sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Olá! Irmãos

Quero despedir-me, pois irei ter um final de semana cheia. Minha esposa estará submetendo-me a cirurgia a partir das 13h, orem por nós. Próxima 2ª feira se Deus permitir voltaremos para mais uma semana de trabalho.
Com amor e gratidão
Pb. Missº Veronilton Paz da Silva (Congregação Presbiteriana do Sitio Serrote, Monteiro-PB)
E-mails veroniltonps@yahoo.com.br; veron.helenildahellen@hotmail.com; cristaoreformado@gmail.com; veroniltonpaz@bol.com.br, congpmonteiro@yahoo.com.br. Cel (083) 9938-5102, (083) 3351-1582

Por que o homem é incapaz de voltar para Deus?



“Suas ações não lhes permitem voltar para o seu Deus. Um espírito de prostituição está no coração deles; não reconhecem o Senhor”. Os 5:4
imageAs duras palavras ditas por Deus através do profeta era dirigida aos religiosos, ao povo em geral e à família real, sem deixar ninguém de fora: “Ouçam isto, sacerdotes! Atenção, israelitas! Escute, ó família real! Esta sentença é contra vocês” (Os 5:1). As terríveis consequências da Queda não desviam de nenhum filho de Adão. “Todos pecaram e separados estão da glória de Deus” (Rm 3:23). Mas o texto nos mostra que o problema com o pecado não é apenas sua extensão, atingindo a todos os homens, mas também a profundidade em que penetra em cada ser humano, afetando todas as suas faculdades.
As obras impedem de voltar para Deus, Is 59:2
O proceder do homem natural é corrompido de tal forma que ele só faz pecar e pecar. Nem mesmo uma reforma exterior ele pode apresentar de forma consistente, pois “suas ações não lhes permitem voltar para o seu Deus” (Os 5:4a). A prática do pecado se torna um hábito tão natural que o homem quase nunca percebe que sua natureza está dominada pelo pecado. Não raro as pessoas consideram seus pecados como sendo falhas desculpáveis, e as vezes os defendem como uma virtude. Na verdade, estão tão acostumados aos seus pecados quanto se acostumaram à cor da pele. “Será que o etíope pode mudar a sua pele? Ou o leopardo as suas pintas? Assim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês que estão acostumados a praticar o mal” Jr 13:23.
Contrariando os profetas citados, os homens acreditam que é tudo uma questão de escolha, que basta ao homem preferir o bem que é capaz de fazê-lo. Chamam a essa capacidade de livre-arbítrio. Porém, a Escritura não oferece nenhum respaldo a essa filosofia humanista, quando diz que “todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3:12). Isto é corroborado pela observação e a experiência de cada um, que não consegue encontrar um só homem na história que tenha superado sua inclinação para o mal e vivido sem pecar. E quando olhamos para nós, temos que confessar que o “porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7:19).
O coração é dominado pelo pecado, Mc 7:21-23
Num nível mais profundo, o pecado domina o coração das pessoas, “um espírito de prostituição está no coração deles” (Os 5:4b), diz o mensageiro do Senhor. No Gênesis o diagnóstico divino sobre o coração humano era de que “toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente” (Gn 6:5) e que tal condição não exclui nem as crianças, pois “a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice” (Gn 8:21). As palavras de Salomão sobre o ímpio de que “há no seu coração perversidade, todo o tempo maquina mal” (Pv 6:14) não se aplica apenas a Hitler e a quem esquarteja namoradas, mas também a pais de famílias honestos, pois “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso” (Jr 17:9).
Não é o homem que determina como seu coração deve ser, mas o coração é que determina como o homem é, “porque, como imaginou no seu coração, assim é ele” (Pv 23:7). Um homem sempre procederá de acordo com a natureza de seu coração. Se este for endurecido e mau, então tal pessoa resistirá ao Espírito e procederá de forma contrária à lei de Deus. Por isso que as pessoas dos dias de Oséias não podiam voltar para Deus, pois seus coração estavam dominados por um espírito de prostituição e dominavam o comportamento deles. E é por isso que o homem moderno não pode converter-se a Deus, pois a natureza de seu coração é má e o incapacita para o bem.
O pecado cega o entendimento, 1Co 2:14
O pecado afeta também a mente do homem, cegando-o para as coisas de Deus. “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2:14). Ao invés de se voltar para Deus “o povo que não tem entendimento corre para a sua perdição” (Os 4:14), ainda mais que “por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes” (Rm 1:28). Outro profeta descreve a cegueira do povo como sendo pior que a dos animais, pois “o boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Is 1:3).
Como “tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas” (Tt 1:5), não são capazes de compreender a mensagem do evangelho. Precisam, antes, ter “iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos” (Ef 1:18), do contrário sua mente irá das trevas presente para as trevas exteriores, sem conhecer a luz do Senhor.
Conclusão
O livre-arbítrio como capacidade do homem se voltar para Deus é uma mentira de Satanás, que assim perverte o evangelho, levando homens a torná-lo persuasivo a defuntos. Pois os pecadores não experimentam outra realidade senão o pecar, tornando a rebelião a Deus um hábito que não podem mudar. Além disso, seu coração que determina suas ações é fonte de toda sorte de males, sendo enganoso e perverso, portanto desinclinado às coisas de Deus. E sua mente é corrompida de tal forma pelo pecado que o evangelho lhe parece loucura indigna de crédito, só aceitando naturalmente se a mensagem for modificada de tal maneira que não se pareça em nada com o evangelho da glória de Deus. Diante disso, eles até “voltam, mas não para o Altíssimo” (Os 7:16). Igrejas lotam, mas corações continuam vazios de Deus, ocupados somente com a prostituição espiritual “porque um espírito de prostituição os enganou, eles, prostituindo-se, abandonaram o seu Deus” (Os 4:12).
Soli Deo Gloria
Fonte: Cinco Solas (excelente!)

Rodovia que dá acesso as cidades de Prata e Ouro Velho está intransitável

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Apesar dos apelos e das promessas do Governo do Estado, a rodovia estadual que dá acesso aos municípios de Prata e Ouro Velho, na região do Cariri paraibano, está praticamente intransitável e os motoristas que se arriscam a circular por aquela estrada correm o risco de terem seus veículos danificados.
Mesmo diante dos apelos formalizados pelos prefeitos das duas cidades e por deputados estaduais que representam a região na Assembleia Legislativa, o Governo do Estado não tem demonstrado qualquer sensibilidade com relação ao pleito dos caririzeiros.
A PB 110, denominada de rodovia Antônio Mariz, foi iniciada no governo de Antônio Mariz e concluída ainda no primeiro mandado do governador José Maranhão.
A rodovia é a principal via de acesso para os que trafegam pela BR 412, que desejam seguir viagem para o sertão da Paraíba e para a região do Pajeú pernambucano, bem como para os que se deslocam no sentido contrário, muitos com destino a cidade de Santa Cruz do Capibaribe, pólo comercial do Estado de Pernambuco.
Com o fim da estrada, os mais prejudicados são os moradores das duas cidades, principalmente os que precisam se deslocar diariamente para as cidades de Monteiro e Sumé, a exemplo de comerciantes e alunos universitários.
O Departamento Estadual de Rodagens – DER, chegou a iniciar uma operação tapa buraco, mas esta não apresentou qualquer melhoria na rodovia, já que as obras foram paralisadas logo nos primeiros dias.
Recentemente o Governo do Estado fez licitação para construção e recuperação de rodovias, mas a rodovia Antonio Mariz ficou de fora, o que provocou mais revolta e desilusão aos moradores de Prata e Ouro Velho.
Vitrine do Cariri

Paz, uma dádiva do céu

Por Rev. Hernandes Dias Lopes


Por Rev. Hernandes Dias Lopes
O mundo está em conflito. Enquanto erguemos monumentos À paz, investimos mais na guerra. Enquanto falamos da necessidade de paz, armamo-nos até aos dentes, preparando-nos para os mais encardidos combates. As tensões se agigantam entre as nações, dentro das famílias e até mesmo no sacrário da nossa alma. Somos uma guerra civil ambulante. O homem está em conflito com Deus, com seu próximo e consigo mesmo. A paz será sempre um sonho utópico até que reine o Príncipe da paz.
As Escrituras nos falam de paz com Deus e paz de Deus. A primeira é um estado, a segunda um sentimento. A paz de Deus nos fala de um relacionamento certo com Deus, fruto da reconciliação com ele, por meio de Cristo. A paz de Deus é fruto da paz com Deus e tem a ver com um sentimento de gozo inefável, que inunda a nossa alma, mesmo em meio aos vendavais da vida. Não há paz de Deus sem que primeiro se estabeleça a paz com Deus. A paz com Deus é a raiz, a paz de Deus é o fruto. A paz com Deus é a fonte e a paz de Deus é o fluxo que corre dessa fonte.
Mas, o que de fato é a paz com Deus? Ela é fruto da justificação, e justificação é um ato jurídico de Deus, declarando-nos inocentes e inculpáveis diante do seu tribunal, em virtude do sacrifício substitutivo de Cristo, em nosso favor e em nosso lugar. Mediante a justificação, ficamos quites com a lei de Deus e com a justiça divina, não pesando mais sobre nós nenhuma condenação. Nossos pecados não são imputados a nós, pois foram lançados sobre Jesus na cruz e toda a justiça de Cristo é transferida para o nossa conta, de tal maneira que somos justificados no tribunal de Deus. A justificação é um ato e não um processo; é feito no tribunal de Deus e não no nosso coração. Ela não tem graus, uma vez que todos os salvos são de igual forma justificados com base nos méritos de Cristo Jesus. Por isso, a paz com Deus é a mesma para todos os remidos. Nenhum salvo tem mais paz com Deus do que outro. Todos estão de igual forma reconciliados com Deus por meio de Cristo Jesus.
Já a paz de Deus difere de crente para crente. Nem todos os salvos a experimentam com a mesma intensidade. Ela não é um estado, mas um sentimento, fruto do nosso estreito relacionamento com Deus. Paulo diz que a falta dessa paz deixa o coração e a mente vulneráveis à ansiedade. A ansiedade é uma espécie de estrangulamento da alma, quando somos sufocados pelas tensões que chegam das circunstâncias, dos relacionamentos estremecidos e da preocupação com as coisas materiais. Quando buscamos a Deus em oração e o adoramos, dando graças por sua bondade, a ansiedade precisa bater em retirada e, a paz de Deus, como uma sentinela divina, passa a guardar nosso coração e a nossa mente em Cristo Jesus. A paz de Deus é uma fortaleza ao redor da nossa mente e do nosso coração, da nossa razão e dos nossos sentimentos. A paz de Deus é aquele descanso interior, em saber que Deus está no controle, que nossa vida está em suas mãos, mesmo quando as circunstâncias ao nosso redor estão tempestuosas. Não precisamos ser prisioneiros da ansiedade. Se já fomos reconciliados com Deus, já temos a paz com Deus, e agora, podemos experimentar a paz de Deus!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A Soteriologia de S. João 10




“E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão. Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”João 10. 23-29.
Eu cresci com uma imagem bem negativa do que seria o Calvinismo. Minhas objeções contra as Doutrinas da Graça se baseavam em preconceitos, os quais, por sua vez, se fundamentavam no desconhecimento, e na má informação. Não acuso meus professores de ontem de engodo, penso simplesmente isto: eram cegos guiando cegos; em outras palavras, me ensinavam sobre aquilo que desconheciam.
De certo modo, o Capítulo 10 do Evangelho de S. João muito auxiliou minha jornada teológica; senti grande surpresa ao encontrar alguém que me mostrou o próprio Cristo ensinando algo que eu abominava: a perseverança dos Santos. Até então, eu sempre havia visto nesta doutrina uma tentativa carnal para alguns crentes justificarem algum modo de vida relapso, ou liberal. Quero lembrá-los, como escrevi no parágrafo anterior, que meu fundamento era o preconceito e a ignorância, e vice-verso (por isso, minha objeção se ‘esquecia’ que boa parte dos maiores cristãos de todos os tempos acreditava na Perseverança dos Santos!). Mas, eis, agora, que o próprio Cristo se revela diante de mim com uma promessa de Segurança Eterna.
E não só isso. Nas breves palavras contidas nos versos 23 a 29, todos os chamados Cinco Pontos do Calvinismo são ensinados, e não só a Perseverança. Nestas palavras encontro Cristo me ensinando sobre a Depravação da Natureza Humana, e sobre a Eleição Livre e Soberana de Deus; sobre o Chamado Eficaz, a Expiação Definida, e a Segurança Eterna das ovelhas. Nestas palavras de Cristo há a mais doce melodia que os ouvidos humanos jamais ouviram; se eleitos. De tempos em tempos, sempre me debruço sobre estas linhas, relendo-as, devorando-as, como verdadeiro alimento e consolo para minha alma.
Por isso, muito me dói ver como algumas pessoas buscam ofuscar a luz que emana destas linhas sagradas. Estou convencido de que somente o preconceito, e a falta de conhecimento teológico, podem impedir alguém de compreender a clareza do que Jesus está ensinando aqui. Ainda assim, não consigo deixar de me surpreender o quanto as pessoas podem ir longe a fim de negar o que está diante de seus olhos.
Mas, temo ainda não ter falado do tema central deste artigo. Vez em quando, tenho encontrado pessoas que tentam arminianizar estas palavras de Jesus. Se lhes perguntam algo como: “Não é verdade que em João 10 Jesus ensina que a salvação jamais pode ser perdida?”, estas pessoas engenhosamente respondem: “Não é bem assim. Jesus realmente fala que ninguém pode tirar suas ovelhas de Suas mãos, mas não nega que tais ovelhas possam fugir por livre escolha”. O argumento é engenhoso, admito, mas sua engenhosidade não o torna um milésimo verdadeiro. Como pretendo demonstrar, trata-se de um argumento engenhoso em sua superfície, mas, completamente irracional e antibíblico em sua essência.
Quero começar, porém, dando um passo atrás, retomando – e comprovando – minha afirmação de que nestas palavras de Cristo pode-se encontrar todas as nuances das Doutrinas da Graça, também conhecidas, por questões históricas, como Calvinismo. Como devem saber, as Doutrinas da Graça se fundamentam em cinco premissas teológicas: a) Depravação Total; b) Eleição Incondicional; c) Expiação Definida; d) Vocação Eficaz; e, por fim, mas não menos importante, e) Perseverança do Santos; ou, Segurança Eterna dos Santos.
Como se encontram todas estas premissas em João 10?
Primeiro, a Depravação Total. Há quem afirme que o homem não é tão corrompido em sua natureza a ponto de não poder usar sua vontade para nascer de novo, crendo na Pessoa de Jesus. São pessoas que defendem arduamente o conceito de Livre Arbítrio. Na maioria dos casos, estas pessoas são grandes inimigas do Calvinismo, pois, segundo dizem, nosso ensino transforma Deus num tirano, e os homens em meros bonecos de teatro. Assim, para tais pessoas, defender o Livre Arbítrio humano é questão de primeira importância.
Mas, não há lugar para Livre Arbítrio em João 10, antes, aqui Jesus ensina que o homem é completamente incapaz de fazer a vontade de Deus, e de crer no Evangelho, a menos que seja Eleito para isto; o ensino claro de Jesus aqui é que o homem é completamente corrompido pelo pecado, o que inclui suas faculdades espirituais.
A porção bíblica que estamos analisando mais de perto, (versículos 23 a 29), nos conta sobre um passeio que Jesus dava pelo Templo de Salomão. Enquanto caminhava pelo alpendre, Cristo é abordado por um grupo de judeus, que solicitam que Ele lhes declare abertamente sua messianidade, ou, que a negasse, livrando-os da necessidade de interpretarem Sua Mensagem.
“Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente” – versículo 24.
Gosto muito deste texto. Que ele nos mostra? Certamente está diante de nós um grupo de homens que deseja saber mais sobre Jesus. Ainda que possamos questionar sua motivação, não podemos negar que eles investigam quem é Jesus; eles querem saber o que Jesus realmente desejava ensinar. Aparentemente, este texto fornece base para a defesa do Livre Arbítrio, não é mesmo? Os advogados do Livre Arbítrio alegam que a capacidade de crer ou não está na livre vontade humana; então, os judeus deste texto bíblico, nunca estiveram tão perto da Vida Eterna quanto no momento que fizeram esta pergunta a Jesus. Isto, claro, se a lógica do Livre Arbítrio fosse verdadeira.
A Eleição foi sempre um tema de suma importância para a Reforma Protestante; a principal explicação é a necessidade de demonstrar que a Salvação é um ato da Graça Divina, e não uma recompensa pela bondade do homem. Se Deus não elegeu um povo para Si, e se Ele não fez isto por meio de uma Eleição Incondicional, então, a doutrina do “somente pela fé” é falsa, e todos deveriam retornar para os braços do Papa. Não deixa de ser interessante observar uma multidão de evangélicos lutando contra a Doutrina da Eleição, quando foi justamente ela quem os livrou das amarras do Catolicismo Romano.
Mas, qual a relação do parágrafo anterior com o tema deste artigo? É fundamental descobrir se o homem possui alguma capacidade de crer em Jesus com base em uma livre vontade. Em outras palavras, o cristão faz a si mesmo um cristão, ou é Deus quem lhe dá o privilégio? Encontramos a resposta na replica de Cristo àqueles homens.
Jesus inicia sua resposta dizendo: “Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim” (v. 25).  A reclamação dos religiosos parecia bem justa: Mestre, o senhor está nos deixando no suspense, e não nos declara abertamente sua Messianidade… Queremos que o senhor fale abertamente, para que possamos crer. Nós é quem decidiremos, se cremos ou não, e exigimos que o senhor nos dê dados que possamos analisar, e com nossa liberdade, escolher ficar do seu lado, ou continuar rejeitando-o. Em outras palavras, aqueles judeus confiavam sua capacidade de escolher, de julgar – em seu “livre-arbitrio”.
Todavia, Cristo simplesmente zomba desta suposta capacidade que afirmam ter para compreender e julgar Sua mensagem. Cristo diz: fiz o que era necessário, e meus sinais provam a todos Que Eu Sou, mas você ainda assim não acreditam em Mim. E não só isso, Jesus vai mais longe e declara a causa da incredulidade daqueles homens: “Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito” (v. 26).
Vocês são incapazes de crer em Mim, em vocês não existe qualquer capacidade natural que os habilite a compreender e aceitar a minha pregação e messianidade. Vocês estão “mortos em delitos e pecados” (Efésios 2.1), e tudo que podem fazer é caminhar “segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência” (Efésios 2.2), por conseguinte “fazendo a vontade da carne e dos pensamentos” (Efésios 2.3). Não importa o quão elaborada é sua Religião, nem quão avançada a sua Ciência e Filosofia, espiritualmente, vocês estão mortos, incapazes de crer para a vida eterna, pois não são das minhas ovelhas!
Eles queriam que Jesus lhes falasse sobre Si, mas, em resposta, Cristo diz apenas isto: as ovelhas Me escutam, e se este não é o caso de vocês, então, significa que vocês não fazem parte das minhas ovelhas. Observemos que Cristo, quando diz que aqueles religiosos não faziam parte das suas ovelhas, afirma: “como já vo-lo tenho dito”. Onde Cristo disse tal coisa a eles? Certamente nos primeiros versículos do Capitulo, onde ele introduz seu tema com a Parábola das Ovelhas;
“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz.  Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que lhes dizia” (João 10.1-6)
Na parábola, Jesus apresenta a figura de um pastor que vai ao curral buscar suas ovelhas. No quadro apresentado por Cristo, há várias ovelhas, sendo que nem todas Lhe pertencem. O significado da parábola é que apenas as Suas ovelhas o seguiram, pois conhecem a Sua voz. Aquelas que não reconhecem sua voz, não Lhe pertencem, e por isso, não O seguem. Ao terminar de contar a parábola, o Evangelista escreve: “mas eles não entenderam o que era que lhes dizia”. Ou seja, eles não O escutaram, não O compreenderam, não O seguiram – logo, não eram das suas ovelhas.
E Jesus segue insistindo no fato de que suas ovelhas O escutam, e O seguem; vemos isto em outros versículos, como Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” (v. 16). De modo que, esta certeza aprensentada por Cristo, implica na conclusão de que não ouvir Sua voz, é o mesmo que não fazer parte do rebanho de Cristo; e isto comprova a Doutrina Bíblica da Eleição, que abarca a doutrina da Depravação Total da vontade humana.
De faço, abarca a doutrina da Depravação Total da vontade humana, pois, do contrário, a capacidade de crer na mensagem de Jesus Cristo estaria no coração de cada um daqueles religiosos, e não no fato de uns serem ovelhas e outros não. Neste caso, a capacidade natural precederia ao milagre do Novo Nascimento, e então, primeiro o homem exerceria sua capacidade natural, e só depois de tornaria ovelha (Novo Nascimento). Mas, segundo Cristo, primeiro o homem precisa ser ovelha, e quando isto acontece, ele é capaz de Ouvir e Seguir o Bom Pastor.
NOTA AOS LEITORES: Devido a alguns problemas pessoais, os quais me têm impedido de seguir um cronograma fixo de atualizações, este estudo será publicado em diversas partes, juntamente com a seqüência de novos estudos da série “Antídoto Contra o Arminianismo”. Contamos com a oração dos irmãos.
“Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido” (João 6.65).

Fonte: www.olharreformado.wordpress.com

MISSÕES PORTAS ABERTAS

NOTÍCIAS
Pastor pede orações em favor de sua igreja


Em 13 de agosto de 2010, após prisão por oficiais do ministério de segurança do Estado, o pastor Wang Dao da igreja Liangren, em Guangzhou, contatou o presidente da ChinaAid, Bob Fu, pedindo sua ajuda para emitir um pedido urgente de oração. Após traduzir o documento, a ChinaAid divulgou a carta na imprensa chinesa no começo da semana.


Leia na íntegra a carta do pastor Wand Dao, pedindo intercessores:

Querido Pastor Bob Fu,
-Paz de Cristo! Obrigado por se arriscar na luta a favor dos direitos dos cristãos perseguidos na China, incluindo seu cuidado e ajuda à Igreja Liangren de Guandzhou. Os advogados de defesa que trabalham junto de você são como anjos. Sempre que há uma necessidade para eles, há a sua presença! Por favor, aceite nossa gratidão de coração por você! Que Deus recompense o trabalho duro que você tem feito!

   Ás vezes nos sentimos ingênuos e inocentes em acreditar que podemos viver em paz por um tempo, mas os fatos nos dizem que não devemos nutrir qualquer ilusão (sobre nossa situação) para Satanás. Mandarei informações sobre o que temos passado nos últimos dois dias. A mensagem da nossa igreja é: continuem. Por favor, continuem a orar por nós em nossa luta! Emanuel, Deus conosco!
Seu amado irmão em Cristo
Wang Dao

Marco Feliciano E a Exegese Bíblica

Por Rev. Marcelo Lemos feliciano_exegese
Marcelo Lemos
Os que já me viram, ou ouviram pregar, conhecem o meu estilo de pregação. Sou um pregador eloqüente, de mensagens de avivamento e exortação.
Sou um João Batista da vida e, confesso, espero não ter um ministério de apenas três anos e meio, como foi o caso de João. Todavia, prefiro ter a cabeça posta em uma bandeja de prata por falar a verdade, pois sei que, se a cortarem pela manhã, antes de chegar a noite, esta mesma cabeça terá uma coroa no Céu. Mas não pretendo ver a Igreja do Senhor padecer por falta de correção e mensagens que inflamem os corações.
Sempre digo que gostaria que os líderes andassem um pouco mais, viajassem mais, conhecessem outros trabalhos e até mesmo outros ministérios.
Deus não tem monopólio de Igreja. Ele estabeleceu um padrão para a sua Igreja e, quem não se enquadrar neste padrão, estará fora.
Perdemos a nossa identidade pentecostal.Tenho sofrido afrontas e até ameaças por parte de Igrejas que não aceitam a manifestação do Senhor.
Outro dia, estava pregando, após Deus se manifestar com batismo pelo Espírito Santo e os crentes receberem poder até não conseguirem ficar de pé, então, fui questionado por um obreiro:
- Depois disto, Irmão Marco, o que farei com o texto de I Coríntios 12? Ali fala sobre a ordem e decência do culto.
Respondi imediatamente ao santo de Deus:
- E o que eu farei com Atos 2?
A discussão terminou por ali, graças a Deus! É horrível discutir manifestações de Deus com “pentecostais”. Se ainda fosse com “tradicionais”… mas com pentecostais? É um absurdo.
- Marco Feliciano; ‘Chamada de Fogo’; Editora Missão e Vida.
Quem já assistiu as pregações do pastor Marco podem imaginar como deve ter sido a experiência que ele relata nos parágrafos acima, e os motivos que levou o obreiro a questionar o que estava acontecendo. O interessante neste trecho da auto-biografia de Marco Feliciano, é que podemos ter uma noção de como algumas pessoas fazem exegese das Escrituras.
Ao ser questionado sobre a falta de “ordem e decência” que estava havendo durante sua pregação, qual foi a resposta do estimado pastor? Ele simplesmente jogou “Escritura contra Escritura”, citando Atos 2 completamente fora de contexto, segundo o seu próprio bel-prazer.
Sei que algumas pessoas poderão me odiar pelo que vou dizer, porém, o fato é que Atos 2 não serve, de forma alguma, para justificar a bagunça que pode ser vista em diversos cultos carismáticos por ai. Certamente alguém me dirá que no referido texto se vê os incrédulos acusando os cristãos primitivos de estarem bêbados. Isso é verdade. Tal acusação foi feita. Todavia, qual era o comportamento deles durante tamanho mover do Espírito?
Segundo o relato de Lucas, o médico evangelista, quando o Espírito desceu sobre a Igreja, os cristãos começaram a falar outros idiomas: “E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (Atos 2.4).
Por ser a Festa de Pentecostes, a cidade estava cheia de judeus e prosélitos vindos de todas as partes do mundo. Como aconteceria hoje numa Copa do Mundo, a cidade contava com a presença de pessoas de diversas nacionalidades, e que falam diversas línguas. E este foi o milagre daquele dia. Cada uma daquelas pessoas foi capaz de compreender a pregação do Evangelho, e o louvor que saia dos lábios dos cristãos, em seu próprio idioma:

“E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma grande multidão, e estava confusa, porque cada um ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! Não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?” (Atos 2.6-8).
Diante de tal milagre houve duas reações. Alguns ficaram curiosos e maravilhados; enquanto outros simplesmente zombavam dizendo que eles estão bêbados. Ou seja, estes últimos imaginaram que não se tratava de nada especial, apenas um bando de bêbados, certamente instruídos, fazendo algazarra para impressionar os visitantes.
“E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto” (Atos 2.12).
O fato é que esta passagem das Escrituras não pode servir como justificativa para a irracionalidade demonstrada em diversas demonstrações carismáticas que podemos facilmente encontrar em nossos dias. Muito pelo contrário. O resultado do que aconteceu em Pentecostes, foi que os estrangeiros ouviram a PREGAÇÃO DA PALAVRA, cada um em seu próprio idioma. Não houve baderna, desordem, emocionalismos irracionais, ou coisa semelhante! Isolar as zombarias feitas por um grupo de incrédulos e ignorantes não é fazer exegese, é mutilar o texto sagrado visando interesses próprios.
Infelizmente, ‘exegese’ semelhante a esta pode ser vista constantemente por aí…
Ah, antes que eu me esqueça, o pastor Marco se esqueceu de corrigir um detalhe, o mandamento sobre “ordem e decência” não se encontra no capítulo 12, mas sem no capítulo 14.
“Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que ignore. Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” – I Coríntios 14.26-40.
Paz e bem!
Fonte: www.olharreformado.wordpress.com

Abençoados para sermos abençoadores

Por Rev. Hernandes Dias Lopes (1ª IP Vitoria-ES)

A igreja é o povo mais abençoado do mundo. Somos abençoados com toda sorte de bênção em Cristo Jesus. Somos filhos de Deus, herdeiros de Deus e a menina dos olhos de Deus. Fomos amados desde a eternidade. Fomos chamados com santa vocação. Fomos transformados pela graça. Recebemos um novo nome, um novo coração, uma nova vida, uma nova família, uma nova pátria.O propósito de Deus, entretanto, não é apenas nos abençoar, mas tornar-nos abençoadores. Não somos apenas o receptáculo da bênção, mas sobretudo, seu canal. Três verdades preciosas nos chamam a atenção acerca desse momentoso assunto.
1. Somos abençoados para sermos abençoadores porque somos portadores de boas novas num mundo marcado por más notícias. O mundo está cansado de ouvir más notícias. A mídia despeja todos os dias em nossos ouvidos dezenas de informações trágicas: é a violência que campeia sem controle na cidade e no campo; é a corrupção que se infiltra em todos os setores da sociedade; é a devassidão moral que solapa os valores morais e desestabiliza a família. A igreja de Deus não é trombeta do mal, mas portadora de boas novas. Temos a única mensagem capaz de trazer esperança para o homem atormentado pela culpa. Temos o único remédio capaz de curar o homem de sua enfermidade espiritual. Somos embaixadores de Deus a proclamar ao mundo a boa notícia de que Deus ama o pecador e enviou seu Filho para salvar a todos os que se arrenpendem e colocam sua confiança em Jesus.
2. Somos abençoados para sermos abençoadores porque somos construtores de pontes onde o pecado só cavou abismos. O pecado separa o homem de Deus, de si mesmo e do próximo, mas o evangelho lhe restaura a alma, oferecendo-lhe reconciliação com Deus. Neste mundo timbrado pelo ódio, somos arautos do amor de Deus. Neste mundo de guerras, somos embaixadores da paz. Neste mundo onde se aprofundam os abismos da inimizade, somos pacificadores. Deus nos confiou o ministério da reconciliação. Somos agentes de Deus na maior missão de paz do mundo, pois nosso ministério é rogar aos homens que se reconciliem com Deus. É sublime o privilégio de construirmos pontes onde o pecado cavou abismos. É glorioso o trabalho de lutar pela salvação dos perdidos. É maravilhoso saber que Deus nos confiou um ministério que os anjos gostariam de fazê-lo.
3. Somos abençoados para sermos abençoadores porque recebemos a maior, a mais urgente e a mais importante incumbência do mundo. A evangelização é a mais importante missão do mundo. É uma tarefa imperativa, intransferível e impostergável. Fomos chamados para sermos enviados. Não podemos nos calar quando temos a única mensagem capaz de salvar os que estão perdidos. Não podemos silenciar nossa voz quando nenhuma outra instituição humana pode realizar essa tarefa a nós confiada. Não podemos adiar a proclamação dessa boa notícia, quando tantos perecem em seus pecados, sem esperança e sem Deus no mundo. O privilégio de sermos abençoados implica na responsabilidade de sermos abençoadores. Deus nos chamou das trevas para a luz para sermos um luzeiro no mundo. Deus nos tirou da escravidão para a liberdade para anunciarmos aos cativos que se o Filho de Deus os libertar verdadeiramente serão livres. Deus nos arrancou desse mundo tenebroso para sermos conduzidos de volta ao mundo, a fim de anunciarmos que Deus reina e exige que todos se dobrem aos pés do seu Filho, adorando-o como Salvador e Senhor. Unimos nossa voz à do salmista, quando clamou: “Abençoe-nos Deus, e todos os confins da terra o temerão” (Sl 67.7).
Fonte: www.hernandesdiaslopes.com.br

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Reforma Calvinista

                                                                   João Calvino
Calvino (João), um dos principais líderes da Reforma (Noyon, Picardia, 1509 - Genebra, 1564). Dotado de grande inteligência, além de ter sido excelente orador e autor de muitos livros e de vasta correspondência, tinha também excepcional capacidade de organização e administração. Essas características fizeram com que Calvino se destacasse como figura dominante da Reforma. Exerceu influência especialmente na Suíça, Inglaterra, Escócia e América do Norte. 
Sua Vida.
Calvino nasceu em Noyon, na França, perto de Compiègne. Seu pai foi advogado da Igreja Católica. Calvino foi educado em Paris, Orleães e Bourges. Após a morte do pai em 1531, Calvino estudou latim e grego na universidade de Paris. Sua educação reflete a influência do liberalismo e do humanismo do Renascimento. Ao contrário de vários líderes da Reforma, Calvino provavelmente nunca foi ordenado padre.
Aproximadamente em 1533 Calvino se declarou protestante. Em 1534, deixou a França e estabeleceu-se em Basiléia, na Suíça. Nessa cidade publicou a primeira edição de seu livro Instituição da religião cristã (1536). Este livro provocou imediata admiração por Calvino. Durante sua vida ele alterou a obra, aumentando-a. O livro apresenta as idéias básicas de Calvino sobre religião.
Em 1536, Calvino foi convencido a liderar o primeiro grupo de pastores protestantes de Genebra. Em 1538 os líderes de Genebra reagiram contra as rígidas doutrinas dos pastores protestantes; Calvino e vários outros clérigos foram banidos. No mesmo ano, Calvino tornou-se pastor de uma igreja protestante de refugiados franceses em Estrasburgo, na Alemanha. Foi profundamente influenciado pelos antigos líderes protestantes alemães de Estrasburgo, especialmente Martinho Bucer. Calvino adaptou as idéias de Bucer sobre o governo da Igreja e o culto.
Ao mesmo tempo, Genebra ressentia-se de falta de liderança política e religiosa. O conselho da cidade de Genebra pediu a Calvino que voltasse, o que ele fez em 1541. A partir dessa época até sua morte, Calvino foi a personalidade dominante em Genebra, embora fosse apenas um pastor.
Calvinismo.
Desde que surgiu em 1517, a Reforma provocou a oposição religiosa e política da Igreja e dos governantes civis. Em torno de 1546, muitos protestantes na Alemanha, Suíça e França insistiam em que o povo - e não apenas os reis e bispos - deveria participar das decisões políticas e religiosas. Essa idéia influenciou Calvino e seus seguidores na França, Inglaterra, Escócia e Países Baixos. Os adeptos franceses de Calvino foram chamados de huguenotes. Os protestantes ingleses que ele influenciou receberam o nome de puritanos.
Os calvinistas desenvolveram teorias políticas que defendiam o governo constitucional e representativo, o direito do povo de mudar o governo e a separação entre o governo civil e o governo da Igreja. Os calvinistas do séc. XVI queriam que essas idéias fossem aplicadas somente à aristocracia, mas durante o séc. XVII surgiram conceitos mais democráticos, especialmente na Inglaterra e, mais tarde, na América do Norte colonial.
Calvino concordava com outros líderes da Reforma quanto a algumas teorias religiosas básicas, como a da superioridade da fé sobre a prática do bem, a de que a Bíblia é a base de todos os ensinamentos cristãos e a do sacerdócio universal de todos os fiéis. De acordo com o conceito do sacerdócio universal, todos os fiéis eram considerados sacerdotes. A Igreja Católica Romana, por outro lado, fazia distinção entre padres e leigos, além de dividir os primeiros em várias categorias.
Uma das idéias de Calvino era a de que os homens só eram salvos pela graça de Deus e, além disso, apenas os chamados eleitos seriam salvos. No entanto, não se sabia quais eram os eleitos. Calvino aprofundou a idéia de que o cristianismo se destinava a reformar toda a sociedade. Para promover essa reforma, Calvino falou e escreveu sobre política, problemas sociais e relações internacionais como sendo parte da responsabilidade cristã. Muitas idéias de Calvino eram controversas, mas nenhum outro reformador fez tanto para obrigar as pessoas a pensar sobre a ética social e cristã. A partir dessa preocupação ética e das idéias de Bucer, Calvino desenvolveu a Igreja que atualmente é chamada de presbiteriana. Calvino organizou o governo da Igreja de forma diferente do governo civil, de maneira que um corpo organizado de homens da Igreja pudesse trabalhar visando à reforma social. Foi o primeiro líder protestante da Europa a conseguir independência parcial da Igreja em relação ao Estado.

Santificação, a condição para as maravilhas divinas

Por Rev. Hernandes Dias Lopes (1ª IP em Vitória-ES)

O povo de Israel estava no limiar da terra prometida. As agruras do deserto haviam ficado para trás. Agora, era hora de cruzar o Jordão e tomar posse da terra prometida. Mas, havia condições a serem observadas. Josué diz ao povo: “Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós” (Js 3.5). Destacamos à luz desse verso cinco verdades importantes:
1. A santificação é uma ordem expressa de Deus. A ordem de Deus é meridianamente clara: “Santificai-vos”. Sem santificação ninguém pode ver a Deus. Sem santificação não existe comunhão com Deus, pois Deus é luz e só os puros de coração poderão vê-lo face a face. Deus nos chamou do pecado para a santidade. Ele nos salvou do pecado e não no pecado. Aqueles que são de Deus apartam-se do pecado e deleitam-se na santidade. O povo de Deus é um povo santo chamado para a santidade. Somos santos posicionalmente, mas devemos nos santificar processualmente. O mesmo Deus que trabalhou por nós na redenção, trabalha em nós na santificação.
2. A santificação é uma condição para as maravilhas de Deus. “Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós”. Nós somos as nossas próprias ferramentas. Deus utiliza, não grandes talentos, mas vasos limpos. Deus usa homens e mulheres que buscam a santidade. A vitória de Israel sobre seus inimigos não seria resultado de seus esforços humanos, mas da intervenção divina. As maravilhas divinas deveriam ser precedidas pela santificação do seu povo. É a santidade que abre caminho para as maravilhas divinas. Se queremos ver as manifestações portentosas de Deus em nós e através de nós, deveremos, então, santificar nossa vida. O pecado nos afasta de Deus e atrai sobre nós vergonha e opróbrio, mas a santificação é o caminho da comunhão e da honra.
3. A santicação é uma exigência para todo o povo de Deus. Josué é enfático: “Santificai-vos”. A ordem divina era para os sacerdotes, para os levitas, para os homens, mulheres e crianças. Todo o povo de Deus deve ser santo. Todos precisam buscar a santificação como o seu maior tesouro. Devemos desejar Deus mais do que suas bênçãos. Devemos buscar a semelhança com Cristo mais do que o sucesso. Devemos querer Deus mais do que as maravilhas divinas. A medida que cuidamos da causa, a santificação, experimentamos o resultado, as maravilhas de Deus.
4. A santificação é uma exigência para ser observada hoje. Se Deus vai fazer maravilhas amanhã e se a condição indispensável para essas maravilhas é a santificação do povo, então, devemos nos santificar hoje. Não podemos adiar essa ordenança divina. A santificação é para hoje e não apenas para a eternidade. Na eternidade seremos glorificados. Mas, aqui começa o processo da santificação. Hoje é o dia de nos consagrarmos a Deus. Agora é o tempo de colocarmos tudo sobre o altar e voltarmo-nos para o Senhor de todo o nosso coração.
5. A santificação torna o povo de Deus o receptáculo das maravilhas divinas. Quando o povo de Deus se santifica, Deus opera maravilhas em seu meio. As maravilhas divinas não são feitas apenas por nós, mas, sobretudo, em nós. Somos o receptáculo dessas maravilhas e em seguida, os instrumentos por meio dos quais essas bênçãos fluem para o mundo. Somos abençoados para sermos abençoadores. Pela santificação tornamo-nos imitadores de Deus e canais das bênçãos de Deus para o mundo inteiro.

Batismo com Espírito Santo: Algumas Considerações

Por Felipe Sabino Neto
Creio que não seria exagero afirmar que um dos assuntos onde há maior confusão, hoje, é a questão do batismo com o Espírito Santo e o dom de línguas. Não porque a Escritura não seja clara no seu ensino com respeito ao assunto, mas sim porque a experiência, e não a Palavra de Deus, tem ditado a forma de se compreender essa doutrina tão importante.
Gostaria de considerar, brevemente, somente algumas verdades que a Bíblia ensina com respeito ao batismo com o Espírito Santo, as quais o movimento pentecostal e neo-pentecostal repudiam:

Primeiro: Todos os crentes são batizados com o Espírito Santo.

"Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo" - 1 Coríntios 12:13
O texto é claro e não é necessário nenhuma destreza exegética para entender o seu significado. TODOS, e não somente alguns, foram batizados com o Espírito Santo. Não há uns poucos privilegiados; a bênção é de todos aqueles que crêem nas Escrituras, ou melhor, no que as Escrituras dizem acerca do bendito Filho de Deus.
"Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva" - João 7:38-39
Se alguém disser que conhece uma pessoa crente, mas que não é batizada com o Espírito Santo, deve-se entender que esta pessoa nunca foi um crente genuíno, pois todos os que crêem são ou foram batizados com o Espírito Santo (pois o batismo com o Espírito Santo ocorre no ato da conversão ou um pouco antes. Há de se considerar ainda o caso de João Batista, que desde o ventre de sua mãe era cheio do Espírito Santo).
É engraçado como as nossas visões particulares de certas coisas, e ainda mais quando apoiadas por certas experiências, nos deixam completa e totalmente cegos. Creio que, sem dúvida alguma, uma das passagens mais usadas e citadas pelos pentecostais é Atos 2. Nesse capítulo nos vemos diante do relato do início da Igreja, quando o Espírito Santo veio para habitar conosco e em nós. Contudo, o que Pedro afirma? Quais são os pré-requisitos que Pedro apresenta para alguém receber o batismo com o Espírito Santo, para receber o "dom do Espírito"? Vejamos:
"Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo". - Atos 2:38
Portanto, se alguém disser que fulano de tal não recebeu o dom do Espírito Santo, a promessa derramada por Jesus, o batismo com o Espírito Santo, será o mesmo que dizer que tal pessoa não se arrependeu dos seus pecados, e ainda está no mundo sem Deus e sem esperança.
E mais:
"Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar" - Atos 2:39
Sim, é para TODOS QUANDO DEUS CHAMAR. Não é só para os Assembleianos, nem
muito menos para só alguns assembleianos. Não é só para os crentes que viveram após 1910. Não é só para uma elite espiritual. Não, não, não. Cristo morreu por todos aqueles que crêem nEle, e os benefícios que Ele conquistou na cruz, são outorgados a todos. Todos aqueles que foram verdadeiramente chamados por Deus, receberam o dom do Espírito Santo, do qual Pedro fala em Atos 2.


Segundo: O dom de línguas não é sinal de batismo com o Espírito Santo.

Os discípulos falaram em outras línguas em Atos 2, mas nada é dito acerca dos quase 3.000 que se converteram.
Além do mais, e ainda mais contundente, no mesmo capítulo que Paulo diz "Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo" ( 1 Coríntios 12:13), ele pergunta:
Porventura são todos apóstolos? são todos profetas? são todos mestres? são todos operadores de milagres? Todos têm dons de curar? falam todos em línguas? interpretam todos? - 1 Coríntios 12:30
A resposta óbvia é NÃO a todas às perguntas. Nem todo mundo é apóstolo, nem todo mundo é profeta, nem todo mundo é operador de milagres, nem todo mundo tem o dom de curar, nem todo mundo fala em línguas, nem todo mundo interpreta, MAS TODOS FORAM BATIZADOS NUM SÓ ESPÍRITO. O capítulo ainda dá o exemplo de que nem todos os membros são olho, ouvido, etc, etc, fazendo então essa analogia com os dons, os quais Deus distribuiu e distribui soberanamente.
O dom de línguas é um dom, que o Espírito Santo concede soberanamente a alguns, mas o BATISMO É UMA PROMESSA PARA TODOS OS QUE CRÊEM, não que crêem no batismo (como todos pentecostais pregam), mas que crêem no Cristo que batiza.
O livro de Atos é um livro histórico, e o fato de algumas pessoas terem falado em línguas quando receberam o batismo com o Espírito Santo, não quer dizer que o falar em línguas seja um sinal do batismo. Não encontramos esse ensino em nenhum lugar das Escrituras, mas encontramos o contrário, como apresentado acima. O simples fato de Paulo curar pessoas com lenços dele, não quer dizer que alguém deva ou possa fazer o mesmo.
Além do mais, não vemos ninguém gritando, clamando, chorando, repetindo "glória, glória, glória, glória" para receber o batismo com o Espírito Santo. Os apóstolos oravam no Cenáculo e nem sabiam o que haveria de acontecer com eles. Cornélio e sua casa estavam ouvindo a pregação, e nem mesmo ouviram desta promessa, pois é claro a partir do texto que Pedro não tinha falado sobe isso para eles. Esses gritos consecutivos fazem é a pessoa entrar em êxtase e começar a falar coisas que ouviu outros dizerem; isso está mais para "batismo da mente", do que para batismo com o Espírito. E o mesmo método tem levado muitos a receberem a "unção" do urso, do leão, da águia, onde as pessoas imitam esses animais, zombando de Deus e do Seu Evangelho com tamanha palhaçada.

Terceiro: O dom de línguas é dom de línguas [idiomas], não de expressões extáticas.

É muito fácil para alguém afirmar hoje em dia, no meio pentecostal, que fala em línguas, pois as pessoas perderam a noção do que é o dom de línguas que a Bíblia fala.
O dom de línguas na Bíblia era a capacidade das pessoas falarem em outros idiomas, sem nunca terem aprendido ou estudado os mesmos. Isso é claro a partir do relato de Atos 2:
E todos pasmavam e se admiravam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses que estão falando? Como é, pois, que os ouvimos falar cada um na própria língua em que nascemos? - (Atos 2:7-8)
Isso explica porque Paulo pôde ser um grande missionário, visto que ele aprendera sobrenaturalmente outros idiomas. Ele mesmo disse que falava mais línguas que todos os crentes de Corinto.
Contudo, quão tristemente longe disso está o "dom de línguas" de hoje. São meras expressões extáticas. São blás-blás-blás sem significado algum. Ninguém precisa de algo sobrenatural para dizer "alabacanta alabachéia" (e percebem quantas pessoas falam as mesmas expressões?").
Paulo disse que as línguas eram sinal para os incrédulos. Por que? Ora, se um alemão entrar numa igreja, e conhecendo as pessoas humildes e iletradas que ali congregam, ouvir alguma delas pregando o evangelho em alemão, ele verá que Deus está ali. Mas quem se impressionaria com expressões extáticas sem sentido? Até meu filho de 3 anos pode falar "Kantus Névias".
Eu creio no dom de línguas, mas infelizmente não vejo manifestação genuína dele no meio pentecostal e nem no tradicional (embora já tenha ouvido uns dois ou três relatos de acontecimentos tantos em igrejas pentecostais como tradicionais, de pessoas iletradas falarem em outros idiomas e estrangeiros serem compungidos com a pregação do evangelho em suas línguas. Contudo, se isso for verdade, infelizmente é uma das coisas mais raras do mundo).
É isso aí! Língua é idioma, e não língua dos anjos, como as pessoas dizem. Se os anjos falam em "línguas estranhas", como Abraão, Zacarias, José entenderam as suas mensagens? Eles tinham o dom de interpretação? E já que falei em interpretação, para que serve os interpretadores de línguas, se as línguas não tem significado definido?
Além do mais, em 1 Coríntios 14:21 Paulo associa seu dom de línguas com a profecia de Isaías sobre Israel ouvindo o idioma Assírio. Entender o dom como balbucio, destrói seu ponto de referência totalmente.
Está escrito na lei: Por homens de outras línguas e por lábios de estrangeiros falarei a este povo; e nem assim me ouvirão, diz o Senhor - 1 Coríntios 14:21.

Conclusão

Há uma imensa ignorância com relação aos dons e a obra do Espírito Santo, nos nossos dias.
O Espírito Santo está operando, pois senão não haveria conversões, pois é ele que dá vida, não aos crentes que ficam gritando, mas aos pecadores que estão mortos em delitos e pecados.
Nós crentes, temos que buscar, não o batismo com o Espírito Santo, mas o fruto do Espírito. Sermos cheios do poder de Deus e dos frutos do Seu Espírito. E qual é a conseqüência disso? Gritos, cair no chão, línguas? Não, certamente que não. É uma vida de santidade, uma vida de devoção total a Deus. Os milagres e as maravilhas (é claro, sempre respaldadas nas Escrituras) acontecerão de acordo com a bondade soberana de Deus, não por causa de homens que possuem poder e que decretam a história do universo de Deus. O poder pertence única e exclusivamente a Deus (Salmos 62:11), e Ele é o Soberano Adminstrador do Seu próprio universo.
Que Deus nos encha do Seu Espírito, para que nos amemos como irmãos, pois o amor é um fruto do Espírito, e a demonstração de que somos discípulos de Cristo, como Ele mesmo disse. Não é estranho que onde se afirma haver tantos "batismos com o Espírito Santo", há tanta discórdia, ódio e rancor?
Eu louvo a Deus pelos pentecostais que têm abandonado essa visão do batismo com o Espírito Santo. E eu particularmente conheço alguns deles, e o meu desejo e a minha oração é que Deus, pelo Seu Espírito, nos faça amar a Sua verdade acima de tudo, para não moldarmos a nossa visão de Deus e de Suas obras de acordo com as nossas experiências, mas sim de acordo com o Manual Sagrado que Ele nos deu.
Soli Deo Gloria!

Leia o excelente livro "Dons Espirituais", de Fred Zaspel.

Pensamento Reformado

Por Rev. Augustus Nicodemus Lopes (Chanceler da Faculdade Presbiteriana Mackenzie College)
Os puritanos davam muita ênfase na certeza plena da sua salvação. Sabiam que o propósito do homem é “glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”, mas entendiam que, enquanto não se alcançasse essa certeza plena de que você era um eleito, não poderia glorificar a Deus de forma total. Quando nós pensamos que uma das coisas que impulsionava a máquina puritana, ou todo o movimento puritano, e os levava àquela ousadia de enfrentar reis e rainhas, lembramo-nos que tudo era decorrente da convicção e da certeza advindas do fato de estarem plenamente seguros de que Deus estava ao lado deles. Portanto, esta questão da certeza da salvação, da certeza da eleição, é fundamental no movimento puritano. Eles achavam que esta era a maior bênção que alguém poderia ter ainda neste mundo. Por isso este tema é importante de ser conhecido.
O puritano Willliam Guthrie, no seu livro, “O Maior Benefício do Crente” (1658) diz: “Qual a principal ocupação do homem neste mundo?” Resposta: “Ter certeza de que participa de Cristo e viver de acordo com isto”. Thomas Brooks, outro puritano famoso, no seu livro “Céu na Terra” de 1654, diz o seguinte: “Estar no estado de graça concede ao homem o céu no futuro; saber que está no estado de graça concede o céu agora e no futuro”.
Esta era a base, portanto, das reformas externas que eles pretendiam fazer na Igreja e no Estado; a certeza que eles tinham de que eram povo eleito de Deus, lhes dava coragem para além das portas da Igreja e enfrentar o mundo aplicando a Palavra de Deus em todos os aspectos da vida.
Os puritanos ingleses, em especial, destacavam e enfatizavam o papel de uma vida transformada nesse processo de se obter a certeza de salvação. É interessante observarmos que neste ponto os puritanos foram mais além e, num certo sentido, até divergiram dos reformadores, especialmente Lutero. Martinho Lutero, por causa da sua ênfase contra o Romanismo, fez uma distinção radical entre fé e obras. Os que conhecem a posição luterana sabem disso. O conceito de Graça e o conceito de Lei, ficou dentro do Luteranismo ao ponto de que os estudiosos do Luteranismo alemão de hoje, como por exemplo, Bultman, olharem para o Velho Testamento, que Lutero considerava como Lei, e não verem qualquer valor no Antigo Testamento por acharem que a dicotomia, a separação, entre Lei e Graça é total. E Lutero dava muita ênfase a esta distinção radical entre fé e obras. Calvino era mais equilibrado. Ele achava que as obras tinham um papel fundamental na vida cristã mas que, de forma alguma, colaboravam para salvação. Sem dúvida, nenhum deles dizia que o homem era salvo pelas obras, mas acreditavam que as obras tinham um papel preponderante na vida do crente.
Os Puritanos concordavam com Calvino que é por meio das obras realizadas através da graça, que os eleitos “fortalecem o seu chamado e, a exemplo das árvores, são julgados por seus frutos [...] não sonhamos com uma fé destituída de boas obras, nem de uma justificação que poderá subsistir sem elas”.
Os puritanos queriam colocar as duas coisas juntas; não porque defendessem salvação pelas obras, como nós iremos ver adiante, mas é que os puritanos estavam lutando num contexto diferente dos reformadores. Os puritanos estavam enfrentando uma Igreja que tinha a sã doutrina; era uma Igreja que tinha vindo da Reforma, mas que havia se tornado tolerante; estavam enfrentando uma geração de hipócritas, pessoas que possuíam a doutrina da Reforma e, porque tinham a doutrina certa, porque vieram da Reforma, achavam que isso bastava. Os puritanos diziam: “de forma nenhuma! ninguém pode ter certeza de salvação se não tiver provas concretas na sua vida; evidências da graça de Deus no seu coração!”.
Nós podemos, então, quase que fazer a seguinte afirmação: enquanto que a preocupação maior da Reforma foi mostrar como uma pessoa podia ser salva, o Puritanismo se preocupava em mostrar como ela saberia que estava salva. Na época em que os puritanos viveram (século XVII), defendiam que a certeza de salvação era o resultado de um encontro pessoal, contínuo e vivo com o Deus da Aliança. Essa ênfase era uma fonte de irritação para muitos que chamavam os puritanos de presunçosos, legalistas e introspectivos, porque olhavam muito para o seu coração, para a sua vida, examinando-se, para verificar as evidências da obra da Graça de Deus, para que então pudessem afirmar que estavam salvos.
1. A relação entre a fé que salva e a certeza de salvação, no movimento puritano.
Quando os puritanos afirmam na Confissão de Fé que a certeza da salvação não faz parte da essência da fé salvadora, estão querendo dizer que uma pessoa pode estar salva e ainda não ter alcançado a certeza de salvação. E alguém pergunta: por que é que os puritanos, então, foram mais além do que os reformadores, neste ponto? Os puritanos ensinavam que a fé ativa, a fé que salva, não é uma atividade intelectual somente, mas ela se centraliza no coração do homem; e que uma fé que não move o coração, uma fé que não move a vontade, uma fé que não muda a conduta, não pode ser uma fé salvadora. Era nesse ponto, então, que os puritanos iam um pouco mais além dos reformadores. O famoso Thomas Goodwin, chamado de “o maior exegeta de todos os tempos, que do púlpito expôs os escritos de Paulo”, diz as seguintes palavras no seu livro “Fé Justificadora” (volume oito das suas obras):
“aquele ato de fé que justifica o pecador é diferente da convicção absoluta de que ele tem a vida eterna, e portanto esta fé pode existir sem a convicção, já que a fé não contém necessariamente uma certeza inabalável inerente em si mesma; quando se afirma que somente os que têm plena e inabalável certeza de salvação são crentes verdadeiros, condena-se uma geração inteira de justos cuja fé, quer seja por causa da fraqueza ou por várias tentações, nunca chegou ainda a atingir um nível inabalável, mas que entretanto apega-se a Cristo de todo coração e caminha obedientemente em Seus mandamentos. O principal ato da fé não é certeza ou convicção plena, visto que a fé reside na vontade do homem e que é pelo consentimento deste que ele se une a Cristo. A fé não reside primariamente no intelecto. Certeza da salvação é o selo que vem confirmar o que a fé fez e portanto vem depois dela”.
Então, isso é o que ensinavam os puritanos, especialmente os puritanos ingleses influenciados por Beza.
A Confissão de Fé da Igreja Presbiteriana ensina exatamente a mesma coisa. A Confissão de Fé é um reflexo da teologia puritana, e eu quero citar aqui o capítulo XVIII no parágrafo terceiro da Confissão de Fé: “Esta segurança infalível”, de salvação, “não pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades”. Ou ainda o Catecismo Maior na pergunta 81. Pergunta: “Todos os verdadeiros crentes têm sempre a certeza [de salvação,] de que estão agora no estado de graça e de que serão salvos?” Resposta: “A certeza da graça e salvação, não sendo da essência da fé, os crentes verdadeiros podem esperar muito tempo antes de consegui-la”. Os puritanos não negavam que se pode ter a certeza de salvação, claro que eles enfatizavam isso, mas eles estavam reagindo a uma situação, a uma igreja onde a graça era “barata”, onde pelo simples fato de você ser inglês, e, portanto membro da igreja da Inglaterra, era considerado salvo. Os puritanos diziam: “de forma nenhuma! Você tem que primeiro ver as evidências, examinar a sua vidas à luz da Palavra de Deus antes que possa dizer: eu sou um dos eleitos, eu sou um dos salvos, eu tenho a fé verdadeira”.
Outra evidência dessa doutrina puritana está no Catecismo Maior na pergunta 172, onde se vê a pergunta sobre a Santa Ceia e se questiona se uma pessoa, que não tem plena certeza da sua salvação, pode participar deste sacramento. Os puritanos respondem dizendo que seria ideal que tivesse, mas desde que a certeza de salvação não é parte, não é essência, da fé salvadora, então aquela pessoa que ainda tem dúvida, mas que ama a Jesus e deseja andar nos seus caminhos, pode se aproximar da Ceia do Senhor para participar dela para ser fortalecido pelos meios de graça no Senhor Jesus. Era assim que eles viam a questão da participação na Ceia do Senhor.
Estamos enfatizando a descontinuidade entre a questão da fé salvadora e a certeza de salvação que os puritanos faziam, mas ao mesmo tempo eles enfatizavam uma certa continuidade. Aqui é necessária uma explicação. A distinção que eles faziam entre fé que salva e a certeza de que se está salvo não era qualitativa. Não é que as duas coisas fossem diferentes uma da outra, mas sim quantitativa. Em outras palavras: a fé salvadora, a fé inicial que a pessoa exerce em Jesus, é bastante para fazê-lo estender sua mão e receber a oferta de Deus que é Jesus Cristo, e esta fé inicial tem em si mesma, confiança suficiente para dizer: “eu sou um pecador, mas Cristo morreu por mim” e estende a mão e recebe a Jesus. Então existe essa confiança inicial, porém esta fé inicial, esta fé salvadora, ela cresce e amadurece até produzir plena convicção, até produzir absoluta certeza. Eles diziam que esta certeza, ou esta convicção, conquista todas as dúvidas e prevalece contra todas as tentações. Então o alvo maior do puritano, na vida cristã, era crescer na graça ao ponto de atingir esta certeza plena na sua vida, de que era de Cristo e que Cristo era dele.
Não devemos pensar que eles estavam fazendo muita confusão numa coisa tão simples. A diferença é que eles encaravam a questão, de certeza de salvação, de um ponto de vista muito diferente que os evangélicos hoje estão acostumados a encarar, quando pensam o contrário do que ensina a Confissão de Fé de Westminster. Certeza de salvação não vem simplesmente de um ato onde você levanta a sua mão, ou faz uma decisão a favor de Cristo e a partir daí, na mesma hora, lhe é dada certeza de salvação. Os puritanos achariam isso um absurdo, porque você não pode dar certeza de salvação a uma pessoa enquanto aquela pessoa não demonstra na sua vida o resultado da fé, fé ativa. Isso porque eles criam que a fé não era algo do intelecto, mas era centralizada no coração, e se é no coração, deve mover o homem, a suas emoções, a sua vontade, modificar a sua conduta e produzir frutos dignos de arrependimento.
Thomas Brooks mostrou como os puritanos, faziam essa distinção entre fé salvadora e certeza plena, mas ao mesmo tempo dizia que uma cresce e produz a outra. No livro “Céu na Terra”, Thomas Brooks diz o seguinte (numa página ele começa dizendo): “certeza da salvação não faz parte da essência do ser um cristão”, mas logo alguns parágrafos abaixo ele diz: “entretanto a fé a seu tempo, por si mesma se erguerá e progredirá até a plena convicção”. Então, se vê aqui, como os puritanos mantinham os dois lados: a fé inicial é suficiente para nos levar a Cristo, porém ela tem que crescer e progredir até desabrochar em segurança plena. Thomas Goodwin no seu livro, no capítulo sobre Fé Justificadora, diz o seguinte: “no coração do cristão está selado um sussurro secreto da misericórdia da parte de Deus. Eu não afirmo que isso se transforme imediatamente em plena convicção, mas que este sussurro secreto é suficiente para conduzir o coração a Cristo e jamais abandoná-Lo.”
Voltemos outra vez à Confissão de Fé de Westminster, citando agora o capítulo XIV no parágrafo III. A Confissão de Fé diz o seguinte: a fé salvadora “é de diferentes graus: é fraca ou forte, pode ser muitas vezes e de muitos modos assaltada e enfraquecida, mas sempre alcança a vitória, desenvolvendo-se em muitos até à plena segurança em Cristo, que é tanto o Autor como o Consumador da fé.” Ele é o autor, da fé inicial, e é o seu consumador. Ou seja, à medida que esta fé progride e atinge a sua plena consumação, desabrocha na confiança inabalável que os puritanos possuíam e que os capacitava a enfrentar os reis e os exércitos para levar o Reino de Deus avante.
Em resumo, podemos dizer o seguinte: os puritanos faziam esta distinção entre a plena certeza e a confiança inicial da fé, e insistiam que esta certeza inabalável é o alvo maior na vida cristã e que ela cresce a partir do ato inicial da fé; se desenrola a partir daquele momento inicial, e que cada crente pode atingir este alvo, e deve esforçar-se por isso, sabendo que é um pecado não se esforçar para progredir na graça até esta plena certeza.
Vamos mostrar algumas conseqüências na vida prática dos puritanos, que os fazia pensar assim. Os irmãos sabem que há uma conexão indissolúvel entre o que se acredita e o que se pratica. Já que os puritanos criam assim, a sua prática era organizada ou controlada por esta convicção.
Em primeiro lugar, eles não consideravam certeza de salvação como critério para se analisar alguém, para ver se a pessoa era crente ou não. Infelizmente isso é muito comum hoje em dia. Hoje, quando nós queremos evangelizar uma pessoa e não sabemos se ela é crente, a primeira pergunta é: você tem certeza de salvação? Os puritanos jamais fariam esta pergunta usando-a como critério, se uma pessoa era salva ou não. Porque para eles os testes relacionados, os testes da salvação não eram apenas uma confissão, embora isso fosse importante, mas era a vida e o propósito de se seguir a Jesus. Por isso essa pergunta para eles não fazia parte da sua abordagem evangelística em primeiro lugar.
Em segundo lugar, por outro lado, tão logo uma pessoa se convertia, ela era encorajada a prosseguir na vida cristã crescendo até obter a plena certeza, e os puritanos gostavam especialmente de dois textos (eles gostavam da Bíblia toda, mas especialmente de dois textos nessa conexão): Primeiro era Hebreus 6.11: “Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando até ao fim a mesma diligência para a plena certeza da esperança…”, e ainda II Pd.1.10: “Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum”. E esta ênfase da Palavra de Deus em confirmar a nossa vocação e eleição em todo tempo, era também a ênfase deles; eles acreditavam nisso e todo novo convertido era encorajado a isso. Não era dada a certeza de salvação ao novo convertido, mas eles encorajavam a que o novo convertido progredisse, crescesse na sua confiança inicial em Jesus até alcançar esta plena certeza.
Em terceiro lugar, uma outra conseqüência, era que os puritanos advertiam os novos convertidos de que a fé salvadora é sempre acompanhada de santidade de vida; que ela inevitavelmente há de produzir mudanças, ou de produzir evidências, na vida das pessoas; que serão os sinais, as marcas da obra da Graça de Deus e que se a pessoa não as tem, não as porta, não traz consigo estes sinais, não tem como dizer que está salva. Então, a ênfase era em santidade de vida, antes que você pudesse dizer que estava salvo. E também no seu aconselhamento, quando o pastor puritano encontrava alguém que estava em profunda depressão, e que estava incerto do seu relacionamento com Deus, ele não começava dizendo: “você então precisa se converter, se você não tem certeza de salvação você tem que se converter”. Eles não começavam assim. Eles sabiam que a pessoa podia ser um crente verdadeiro cuja fé tinha sido abalada ou diminuída porque negligenciou os meios de graça, negligenciou o estudo da Palavra, negligenciou a oração, negligenciou o atendimento aos cultos, negligenciou ouvir a Palavra de Deus pregada. Estes são os meios chamados “Meios Ordinários”, comuns, através dos quais o Espírito produz a convicção, e se a pessoa os abandona como ela pode vir a ter certeza do seu relacionamento com Deus? Primeiramente, o pastor puritano, o conselheiro puritano, ele examinava como estava a vida devocional daquela pessoa; como estava o seu uso dos meios de graça. Ou então, uma outra coisa que ele podia pensar, é que a pessoa havia cometido algum pecado, que havia de forma especial ferido a sua consciência e entristecido o Espírito Santo. Portanto, a pessoa não podia mais desfrutar daquela alegria, daquele gozo que eram características de alguém que é salvo. Assim ele fazia uma análise, convidava a pessoa a se auto-examinar, a examinar a sua consciência, a sua conduta, procurando aquilo que poderia ser o obstáculo ao crescimento até à plena certeza. Além disso, eles sabiam também que o crente podia ser assaltado por Satanás de forma tão súbita e violenta que a sua fé podia ser abalada. Isso é possível. E então, eles também exploravam esta área.
Eles também acreditavam – isto está inclusive refletido na Confissão de Fé – que Deus para provar o crente em algumas ocasiões, retira a luz da Sua presença. Era o que os puritanos chamavam de “a noite da alma”. Dessa forma a alma do crente entrava na “noite” e, sentindo-se quase que abandonado, perguntava: “meu Deus por que me desamparastes?”. Mas não era nada, era Deus testando seu filho, querendo saber se ele o seguia apenas pelas bênçãos recebidas ou porque O amava. O puritano sabia que existia “a noite da alma”, e também dava valor a isso quando estava aconselhando as pessoas. Sabia também que a pessoa podia ser uma nova convertida que ainda estava querendo compreender a Graça de Cristo, entender plenamente, enquanto a fé amadurecia e lutava contra as dificuldades. Também, o pastor puritano ao aconselhar uma pessoa que não tinha certeza de salvação, sabia também que a razão podia ser que ela não era salva e que precisava, então, deixar os seus pecados, a sua incredulidade, e se converter ao Senhor Jesus, ou então precisava de uma instrução mais clara a respeito do caminho da Graça.
Percebemos assim, como essa ênfase, essa separação que os puritanos faziam entre fé e certeza de salvação, leva-nos a um lugar de mais seriedade quando examinamos um candidato ao batismo, quando evangelizamos, ou quando queremos examinar os outros e dizer se ele é crente ou não. Às vezes isso é necessário. Mas o caminho dos puritanos era por aqui, eles entendiam que tinha de ser uma avaliação da vida do indivíduo, buscando os sinais da operação da Graça de Deus. E eu acredito que isso já é um corretivo para as tendências do evangelicalismo brasileiro, onde uma “graça barata” é oferecida: um Cristo que não faz exigências; uma fé que não muda o coração; uma certeza de salvação que é dada simplesmente porque uma pessoa fez uma decisão, levantou a mão, ou qualquer coisa deste gênero. Não estou negando que uma pessoa pode ser salva assim, pode. Mas o que estou dizendo é que a certeza de salvação não vem do fato de que você atendeu um apelo ou levantou uma mão. Mas, a certeza de salvação é decorrente da sua observação, de você perceber na sua vida os sinais da Graça Salvadora de Deus mudando a sua vida e o seu coração. Essa é a ênfase dos puritanos, na relação entre fé e certeza.
Somos obrigados a falar sobre outra questão muito importante. A relação entre a razão, o intelecto, e a obra do Espírito Santo. Os puritanos faziam isso quando tratavam dessa questão de certeza de salvação. Nós precisamos deixar muito claro aqui um ponto. E não me entendam mal, pois se me entenderem mal vão entender mal os puritanos. E eles agora não podem nem se defender a não ser através dos livros; então leia os seus livros. Os puritanos não diziam que a base da certeza de salvação era a análise que o crente fazia da sua vida. Não, de forma nenhuma. A base e a convicção da salvação, segundo os puritanos, era externa, era a obra de Cristo na cruz do Calvário, que era suficiente para salvar todo aquele que crê, como está revelado na Escritura. Era essa a base, não somente da salvação, mas da certeza.
Mas a questão é: como eu sei que estou salvo? Como eu sei que a minha fé é a fé que salva? Como é que eu sei que de fato participo de Cristo? Os puritanos atacaram essa questão que não era uma questão nova. Essa questão de como é que uma pessoa, um crente, pode conhecer a vontade de Deus era uma questão que vinha ocupando já a Igreja durante muitos séculos. Na época medieval Tomaz de Aquino fez uma dicotomia, uma separação muito grande, entre a capacidade da razão em compreender, analisar, em chegar a uma conclusão e a fé, que era um reino completamente diferente. Havia esta dicotomia. Daí então se fazia a pergunta: de que forma eu sei que estou salvo? É pela minha razão? Eu examinando, verificando as evidências da minha vida, ou fazendo uma comparação, fazendo um cálculo dizendo: “a Bíblia diz que eu sou salvo se eu for assim, eu sou assim, logo eu sou salvo”. É um processo intelectual em que eu chego a conclusão de que estou salvo? Ou é um processo místico, um processo espiritual, quando o Espírito Santo vem, e de forma direta sem nem passar pela minha razão ele testifica no meu coração.
Esse é um conflito que a Igreja vinha debatendo durante muito tempo. Se você ler os puritanos, você vai ver que de vez em quando eles mudam de ênfase. Você vê que alguns puritanos colocam muita ênfase na questão do raciocínio, do intelecto. Eles estavam lutando contra os místicos, contra aqueles monges, contra aqueles falsos piedosos que falavam de um misticismo extraordinário mas que não tinha frutos. O puritano dizia: “Não, não. Você tem que analisar, você tem que ver a sua vida. Use a sua mente. Some um mais um e veja se bate dois, veja se você é crente”.
Quando eles enfrentavam os intelectuais, os hipócritas, que achavam que estavam salvos só porque tinham a sã doutrina, então, a ênfase deles era no testemunho do Espírito Santo. Diziam: “Não, não, você tem que vê se tem o testemunho do Espírito Santo no seu coração, se o seu coração está aquecido, se está mudado, de fato transformado”. Em outras palavras, na lógica puritana da doutrina da salvação não havia qualquer dicotomia, porque eles acreditavam que a plena certeza de salvação decorre de um exame sincero e humilde das evidências internas e externas da sua salvação juntamente com o testemunho interno do Espírito Santo. Ou seja, para eles não havia separação, já que o Espírito Santo opera na mente humana e através da mente humana. E assim nós encontramos esta síntese, esta combinação equilibrada dos puritanos sobre esta questão que havia se levantado na Idade Média.
Cito algum testemunho dos puritanos. John Owen, nas suas obras, no volume 2, dá uma descrição gráfica de como a razão opera juntamente com o Espírito Santo para estabelecer a certeza de salvação. Ele diz: “A alma, pelo poder de sua própria consciência, é trazida diante da Lei de Deus. Lá o homem apresenta o seu caso. Ele argumenta: ‘Eu sou filho de Deus’, e apresenta todas as evidências de sua filiação. Em meio à sua defesa, enquanto ele está diante de Deus argumenta: ‘Eu tenho essas evidências. Na minha vida vejo esses sinais’. Então, o Espírito Santo vem e, através de uma palavra ou de uma promessa, conquista o seu coração com a persuasão consoladora, derruba todas as objeções e confirma que a sua causa é certa”. Assim nós vemos como eles criam nas duas coisas. Ou ainda William Guthrie, outro puritano, escreve: “Certeza é obtida através da seguinte argumentação: quem crê em Cristo jamais será condenado, eu creio em Cristo, logo jamais serei condenado”, e mais “o Espírito Santo testifica sobre esta avaliação e a torna evidente à mente”. Tem que ser as duas coisas. Richard Sibbes no volume um das suas obras diz: “Eu sei que creio porque o Espírito Santo impele a minha alma a isto, porém a forma mais comum de conhecermos o nosso estado diante de Deus é deduzindo a causa a partir dos efeitos”.
Estou enfatizando estas coisas para mostrar como o movimento puritano, as equilibrou e deixou como legado para Igreja esta doutrina que abrange os dois aspectos: a questão do intelecto e a questão do testemunho do Espírito no coração. Isso nos ajuda muito por causa da situação do evangelicalismo brasileiro. Quando por um lado nós temos a tendência ao formalismo: que leva uma pessoa a acreditar que está salva apenas porque é firme doutrinariamente. A essa o puritano diria: “E o seu coração meu irmão? E o testemunho interno do Espírito Santo?”. Por outro lado nós temos o emocionalismo divorciado de uma mente informada. A esse o puritano dizia: “Não, não, você tem que estudar a Palavra, examiná-la, e examinar a sua vida. As duas coisas têm que bater antes de que você diga que você está salvo”. Quero ainda mencionar a Confissão de Fé no capítulo XVIII verso dois. Aqui os puritanos dizem: “Esta certeza não é uma simples persuasão conjectural e provável, fundada numa esperança falha, mas uma segurança infalível da fé, fundada na divina verdade das promessas de salvação, na evidência interna daquelas graças nas quais essas promessas são feitas, e no testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos espíritos que somos filhos de Deus”. Então, o puritano acreditava que na operação conjunta destas coisas, o crente podia chegar à plena certeza de salvação.
Quero rapidamente tocar num assunto aqui que tem sido motivo de polêmica entre os irmãos que têm começado a conhecer o movimento dos puritanos, a ler sua literatura. O fato é esse: embora os puritanos enfatizassem os dois lados, ou seja, a dedução racional das evidências para se chegar à certeza de salvação; e por outro lado o testemunho direto do Espírito Santo, eles tinham uma predileção pelo testemunho direto do Espírito Santo na alma. Isso eles valorizavam acima de tudo. Era bom ter os dois, mas o testemunho direto no coração do crente junto com a graça, junto com as evidências da graça, era o que eles valorizavam mais. Essa ênfase estava, num certo sentido, perdida, mas quem começou a chamar a atenção para este aspecto do movimento puritano foi Dr. Martyn Lloyd-Jones, e eu recomendo aos irmãos especialmente o seu comentário em Romanos 8:16 (Editora PES) e Efésios 1:12-14. Quem não tem adquira, porque ali você vai encontrar uma exposição clara desta ênfase dos puritanos sobre o testemunho direto do Espírito no coração. Ou ainda aquele livro “Avivamento” em alguns capítulos.
Quero ler aqui o testemunho de alguns comentaristas puritanos em Romanos 8:16 e Efésios 1:3. Romanos 8:16: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” William Guthrie comentando este texto diz o seguinte: “Existe uma comunicação do Espírito de Deus que algumas vezes é concedida a alguns do seu povo, que vai além do testemunho acerca da filiação divina em Romanos 8:14″. Em Romanos 8:14, lemos assim: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.” então, pode-se dizer, que é esse primeiro passo. Se você é guiado pelo Espírito, e tem as evidências desse andar no Espírito, então você chega à conclusão de que é salvo. E Paulo vai mais além. No verso dezesseis, segundo William Guthrie, Paulo está agora falando de um outro nível de certeza, quando Paulo diz que o Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Então ele continua: “É uma manifestação gloriosa de Deus à alma, derramando seu amor no coração, é algo que se percebe melhor sentindo do que descrevendo. Não é uma voz audível, mas é um raio de glória enchendo a alma da presença de Deus; do Deus que é luz, vida, amor, e liberdade. Ó quão gloriosa é esta manifestação do Espírito! A fé se eleva a uma convicção plena tal, que você se vê diante do próprio Deus! Esta graça não é dada a todos os crentes; muitos passam seus dias em tristeza e temor”. Eles acreditavam, então, na soberania de Deus em conceder esse testemunho direto, esse testemunho íntimo à alma do crente que era além da certeza normal que se obtém através dos meios de graça, e eles davam muito valor a isso.
Ou ainda Richard Sibbes, no livro “Uma Fonte Selada”, ele diz o seguinte:
“Acontece freqüentemente que nossas almas, apesar de santificadas, não conseguem resistir às súbitas tentações, sutis e fortes. Deus, então, nos adiciona do seu Espírito. A sensação de culpa sempre vence o testemunho dedutivo de que fomos salvos e santificados”.
Preste bem atenção. Sibbes está dizendo que esta certeza de salvação que vem da nossa dedução, do exame, do fato de que eu sou santo, que eu deixei disso ou deixei aquilo outro, que eu tenho vontade de ler a Bíblia, que eu tenho vontade de orar; essa análise que você faz da sua vida e a conclusão a que você chega, não é suficiente para resistir a determinadas tentações; “portanto o testemunho direto do Espírito se faz necessário para testificar do amor do Pai por nós. Através desse testemunho o coração é animado e confortado com gozo indizível”. Ou seja, nós chegamos à conclusão da nossa salvação através dos meios dedutivos, examinando, olhando. Mas isso às vezes é insuficiente para as tentações, para os ataques do diabo, mas existe então, esta certeza que nos é comunicada pelo Espírito diretamente ao nosso coração, como diz Romanos 8:16. É essa certeza, então, que dissipa toda dúvida, que nos liberta, que nos enche de gozo. É isso que nos diz o puritano Richard Sibbes.
Veja ainda o que diz Thomas Goodwin, expondo Efésios 1:13:
“Existe uma luz que vem e conquista a alma humana e lhe assegura que ela é de Deus e que Deus é dela, e que Deus o ama eternamente. É uma luz além da fé comum; é a coisa que chega mais próxima ao gozo do céu; aqui na terra é o máximo que podemos ter; é a fé elevada à sua máxima potência acima do nível comum; é o amor soberano de Deus vindo de encontro da alma do eleito”.
Vou narrar apenas duas experiências dos puritanos nesse sentido. Uma é muito conhecida, é de John Flavel, um puritano que escreveu vários livros e foi descrita por Isaac Watts. Ele diz que esse puritano, John Flavel, estava de viagem a cavalo, quando de repente Deus começou a tratá-lo de uma forma bem íntima. Isaac Watts descreve assim, resumidamente, a experiência:
“Os pensamentos de Flavel começaram a elevar-se cada vez mais altos, como as águas na visão de Ezequiel até se tornarem como uma inundação. Tal era a disposição da sua mente, tal gosto das alegrias celestiais, e tal a certeza plena da sua participação no céu que ele perdeu totalmente a sensação que estava neste mundo, bem como ficou sem qualquer outra preocupação. Durante horas a fio ficou sem saber onde estava, como alguém que acorda de um sono profundo. A alegria do Senhor inundou seu coração de tal forma que durante muitos anos ele chamou aquele dia: ‘Um dia do céu sobre a terra’, e que aprendeu mais sobre o céu naquele dia de que com todos os seus livros”.
Era isso que o puritano buscava, essa plena convicção, essa certeza absoluta que era mais do que uma dedução normal e racional, daquilo que nós estamos vendo em nossa vida.
Há também o exemplo (há muitos outros mas eu selecionei apenas estes), de um puritano chamado João Howe, que também é narrado por Isaac Watts. Quando ele morreu encontraram escrito numa página da sua Bíblia: “O que eu senti pela misericórdia do meu Deus, no dia 22 de outubro de 1704, ultrapassa meu poder de descrição. Naquele dia experimentei um agradabilíssimo derreter do meu coração com lágrimas jorrando dos olhos e alegria por Deus ter derramado o Seu amor no coração dos homens, especialmente porque meu próprio coração havia sido tocado desta forma”. A experiência tinha sido tão extraordinária, e única, que ele escreveu na página da sua Bíblia, registrando-a para a posteridade até os dias de hoje. E assim vemos este desejo dos puritanos de ter uma certeza, mas que fosse dada pelo testemunho do Espírito no seu coração.
Deixe-me fazer aqui algumas observações necessárias. Os puritanos não encaravam esta forma de se obter plena certeza, que eu acabo de mencionar, como sendo normativa. Isso não acontece todo dia. Eles não encorajavam as pessoas a buscarem experiências místicas. De forma nenhuma. Era algo desejável, porém era algo que era dado, era algo que era da soberania de Deus, e portanto eles procuravam deixar na mão de Deus. Eles não desprezavam o processo dedutivo normal, desde que assistido pelo Espírito. Era o normal, e todos deviam buscar a certeza de salvação pela fé na obra de Cristo e pelo exame de suas vidas, pela evidência que foram tocados pela graça. E eles exerciam muita cautela quando se tratava de experiências místicas. Em geral eles rejeitam revelações extraordinárias e sobrenaturais. Eu não tenho tempo de entrar na análise deste ponto. E inclusive está na própria Confissão de Fé de Westminster. Para que o crente tenha certeza de salvação ele não precisa de uma revelação extraordinária. A Confissão de Fé enfatiza isso. Quando ela vinha, o puritano exigia que ela tinha de ser compatível com as outras evidências. Ou seja, um hipócrita não podia sentir esse tipo de coisa. Mas se acontecia na vida de um santo, na vida de um homem que andava com Deus, um homem que tinhas as evidências da graça, era genuína.
Portanto nós acreditamos que aqui há um equilíbrio que pode ser muito útil também à Igreja brasileira, quando vivemos numa época em que há um misticismo, há uma ênfase tão grande em buscar experiências com Deus. Os puritanos acreditavam que Deus pode dar experiências (não revelacionais), e eles eram gratos e felizes a Deus quando Deus dava, mas eles encaravam como sendo algo da soberania de Deus, que não era algo que era da vida diária e que o crente na sua vida normal é guiado pela Palavra, pelo exame da sua vida em análise com a Palavra de Deus e que quando essa experiência vinha ela tinha que ser atestada por uma vida santa, de acordo com a Palavra de Deus, senão era misticismo, era coisa do maligno ou coisa então da psicologia humana. Percebem como essa ênfase é importante para os nossos dias?
Finalmente, apresento a relação entre a obediência e certeza de salvação. Eu já falei que os puritanos destacavam a importância de uma vida transformada para que uma pessoa viesse a assegurar-se da salvação. Era uma ênfase que eles davam na obediência que o crente tem de exercer praticando as boas obras. Essa ênfase sempre foi mal interpretada. Por exemplo, o crítico moderno dos puritanos, Perry Muller, ele diz o seguinte (os puritanos têm muitos críticos até o dia de hoje): “Se é Deus quem salva por que é que os puritanos ficam nos perturbando com essa exigência de obediência?” Se os puritanos insistiam que a salvação era pela graça, como os Reformadores, por que é que eles ficavam citando “que tem que obedecer”, “tem que fazer boa obra”? Por quê? E esse crítico não podia entender. Ora, não é somente esse crítico, mas muitos outros têm acusado os puritanos de serem “prisioneiros de um sistema teológico legalista”. Que embora fossem herdeiros da Reforma mesmo assim eram legalistas, e isso tem assustado muita gente que pensa que puritanismo sempre descamba no legalismo. Ou então de que os puritanos eram introspectivos, e que punham muita ênfase apenas no auto-exame. A imagem que fazem dos puritanos de que eram pessoas sérias, contritas, abatidas, mortificadas, ascetas, com nariz grande, pode ser vista nos seus retratos no livro “Os Puritanos – Origens e Sucessores” (PES).
Mas eles eram mal entendidos (e ainda são) por causa da ênfase que davam na necessidade de obediência e de santificação. Então, qual o lugar da obediência na teologia puritana, especialmente com relação à certeza de salvação?
Vamos voltar outra vez, então, e fazer uma comparação com os Reformadores. Enquanto que os reformadores, especialmente Lutero, associavam a certeza de salvação com a justificação, ou seja, a certeza de salvação está ligada diretamente à justificação, ao passo que os puritanos, influenciados por Beza, diziam que a certeza de salvação estava ligada à santificação. Não, não está ligada à justificação não. Ser salvo pela graça é uma coisa, outra coisa é ter certeza de salvação. Ela está ligada à santificação. Então se nós não entendermos esse ponto, não vamos entender a ênfase dos puritanos na necessidade de obediência, na necessidade de santidade de vida. A crítica que se faz aos puritanos a essa altura é esta: já que a certeza de salvação está ligada à santificação, quando é que o crente vai ter certeza de salvação? Ele nunca poderá chegar à plena certeza já que a santificação é um processo, alguém pode dizer. Mas a resposta do puritano era esta: Não estamos dizendo que você tem que ser plenamente santificado, para você ter certeza de salvação. Estamos dizendo é que a partir do momento em que você tem os sinais externos mínimos e básicos da operação da graça de Deus, você passa a ter certeza de salvação. A resposta é essa. É aqui, então, o lugar da obediência à Palavra de Deus dentro da teologia puritana. Nós podemos dizer que é um círculo, e esse círculo está expresso na Confissão de Fé. No capítulo XVI, parágrafo 2: “boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira;…”. Então os puritanos sabiam que a fé produz obras vivas e verdadeiras. Continua: “por elas”, por estas obras, “os crentes manifestam a sua gratidão e robustecem a sua confiança (fé)…”. Então diziam: A fé produz obras e as obras robustecem a fé, é um círculo. Uma coisa leva à outra. Uma e outra, como diziam os puritanos, as bênçãos de Cristo se fortalecem mutuamente no coração do crente. Funcionava desta maneira.
Em resumo o ensino da Confissão de Fé é este: a plena certeza é privilégio daqueles que desejam obedecer a Cristo. Para ter certeza plena de salvação, precisamos saber que essa certeza é um privilégio daqueles que querem andar no caminho de Jesus. As boas obras, feitas como resultado dessa obediência vem fortalecer a plena segurança da salvação. Por outro lado, a obediência que se traduz em obra, já é fruto da convicção e da segurança de salvação que a pessoa possui.
A essa altura é importante fazer um comentário sobre essa questão do auto-exame, do exame íntimo que está relacionado perfeitamente com esta questão. Estudos recentes sobre o puritanismo têm entendido que essa relação entre reflexão, exame interno, e obras, pode ser traduzida como sendo uma espiral viva, como uma espiral crescente. Primeiro o puritano se examina, reflete à luz da Escritura sobre sua vida. Ele procura evidências na sua vida da operação da graça de Deus; coisas como quebrantamento, desejo de fazer a vontade de Deus, temor a Deus, desejo de buscar Sua Glória, boas obras, amor ao próximo, zelo pelo nome de Deus, ódio ao pecado. Então eles examinavam procurando essas coisas que eram a evidência da operação da graça de Deus no seu coração.
Eu quero mencionar o puritano Thomas Brooks no livro “Céu na Terra”: “segurança da salvação é um ato reflexo da fé”, ou seja, é a fé em reflexão, é a fé se examinando, “é um discernimento experimental de que se está em estado de graça. Esta certeza provém de observar em si próprio as evidências especiais, peculiares e distintas da graça de Cristo”. Esse era o ensino. A fé tem essa capacidade de refletir, tem essa capacidade de se examinar. Essa era a primeira parte da espiral. Depois de se examinar à luz da Escritura e debaixo do poder do Espírito Santo, que era alguma coisa que os puritanos enfatizam tremendamente, o passo seguinte era a ação. E nós sabemos como eles iam para a ação. Mas iam para a ação porque tinham feito um auto-exame. Eles sabiam que eram povo de Deus, tinham aquela certeza, demonstrada pelas evidências e pela Palavra. E a mecânica era essa: ação à reflexão, ação à reflexão, ação… e assim numa espiral crescente que acompanhava o puritano a sua vida toda, a fé e a certeza de salvação se fortaleciam, à medida em que ele crescia na graça e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo. Era assim que funcionava. Era algo dinâmico. Quero aplicar tudo isso para a Igreja de hoje.
Quero dizer duas coisas antes;
1) Primeiro, é minha convicção de que os puritanos ingleses nesse aspecto capturaram profundamente o ensino Bíblico. Eu gosto dos puritanos, não porque eles são do final do século XVI, ou do século XVII, e sim porque eles acertaram, porque eles, dentro da História da Igreja, fazem parte daquelas gerações, daqueles modelos históricos de cristianismo que melhor refletem a Escritura Sagrada em muitos aspectos. Eu sei que eles cometeram erros. Sei perfeitamente disso. Posso até dizer para os irmãos em que eu não concordo com eles, mas acredito que, na grande maioria, na sua grande parte, aqueles homens de Deus nos expuseram a Palavra de Deus de forma clara e concreta, e este é um dos pontos em que eles estão certos. É uma exegese certa da Escritura, no meu entender.
2) Por outro lado à medida em que entendemos esta questão, precisamos ser cautelosos porque o e o que aconteceu foi que eles colocaram ênfase nos dois lados (reflexão e ação). Quando esta ênfase nos dois lados era apresentada, notamos o quanto os puritanos eram equilibrados. As duas coisas andavam juntas. Quando, na fase final do puritanismo, o lado da graça foi abandonado, caíram no legalismo, perderam o equilíbrio dessa espiral, deixaram o lado da ação e o lado da confiança em Deus e se tornaram reflexivos demais. O puritanismo virou símbolo apenas de auto-exame e de reflexão; aquela pessoa introspectiva que é, infelizmente, a figura que ficou até o dia de hoje. Mas não foi isso que caracterizou o movimento, isso foi um desvio do puritanismo. Nem é puritanismo! Então à medida que queremos aprender com eles, lembremo-nos que temos que manter em equilíbrio estas coisas. Em que isso pode servir à igreja brasileira?
Primeiro, a doutrina puritana sobre a certeza de salvação pode nos ajudar a corrigir a influência da Igreja Católica que diz que a certeza de salvação é impossível nesta vida. Os puritanos diziam: “De forma nenhuma! A obra completa de Cristo, e a obra do Espírito em nós, torna esta certeza possível. É pecado não buscar esta certeza depois do que Cristo fez na cruz do Calvário, depois que o seu Espírito foi derramado no dia de Pentecostes”. Isso nos ajuda a combater esta tendência.
Em segundo lugar, nos ajuda também, como já mencionado, a corrigir a influência do evangelho barato, que oferece uma certeza de salvação com base em decisões feitas em resposta a apelos (por decisão), sem que haja sinais que podem ser observados de arrependimento, de mudança, de fé verdadeira. Os puritanos diriam: “Certeza de salvação depende da santificação. É necessário crescer na graça, no auto-exame, na percepção da graça de Deus no coração”. E isso, eu acredito, é muito importante e prático, especialmente na hora em que vamos examinar os candidatos à Profissão de Fé.
Em terceiro lugar, essa doutrina puritana pode nos ajudar contra a influência do legalismo proveniente, infelizmente, de alguns círculos pentecostais que torna a certeza de salvação inatingível, porque é baseada no rigorismo do cumprimento da Lei. Ou então baseada em evidências legalistas. O puritano diria: “A certeza de salvação não se baseia na auto-avaliação, como sendo algo pessoal do crente, mas na percepção da graça de Deus agindo em seu coração. Não tem nada de legalismo”.
E por fim, em quarto lugar, acredito que é uma influência, um corretivo saudável para o misticismo que existe hoje inundando as igrejas (inclusive presbiterianas) que esquecem que a prioridade do homem é o seu relacionamento pessoal com Deus. O puritano diria: “O fim principal do homem é glorificar a Deus, e isso através da obediência que parte de um coração seguro da sua salvação”.
Como estamos nós? Quais são as evidências, quais são as bases que você tem na sua vida para crer que faz parte dos eleitos de Deus? Qual a evidência que você apresenta diante de si mesmo e diante de Deus para reivindicar, se podemos usar esta palavra, de forma limitada, ou pelo menos para se apresentar como um candidato à salvação eterna que Cristo nos oferece? Eu lhe asseguro, pela Palavra de Deus, e com isso nós nos juntamos aos puritanos, que se nós não tivermos na nossa vida as evidências da obra da graça de Deus, de uma fé salvadora sediada no coração, que move o coração, que move a vontade, nós não temos como dizer que estamos salvos.
Digo também uma palavra de conforto aqui, ao crente verdadeiro, e que luta para ter esta certeza. Quero encorajá-lo a prosseguir. Porque é vontade de Deus que você encontre plena certeza. Continue crescendo nessa espiral, analise a sua vida, faça uma reflexão do seu coração, da sua alma, da sua conduta à luz da Palavra de Deus. Corrija o que tem que ser corrigido. Abandone o que tem de ser abandonado. Obedeça a Deus, continue nesse caminho. Volte e examine o seu coração outra vez e nesse processo você chegará à plena certeza de salvação.
Que Deus nos ajude, e que possamos, com esse corretivo que vem da Palavra de Deus, mediada pelo modelo puritano, ser abençoados, crescer e ter um cristianismo equilibrado no Brasil nos dias de hoje.
Augustus Nicodemos Lopes