papa Clemente VI, e depois estendidas também às almas, no purgatório, em 1476 AD., pelo papa Sixto IV. João Tetzel, um dominicano, encarregado pelo papa Leão X de vender indulgências na Alemanha, dizia que: “A indulgência que eles [ele e sua comitiva] vendiam deixava o pecador ‘mais limpo do que saíra do batismo’, ou ‘mais limpo do que Adão antes de cair’, que ‘a cruz do vendedor de indulgência tinha tanto poder como a cruz de Cristo’, e que no caso de alguém comprar uma indulgência para um parente já morto, ‘tão pronto a moeda caísse no cofre, a alma saía do purgatório.”(GONZALES, 1983, p.53).
Foi contra estes e outros desvios doutrinários que Lutero fixou as suas 95 teses, na porta da Igreja de Wittemberg, analisando-os à luz das Sagradas Escrituras. O interesse de Lutero era que a Igreja reconhecesse os seus erros, se arrependesse e voltasse a ser uma igreja conforme os padrões da Bíblia. Mas a resposta da Igreja veio através de bulas papais, excomunhão, inquisição e ameaças de morte. Lutero, então, logo percebeu que só lhe restavam duas opções: retratar-se de seus ensinos, ministrados à luz das Sagradas Escrituras, ou suplicar a ajuda de Deus e prosseguir em frente; sendo esta a sua decisão, assumida na dieta de Worms (Alemanha), em 1521 AD., dizendo em alemão: “É impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente. Minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus, e não é seguro nem honesto agir-se contra a consciência de alguém. Assim, Deus me ajude. Amém.” (NICHOLS, 1985, p. 151).
Lutero, de fato, precisava suplicar a ajuda de Deus, pois muitos de seus antecessores já haviam sido mortos por ordem dos tribunais da inquisição, como por exemplo, João Huss (1373-1415), queimado vivo por decisão do Concílio de Constança, em 1415 AD. E Deus o ajudou pelos caminhos da providência, preservando-lhe a vida e dando-lhe condições de continuar o seu trabalho. Lutero traduziu a Bíblia para a língua alemã, possibilitando ao povo, por si mesmo, ler a Palavra de Deus e conhecer a verdade.
Assim, a Reforma ganhou força consolidando-se na Alemanha. Na Suíça, a Reforma teve a contribuição de Zuínglio (1484-1531) e depois de João Calvino (1509-1564), que sistematizou o pensamento teológico reformado expondo-o com a publicação, em 1533 AD., da obra: As Institutas da Religião Cristã.  A teologia calvinista impulsionou a Reforma na Escócia, com João Knox (1515-1570), na Holanda, Inglaterra e França.

Os princípios básicos da Reforma são:

1º - A SUPREMACIA DA BÍBLIA SOBRE A TRADIÇÃO ou Sola Scriptura. Somente a Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é a única regra de fé e de prática. A tradição por melhor que seja, tem apenas valor histórico. 2 Timóteo 3.15-17; Gálatas 1.8-9;

2º - A SUPREMACIA DA FÉ SOBRE AS OBRAS ou Sola Fide. O homem é salvo pela fé no sacrifício vicário de Cristo sem a cooperação de obra alguma. As obras testificam a fé, mas não ajudam o homem na sua salvação. Efésios 2.8-9; Romanos 1.16-17; 5.1; Gálatas 2.16.

3º - SALVAÇÃO PELA GRAÇA ou Sola Gratia. A salvação é um ato exclusivamente da graça, do favor imerecido de Deus, para com os homens. É Deus quem chama, salva e aplica no coração dos homens a sua graciosa salvação. Efésios 2.8-9; Romanos 8.28-30.

4º - A SUFICIÊNCIA DO SANGUE DE CRISTO ou Solo Christi. O sacrifício de Cristo é suficiente e eficiente para a salvação do homem. Não há necessidade de mais nada: obras, ritos ou cerimônias. João 1.29; 3.14-16; 5.24; Hebreus 9.10-12;

5º - A SOBERANIA DE DEUS ou Sole Deo Glorie. Deus é o soberano Senhor e tudo está debaixo da sua soberania. Romanos 11.33-36.

Concluindo, a Reforma é um marco na história do Cristianismo e um divisor de águas. Redescobriu o princípio da supremacia do povo sobre o sacerdote ou Sacerdócio Universal dos Crentes. Em Cristo, todos nós somos sacerdotes servindo uns aos outros. 1 Pedro 2.9. Ela surgiu e venceu os obstáculos de sua época, porque homens e mulheres se consagraram à obra do Senhor, e ele, como o único Senhor da Igreja e da História, soberanamente dirigiu todos os fatos.
A influência da Reforma não ficou restrita apenas ao campo da religião, mas alcançou também a vida social, cultural e política dos povos, contribuindo para a formação de um mundo mais comprometido com a Palavra de Deus, com os direitos humanos, com a liberdade e o progresso. A Deus toda a glória!

Rev. Gilson Altino da Fonseca
Professor de História da Igreja Cristã no Instituto Bíblico Eduardo Lane, em Patrocínio, MG.

Referências:

CAIRNS, E. E. O Cristianismo através dos séculos. São Paulo: Vida Nova, 1984.
GONZALES, J.L. Uma história ilustrada do Cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1983. v.I-V
HULBUT, J.L. História da Igreja Cristã. Miami: Vida, 1998.
NICHOLS, R. H. História da Igreja Cristã. 6. ed., São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985.

SMITH, William S. Do Pentecostes até o Renascimento. 3. ed. Patrocínio: Ceibel, 1984.
Fonte: www.ibel.org.br

A lista que salvou meu casamento

Autor: Becky Zerbe
Antes de desistir de seu casamento, faça uma lista daquilo que ele tem de bom.

O dia finalmente chegou. Eu insisti o quanto pude para manter meu casamento. Assim que Bill, meu marido, saiu para o trabalho, fiz uma única mala para mim e meu filho de 14 meses e abandonei nosso lar. Este era o único ano em nosso casamento que vivíamos na mesma cidade que meus pais. Obviamente, a conveniência de poder correr para os braços de papai e mamãe tornou a decisão de deixar Bill mais fácil.

Foi com um rosto enraivecido e molhado de lágrimas que entrei na cozinha de minha mãe. Ela pegou o bebê enquanto eu, entre soluços, fazia minha declaração de independência. Depois de lavar o rosto e tomar uma xícara de café, mamãe me disse que papai e ela me ajudariam. Era reconfortante saber que eles estariam ali para me apoiar.

“Mas, antes que deixe Bill definitivamente”, ela disse, “tenho uma tarefa para você”.

Minha mãe colocou o bebê adormecido na cama e, pegando uma folha de papel e uma caneta, traçou uma linha vertical dividindo a folha ao meio. Ela me explicou que eu deveria escrever na coluna da esquerda uma lista de todas as coisas que Bill havia feito e que tornavam impossível a convivência com ele. Conforme observava a linha divisória, imaginei então, que ela me pediria para relacionar as boas qualidades de Bill na coluna da direita. “Vai ser fácil”, pensei. Imediatamente a caneta começou a deslizar sobre o papel, e rapidamente cheguei ao final do lado esquerdo.
Lomadee, uma nova espécie na web. A maior plataforma de afiliados da América Latina.

Para começar, Bill nunca juntava as roupas que ele deixava pelo chão. Nunca me avisava quando ia sair. Dormia durante os cultos. Tinha hábitos deselegantes e embaraçosos, como por exemplo, assoar o nariz ou arrotar à mesa. Nunca me comprava bons presentes. Recusava-se a combinar as roupas, era rigoroso com gastos e não me ajudava com as tarefas domésticas. Também não gostava de conversar comigo.

A lista continuava até encher toda a folha. Certamente eu tinha evidências mais do que suficientes para provar que nenhuma mulher seria capaz de viver com este homem.

Declarei pretensiosamente, logo, que terminei:

“Agora sei que você vai me pedir para escrever as boas qualidades de Bill do lado direito”.
“Não”, ela respondeu. “Eu já conheço as qualidades de Bill. Em vez disso, gostaria que, para cada item do lado esquerdo, escrevesse qual foi a sua reação e o que você fez”.

Bem, isto já seria mais difícil. Eu já havia pensado nas poucas qualidades de Bill que poderia mencionar. Porém, em nenhum momento considerei pensar sobre mim mesma. Eu tinha certeza que mamãe não me permitiria deixar a tarefa incompleta. Então, comecei a escrever a segunda coluna.

Em resposta às atitudes dele eu fazia cara feia, chorava e sentia raiva. Eu me envergonhava de sua companhia. Eu me comportava como uma “mártir”. Desejava ter me casado com outra pessoa. Dava-lhe o “tratamento silencioso”. Acreditava que era boa demais para ele. O meu lado da lista parecia não ter fim.

Quando cheguei ao final da página, mamãe pegou o papel da minha mão e foi até a gaveta do armário. Ela pegou uma tesoura e cortou-o ao meio no sentido da linha vertical que havia traçado. Pegou a coluna da esquerda, amassou-a e a jogou no lixo; e voltando-se em minha direção me entregou o lado direito.

“Becky, leve esta lista de volta para casa com você”, ela me disse. “Passe o restante do dia refletindo sobre ela. Ore sobre isso. Cuidarei do bebê até o anoitecer. Se fizer o que estou lhe pedindo, e depois se você sinceramente ainda quiser se separar de Bill, seu pai e eu estaremos aqui para lhe ajudar”.

Encarando os fatos – Deixando a bagagem e meu filho na casa dos meus pais, dirigi de volta para casa. Assim que sentei no sofá com aquele pedaço de papel na mão, não pude acreditar no que estava vendo. Mesmo sem uma análise adequada dos hábitos irritantes de meu marido, a minha lista parecia simplesmente horrível.

O que eu podia ver era um verdadeiro recorde de comportamentos mesquinhos, atitudes vergonhosas e reações destrutivas. Gastei as horas que se seguiram pedindo a Deus que me perdoasse. Pedi a Deus força, orientação e sabedoria para as mudanças que agora eu sabia que teriam que ocorrer em mim. À medida que continuava orando, percebi a maneira ridícula com que estava me comportando. Eu me lembrava vagamente das transgressões que tinha escrito para Bill. Era uma lista completamente absurda. Não havia nada de tão horrível ou imoral nela. Na verdade, eu havia sido abençoada com um bom homem – não um homem perfeito, mas um bom homem.

Meus pensamentos recuaram até cinco anos atrás. Eu havia feito um voto a Bill. Eu o amaria e o honraria na saúde ou na doença. Estaria com ele para o melhor e para o pior. Eu havia dito essas palavras na presença de Deus, da minha família e dos nossos amigos. E hoje, pela manhã, estava pronta para abandoná-lo por causa de aborrecimentos triviais.

Neste momento peguei o carro e voltei à casa de meus pais. Eu estava maravilhada de como me sentia tão diferente de quando havia chegado da primeira vez, de manhã, para encontrar minha mãe. Agora me encontrava em paz; sentia-me agradecida e aliviada.

Quando peguei meu filho de volta, senti-me alarmada ao pensar em como estava prestes a fazer uma mudança tão drástica em minha vida. Meu egoísmo quase custara a essa criança a oportunidade de conviver todos os dias com um pai maravilhoso. Agradeci a minha mãe, e rapidamente saí porta afora, de volta para minha casa. No horário em que Bill costumava chegar do trabalho, eu já havia desfeito a mala e esperava por ele.

Um novo olhar – Eu adoraria poder dizer que Bill mudou. Mas isso não aconteceu. Ele ainda faz as mesmas coisas que “me aborrecem, me envergonham e me deixam a ponto de explodir”.

Na verdade, a mudança aconteceu comigo. Daquele dia em diante, me tornei responsável não apenas por minhas ações em nosso casamento, mas também por minhas reações.

Ainda me recordo de um item da lista: Bill dormia durante os cultos. O momento em que ele começava a cochilar sempre marcava o fim do meu período de adoração.

Eu acreditava que ele, de propósito, não tinha o menor interesse na mensagem – e meu pai era o pregador! Eu não me importava com o fato de Bill não ser capaz de permanecer acordado a qualquer hora por longos períodos. O tempo que ele gastava cabeceando de tanto sono eu gastava bufando de raiva. Sentia-me envergonhada no meio da congregação. Era uma grande humilhação. Tentava imaginar por qual razão eu havia casado com esse homem. Certamente ele não merecia uma esposa tão boa quanto eu!

Somente agora podia enxergar claramente como eu era. Meu orgulho estava atrapalhando uma parte muito importante da minha vida: a minha adoração. Agora, quando Bill cochilava na igreja, eu gastava esse momento em oração e agradecimento. Desviava os meus olhos dele dormindo e de mim mesma, para concentrar o meu olhar apenas em Deus. Em vez de deixar a igreja furiosa, passei a sair cheia de alegria.

Não demorou muito até que Bill percebesse a diferença. Ele comentou durante um almoço de domingo: “Você parece estar gostando mais dos cultos ultimamente. Eu já estava começando a pensar que você não gostava do pregador.” Meu instinto imediato seria contar-lhe como ele havia arruinado tantos cultos que assisti. Mas, ao contrário, aceitei seu comentário sem erguer minhas defesas.

Refazendo a lista – Tenho refeito essa lista muitas vezes ao longo dos anos. Continuo pedindo perdão a Deus pelo meu comportamento patético e sabedoria para vivenciar o meu casamento.

Quinze anos depois desta experiência, Bill, aos 49 anos, foi diagnosticado como portador do Mal de Alzheimer. Ele teve que abrir mão de seu trabalho como professor, e assumi o sustento da família, o que nos levou a dias de muitas tentativas e noites de muita preocupação. Observá-lo lutando para manter suas habilidades básicas diárias tem sido uma grande inspiração tanto para mim quanto para nossos filhos. Precisamos depender de nossa fé para crer que Deus está no controle – especialmente quando sentimos não ter controle algum da situação. Temos procurado na Bíblia as respostas para estas questões difíceis de entender. Gastamos nosso tempo com emoções que vão desde a raiva até a tristeza. Perguntamos-nos, “Por quê?”. Nesses momentos, clamamos a Deus e pedimos que nos dê a paz que excede a todo entendimento.

Lamentavelmente, existem dias em que minha paciência está quase esgotada mesmo sabendo que Bill não pode evitar certas coisas que me irritam. Então, percebo a minha responsabilidade em reagir com o amor que Deus tem me mostrado. Clamo a Deus e peço que ele ame Bill através de mim – porque sei que não sou capaz de amar Bill da maneira que Deus o ama.

Agradeci a Deus muitas vezes por ter uma mãe que foi minha mentora espiritual. Embora tenha certeza de que se sentiu tentada a fazê-lo, naquele dia mamãe não me passou um sermão ou me deu sua opinião sobre o meu comportamento. O que ela fez foi conduzir-me a descobrir a verdade que salvou o meu mais precioso bem: meu casamento. Se não tivesse aprendido a reagir como uma esposa cristã aos pequenos problemas de Bill, eu jamais seria capaz de reagir de maneira adequada aos grandes problemas que hoje enfrentamos.

Ao chegar em casa outro dia, meu filho me perguntou o seguinte:

“Mãe, o que vamos fazer quando papai não se lembrar mais de nós?”.

“Bom, nós vamos nos lembrar de quem ele é. Lembraremos-nos do pai e do marido que ele foi. Vamos nos lembrar de tudo que ele nos ensinou e da maneira maravilhosa com que ele nos amava”, respondi.

Depois que meu filho saiu da sala, fiquei pensando neste homem que amou sua família e o seu Deus. Sorri comigo mesma: muitas das minhas lembranças mais vívidas eram daqueles pequenos hábitos irritantes que me levaram a fazer uma lista de defeitos anos atrás.

é a autora de “Laughing with My Finger in the Dam”, e é casada com Bill há 29 anos.
Fonte:www.ejesus.com.br
Extraido de www.ipc2005.blogspot.com 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Igreja Presbiteriana com sua Ação Social em Ação

CAS visita região serrana
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O CAS  formou um grupo gestor para a coordenação dos trabalhos neste período de apoio às igrejas atingidas
Cibele Lima


cas-rj-2Nos dias 19 e 20 de Janeiro Presbítero Clineu Francisco, presidente do Conselho de Ação Social (CAS) da IPB, esteve na região Serrana do Rio de Janeiro, visitando as áreas atingidas pelas chuvas, levando consolo e ajuda aos irmãos de igrejas presbiterianas.
Em  Magé, Presb. Clineu encontrou com o Presidente do Presbitério Magé, Rev. Carlos Augusto que acompanhou nas visitas à Teresópolis e Nova Friburgo. “A finalidade da visita foi  levar nossa solidariedade, uma palavra de consolo e esperança, em nome da IPB, aos nossos irmãos e amigos bem como verificar "in loco" a situação das cidades”, explica Presb. Clineu.
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Além desse apoio pessoal, Presb. Clineu explica que foi importante essa visita para delinear auniformidade na logística de distribuição de donativos e a aplicação dos recursos recebidos em dinheiro. “Em Teresópolis nos reunimos com o Rev. Roberto Pereira, pastor da Igreja de Teresópolis, juntamente com outros pastores da localidade, além de membros da Comissão Executiva do Presbitério, formando, então, um grupo gestor para atuar na coordenação da situação. Da mesma forma foi feito em Nova Friburgo onde nos reunimos com o Rev. Adelino, pastor da Igreja de Olaria e Rev. Luiz Gustavo, pastor da Igreja Central de Nova Friburgo, onde tem um grupo gestor para coordenar os trabalhos.
cas-rj-5A visita, na avaliação do Presb. Clineu, foi muito importante para envolvimento e momentos de contrição com os irmãos daquela cidade. “Compartilhamos momentos de tristeza, por causa dos relatos dos acontecimentos, porém tivemos momentos de alegria, esperança e confiança, porque sabemos que o nosso Deus está no controle de tudo”.
A mídia tem falado muito sobre a solidariedade e que em momentos de catástrofe são marcas no ser humano. No corpo de Cristo essa solidariedade é presente e nesses períodos ela também é ressaltada. “Haviam muitos voluntários, irmãos nossos se dispondo a ajudar e cooperar, para que todos tenham um dia melhor no amanhã”, compartilha Presb. Clineu.
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Muitas doações foram recebidas nas igrejas locais e muito ainda é preciso ser feito para ajudar essas pessoas que perderam tudo, e muitas delas ainda estão em abrigos. Em nome do CAS, Presb. Clineu ressalta que é importante manter as contribuições e unir forças em oração.
Eu li um artigo de um tal Sevy Falcão que dizia todas as igrejas serem manipuladoras de massa fazendo lavagem cerebral, mas somos diferentes. A IPB é diferente! Aleluia!

Retiros espirituais


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Raquel Magalhães


O feriado que compreende os dias de Carnaval é, tradicionalmente, aproveitado, por muitas de nossas igrejas para a promoção de retiros espirituais. Normalmente, para esses dias, são propostos temas específicos para a meditação. Há ainda tempo reservado para brincadeiras sadias e para a comunhão.
A Igreja Presbiteriana de Jardim Camburi, de Vitória, Espírito Santo, faz parte do grupo que se retira durante o Carnaval. Este ano, o grupo passará os dias na cidade de Domingos Martins, no sítio Parajú Paradise, na companhia dos irmãos da IP da Mata da Praia, também localizada em Vitória. Mais informações aqui http://ipbjc.wordpress.com/2010/07/26/retiro-de-carnaval-2011/
Outra igreja que também já anunciou seu retiro de carnaval foi a IP no Jardim América, em Belo Horizonte. O tema do encontro será Ser diferente: transformando para transformar. Para saber mais clique aqui http://www.ipja.com.br/index_boletim.html
Vai haver alguma programação diferenciada para o feriado de março na sua igreja? Envie para nós que divulgaremos aqui no Portal!
Fonte: www.ipb.org.br 

Efraim Filho deve ocupar cargo de destaque na nova bancada do DEM

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Paraibano está entre os nomes tradicionais que conseguiram se reeleger

Depois do PSDB, agora é o DEM que vai definir na próxima segunda-feira (31) o nome do seu novo líder na Câmara Federal.

O partido terá que decidir entre as candidaturas de Antônio Carlos Magalhães Neto (BA) e Eduardo Sciarra (PR). Atualmente o DEM é liderado pelo deputado Paulo Bornhausen (SC).

O deputado federal Efraim Filho será um dos principais articuladores do consenso na legenda. Com a saída de nomes tradicionais que foram derrotados nas eleições de 2010, o paraibano já é cotado para ocupar um cargo estratégico na bancada da Câmara.

Governador Ricardo Coutinho Cria o Empreender-PB

O Diário Oficial desta quarta-feira (26) trouxe publicada a Lei n° 9.335, de 25 de janeiro de 2011, de autoria do Poder Executivo Estadual, que cria o Programa de Apoio ao Empreendedorismo na Paraíba (Empreender-PB) e institui o Fundo de Apoio ao Empreendedorismo (FAE).

Vinculado à Secretaria de Estado do Turismo e do Desenvolvimento Econômico, e tendo como prioridade a concessão de crédito produtivo com o objetivo de incentivar a geração de ocupação e renda entre os microempreendedores populares, o programa será gerido por uma Subsecretaria Executiva, responsável pela operacionalização e administração das medidas necessárias à sua implantação.

Por meio do Empreender-PB, o Estado vai disponibilizar recursos para realização de empréstimos aos empreendedores, proporcionando o aumento das oportunidades de emprego através da criação, ampliação, modernização, transferência ou reativação de pequenos negócios, formais e informais.

O programa vai viabilizar também a elevação da qualidade de vida, com a criação de fontes de renda capazes de proporcionar o sustento, especialmente às famílias de baixa renda, e ainda promover a capacitação e a qualificação gerencial de empreendedores e gestores de pequenos negócios, assegurando-lhes acesso às inovações tecnológicas que lhes garantam maior eficiência produtiva e competitividade no mercado.

Para garantir os melhores resultados na operacionalidade do programa, o Governo do Estado optou pela metodologia baseada no relacionamento direto com os empreendedores no local onde serão executadas as atividades econômicas. O atendimento ao tomador final dos recursos, conforme disposto na Lei 9.335/2011, será feito por pessoas treinadas para efetuar o levantamento sócio-econômico e prestar orientação educativa sobre o planejamento dos negócios, bem como para definir as necessidades de crédito e de gestão voltadas para o desenvolvimento do empreendimento.

O contato com o tomador final dos recursos deverá ser mantido durante o período do contrato, para acompanhamento e orientação, visando ao seu melhor aproveitamento e aplicação, bem como ao crescimento e sustentabilidade da atividade econômica. O valor e as condições do crédito serão definidos após a avaliação da atividade e da capacidade de endividamento do empreendedor.

Mecanismos de financiamento e controle - Para implantar e operacionalizar o Empreender-PB, o Governo incluiu na Lei 9.335/2011 a criação do Fundo Estadual de Apoio ao Empreendedorismo (Fundo Empreender/PB), organismo de contabilidade própria cuja aplicação de seus recursos estará sujeita à prestação de contas na forma e nos prazos da legislação que disciplina a administração financeira do Estado.

Os recursos que comporão o Fundo Empreender-PB serão consignados no Orçamento Geral do Estado, havendo ainda verbas originárias da arrecadação da Taxa instituída pela Lei nº 7.947, de 22 de março de 2006; outras decorrentes de recursos próprios das entidades ou de órgãos da administração pública estadual onde se encontram consignadas as dotações orçamentárias do antigo Programa “5084” (“Meu Trabalho”), e também recursos arrecadados pelo Fundo de Combate e Erradicação de Pobreza em montante a ser aprovado pelo Conselho Gestor do FAE.

Controle

O Fundo Estadual de Apoio ao Empreendedorismo será supervisionado pelo Conselho Gestor do Empreender-PB, que terá competência para auxiliar no estabelecimento de critérios e fixação de limites globais e individuais para a concessão dos financiamentos e subvenções, observadas as disponibilidades do Fundo; sugerir prazos de amortização e carência, bem como os encargos dos mutuários e multas por eventual inadimplemento contratual; analisar quadrimestralmente as contas operacionais do FAE, por meio de balancetes, além de avaliar os resultados e propor medidas de aprimoramento de suas atividades, e manifestar-se previamente sobre ajustes a serem celebrados com terceiros, tendo por objeto recursos ao Fundo.
Fonte: www.paraiba1.com.br

"NoTicias Crsitãs"

Lily Allen 'ajuda' a Igreja

O Bispo de Sheffield, o Reverendo D. Steven Croft, está a usar técnicas menos convencionais para explicar às pessoas a Bíblia.
Entre as escolhas 'modernas' de Croft, está a canção 'The Fear' de Lily Allen, tema cuja audição o Reverendo sugeriu à sua comunidade defendendo que se trata de uma letra para ser «ouvida por um grupo de igreja, em vez de ser tocada em público».
'The Fear', que é o primeiro single do segundo disco de Allen, "It's Not Me, It's You", começa logo com a frase: «quero ser rica e quero imenso dinheiro/ Não quero ser inteligente e ser engraçada/ Quero imensa roupas e toneladas de diamantes/Ouvi que há pessoas que morrem a tentar encontrá-las».
Em declarações à BBC, Dr. Croft refere mesmo que «gosta» da linguagem agressiva de Allen: «acho que capta um certo espírito de cultura contemporânea. Não o defendo como uma atitude, mas o que a canção refere, como um todo, é uma visão do mundo que é comum com a da Igreja. Ou seja, confusa e temente, mas também confiante».
Lily Allen usou o seu meio preferido, o Twitter, para comentar a opinião proferida pelo clérigo: «tem toda a razão!!!», pode ler-se na página da cantora na rede de micro blogging.

Notícias Cristãs com informações do Cotonete

SOU ÉTICO! Cito as fontes. Copiado do Site Notícias Cristãs. Link Original: http://news.noticiascristas.com

Devocional Spurgeana

"E ali vos lembrareis de vossos caminhos, e de todos os vossos atos com que vos contaminastes, e tereis nojo de vós mesmos, por causa de todas as vossas maldades que tendes cometido." Ezequiel 20:43

Quando somos aceitos pelo Senhor, e estamos estabelecidos em lugar de favor, paz e segurança, então, somos levados ao arrependimento de todas nossas falhas e desvios para com nosso Deus cheio de graça. O arrependimento é tão precioso, que o podemos chamar de diamante puríssimo, e isso está docemente prometido ao povo de Deus como um dos resultados mais santificantes da salvação. Aquele que aceita o arrependimento, também dá o arrependimento - e não o dá proveniente da vasilha amarga, mas antes, o toma dentre os bolos de mel (Êxodo 16:31) com que alimenta Seu povo. Um sentido de perdão comprado com sangue e da misericórdia imerecida é o melhor meio para derreter a um coração de pedra. Temos sentimentos duros? Pensemos no amor da aliança, e então deixaremos o pecado, lamentaremos o pecado, e odiaremos o pecado - sim, teremos nojo de nós mesmos por pecar contra um amor tão infinito. Cheguemos a Deus com essa promessa de penitência, e roguemos a Ele que nos ajude a lembrarmos,  arrependermos, lamentarmos e regressarmos. Oh, que possamos gozar do derretimento provocado pela aflição santa! Que alivio seria uma inundação de lágrimas! Senhor, golpeia a rocha, ou fale à ela, e faz que as águas brotem e fluíam! 


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FONTE: Talonário de Cheques do Banco da Fé, com ajuda de "Jóias de promessas Divinas", tradução da União Cristã, 1986

trad. Projeto Spurgeon

Calvinismo Em Foco



“A alma cristã não deve colocar seus olhos nos méritos de suas obras, como um refúgio de salvação, antes deve repousar totalmente na promessa gratuita da justificação” (João Calvino). 
“Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na Lei de Deus; mas vejo em meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo dessa morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor!” (ROMANOS 7.21-14a).

Por Marcelo Lemos

Pergunta enviada por leitor: “... afirmamos como calvinistas que os eleitos serão salvos... também defendemos a certeza da salvação...  Clark pinock: foi um crente fiel durante muitos anos, e creio que ele tinha em si a certeza da salvação;porem... ele se apostatou em diversas partes da doutrina bíblica, como é o caso da inerrancia bíblica e o teísmo aberto. Pergunto: como podemos defender a certeza da salvação se cremos que quem persevera até o fim, esse sim é o eleito? O que dizer das pessoas que realmente dizer ter se sentido salvo? Se dissermos que foi enganado pelos próprios sentimentos, quem garante que nos não estamos enganados também?” - Vinício Alves, do blog A Verdade Verdadeira.

Caro irmão Vinícius, a sua questão é, no meu entender, simplesmente perfeita. Recentemente republicamos um texto que fala de tema semelhante, mas não tão específico – podem conferir aqui. É de impressionar o fato de muitos calvinistas não se darem conta deste problema, eu mesmo custei a percebê-lo em sua inteireza, e com todas suas implicações práticas. Por isso, quando me perguntam: “Você considera o Calvinismo perfeito?”, me vejo obrigado a responder, a contra gosto, negativamente. Na verdade, não creio se tratar de um problema da doutrina calvinista em si, mas dos desdobramentos que acabou tendo, devido especialmente a influencia puritana. Mas, como o entendimento puritano é popularmente tido como ' o calvinismo', afirmo que não é um sistema teológico tão perfeito quanto parece.

Aproveito para dar um puxão de orelha em meus companheiros calvinistas – o calvinismo é um sistema teológico biblicamente consistente e imbatível em termos de argumentação lógica, e com isso, facilmente reduzimos a nada as objeções que se levantam. Entretanto, basta que um oponente tenha o treinamento lógico necessário, para que possa apontar o quanto nossa teologia pode se tornar inconsistente quando entramos no campo da segurança da salvação. Este é o tema do artigo de hoje.

Calvinistas acusam arminianos de não possuírem certeza de salvação, todavia, em termos meramente práticos, nem todo calvinista tem o direito de fazer tal acusação, sem que com isso não esteja acusando a si mesmo. O caso é muito simples: tendo em vista que muitos de nós usamos a santificação pessoal como “padrão aferidor” da Eleição, e que nenhum ser humano jamais foi capaz de cumprir integralmente a vontade de Cristo, destrói-se completamente qualquer pretensão de segurança. Em termos mais claros: ainda que a Eleição seja fato, isso não implica que a pessoa tenha como ter certeza de  ser um eleito.

Não é de hoje que alguns estudiosos acusam os puritanos por este problema. Em uma afirmação um tanto pesada, mas coerente, chega-se a dizer que os Reformadores mataram o Diabo, acusador dos irmãos, mas o puritanismo o teria ressuscitado. O grande avanço da Reforma foi convidar os homens a tirarem os olhos de si mesmos, de seus méritos e deméritos, e fitá-los exclusivamente no Cristo. Foi o grito da justificação pela fé somente. Os homens foram exortados a não confiarem mais em suas obras, mas exclusivamente nos méritos e nas promessas de Cristo. Calvino, por exemplo, escreveu:

“As Escrituras nos ensinam que, desapegando-nos de nossas obras, ponhamos nossos olhos unicamente na misericórdia de Deus e na perfeição de Cristo... e, sendo regenerado pelo Espírito Santo, (o cristão) jamais coloca sua confiança nas boas obras que faz, antes está plenamente seguro de que sua perpetua justiça consiste unicamente na Justiça de Cristo” (INSTITUTAS, Livro III, Capítulo XI, 16).

Uma das objeções que Calvino confessa ter ouvido contra a Doutrina da Eleição era justamente esta: que o cristão não tem como saber se irá perseverar ou não, de modo que não pode ter certeza de coisa alguma. Contra tal objeção Calvino invoca o texto de Romanos 8.38-39, comentando:

“Verdade que o Apóstolo, em outro lugar, nos coloca de sobreaviso, recordando-nos nossa debilidade e inconstância: “o que pensa estar firme, cuide que não caia” (I CORÍNTIOS 10.12). Isto é verdade. Porém, ele não se refere a um temor que nos faça desmaiar ou perder o animo, mas sim, de um temor em virtude do qual aprendemos a nos humilhar debaixo da poderosa mão de Deus, como declara S. Pedro (I Ped. 5.6). Ademais, que disparate seria desejar limitar por um momento a certeza da fé, quando a natureza da mesma é superar a vida presente e alcançar a imortalidade futura!” (INSTUTUTAS, Livro III, Capítulo II, 40).

Com isso, não estamos dizendo que Calvino escreva contra o auto exame, tão pouco nós assim procedemos, mas sim que Calvino não via em tal exame o lugar onde encontramos nossa certeza de salvação: “Ainda que os santos muitas vezes se confirmam e consolam trazendo a memória sua inocência e integridade, isto ocorre por um destes motivos: ou porque ao comparar sua boa causa com a maldade dos ímpios sentem a segurança da vitória, nem tanto pelo valor e estima de sua justiça, mas porque assim merece a iniquidade de seus inimigos; ou também, quando apresentando a si mesmos perante Deus, sem se compararem com os demais, recebem certo consolo e confiança, que provém da boa consciência que possuem” (INSTITUTAS, Livro III, Capítulo XIV, 18).

Nas duas últimas citações, observamos que Calvino, com efeito, não era contra o auto exame, e nele via ao menos duas utilidades: primeiro, o auto exame evita que sejamos presunçosos e auto confiantes diante de Deus, e segundo, nos concede algum grau de consolo e alegria. Mas o auto exame jamais é apresentado como fonte de segurança de salvação. E mesmo assim,  os benefícios do auto exame são sempre apresentados como relativos, nunca nos fornecendo uma prova cabal de qualquer coisa, haja vista jamais deixarmos de pecar. Por isso, a enfase puritana acaba sendo completamente contraditória. Nas palavras do puritano J.C. Ryle, o homem pode “chegar a ir muito longe, sem jamais ter sido realmente salvo”. Em outras palavras, na enfase puritana, ainda que o auto exame seja positivo, ainda assim não pode haver qualquer segurança de fato...

A enfase de Calvino, assim como de Lutero (talvez ainda mais!), é fixar os olhos em Cristo, relegando as boas obras a plano secundário; ou seja, só vale considerar o valor das boas obras quando estamos completamente seguros de participarmos das promessas do Cristo. Em outras palavras, podemos avaliar nossas obras, quando não temos mais qualquer dúvida de salvação: “... os santos, quando se trata de estabelecer e fundamentar sua salvação sem considerar de algum modo suas obras, fixam seus olhos exclusivamente na bondade de Deus. E não apenas colocam a bondade de Deus acima de todas as coisas com um princípio para a sua bem-aventurança, mas a tem como algo que lhe pertence, e nela repousam e descansam inteiramente. Quando a consciência está assim fundamentada, pode então fortalecer-se com a consideração das obras, enquanto são testemunhos de que Deus habita e reina em nós!” (INSTITUTAS, Livro III, Capítulo XIV, 18).

Não se trata, frise-se bem, de afirmar  que Calvino, ou qualquer outro Reformador, negasse o valor da santificação, ou que nós estejamos incitando tal coisa, mas sim,  relembrar sempre que nossa santificação experimental nunca será completa, até que nos  encontremos com Cristo na Eternidade (I JOÃO 3.2). Se não herdaremos o céu com base no grau de nossa santidade experimental, porque nos aconselhariam a conferir nossa eleição com base nela? Se nossa salvação é garantida  exclusivamente pela Justiça de Cristo, só é aceitável que nossa confiança baseie-se exclusivamente nela também (I Cor. 1.30; Rom. 1.17; Rom. 4.5-7; Rom. 5.17; etc ).

Antes de falarmos em perseverança dos santos, deveríamos falar em perseverança de Deus, o qual se mantem firme as suas promessa, independentemente da fragilidade humana; afinal, este é o único significado da Graça. Se não for assim, o Calvinismo nada tem de especial a oferecer ao pecador aflito, além daquilo que o arminianismo já oferece: medo e insegurança, (e num grau ainda maior, pois, ao menos no arminianismo, o pecador tem como manipular esse medo...). Eu não posso dizer se este ou aquele que pecou gravemente, inclusive em questões doutrinárias, como é o caso de Pinock, será ou não salvo. Entretanto, minha impossibilidade de fazer tal juízo não se deve ao conhecimento que tenho de seus pecados, mas da minha ignorância do que lhes havia – ou há - no coração. Se um dia, convencidos de pecado, depositaram toda sua fé em Cristo, estão eternamente salvos, independentemente de qualquer coisa. Este é ensino de Jesus: “Todo aquele que o Pai me dá virá a Mim; e o que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora” (JOÃO 6.37).

Imagino que muitos defensores do Calvinismo alimentem o temor de que a sua pregação, pura e simples, possa servir de “carta branca para o cristão pecar”, e por isso, a enfase nas obras, herança dos puritanos, parecer algo tão atrativo – uma espécie de antidoto, eu diria. Mas, contra a Graça não existe antidoto, nem mesmo o zelo puritano (movimento que, em linhas gerais, aprecio de todo coração), e contra a pecaminosidade do coração humano, só existe o freio da Graça mesma. Ora, nenhum cristão jamais precisou de uma “carta branca” para pecar: nós simplesmente pecamos e pecamos, pois é nossa natureza. E a natureza da Graça é uma só: salvar quem não merece ser salvo.

“A confiança nas obras não tem lugar até que tenhamos depositado toda a confiança de nosso coração somente na misericórdia de Deus... ” - João Calvino.
Fonte: www.olharreformado.blogspot.com

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Muitos São Chamados





Por Marcelo Lemos

“Assim os derradeiros serão os primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (S. MATEUS 20.16).

Nosso versículo é uma das provas mais claras da Doutrina da Eleição, no entanto, não é incomum vê-lo utilizado como munição por aqueles que negam a eleição. Aqueles, raciocinam parecido com isto: se Cristo chama muitos, e nem todos que ele chama são salvos, significa que é o homem quem decide ser salvo ou não. Analisaremos este argumento mais de perto.


Antes de prosseguirmos, quero agradecer ao irmão Carlos Alberto, pela sugestão do tema. Na medida do possível, vamos atendendo a todos os que entram em contato conosco.

Muitos são chamados.

Eis uma verdade incontestável, e quem em nada causa prejuízo a Doutrina da Eleição. A declaração de Cristo é uma pedra de tropeço aos denominados Hipercalvinistas, a saber, aqueles que desejando enfatizar a Soberania de Deus, negam os meios da graça, como a pregação por exemplo. Um hipercalvinista não evangeliza, e não gosta de evangelistas – raciocina que se Deus elegeu alguém, ele não precisa evangelizar os perdidos, pois Deus dará um jeito para que o eleito ouça o Evangelho (quem sabe numa visita a Igreja). As palavras de Cristo condenam tais raciocínios rebeldes.

São rebeldes, haja vista Cristo ter sido muito claro quanto a tarefa de Evangelização: “Pregai o Evangelho a toda criatura!” (S. MARCOS 16.15). Não nos foi ordenado pregar apenas aos eleitos, mas a “toda” criatura, sem distinção. Não somos nós quem escolhemos os que irão ouvir ou não a Mensagem do Evangelho, mas Deus quem escolhe quem receberá o dom da fé. “A toda criatura” não nos concede qualquer escolha.

Assim, a Mensagem do Evangelho, o chamado de Cristo é feito indiscriminadamente, onde quer que a Palavra seja anunciada. Em seu Ministério, Cristo não verificou antes quem era eleito, para numa reunião em particular lhes anunciar as Boas Novas. Jesus dirigia-se as multidões e chamava: “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba” (S. JOÃO 7.37).

Muitos eram chamados. É verdade que nem todos eram chamados, mas apenas o que ouviam Sua pregação, e eram “muitos”. De modo semelhante, em nossos dias nem todos são chamados: em muitas partes do mundo sabe-se da existência de povos ainda não alcançados. Aos tais não foi concedido, ainda, por Deus, o privilégio de ouvir a voz do Bom Pastor (ATOS 17.26). Para maiores detalhes sobre esta questão, clique aqui.

Mas poucos são escolhidos.

Se é verdade que Cristo chama a muitos, mas nem todos que ouvem Seu chamado se salvam, não se deve concluir que a Doutrina da Eleição é falsa% Não se deve concluir que é o homem quem decide o seu próprio destino eterno% Definitivamente, não existem tais possibilidades. E isso é confirmado pelo próprio Cristo.

O mesmo Cristo que convida “vem a mim e beba”, é o mesmo que garante que o homem não é capaz de, por sí mesmo, achegar-se a Ele: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer” (S. JOÃO 6.44). E outra vez, neste mesmo capítulo joanino: “Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido” (S. JOÃO 6.65). Ainda que chamasse a todos que Lhe ouviam, Cristo nega que o homem seja capaz de atender a seu chamado, a menos que Deus “o traga”, a menos que Deus “o conceda”.

Vamos analisar rapidamente estes dois termos utilizados por Cristo: “trazer” e “conceder”.

“Se o Pai que me enviou não o trouxer. No grego o verbo carrega o sentido de arrastar e “atrair”. É utilizado, por exemplo, quando Tiago fala dos ímpios que “vos arrastam aos tribunais” (S. TIAGO 2.16), e também quando, na pesca milagrosa, se diz que Pedro “puxou a rede para a terra” (S. JOÃO 21.10,11). As palavras de Cristo implicam na negativa de conceder ao homem qualquer capacidade inata de crer no Evangelho: “nenhum homem pode vir a mim, a menos que o Pai o traga a mim”. Com essas palavras Cristo confirma duas doutrinas fundamentais da Teologia Reformada: depravação total e chamada eficaz.

Depravação Total é o reconhecimento de que o homem, por si só, é incapaz de voltar a viver, pois, estando morto em seus pecados, não é capaz de qualquer bem espiritual: “... tanto judeus quanto gregos, todos estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há um justo, nenhum sequer! Não há ninguém que entenda, não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só!” (ROMANOS 3.9b-12).

Se tal é a condição espiritual do homem, apenas pela iniciativa divina poderá o homem achegar-se a Cristo com fé. Por isso, se diz na teologia que Deus atrai o pecador eleito com uma Chamada Eficaz. Ainda que o Evangelho seja ouvido por todos, resultando numa chamada geral e comum a todos que o ouvem; apenas quem é chamado eficazmente, pela atuação interna do Espírito Santo (S. JOÃO 16.7,8), é que pode vir a Cristo.

“Se por meu Pai não lhe for concedido. O verbo aqui utilizado confirma a Chamada Eficaz. O ir a Cristo não é algo que o homem possa fazer por suas próprias forças, capacidades intelectuais ou méritos – é algo que Deus lhe concede. Este verbo é utilizado, por exemplo, na belíssima parábola do Filho Pródigo. Quando o Filho retorna ao lar, e mesmo nada merecendo, o Pai ordena aos servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e coloque um anel em sua mão... (S. LUCAS 15.22). Coloque um anel em sua mão. Trata-se de um dom, um presente não merecido, que se recebe por Graça.

Por isso falamos em Chamada Eficaz: não podemos fazer, mas Deus nos concede, por Graça. E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da Ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), (...) Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie!” (EFÉSIOS 2.1-8).

Deveriam nossos irmãos arminianos abandonar as tentativas de se munirem das Palavras de Cristo com intenção de combater a Fé Reformada. Inquestionavelmente, a emblemática expressão de Cristo, “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”, em nada coloca em xeque a Doutrina da Eleição, antes a confirma.

Pode o Homem Cooperar com sua Salvação?

Por Rev. Marcelo Lemos



Preliminarmente

A cada ano verifica-se o quanto a Igreja está se distanciando das “Antigas Doutrinas da Graça”, tão caras e defendidas pelo apóstolo Paulo, Agostinho de Hipona, os reformadores Lutero e Calvino, George Whitefield, David Brainerd, William Carey (pai das missões modernas), J. I. Packer, John Stott; e, porque não citar também, o “incansável defensor da fé evangélica, o Arcebispo Thomas Bradwardine de Canterbury, durante o século 14” e tantos outro(a)s.
 
Confira em sua Bíblia o que nos diz Oséias.4:6. Talvez parte deste afastamento e falta de conhecimento se deva a uma influência pragmática em que o valor está no resultado que dá certo, mesmo que não seja correto; e mesmo uma filosofia relativista onde o “homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras-481 a.C.).
 
Vivenciamos uma triste realidade em que já não vemos e ouvimos em nossas Igrejas doutrinas tais como “pecado original”, “depravação total”, “graça”, “juízo final”, “justificação pela fé”, “soberania divina”,... Mas, ao invés de tais ensinos bíblicos, somos obrigados a ver o povo deixando-se iludir por sermões sobre “vida cristã” com apelos emocionalistas, inúmeras estórias, testemunhos e nenhuma doutrina. Nada de ensino expositivo. Acarretando no fato desses membros necessitarem de mais e mais “alimento” pois não ficam nutridos e satisfeitos com o “feno e a palha” que lhes são oferecidos. Ou seja, eles estão indo cada vez mais ao “shopping” da fé, dia após dia, semana após semana atrás de “ventos de doutrinas” e “ensinos de demônios”, tornando-se assim presas fáceis de embusteiros e profissionais da fé. Sem contar que ficam expostos a vendas de ilusões como apregoadas pela pretensa “teologia da prosperidade” e um “neo-pentecostalismo” que se assemelha mais com cultos espíritas.
 
E considerando que nossa Diocese, este ano, tenha escolhido o tema: “2004 – Ano do Evangelismo: Convertidos em Cristo, Edificando a Igreja, Transformando o Mundo”, penso que a doutrina bíblica e reformada da DEPRAVAÇÃO TOTAL deve estar no cerne de nossas mensagens, pois, com certeza, como a entendemos e cremos irá influenciar no método que utilizaremos para a evangelização.
 
Façamos a seguinte pergunta: Pode o homem cooperar com Deus em sua salvação? Se a resposta é sim, então podemos admitir que o propósito de Deus em salvar o homem pode ser frustrado. Mas, se a resposta é não, compreenderemos melhor o conceito de Graça e a razão do porque somente através dela somos salvos, uma vez que “Ele (Deus) nos deu vida, estando nós mortos nos nossos delitos e pecados” (Ef.2:1).
 
A Bíblia e todas as Confissões de Fé Reformadas são unânimes em afirmar que, depois da Queda, todo homem (no sentido de humanidade de acordo com Gn.1:26-27) tornou-se INCAPAZ de querer qualquer bem espiritual que agrade a Deus. Significando que este homem não possui mais nenhuma disposição (LIVRE-ARBÍTRIO) de voltar-se, por si mesmo, à comunhão com Seu Criador, pois devido ao pecado original, esse homem “não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucuras; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (I Co.2:14).
 
Quem reflete muito bem isso é Charles Spurgeon, mais conhecido como “O Príncipe dos Pregadores”; quando afirma: “a liberdade não pode pertencer ao arbítrio como a ponderação não pode pertencer à eletricidade... Podemos crer em agente livre, porém o livre-arbítrio é simplesmente ridículo”.
 
Logo, o homem após a Queda não perdeu sua capacidade de fazer coisas boas, de fazer escolhas como uma profissão, o time que deve torcer, optar em ser honesto, altruísta etc. Contudo, nenhuma dessas coisas tem mérito em si mesmas, quando se deveria buscar sempre a Glória de Deus. Assim, tudo isso se torna apenas aspecto secundário da vida humana. O homem permaneceu responsável pelos seus atos, mas está escravo do pecado rejeitando a Deus e tudo o que é do Seu agrado e Louvor. Devemos urgentemente, “enquanto é dia” (Jo.9:4), retornar para essa sã doutrina, que resulta de acurada e apropriada teologia bíblica.
 
O procedimento metodológico aqui adotado, nada mais é, que minha confessionalidade nas Sagradas Escrituras como Palavra de Deus autoritativa e infalível em seus ensinos numa linguagem humana (II Tm.3:16), bem como nos XXXIX Artigos de Religião e demais Confissões Reformadas, limitando-as em seu valor e autoridade só até onde confirmem o ensino bíblico.
 
Sei o quanto essa doutrina tem gerado acalorados debates ao longo da História do Cristianismo, vide, por exemplo, Agostinho de Hipona e Pelágio, Lutero e Erasmo de Roterdã, Calvinistas e Arminianos (Sínodo de Dort). Contudo, não tenho a pretensão de pormenorizar cada ponto, muito menos esgotar esse assunto e ter assim a última palavra.
 
Meu objetivo principal é promover um pouco de esclarecimento bíblico ao Povo de Deus em nossa DAR, considerando que somos uma Igreja que se confessa Reformada. Portanto, daí o desafio de resgatarmos as doutrinas reformadas, num momento particular em que estamos enfrentando, a ponto de a Palavra de Deus começar a ser minimizada, questionada e reduzida num meio de um “areópago” de ensinos humanos e em meio a uma “Babel” de linguagens desconstrucionistas, conflitantes e refém do pensamento do século (Cl.2:8).

I – A SITUAÇÃO DO HOMEM ANTES DA QUEDA

Após ter Deus realizado a magnífica obra da Sua Criação, conforme o registro em Gn.1:1-25, resolveu que o Jardim do Éden, e tudo mais, deveria ser desfrutado e governado por uma criatura, cuja criação deveria ser à Sua Imagem e Semelhança, possuindo tanto a capacidade de escolhercomo viver a verdadeira liberdade.
 
Santo Agostinho afirmou que esse homem fora criado, posse non peccare, ou seja, capaz de não pecar. O homem assim veio a existir no tempo e na história, em um estado de integridade, como nos revela o Sábio em Eclesiastes.7:29 quando nos diz: “Deus fez o homem reto...”. Portanto, podemos concordar com o ensino claro da Escritura que o homem foi criado de forma perfeita em termos morais, e isso é ratificado pela Confissão de Fé de Westminster no capítulo IV – Da Criação – seção II:
 
“Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem, macho e fêmea, com almas racionais e imortais, e dotou-os de inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo sua própria imagem, tendo a Lei de Deus escrita em seus corações e o poder de cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixados à liberdade de sua própria vontade, que era mutável. Além dessa lei escrita em seus corações o preceito de não comerem da árvore da ciência do bem e do mal; enquanto obedeceram a este preceito, foram felizes em sua comunhão com Deus e tiveram domínio sobre as criaturas”.

Como uma criatura distinta das demais, tendo em vista que o homem foi considerado coroa dessa criação, o mesmo era dotado de capacidade de fazer escolhas, como também, nesse sentido, de fazê-las certas. Como bem disse certa ocasião um teólogo reformado: “assim o homem, naquela época, possuía a verdadeira liberdade, mas não era ainda a perfeita liberdade”. Isso decorrente do fato dele poder cair em pecado.
 
Vamos conferir novamente o que nos dia a CFW no capítulo IX – DO LIVRE-ARBÍTRIO – Seção I:

“Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o mal, nem a isso é determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza”.

E ainda na Seção II:

“O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse cair dessa liberdade e poder”.

Entendemos que o homem estava completamente, antes da Queda, com suas faculdades de capacidade do livre-arbítrio, ou seja, vivia em plena comunhão com Deus que o visitava “no Jardim pela viração do dia” (Gn 3:8). Este homem podia conhece-lo e amá-lo, porque tudo o que fazia e pensava era para a Glória de Deus.
 
Vejamos ainda o que nos diz o Catecismo de Heidelberg, no Domingo 3 e resposta 6:

“Mas Deus criou o homem tão mau e perverso? Não, Deus criou o homem bom e à Sua imagem, isto é, em verdadeira justiça e santidade para conhecer corretamente a Deus, seu Criador, amá-lo de todo o coração e viver com ele em eterna felicidade, para louvá-Lo e glorificá-Lo”.

No Jardim do Éden o homem estava com toda sua plena dignidade estabelecida, cujo principal propósito era todo bem espiritual e moral que agradasse a Deus. Ele gozava de total capacidade imaculada, que chamamos de livre-arbítrio, pois era perfeito para o bem espiritual.

II – A SITUAÇÃO DO HOMEM APÓS A QUEDA

Como vimos acima, a liberdade e o poder de querer do homem de fazer aquilo que era agradável a Deus, mas tal liberdade era passível de mudar se assim o quisesse. Foi justamente o que ocorreu. O homem atraído e enganado pela serpente escolheu desobedecer a Deus, pois Satanás tentou o homem a ponto do mesmo desejar ser igual ao seu Criador, e aí se deixou iludir-se pela voz da serpente que disse: Porque Deus sabe que no dia em que dele (o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal) comerdes se abrirão vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo do bem e do mal (Gn.3:5). O resultado foi uma verdadeira tragédia para toda a humanidade. Conforme vimos na advertência de Deus em Gn.2:16-17, a raça humana recebeu como conseqüência deste pecado de Adão e Eva, a morte espiritual e física, bem como, a perda daquela capacidade (o livre-arbítrio) de querer fazer o bem e tudo que era agradável a Deus. Dessa forma, ele se corrompeu totalmente.
 
Esse homem, agora após sua queda e por conta do pecado original, se tornou incapaz de querer a Deus. Na verdade, nos porões de seu íntimo, O rejeita deliberadamente, pois prefere agora escolher o pecado, pois é seu senhor. E assim, neste estado de DEPRAVAÇÃO TOTAL, “não é capaz de não pecar”.
 
O próprio Senhor Jesus Cristo atesta isso quando afirmou aos judeus que discutiam com ele acerca de jamais terem sido escravos de alguém, que “todo que comete pecado é escravo do pecado”(Jo.8:34).
 
O Catecismo de Heidelberg sintetiza essa situação, no Domingo 3 resposta 7, com essas palavras:
“De onde vem, então, essa natureza corrompida do homem? Da queda e da desobediência de nossos primeiros pais, Adão e Eva, no paraíso. Ali, nossa natureza tornou-se tão envenenada, que todos nós somos concebidos e nascidos em pecado”.

Isso é confirmado pelo apóstolo Paulo em Rm.5:12 quando nos ensina que: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram”.
 
Vejamos ainda a CFW em seu Capítulo VI e Seção II:
 
“Por este pecado eles decaíram de sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as faculdades e partes do corpo e da alma”.

Assim, após a Queda, o homem ao invés de preferir servir e obedecer a Deus, na verdade, se encontra “morto em seus delitos e pecados” (Ef.2:2-3). E é isso que a teologia reformada denomina deDEPRAVAÇÃO TOTAL. Não possui mais o livre-arbítrio para fazer a vontade de Deus porque está morto espiritualmente, como Lázaro que estava morto com seus pés e mãos atados e sepultado há três dias no túmulo, da mesma forma está toda a humanidade.
 
Vejamos o que nos ensina o Artigo X de nossos XXXIX Artigos de Religião:
 
“A condição do homem depois da queda de Adão e Eva é tal que ele não pode converter-se e preparar-se a si mesmo, por sua própria força natural e boas obras, para a fé e invocação a Deus. Portanto, não temos o poder de fazer boas obras agradáveis e aceitáveis a Deus, sem que a graça de Deus por Jesus Cristo nos preceda, para que tenhamos boa vontade, e coopere conosco enquanto temos essa boa vontade”.

Observem essa declaração contundente do Dr. Martyn Lloyd-Jones acerca da DEPRAVAÇÃO HUMANA, resultante da Queda:

“Por que é que o homem sempre escolhe pecar? A resposta é que o homem abandonou a Deus, e como resultado, toda a sua natureza tornou-se depravada e pecaminosa. Toda a tendência do homem está distante de Deus. Por natureza, ele odeia a Deus e sente que Deus é contrário a ele. Ele é seu próprio deus, sua própria capacidade e poder, seu próprio desejo. Ele contesta toda a idéia de Deus e as exigências que Deus coloca sobre ele... Além disso, o homem gosta das coisas que Deus proibiu e as cobiça, e não gosta das coisas e do tipo de vida para as quais Deus o chama. Essas não são meras afirmações dogmáticas. São fatos... Eles por si só explicam a desordem moral e a feiúra que caracterizam a vida atual em tamanha extensão”.

Não deixe de conferir o que Paulo nos ensina em Rm.3:10-19 e Ef.2:1-3, sobre a condição do homem após a queda, e responda as seguintes questões: Como um morto pode arrepender-se por si mesmo e crer? Como pode o homem, cujos sentidos espirituais estão em trevas, compreender e decidir-se por Cristo Jesus? Qual homem consegue cumprir e amar o sumário da Lei conforme Lucas 10:27?

CONCLUSÃO

Como pudemos observar, todo o ensino bíblico e reformado, apontam claramente para um homem que perdeu, após a Queda, a condição e capacidade de, por ele mesmo, poder voltar-se para Deus. Todavia, necessita de uma intervenção do próprio Deus para “os que predestinou,  a esses também justificou, e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8:30).
 
Lutero e Calvino sempre ensinaram e se preocuparam em enfatizar essa doutrina, de que o homem decaído está totalmente escravo do pecado, pois perdera a verdadeira liberdade, não podendo converter-se a Deus desempenhando um papel ativo (cooperando) no processo que o conduz a salvação.
 
Jesus Cristo afirmou certa vez que “não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo.5:40). Sabe por que? “A luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal, aborrece a luz” (Jo.3:19-20). O ensino bíblico é que arrependimento e fé não podem ser produzidos por um coração corrompido, pois somente “pela graçasomos salvos, por meio da fé; e isto não vem de nós, é dom de Deus” (Ef 2:8).
 
Portanto, se o Espírito Santo não agir eficazmente no coração e mente desse homem corrompido, vivificando-o e regenerando-o, ele jamais se arrependerá sozinho de seus pecados, reconhecendo o sacrifício expiatório e vicário de Jesus Cristo.
 
Gosto muito dessa afirmação de feita pelo grande expositor bíblico, Dr. Martyn Lloyd-Jones já citado anteriormente: “O pecador não se decide por Cristo”, mas ele “foge para Cristo em total desamparo e desespero, clamando por misericórdia: ‘Converte-me e serei convertido, porque tu és o Senhor meu Deus’ (Jr.31:18). É como alguém que está se afogando e não simplesmente se “decide” pegar a corda que o salvará, mas agarra-se a ela pois é a única escapatória, a única esperança. ‘Decidir-se por Cristo’ é uma expressão imprópria”.
 
Não nos enganemos quanto ao verdadeiro estado espiritual e natureza humana. Porque estando o homem morto em seus delitos e pecados, não será persuadido com retórica eloqüente, muito menos por apelos emotivos (e o que preocupa hoje é justamente isso, muita gente “convencida” e “massageada em seu ego”, e nunca convertidas realmente), uma vez que será única e plenamente através de Deus que o homem irá “abrir seu coração” para atender a mensagem do Evangelho, como no caso de Lídia em At.16:14.
 
Mas como bem afirmou Charles Spurgeon: “A graça de Deus não viola a vontade humana, mas triunfa docemente sobre ela” (Fp.2:13).
 
Busquemos aprender quanto a teologia reformada tem a nos oferecer, com doutrinas cujas raízes são reveladas na Sagrada Palavra de nosso Deus.
 
Só a Deus Toda Glória!

+ Rev. Raniere Oliveira
Fonte: www.olharreformado.blogspot.com