sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Regeneração Precede a Fé

por
R.C. Sproul
Um dos momentos mais dramáticos em minha vida, na formação de minha teologia, ocorreu em uma sala de aula de um seminário. Um de meus professores foi ao quadro negro e escreveu estas palavras em letras garrafais:

A REGENERAÇÃO PRECEDE A FÉ
Aquelas palavras foram um choque para o meu sistema. Eu tinha entrado no seminário crendo que a obra principal do homem para efetivar o novo nascimento era a fé. Eu pensava que nós tínhamos que primeiro crer em Cristo, para então nascermos de novo. Eu uso as palavras "para então" aqui por uma razão. Eu estava pensando em termos de passos que deviam ocorrer em uma certa seqüência. Eu colocava a fé no princípio. A ordem parecia algo mais ou menos assim:
"Fé - novo nascimento -justificação."
Eu não tinha pensado sobre esse assunto com muito cuidado. Nem tinha atentado cuidadosamente às palavras de Jesus a Nicodemus. Eu presumia que mesmo sendo um pecador, uma pessoa nascida da carne e vivendo na carne, eu ainda tinha uma pequena ilha de justiça, um pequeno depósito de poder espiritual remanescente em minha alma para me capacitar a responder ao Evangelho sozinho. Possivelmente eu tinha sido confundido pelo ensino da Igreja Católica Romana. Roma, e muitos outros ramos do Cristianismo, tem ensinado que a regeneração é graciosa; ela não pode acontecer aparte da ajuda de Deus.
Nenhum homem tem o poder para ressuscitar a si mesmo da morte espiritual. A divina assistência é necessária. Esta graça, de acordo com Roma, vem na forma do que é chamado graça preveniente. "Preveniente" significa que ela vem antes de outra coisa. Roma adiciona a esta graça preveniente o requerimento de que devemos "cooperar com ela e assentir diante dela", antes que ela possa atuar em nossos corações.
Esta concepção de cooperação é na melhor das hipóteses uma meia verdade. Sim, a fé que exercemos é nossa fé. Deus não crê por nós. Quando eu respondo a Cristo, é a minha resposta, minha fé, minha confiança que está sendo exercida. O assunto, contudo, se aprofunda. A questão ainda permanece: "Eu coopero com a graça de Deus antes de eu nascer de novo, ou a cooperação ocorre depois?" Outro modo de fazer esta pergunta é questionar se a regeneração é monergista ou sinergista. Ela é operativa ou cooperativa? É eficaz ou dependente? Algumas destas palavras são termos teológicos que requerer maior explanação.

MONERGISMO E SINERGISMO
Uma obra monergística é uma obra produzida por uma única pessoa. O prefixo mono significa um. A palavra erg refere-se a uma unidade de trabalho. Palavras como energia são construídas com base nessa raiz. Uma obra sinergística é uma que envolve cooperação entre duas ou mais pessoas ou coisas. O prefixo sun significa "juntamente com".
Eu faço esta distinção por um razão. O debate entre Roma e Lutero foi travado sobre este simples ponto. A questão era esta: A regeneração é uma obra monergística de Deus ou uma obra sinergística que requer cooperação entre homem e Deus? Quando meu professor escreveu "A regeneração precede a fé" no quadro negro, ele estava claramente tomando o lado da resposta monergística. Depois de uma pessoa ser regenerada, esta pessoa coopera pelo exercício de sua fé e confiança. Mas o primeiro passo é a obra de Deus e de Deus tão-somente.
A razão pela qual não cooperamos com a graça regeneradora antes dela agir sobre nós e em nós é que nós não podemos. Não podemos porque estamos mortos espiritualmente. Não podemos assistir o Espírito Santo na vivificação de nossas almas para a vida espiritual, da mesma forma que Lázaro não podia ajudar Jesus a ressuscitá-lo dos mortos.
Quando comecei a lutar com o argumento do Professor, fiquei surpreso ao descobrir que o estranho som de seu ensino não era novidade. Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, Jonathan Edwards, George Whitefield - até o grande teólogo medieval Tomás de Aquino ensinaram esta doutrina. Tomás de Aquino é o Doctor Angelicus da Igreja Católica Romana. Por séculos seu ensino teológico era aceito como dogma oficial pela maioria dos Católicos. Então, ele era a última pessoa que eu esperava sustentar tal visão da regeneração. Todavia Aquino insistiu que a graça regeneradora é uma graça operante, e não uma graça cooperativa. Aquino falou da graça preveniente, mas ele falou de uma graça que vem antes da fé, que é a regeneração.
Estes gigantes da história Cristã derivaram a visão deles das Sagradas Escrituras. A frase chave na Carta de Paulo aos Efésios é esta: "estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)" (Efésios 2:5). Aqui Paulo localiza o tempo em que a regeneração ocorre. Ela ocorreu "quando estávamos ainda mortos". Com um único raio de revelação apostólica foram esmagadas, total e completamente, todas as tentativas e entregar a iniciativa na regeneração aos homens. Novamente, homens mortos não cooperam com a graça. A menos que a regeneração ocorra primeiro, não há possibilidade de fé.
Isso não diz nada de diferente do que Jesus disse a Nicodemus. A menos que um homem nasça de novo primeiro, ele não pode ver ou entrar no reino de Deus. Se nós cremos que a fé precede a regeneração, então nós colocamos nossos pensamentos, e, portanto, nós mesmos, em direta oposição não só aos gigantes da história Cristã, mas também ao ensino de Paulo e do nosso próprio Senhor Jesus Cristo.
(do livro, O Mistério do Espírito Santo, Tyndale House, 1990)

Meu Comentário:

Outras passagens na Bíblia que claramente ensinam que a regeneração precede a fé:
1 João 5:1 - "Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é o nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou, ama também ao que dele é nascido.", João 1:13, Rom 9:16
João 6:63,65 "O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido".
http://www.monergismo.com



Direito de Resposta da Direção do Campus VI da UEPB em Monteiro-PB

 Veja o conteúdo do e-mail enviado:

Queridos alunos

Enviamos carta resposta as calúnias, mentiras e difamações que determinados blogs e sites do Cariri estão vinculando à nossa imagem.

Obrigado e fiquem com Deus

Otacílio
Veja a carta na íntegra:
Direito de resposta
Sobre as informações de caráter caluniosas que estão sendo vinculadas em sites do Cariri
A Direção do Campus VI da Universidade Estadual da Paraíba lamenta profundamente as notas de caráter difamatório e calunioso que estão sendo veiculadas em sites e blogs com hospedagem no Cariri.
Lamentamos porque temos plena consciência do papel do nosso Campus na querida cidade de Monteiro e do querido Cariri.
Lamentamos porque os sites e blogs que estão veiculando tais notícias em nenhum momento vieram ao Campus ouvir os gestores, professores, funcionários e alunos. E, por conseguinte, estão se baseando em informações deturpadas de terceiros, pessoas as quais sequer se identificam, escondendo-se nos subterrâneos, sob anonimato, jogando calúnias na Internet.
Lamentamos porque a comunidade universitária reconhece a seriedade e a transparência da gestão que assumiu o Campus em Outubro do ano passado por meio de um processo democrático e legítimo.
Lamentamos porque a direção do Campus VI, a exemplo da equipe gestora de toda a UEPB, é a primeira interessada em coibir veementemente qualquer abuso do poder público, que diga respeito à má gerência do dinheiro e do patrimônio público e qualquer ação que vise o desrespeito a qualquer segmento: seja professor, aluno ou funcionário.
Lamentamos porque qualquer cidadão de bem monteirense ou do cariri podem vir aqui a hora que quiserem para conhecer a nossa contabilidade, o nosso trabalho social e cidadão, as nossas parcerias e o nosso respeito pela comunidade.
Lamentamos porque justamente esses sites e blogs, que vêm prestando importantes serviços aqui no cariri, sem nenhum conhecimento de causa veiculam informações deturpadas, levianas e oportunistas sobre esse assunto, quando deveriam pelo menos investigar com seriedade, como todo jornalismo competente faz, antes de publicar manchetes de cunho difamatórios.
Todas essas informações que maculam o Campus VI, toda a UEPB e o Governo do Estado, foram impressas e estão sendo acompanhadas por nossos advogados, e por isso são passíveis a responder a um processo civil e criminal por calúnia, difamação e danos morais com uma devida indenização.
Senhores, responsabilidade! Não depredem o patrimônio público! Sempre tivemos muito respeito a todos, é uma pena que a recíproca não esteja sendo a mesma. Vocês estão lidando não apenas com gestores sérios, mas com homens de bem que têm família, e nome a zelar.
A nossa reitora, professora Marlene Alves, esteve aqui para tratar da construção do Campus no dia 19 de Abril de 2011, e ela mesma pôde comprovar em reunião aberta com toda comunidade e com setores da imprensa, a nossa idoneidade.
Convidamos vocês, a hora que vocês quiserem para nos visitar, conhecer nossos trabalhos na pesquisa, no ensino e na extensão. Isso é o que realmente nos importa. Fazer da UEPB- Campus VI, uma Universidade verdadeiramente cidadã.
Respeitosamente
Professor José Joelson Pimentel de Almeida – diretor do Campus VI. Fone (83) 8660-8541
Professor Otacílio Gomes da Silva Neto – diretor adjunto do Campus VI. Fone (83) 8620-3888

Caro profº Otacílio obrigado pelo esclarecimento. A verdade sempre prevalece!

ESTUDOS CALVINISTAS - O Calvinismo e o Governo Civil

João Calvino, teólogo francês na Reforma Protestante


O Calvinismo e o Governo Civil
Pb. Solano Portela

Calvino, francês de nascimento, viveu, pastoreou e trabalhou na Suíça. Ele é um dos teólogos que mais escreveu sobre o governo civil. Em suas idéias, firma-se a tradição reformada sobre a política. Sua atuação na cidade de Genebra não foi somente teológica e eclesiástica. Seguindo o entrelaçamento com o Estado que ainda prevalecia naqueles tempos, Calvino teve intensa atuação na estruturação da sociedade civil daquela cidade. Participou, igualmente, da administração e dos detalhes operacionais do dia-a-dia da cidade, inclusive em seus aspectos sociais.
Os escritos de João Calvino revelam uma percepção incomum à época, traçando claramente os limites de atuação do Estado e especificando com clareza a esfera da Igreja. Em seu mais famoso trabalho, as Institutas da Religião Cristã, no Livro IV, Capítulo 20 (o último capítulo desse seu livro), encontramos uma grande exposição do tema, sob o título Do Governo Civil, em 32 seções. Na terminologia de Calvino, os governantes são chamados de "magistrados" ou de "magistrados civis", seguindo a própria terminologia paulina de Romanos 13.1-7.
1. O Governo Civil – esfera específica e legítima ao cristão
Grande parte do que Calvino escreveu foi dirigida aos anabatistas, contradizendo os argumentos destes que diziam ser o governo civil uma área de atuação ilegítima ao cristão. Calvino exalta o ofício do magistrado civil e extrai da Palavra de Deus definições e parâmetros que, mais tarde, fariam parte da tradição reformada.
Logo na seção 1, Calvino indica que o governo civil é algo diferente e separado do reino de Cristo, uma questão que ele diz não ter sido compreendida pelos judeus. Ele aborda a separação entre Igreja e Estado, dizendo: "Aquele que sabe distinguir entre o corpo e a alma, entre a vida presente efêmera e aquela que é eterna e futura não terá dificuldade em entender que o reino espiritual de Cristo e o governo civil são coisas completamente separadas".
Na seção 2, entrando na terceira, ele afirma que, mesmo restrito à esfera temporal, o governo civil é área legítima ao cristão. Calvino chama de "fanáticos" os que se colocam contra a instituição do governo. Entre as funções primordiais do governo, ele relaciona: "…que a paz pública não seja perturbada; que as propriedades de cada pessoa sejam preservadas em segurança; que os homens possam exercer tranqüilamente o comércio uns com os outros; que seja incentivada a honestidade e a modéstia".
Nas seções 4 a 7, Calvino fala sobre a aprovação divina do governante, ou seja, o ofício do magistrado civil, ancorando suas observações em Provérbios 8.15-16 e Romanos 13, respondendo também a objeções. Entretanto, ele insiste que a primeira conseqüência dessa aprovação é a grande responsabilidade que os próprios governantes têm consigo mesmo perante Deus. Existe, pois, a necessidade de um auto-exame constante, para aferirem se estão sendo justos e se estão se enquadrando, com toda propriedade, na categoria de ministros de Deus.
Calvino escreve, sobre os governantes: "Se eles cometem qualquer pecado, isso não é apenas um mal realizado contra pessoas que estão sendo perversamente atormentadas por eles, mas representa, igualmente, um insulto contra o próprio Deus, de quem profanam o sagrado tribunal. Por outro lado, eles possuem uma admirável fonte de conforto quando refletem que não estão meramente envolvidos em ocupações profanas, indignas de um servo de Deus, mas ocupam um ofício por demais sagrado, porque são embaixadores de Deus".
2. Exame de formas de governo
Na seção 8, Calvino examina três formas de governo: monarquia, aristocracia e democracia. Ao fazer isso, ele adentra a política em toda a sua extensão. Ele classifica de futilidade as discussões que pretendem provar conclusivamente que uma forma de governo é melhor do que outra. Para Calvino, as três formas são passíveis de críticas: a monarquia tende à tirania; na aristocracia, a tendência é a regência de uma facção de poucos; na democracia, ele vê uma forte tendência à quebra da ordem. Ao dizer isso, ele se revela um defensor da aristocracia – como a forma menos danosa de governo. O raciocínio de Calvino é que a história não favorece a monarquia, pois reis e imperadores despóticos marcam essa forma de governo. No entanto, Calvino não se sente confortável em uma democracia, sob o temor de que as massas não saibam conter seus "vícios e defeitos".
No governo de alguns sobre muitos (aristocracia), ele vê a possibilidade de controle de uns sobre os outros, de aconselhamento mútuo e de preservação desses "vícios e defeitos". A essência de qualquer forma de governo, para Calvino, é a liberdade. Ele escreve: "Os governantes [magistrados] devem fazer o máximo para impedir que a liberdade, à qual foram indicados como guardiões, seja suprimida ou violada. Se eles desempenham essa tarefa de forma relaxada ou descuidada, não passam de pérfidos traidores do ofício que ocupam e de seu país".
3. Deveres dos governantes para com a religião
Calvino reflete ainda a visão da época, de que um dos deveres dos governantes era a promoção da religião verdadeira. Essa compreensão se tornaria parte, inclusive, do texto original da Confissão de Fé de Westminster, quase 100 anos depois, em 1648, tendo sido, depois, modificada significativamente, em 1788, nos Estados Unidos. A seção 9 desenvolve exatamente essa linha de pensamento.
Calvino faz referência a várias passagens bíblicas que conclamam os governantes a exercer os princípios divinos de justiça, como Jeremias 23.2 e Salmos 82.3-4. Mas não é somente nessa abrangência que ele enxerga a atuação do governo. Ele afirma que a esfera de autoridade se "estende a ambas as tábuas da lei".
Ou seja, os primeiros quatro mandamentos (a primeira tábua da Lei), como falam dos deveres dos homens para com Deus, legitimaria o governo não somente em promover o exercício da religião verdadeira, como também em punir os que não a seguissem. Esse pensamento seria posteriormente refinado por vários outros pensadores e documentos reformados, que, diferentemente de Calvino, considerariam a esfera legítima de atuação no governo como situada apenas na segunda tábua da Lei (os mandamentos que regulam as atividades e os relacionamentos com o nosso próximo). Na seção 10, Calvino trata desse assunto, respondendo a objeções colocadas contra esse ponto de vista, especialmente as que surgiam dos anabatistas.
4. Prerrogativas dos Governos
Da seção 11 até a 13, Calvino fala de várias prerrogativas dos governos, começando com a de envolverse em guerras. Ele não é um incentivador do estado beligerante, mas vê como uma realidade o fato de que os governos terão de pegar em armas para defenderem seus governados e seus territórios. Nessa linha de pensamento, o governo deve ser forte e se armar para garantir a vida pacífica de seus governados, reprimindo pela força os criminosos. Em todas essas seções, citando Agostinho para fundamentar sua posição, Calvino faz várias referências à restrição necessária aos governantes, para que não abusem da prerrogativa da força. A segunda prerrogativa, tratada na seção 13, é a de cobrar impostos. Nesse sentido, Calvino propõe a legitimidade de os governantes cobrarem impostos e taxas até para seu próprio sustento – isso não deveria espantar, nem confundir os cristãos.
 
5. Os governos e as leis
 
Calvino apresenta um extenso tratamento da lei de Deus nas seções 14 a 16. Ele introduz a distinção entre a lei religiosa, a lei civil e a lei moral – encontrada nas Escrituras. Reconhecendo os dois primeiros aspectos como temporários, pertinentes apenas ao Antigo Testamento, ele reafirma a permanência da Lei Moral. Diz Calvino: "É evidente que aquela lei de Deus que chamamos de moral nada mais é do que o testemunho da lei natural e da consciência que Deus fez gravar na mente dos homens... Assim [esta lei] deve ser o objeto, a regra e o propósito de todas as leis. Em qualquer lugar que as leis venham a se conformar com esta regra, direcionadas a este propósito e restritas a esta finalidade, não existe razão porque sejam reprovadas por nós". Calvino cita Agostinho (A Cidade de Deus, Livro 19, c. 17) como apoio à sua exposição e termina examinando as leis de Moisés – quais podem ser aplicadas e quais foram ab-rogadas.
6. Os governados e a lei – relacionamentos de uns para com os outros
Cinco seções são utilizadas (17 a 21) para tratar de um tema que é sempre controvertido – como os governados podem usar as leis para ajustarem seu comportamento de uns para com outros? Calvino trata da questão explorando até onde é legítima uma demanda judicial entre governados. Uma de suas preocupações era a de refutar os anabatistas, que condenavam qualquer forma de procedimentos judiciais.
Em seu tratamento, ele responde especificamente a duas objeções. A primeira, a indicação de que Cristo nos proíbe resistir ao mal (Mt 5.39-40); a segunda, a de que Paulo condena toda e qualquer ação judicial (1 Co 6.6). Na visão de Calvino, os crentes são pessoas que devem suportar "afrontas e injúrias". Isso contribui para a formação do caráter e produz uma geração que não se fixa em retaliação – o que caracteriza os descrentes. No entanto, ele não chega a dizer que o cristão nunca deve levar um caso à justiça.
Paulo, em 1 Coríntios 6, aborda uma situação em uma igreja que tinha o litígio como característica de vida e com o envolvimento de estranhos à comunidade. Tudo isso causava grande escândalo ao evangelho. Assim, afirma Calvino, devemos estar até predispostos a sofrer perdas, mas ele complementa: "Quando alguém vê que a sua propriedade imprescindível está sendo defraudada, ele pode, sem nenhuma falta de amor [caridade], defendê-la. Se ele o fizer, não estará ofendendo, de maneira nenhuma, esta passagem de Paulo" (seção 21).
7. Os governados e a lei – respeito e submissão aos governantes
As dez últimas seções (22 a 32) ocupam-se com a questão da submissão dos governados. Calvino trata do respeito e da obediência devidos aos governantes (22 e 23), passando a examinar a questão da submissão aos tiranos (24 e 25). Ele demonstra que as Escrituras consideram o ofício do regente civil na mais alta conta, e não resta ao cristão senão ter a mesma visão que a Palavra de Deus tem. Baseando-se em Romanos 13, Calvino reforça que a desobediência civil é desobediência a Deus. Calvino não dá abrigo aos pensamentos de revolta contra as autoridades, nem mesmo contra os tiranos.
Ele diz: "Insisto intensamente em provar isto, que nem sempre é perceptível aos homens: mesmo um indivíduo do pior caráter – aquele que não é merecedor de qualquer honra –, se estiver investido de autoridade pública, recebe aquele poder divino ilustre de sua justiça e de julgamento que o Senhor, pela sua palavra, derramou sobre os governantes. Assim, no que diz respeito à obediência pública, ele deve ser objeto da mesma honra e reverência que recebe o melhor dos reis".
Nesse sentido, Calvino passa a fazer referência a vários textos da Palavra de Deus (seções 26 e 27), alguns dos quais demonstram que os reis ímpios não estão fora do plano soberano de Deus, mas servem de braço vingador do próprio Deus, cumprindo os seus propósitos.Calvino faz referência a passagens como Daniel 2.21, 37; 4.17, 20; 5.18-19; Jeremias 27.5-8 e 12, que ele classifica como um dos trechos mais impressionantes.
Calvino responde às objeções mais comuns a essa postura de obediência (seção 28) e passa a traçar algumas considerações para que consigamos exercitar paciência, quando submetidos à tirania (seções 29 e 30). Ele ensina três posturas: (1) devemos nos concentrar não na pessoa do que oprime, mas no ofício que aquela autoridade recebeu de Deus; (2) quando estamos sendo alvo de opressão, devemos nos lembrar de nossos próprios pecados e (3) devemos confiar que Deus é justo juiz e executará justiça no seu devido tempo, vingando o oprimido. No entanto, Calvino admite que, às vezes, Deus levanta corporativamente uma nação para controlar a tirania e o mal exercidos por outra (seções 30 e 31). Calvino insiste que há uma diferença entre a postura individual (o dever de submissão e obediência) e a corporativa (que pode ser contestatória, sempre baseada nos princípios divinos de justiça).
Calvino encerra a sua exposição (seção 32), traçando os limites da obediência e da submissão – os governantes não podem ordenar ações que sejam contrárias à Palavra de Deus. A resistência a essas ordens não pode ser classificada como insubmissão, e sim como demonstração de lealdade a Deus. Calvino mostra a resistência de Daniel (6.22) e ressalta como a submissão do povo, sob o governo de Jeroboão, que os levou à adoração de bezerros de ouro (1 Reis 12.28) é condenada em Oséias 5.11. Além de referir-se a Atos 5.29 (a declaração de Pedro indicando a importância de obedecer a Deus acima dos homens), Calvino menciona 1 Coríntios 7.23, mostrando que não devemos subjugar a liberdade recebida em Cristo às impiedades e desejos depravados dos homens.
Síntese do pensamento de Calvino
O pensamento de Calvino tem, portanto, uma visão elevada da importância dos governantes. Ele não "abre brechas" para focos de insubmissão ou de insurreição. Apresenta um aspecto muito ligado ao seu tempo – colocar o Estado como "protetor" da Igreja. (Essa posição seria depois mais bem examinada pelos teólogos, e as áreas de atuação, mais bem identificadas no desenvolvimento da tradição reformada.) Todavia, Calvino não deixa de classificar as esferas de cada um – Estado e Igreja, agindo em áreas e situações diferentes. Acima de tudo, ele coloca tanto governantes como governados responsáveis diante de Deus por suas ações ou omissões. Em nossos dias, a visão clara e precisa de Calvino a respeito desses diversos aspectos da regência terrena de nossas vidas deveria ser estudada, aplicada e defendida tanto pelos governantes como pelos governados.



MATERIAL EXTRAÍDO DO BLOG DA EDITORA FIEL. DISPONÍVEL EM http://www.editorafiel.com.br

O aborto de acordo com a legislação vigente e à luz da Palavra de Deus

O aborto de acordo com a legislação vigente e à luz da Palavra de Deus


por Rev. Augustus Nicodemus Lopes


A legislação sobre o assunto

O artigo 128 do Código Penal brasileiro (que é de 1940) permite o aborto quando há risco de vida para a mãe, e quando a gravidez resulta de estupro. Porém, apenas sete hospitais nos pais faziam o aborto legal. Esse ano, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara dos Deputados, aprovou a obrigatoriedade do SUS (Sistema Único de Saúde) realizar o aborto nos termos da lei. O projeto, porém, permite ao médico (não ao hospital) recusar-se a fazer o aborto, por razões de consciência – um reconhecimento de que o assunto é polêmico e que envolve mais que procedimentos médicos e mecânicos. Por exemplo, o ministro da Saúde, Carlos Albuquerque, disse ser contrário à lei e comparou aborto a um assassinato. Além disto, médicos podem ter uma resistência natural, pela própria formação deles (obrigação de lutar pela vida). "O juiz que autoriza o aborto é co-autor do crime. Isso fere o direito à vida", disse o desembargador José Geraldo Fonseca, do Tribunal de Justiça de São Paulo, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo (22/09/97). Segundo ele, o artigo 128 do Código Penal não autoriza o aborto nesses casos, mas apenas não prevê pena para quem o pratica. No momento, existem projetos de ampliar a lei, garantindo o aborto também no caso de malformação do feto, com pouca possibilidade de vida após o parto.

O ensino bíblico

O assunto é particularmente agudo para os cristãos comprometidos com a Palavra de Deus. É verdade que não há um preceito legal na Bíblia proibindo diretamente o aborto, como "Não abortarás". Mas a razão é clara. Era tão inconcebível que uma mulher israelita desejasse um aborto que não havia necessidade de proibi-lo explicitamente na lei de Moisés. Crianças eram consideradas como um presente ou herança de Deus (Gn 33.5; Sl 113.9; 127.3). Era Deus quem abria a madre e permitia a gravidez (Gn 29.33; 30.22; 1 Sm. 1.19-20). Não ter filhos era considerado uma maldição, já que o nome de família do marido não poderia ser perpetuado (Dt 25.6; Rt 4.5). O aborto era algo tão contrário à mentalidade israelita que bastava um mandamento genérico, "Não matarás" (Êx 20.13). Mas os tempos mudaram. A sociedade ocidental moderna vê filhos como empecilho à concretização do sonho de realização pessoal do casal, da mulher em especial, de ter uma boa posição financeira, de aproveitar a vida, de ter lazer, e de trabalhar. A Igreja, entretanto, deve guiar-se pela Palavra de Deus, e não pela ética da sociedade onde está inserida.

A humanidade do feto

Há dois pontos cruciais em torno dos quais gira as questões éticas e morais relacionadas com o aborto provocado. O primeiro é quanto à humanidade do feto. Esse ponto tem a ver com a resposta à pergunta: quando é que, no processo de concepção, gestação e nascimento, o embrião se torna um ser humano, uma pessoa, adquirindo assim o direito à vida? Muitos que são a favor do aborto argumentam que o embrião (e depois o feto), só se torna um ser humano depois de determinado período de gestação, antes do qual abortar não seria assassinato. Por exemplo, o aborto é permitido na Inglaterra até 7 meses de gestação. Outros são mais radicais. Em 1973 a Suprema Corte dos Estados Unidos passou uma lei permitindo o aborto, argumentando que uma criança não nascida não é uma pessoa no sentido pleno do termo, e, portanto, não tem direito constitucional à vida, liberdade e propriedades. Entretanto, muitos biólogos, geneticistas e médicos concordam que a vida biológica inicia-se desde a concepção. As Escrituras confirmam este conceito ensinando que Deus considera sagrada vida de crianças não nascidas. Veja, por exemplo, Êx 4.11; 21.21-25; Jó 10.8-12; Sl 139.13-16; Jr. 1.5; Mt 1.18; e Lc 1.39-44. Apesar de algumas dessas passagens terem pontos de difícil interpretação, não é difícil de ver que a Bíblia ensina que o corpo, a vida e as faculdades morais do homem se originam simultaneamente na concepção.

Os Pais da Igreja, que vieram logo após os apóstolos, reconheceram esta verdade, como aparece claramente nos escritos de Tertuliano, Jerônimo, Agostinho, Clemente de Alexandria e outros. No Império Romano pagão, o aborto era praticado livremente, mas os cristãos se posicionaram contra a prática. Em 314 o concílio de Ancira (moderna Ankara) decretou que deveriam ser excluídos da ceia do Senhor durante 10 anos todos os que procurassem provocar o aborto ou fizesse drogas para provocá-lo. Anteriormente, o sínodo de Elvira (305-306) havia excluído até a morte os que praticassem tais coisas. Assim, a evidência biológica e bíblica é que crianças não nascidas são seres humanos, são pessoas, e que matá-las é assassinato.

A santidade da vida

O segundo ponto tem a ver com a santidade da vida. Ainda que as crianças fossem reconhecidas como seres humanos, como pessoas, antes de nascer, ainda assim, suas vidas estariam ameaçadas pelo aborto. Vivemos em uma sociedade que perdeu o conceito da santidade da vida. O conceito bíblico de que o homem é uma criatura especial, feita à imagem de Deus, diferente de todas as demais formas de vida, e que possui uma alma imortal, tem sido substituído pelo conceito humanista do evolucionismo, que vê o homem simplesmente como uma espécie a mais, o Homo sapiens, sem nada que realmente o faça distinto das demais espécies. A vida humana perdeu seu valor. O direito para continuar existindo não é mais determinado pelo alto valor que se dava ao homem por ser feito à imagem de Deus, mas por fatores financeiros, sociológicos e de conveniência pessoal, geralmente, utilitarista e egoísta. Em São Paulo, por exemplo, um médico declarou "Faço aborto com o mesmo respeito com que faço uma cesárea. É um procedimento tão ético como uma cauterização". E perguntado se faria aborto em sua filha, respondeu: "Faria, se ela considerasse a gravidez inoportuna por algum motivo. Eu mesmo já fiz sete abortos de namoradas minhas que não podiam sustentar a gravidez" (A Folha de São Paulo, 29 de agosto de 1997).

Conclusão

Esses pontos devem ser encarados por todos os cristãos. Evidentemente, existem situações complexas e difíceis, como no caso da gravidez de risco e do estupro. Meu ponto é que as soluções sempre devem ser a favor da vida. C. Everett Koop, ex-cirurgião geral dos Estados Unidos, escreveu: "Nos meus 36 anos de cirurgia pediátrica, nunca vi um caso em que o aborto fosse a única saída para que a mãe sobrevivesse". Sua prática nestes casos raros era provocar o nascimento prematuro da criança e dar todas as condições para sua sobrevivência. Ao mesmo tempo, é preciso que a Igreja se compadeça e auxilie os cristãos que se vêem diante deste terrível dilema. Condenação não irá substituir orientação, apoio e acompanhamento. A dor, a revolta e o sofrimento de quem foi estuprada não se resolverá matando o ser humano concebido em seu ventre. Por outro lado, a Igreja não pode simplesmente abandonar à sua sorte as estupradas grávidas que resolvem ter a criança. É preciso apoio, acompanhamento e orientação.


Artigo extraído do portal da Igreja Presbiteriana do Brasil (www.ipb.org.br)

R. K. McGregor Wright - Pergunta-Teste: Quem vém antes: Regeneração ou fé?


    Encontrei calvinistas sérios pela primeira vez enquanto estava no London Bible College durante 1965-1966. Um domingo pela manha, eu voltava de uma prática de evangelismo do Highgate Baptist Chapel quando ouvi uma discussão que se desenrolava no pódio do prédio dos estudantes da escola que eu freqüentava. Sentei-me para ouvir. Era um debate concentrado entre estudantes arminianos e um estudante veterano, Michael Buss, que mais tarde veio a ser pastor da Igreja Batista Lansdown, em Portsmouth. De repente, ele voltou-se para mim e perguntou: "O que você pensa sobre esse assunto, Wright? Você é um calvinista. Diga a essas pessoas O que vem primeiro: a regeneração ou o exercício da fé salvadora?" Eu refleti alguns instantes sobre a pergunta, sem perceber o rumo que a discussão havia tomado. Eu disse: "Bem, eu suponho que a ordem seria que, quando o evangelho nos é apresentado, e Deus nos da luz suficiente para entendermos o que ele significa, nós colocamos a nossa confiança em Jesus, e, então, Deus nos da a vida eterna. Assim, eu penso que a fé salvadora vem antes e a regeneração, assim como o novo nascimento, vem imediatamente depois".

    Michael disse: "Eu entendo. O que você quer dizer, então, é que, quando você ouviu o evangelho, contrariamente a todos os seus hábitos passados, revertendo a tendência de sua personalidade caída, morta em delitos e pecados, em inimizade contra Deus, com o entendimento obscurecido e pensando ser o evangelho uma tolice, você ainda foi capaz de reconstruir sua total consciência espiritual ao redor de um novo centro, de maneira a perceber que o evangelho é a sua melhor aposta e, assim, você aceitou Cristo como seu salvador. Como conseqüência disso, Deus recompensou você pelo seu esforço maravilhoso nessa realização espiritual, dando-lhe vida eterna. É isso o que você quis dizer na sua resposta?”.
   
    Totalmente pego de surpresa, eu gaguejei que não, que não era realmente aquilo que eu havia pretendido dizer.
   
    Michael simplesmente respondeu: "Bem, foi isso exatamente o que você disse. Pense a respeito disso".

Texto extraído do livro: "A Soberania banida"