quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Arrebatamento: Fatos e Ficções

 Por Marcelo Lemos, editor

"Não farei parte de um arrebatamento secreto!"
Isso mesmo! Você não leu errado, querido leitor. Acabo de escrever que “não faço parte da geração do arrebatamento secreto!”. Mas, preciso alertá-lo que isso não significa negar a existência de um “arrebatamento”. O arrebatamento bíblico é uma coisa, o arrebatamento secreto, outra. O primeiro, como já adiantei, é uma doutrina escriturística, o segundo, por sua vez, um conceito ficcional a respeito do futuro.

“Pastor Marcelo, onde você escondeu
o arrebatamento de I Tes. 4.17 ?”.
Acredite: não o escondi. Na verdade, tenho-o diante dos meus olhos neste exato momento. E, olhando para ele, por mais que me esforce, não consigo encontrar nada sobre um [suposto] Arrebatamento Secreto. Há no texto um arrebatamento, mas não um arrebatamento secreto. Este fato faz toda a diferença.

“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, SEREMOS ARREBATADOS juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (I Tes. 4.13).

Existe, sim, uma promessa a respeito de um arrebatamento da Igreja do Senhor Jesus. Deste arrebatamento, os crentes em Jesus que estiverem vivos por sua ocasião, serão ‘arrebatados’ aos céus, a fim de serem reunidos com Cristo e com os demais santos que aguardava a ressurreição na sepultura. Na linguagem de Paulo, este evento se denomina um “harpazõ”. Literalmente, a expressão carrega a idéia de “apoderar-se” de outrem, “arrebatar” (Strong), “carregar por força”, “confiscar”, “levar para fora” (Thayer).

“Pastor Marcelo, isso não prova que
o Arrebatamento Secreto é Bíblico?”.
De forma alguma. Tudo isso prova apenas que a Bíblia nos fala de um arrebatamento, mas não que o mesmo seja secreto. Nada nesta passagem, ou em qualquer outra, ensina que haverá um arrebatamento secreto.
Por ‘arrebatamento secreto’, vale a pena recordar, atende a tese de que Jesus irá retornar ao mundo de forma invisível. Segundo esta teoria, apenas os cristãos preparados para o arrebatamento, poderão ver Jesus Cristo retornando nas nuvens dos céus e ouvir o som da Última Trombeta. Os demais membros da raça humana serão incapazes de contemplar qualquer destes eventos. Eles serão, como advoga famoso filme, ‘deixados para trás’ – sem entenderem ao certo o que se passou.

Depois de tal “arrebatamento secreto”, a humanidade infiel mergulhará num período chamado de Grande Tribulação, com duração média de 7 anos, na qual terá uma ultima chance de redenção.

Aqui no Brasil, esta forma de enxergar o futuro da humanidade é a mais comum entre os cristãos evangélicos. O grande sucesso de títulos como “Ladrão na Noite” e “Deixados para Trás”, nos dão um prova adicional deste fato. Além disso, todos podemos nos lembrar de alguma música “hit” que defende a mesma teoria:

“Brevemente nesta terra algo vai acontecer;
Pois um povo muito humilde vai desaparecer!
As manchetes dos jornais anunciarão:
Aonde foi aquele povo que fazia uma oração?

Eles subiram no ar!
Foram morar com Jeová!
Eles subiram no ar!
Foram morar com Jeová!”.


Em nosso solo tupiniquim, um dos maiores responsáveis pela divulgação desta interpretação escatológica é, sem dúvida alguma, o movimento pentecostal clássico. Como é sabido, a formação teológica do pentecostalismo brasileiro se deu por duas vertentes: os missionários escandinavos e os americanos. Como em sua maioria esmagadora eram formados por irmãos oriundos de confissões batistas, é natural que tal influência acontecesse.

Portanto, ser pentecostal em nosso país é quase sinônimo de ser dispensacionalista e pré-tribulacionista. Um extravagante adesivo de carro testemunha a forte ligação pentecostal com a tese do arrebatamento secreto:

“CUIDADO! PENTECOSTAL A BORDO!”.
O que este motorista está querendo dizer é o seguinte: “Faço parte da geração dos arrebatados, por isso, a qualquer momento este carro ficará desgovernado. Por tanto, se você é um dos que vão ficar para trás, dirija com atenção redobrada!”.

É justamente deste arrebatamento secreto que eu, e ninguém, pode fazer parte. O motivo? Ele não existirá!

“Pastor Marcelo, você está nos dizendo que os mestres que nos ensinam o Arrebatamento Secreto estão equivocados?”.

Isso mesmo! Eles ensinam uma teoria que não possui respaldo bíblico. Sei que para muitas pessoas está afirmação é difícil de digerir, afinal, eu mesmo passei por isso, tendo já sido um fervoroso defensor do arrebatamento secreto. Porém, a Bíblia é muito clara em nos apresentar evidências sólidas contra esta tese, de modo que, humildemente, precisamos combatê-la.

Uma das maneiras mais fáceis de se perceber a fragilidade desta teoria é comparar seus principais argumentos com o que dizem as Escrituras. Tentaremos fazer isso a seguir.

Argumento: “A Segunda Vinda do Senhor ocorrerá em duas fases. A primeira fase será nos ares, apenas para a Igreja, e invisível para o mundo. Na segunda fase, Jesus colocará os seus pés sobre a Terra, portanto, um evento visível a todos os povos”.
 Em outras palavras, para se defender um arrebatamento secreto é preciso afirmar que Jesus retornará ao mundo não mais uma vez, mas duas vezes mais. Jesus voltará uma primeira vez para a sua Igreja e, uma segunda vez, para o restante da humanidade. O argumento básico aqui é que no arrebatamento, Jesus virá apenas nos ares, sem tocar a terra. Logo, apenas a Igreja – conduzida até os ares – verá a primeira etapa da vinda de Jesus. Isso procede?

Normalmente costuma-se apresentar os seguintes textos para comprovar esta teoria: Mt 25:6; Lc  17:34-36; 1 Ts 4:16-17. Sendo que o mais importante deles, indubitavelmente, é a passagem de I Tessalonicenses 4.16-17. O que todos estes textos possuem em comum? Porque se acredita que eles forneçam suporta a referia teoria?

Em Mateus 25.6, lemos sobre um grupo formado por cinco virgens prudentes e cinco virgens loucas. Como sabemos, apenas um dos grupos pode ver a chegada do noivo e, assim, entrar para as Bodas Celestiais. O problema fundamental aqui é que a vinda do noivo não foi secreta para as virgens loucas. Muito pelo contrário, elas foram avisadas e, desesperadamente, tentaram “arrumar a casa” de última hora. Além disso, trata-se de uma história, uma parábola. Qual o objetivo da parábola? Provar que a chegada foi secreta para um dos grupos, ou provar que os dois grupos perceberam a chegada, mas apenas um estava preparado? Penso que a resposta não é muito difícil…

Em Lucas 17.34-36, encontramos uma das únicas passagens que parecem confirmar a teoria de um arrebatamento secreto. Aliás, esta era a minha passagem favorita. O texto nos apresenta uma descrição [supostamente] do futuro da humanidade, na qual podemos ver que estando duas pessoas juntas, uma delas é “levada” e a outra “deixada para trás”. Lendo a passagem com as lentes do pré-tribulacionismo é quase impossível não encontrar nela uma confirmação da teoria. Como já disse, eu mesmo pensava assim. Mudei de opinião quando percebi que a passagem é um tiro no pé do dispensacionalismo pré-tribulacionista.
Não é possível interpretar esta profecia sem analisar o texto de Mateus 24. Uma das regras mais elementares da hermenêutica é que Escritura interpreta Escritura. Portanto, vejamos o que nos diz o texto de Mateus 24. 37-42:

“E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem. Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor”.

Antes de qualquer outra coisa, peço-lhes que atente ao fato desta profecia não se referir ao Arrebatamento da Igreja, mas sim a Destruição de Jerusalém. Todos os detalhes do texto aplicam-se claramente ao contexto dos Judeus do primeiro século, e no de mais ninguém:

“Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda; então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; e quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa; e quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes. Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado… Em verdade vos digo que NÃO PASSARÁ ESTA GERAÇÃO SEM QUE TODAS ESTAS COISAS ACONTEÇAM!”.

A maioria dos leitores, incapazes de perceber o ensino claro por trás da linguagem “apocalíptica” que Jesus usa nesta passagem, apressam-se a interpretarem o texto como uma profecia a respeito do fim do mundo, incorrendo em erro. A luz do contexto imediato e geral, a passagem refere-se à Destruição de Jerusalém pelo Império Romano.

Para os leitores que ainda insistem na busca por algum significado alternativo para a expressão “esta geração”, nunca é demais relembrá-los do ensino cristalino de Jesus: “Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino!” (Mateus 16.28). “Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu” (João 21.21-22).

Em segundo lugar, observe que fazer parte dos que “são levados” não é uma coisa boa, muito pelo contrário, é sinal de derrota. Observe os destaques em azul. Atente para o fato de haver dois grupos “levados” nesta passagem. Atente também para o fato de que Jesus faz uma comparação e não um contraste entre os dois grupos. Segundo Jesus, assim como os incrédulos foram “levados” (destruídos) nos dias de Noé; assim também, os incrédulos daquela geração seriam “levados” (destruídos) quando Cristo trouxesse seu Juízo sobre Jerusalém. Como é possível compreender “levados” como sendo algo bom, dentro deste contexto tão evidente? Ora, se ser “levado” fosse algo bom, Jesus deveria ter dito que os salvos seriam levados como Noé foi levado, porém, o que Ele diz é: na destruição de Jerusalém alguns seriam levados assim como os ímpios dos dias de Noé foram levados! Portanto, se levado não pode ser sinônimo de algum arrebatamento futuro da Igreja. Ser levado é ser destruído ou escravizado do exército que invadiria Jerusalém.

O contexto é tão claro que Jesus orienta seus ouvintes a se esconderem quando o fatídico dia chegasse! Aqueles que estavam no campo não deveriam retornar para a cidade; os que estavam no telhado deveriam continuar ali. Nenhuma atitude que atrasasse a fuga deveria ser tomada. E acima de tudo, deveriam orar para que o cerco contra Jerusalém não se desse no Sábado nem no Inverno, do contrário teriam a fuga prejudicada: aos sábados os portões da cidade estavam fechados e no inverno o clima seria mais um inimigo.
Noé foi “deixado para trás” quando veio o Dilúvio. Os demais foram levados, mas ele e sua família ficaram, com a missão de restaurar o que se perdeu. De igual modo acontece na Destruição de Jerusalém. Aqueles que estavam desprevenidos foram “levados” pela tragédia, os demais, os avisados, “ficaram para trás”, com a tarefa de reconstruir tudo outra vez.

Em terceiro lugar é digno de nota que a cronologia desta passagem contradiz abertamente a cronologia do arrebatamento secreto. Segundo a teoria do arrebatamento secreto, Jesus virá ao mundo secretamente e levará consigo a Igreja; depois de alguns anos, o Anticrito irá destruir a cidade de Jerusalém, profanando o seu tempo. Evidentemente não é possível encaixar naturalmente esta cronologia no texto de Mateus 24.
Na passagem, podemos observar que primeiro surge o Anticristo, predito na profecia de Daniel: “Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda” (Mateus 24.15). Ocorrendo a aparição do Anticristo, inicia-se a perseguição anti-semita: “Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; e quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa; e quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes. Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado” (Mateus 24.16-20).

Até que todas estas coisas comecem a acontecer ninguém é “levado”, segundo a própria profecia de Jesus. Contudo, logo estas coisas comecem, aparece no céu o Sinal do Filho do Homem. Ele vem sobre “as nuvens do céu” e ordena que seus anjos “ajuntem os escolhidos” (vv. 29-31). Observem que, de fato, a passagem nos fala de Cristo “ajuntando os seus”. Estaríamos diante de uma referência ao Arrebatamento? Se for este o caso, o Arrebatamento Secreto continua errado, pois, este “ajuntamento” acontece DEPOIS da Grande Tribulação, não antes! Logo, não pode ser secreto e nem pré-tribulacional.

Examinando o texto atentamente, contudo, percebe-se que este “ajuntamento” é distinto do ser “levado” a que se referem os versos seguintes. A partir do verso 36 Jesus focaliza a condição lamentável dos infiéis de seu tempo, comparando-os com os infiéis antediluvianos! Se em 29-31 contemplamos a sorte dos fiéis, nos versos seguintes vemos a dos perseguidores de Cristo.

Os dispensacionalistas pré-tribulacionistas não percebem estes problemas? Percebem, todavia, arrumam algumas justificativas a fim de moldarem o texto à sua teoria. Por exemplo, eles podem alegar que um trecho da passagem refere-se aos judeus, e a outra, a Igreja. Tal divisão, claro, não é de forma alguma naturalmente percebida no texto.

Na primeira seção deste artigo já comentamos o texto de I Tessalonicenses 4; de modo que apenas reiteraremos o que já afirmamos: nenhum detalhe do texto indica um arrebatamento secreto, invisível. Muito pelo contrário, a luz do ensino geral das Escrituras, pode-se afirmar com segurança que tal evento se dará aos olhos de todo o mundo. Segundo Paulo, o arrebatamento da Igreja acontecerá por ocasião da ressurreição dos mortos, particularmente, dos santos. Portanto, se a ressurreição dos santos for um evento visível ao mundo, o arrebatamento também o será. Além disso, Paulo também ensina que o arrebatamento se dará por ocasião do recebimento da recompensa por parte da Igreja. Assim, caso a Igreja seja
recompensada na mesma ocasião que o mundo infiel receber a sua recompensa, o arrebatamento não pode ser secreto e invisível.

“Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação” (João 5.28,29).

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo… Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos… E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna!” (Mateus 25).

Argumento: “A Segunda Vinda do Senhor ocorrerá em duas fases. A primeira fase é descrita como parousia, manifestação. A segunda fase é descrita como apokalupsis, revelação. Portanto, temos duas fases, uma invisível, outra visível”.
Este argumento aparentemente erudito não passa de cortina de fumaça. Ele pode impressionar alguém que desconheça o uso que o Novo Testamento faz destes dois termos gregos. Facilmente podemos classificar o argumento acima como falacioso, e por isso mesmo, impressiona a quantidade de dispensacionalistas que se valem do mesmo:

“A parousia indica presença pessoal (At.1:11; ITs.4:14-17). A palavra parousia é usada nas seguintes passagens: (Mt.24:3,27,37,39; ICo.1:8;15:23; ITs.2:19; ITs.3:13;4:15;5:23; IITs.2:1; Tg.5:7; IIPe.1:16;3:4,12; IJo.2:28; e nas seguintes passagens referindo-se a homens: (ICo.16:17; Fp.2:12; IICo.10:10)… A apokalupsis indica a visibilidade da vinda do Senhor (Ap.1:7,9-11; Mt.24:26,27,30; Lc.21:27; Tt.2:13; IJo.3:2,3; Is.52:8; Os.5:15). O termo apokalupsis é usado nas seguintes passagens: (Rm.8:19; IITs.1:7; IPe.1:7,13;4:13)” – Pastor Luiz Antônio Ferraz, Escatologia, publicado no solascriptura-tt.

No mesmo site, no artigo A Doutrina das Últimas Coisas, escrito e publicado pelo editor da web page, encontramos o mesmo argumento, de forma ligeiramente modificada:

A 2a. vinda de Cristo será em 2 etapas… 1a. etapa (Arrebatamento): Nos ares, para buscar Sua noiva… 2a. etapa (Revelação): Na terra, para julgar o mundo” – Hélio de Menezes Silva.
Apesar do autor não usar textualmente o contraste entre “parousia” e “apokalupsis”, a idéia permeia sua afirmação quando diz: “A segunda etapa, a Revelação, será na terra…”. Mais adiante, confirmando nossa constatação, o autor afirmará que as Bodas do Cordeiro acontecerá “após o julgamento dos crentes, e antes da REVELAÇÃO”. Também afirma que a Tribulação acontece “entre o Arrebatamento e a REVELAÇÃO”. Linguagem muito semelhante aparece em O Plano Divino Através dos Séculos, de N. Lawrence Olson (CPAD): “O rapto será um evento secreto enquanto a revelação terá a mais ampla divulgação, todo o mundo tomando conhecimento da mesma”.

O que todos estes escritores possuem em comum? Vejamos:
  1. Afirmam que Parousia refira-se a uma vinda invisível de Cristo;
  1. Afirmam que Apokalupsis refira-se a vinda visível de Cristo, na segunda fase.
Qual a validade destes argumentos? Será que os escritores do Novo Testamento fizeram um uso tão seletivo assim destes termos, tornando-os excludentes?

Exemplos do uso de “Parousia” no Novo Testamento:

“Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda (parousia) do Filho do homem. Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias. E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus” (Mateus 24.27-31).

A passagem acima nos fala do que acontece precedendo a Parousia de Cristo. Não é difícil perceber a total impossibilidade de tal “parousia” acontecer de forma “invisível”. O sol escurecerá, a lua não dará sua luz e as estrelas caem do céu. Onde fica a invisibilidade da parousia de Cristo?

Mateus 24.27 nos demonstra que o termo “Parousia” não significa apenas presença, ou um evento “invisível”; isso é invenção. Por isso, nos texto onde “Parousia” refere-se a vinda de Cristo (I Ts. 2.19; I Ts. 3.13; I Ts. 4.15; I Ts. 5.23; II Ts. 2.1; etc), nada justifica interpretar como sendo “invisível”. De fato, o termo “Parousia” indica apenas chegada, presença, e não se refere exclusivamente a Segunda Vinda de Cristo: I Cor. 16.17; II Cor. 7.6-7; Filip. 2.12. Imagine interpretar a “Parousia” nestes versos como sendo “vinda invisível”! Absurdo, não é mesmo?

Finalizando este argumento citamos um outro exemplo do uso que o Novo Testamento faz do termo “Parousia”, referindo-se a Segunda Vinda de Cristo. Em II Tessalonicenses 2.8, Paulo nos fala sobre o Anticristo sendo destruído pelo sopro da boca de Cristo. Quando isso aconteceria? Segundo Paulo, isto se daria por ocasião da VINDA de Cristo. Ora, segundo os defensores do “arrebatamento secreto”, o Anticristo será destruído por Cristo no Apokalupsis, a vinda visível de Cristo. Porém, não é isso o que a Bíblia diz:

“E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda (parousia)” (II Ts. 2.8). De modo que, caso “parousia” significasse ‘vinda invisível’, tanto a primeira quando a segunda fase seria invisível. A menos que o dispensacionalista queira defender que o Anticristo será destruído antes mesmo da Grande Tribulação começar!

Exemplos do uso de “Apokalupsis” no Novo Testamento:

Apokalupsis, segundo os defensores da teoria que estamos analisando, refere-se a manifestação visível de Cristo. Ou seja, no arrebatamento secreto, teremos a Parousia, depois da Grande Tribulação termos o Apokalupsis. Pelo fato da Bíblia usar o termo grego Parousia tanto nos textos que eles usam para o arrebatamento, quando nos textos que usam para depois da Grande Tribulação, sabemos que suas afirmações sobre a Parousia são falsas. Será que acertam quanto ao uso do termo Apokalupsis?
Lembrem-se: segundo eles, Apokalupsis refere à manifestação visível. Por isso, por uma questão de lógica, a Bíblia jamais utilizará este termo nos textos que os dispensacionalistas usam como referencia ao arrebatamento, não é mesmo? Errado, novamente!

“De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação (apokalupsis) de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Cor. 1.7).

“E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar (apokalupsis) o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder…” (II Tes. 1.7).

“Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação (apokalupsis) de Jesus Cristo…” (I Pedro 1.7).

“Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação (apokalupsis) da sua glória vos regozijeis e alegreis” (I Pedro 4.13).

De acordo com a interpretação dispensacionalista, todas estas passagens referem-se ao encontro da Igreja com Cristo por ocasião do Arrebatamento Secreto. Sendo assim, o fato é que estas passagens deveriam usar o termo parousia e não apokalupsis. Vemos, portanto, que usar parousia para ‘invisível’ e apokalupsis para ‘visível’ é algo completamente insustentável exegeticamente.

Somos forçados a concordar com Adolfo Ricardo Ybarra: “A Bíblia usa as palavras Aparição (gr. epifaneia), Revelação (gr. apokalupsis) e Vinda (gr. parousia), para referir-se ao encontro da Igreja com Cristo”. – Fundamentos da Fé Postribulacional. Em outras palavras, o Novo Testamento não faz a diferenciação pretendida pelos dispensacionalistas. A obra de Ybarra, todavia, peca ao defender uma visão futurista sobra a Grande Tribulação; contudo, ao situar o arrebatamento após a Grande Tribulação, ele é mais bíblico do que o dispensacionalismo pretribulacionista.

Concluímos este artigo chamado à atenção do leitor para o seguinte fato: a fim de defender a idéia de um arrebatamento secreto, o dispensacionalismo tradicional acabou criando um emaranhado de teorias e teses que, ao invés de ajudar o estudante, cria infindáveis nós em sua cabeça. Não é a toa que a maioria dos cristãos simplesmente teme estudar Escatologia, pensando que estes temas são acessíveis apenas a mentes privilegiadas. Infelizmente, desconhecem que o que temem não passa de ficção…

Queremos convidar você, leitor, a ponderar com maior esmero estes temas, não temendo agir como os cristãos de Beréia:

“E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim!” (Atos 17. 10,11).

Nossa oração é que o Espírito de Deus o conduza a uma escatologia simples, clara e bíblica; transformadora.

Paz e bem
Fonte: www.olharreformado.blogspot.com

justificativa

Eu estava ausente devido ao péssimo sinal da net em Monteiro, mas agora voltamos para divulgar a teologia bíblica reformada.  Um abraço! Paz e bem!

Sinais sempre são confiáveis?

Dennis Allan

Muitas pessoas hoje, especialmente no movimento pentecostal e suas ramificações, valorizam sinais acima de tudo. Interpretam acontecimentos na vida como provas da aprovação divina de suas decisões. Recorrem para visões e revelações para justificar suas práticas. Defendem suas doutrinas, citando algum sinal especial como confirmação do Espírito Santo.
Sinais sempre são confiáveis como prova da aprovação divina?
Em geral, os sinais, prodígios e milagres na Bíblia serviam para confirmar a palavra revelada por Deus aos profetas e apóstolos. No Velho Testamento, Deus capacitou homens como Moisés, Elias e Eliseu a realizarem milagres para confirmar a sua mensagem. No Novo Testamento, os apóstolos e vários outros recebiam os dons do Espírito Santo para confirmar a palavra revelada (Marcos 16:20; Hebreus 2:4; 2 Coríntios 12:12).
Em outros estudos, temos visto várias diferenças entre os verdadeiros sinais dos tempos da Bíblia e os supostos dons milagrosos que tantas pessoas buscam hoje. Neste artigo, consideremos outro aspecto da questão dos dons. Mesmo se alguém acreditar ver um sinal milagroso hoje, ainda deve dar mais importância às Escrituras.
Deus nunca colocou os sinais acima da palavra.
No Velho Testamento, o Senhor disse: “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio do que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses… não ouvirás a palavra deste profeta ou sonhador; porquanto o Senhor, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o Senhor, vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma” (Deuteronômio 13:1-3). Neste caso, mesmo se o sinal fosse verdadeiro, qualquer um que seguisse o profeta seria condenado, pois a palavra dele contradizia a verdade já revelada.
No Novo Testamento, sinais milagrosos acompanharam os apóstolos do Senhor. Mas Paulo, um dos apóstolos, nos alerta: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gálatas 1:8). Se viesse direto do céu ou se mostrasse os sinais dos apóstolos, ainda seria necessário avaliar pela palavra.
Paulo avisou, também, de sinais e prodígios de mentira, empregados por Satanás (2 Tessalonicenses 2:9-10).
Não importa quantos sinais alguém alega ter visto ou ter feito, a prova final é a palavra já revelada. Nunca devemos colocar sinais acima da palavra.

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Fonte:
albabloechliger.wordpress.com


Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org


Eleição Divina

Por Arthur W. Pink

Eleição é uma doutrina fundamental. No passado, muitos dos talentosos professores estavam acostumados a começarem sua teologia sistemática com a apresentação dos atributos de Deus, e então uma contemplação de Seus decretos eternos; e é nossa convicção cuidadosamente analisada, depois de ler atentamente os escritos de muitos de nossos teólogos modernos, que o método seguido pelos seus antecessores não pode ser aprimorado. Deus existe antes do homem, e Seu propósito eterno antedata Suas obras no tempo. “ Conhecidas de Deus são todas as Suas obras desde o princípio do mundo” (Atos 15:18). Os divinos conselhos existiram antes da criação. Como um construtor desenha seus planos antes de começar a construir, assim o grande Arquiteto predestinou tudo antes de uma simples criatura ser chamada à existência. Nem Deus guardou este mistério oculto em Seu próprio seio; foi do Seu agrado fazer conhecido em Sua Palavra os eternos conselhos de Sua graça, Seu desígnio nos mesmos e o grande fim que Ele teve em vista.

Quando um construtor está no percurso da construção, os expectadores freqüentemente demoram perceber a razão de tantos detalhes. Por enquanto, eles não discernem nenhuma ordem ou propósito; tudo parece estar em confusão. Mas se eles pudessem cuidadosamente examinar o “plano” do construtor e visualizar a produção acabada, muito do que estivesse confuso se tornaria claro para eles. É da mesma forma com a aparência externa do propósito eterno de Deus. A menos que estejamos inteirados com Seus decretos eternos, a história permanecerá um enigma insolúvel. Deus não está trabalhando aleatoriamente; o evangelho não foi enviado para uma missão incerta: a conseqüência final do conflito entre o bem e o mal não foi deixada indeterminada; quantos são salvos ou perdidos não depende da vontade da criatura. Tudo foi infalivelmente determinado e imutavelmente fixado por Deus desde o princípio, e tudo que acontece no tempo é apenas a consumação do que foi ordenado na eternidade.

A grande verdade da eleição, então, leva-nos de volta ao princípio de todas as coisas. Ela antedata a entrada do pecado no universo, a queda do homem, o advento de Cristo e a proclamação do evangelho. Um entendimento correto dela, especialmente em sua relação com o concerto eterno, é absolutamente essencial se quisermos ser preservados de um erro fundamental. Se a própria fundação é defeituosa, então a construção erigida sobre ela não será sã; e se errarmos em nossos conceitos desta verdade básica então, exatamente na proporção em que fizermos isso, seremos inexatos no entendimento de todas as outras verdades. O relacionamento de Deus com os judeus e os gentios, Seu objetivo ao enviar Seu Filho a este mundo, Seu desígnio pelo evangelho, sim, o conjunto total de Seus relacionamentos providenciais, não poderão ser vistos em sua perspectiva adequada até que eles sejam visto na luz de Sua eleição eterna. Isto se tornará mais evidente a medida que prosseguirmos.

Ela á uma doutrina difícil, e isto em três aspectos. Primeiro: no entendimento dela. A menos que sejamos privilegiados de sentar sob o ministério de um servo de Deus ensinado pelo Espírito, que nos apresente a verdade sistematicamente, grande esforços e diligência serão exigidos na examinação das Escrituras, de forma que possamos coletar e juntar suas declarações espalhadas sobre este assunto. Não foi do agrado do Espírito Santo dar-nos uma completa e ordenada exposição da doutrina da eleição, porém “um pouco aqui, um pouco ali” - na história típica, nos salmos e profecias, na grande oração de Cristo (João 17), nas epístolas dos apóstolos. Segundo: na aceitação dela. Esta apresenta uma dificuldade ainda maior, porque quando a mente percebe o que a Escritura revela sobre isto, o coração é avesso à receber uma verdade como esta, tão humilhante e enfraquecedora da carne. Quão ardentemente necessitamos orar para que Deus subjugue nossa inimizade contra Ele e nosso preconceito contra Sua verdade. Terceiro: na proclamação dela. Nenhum iniciante é competente para apresentar este assunto em suas perspectivas e proporções escriturísticas.

Mas apesar disto, estas dificuldades não nos desencoraja, e muito menos nos detém, de um honesto e sério esforço para entender e de todo coração receber tudo que Deus se agradou de revelar sobre isto. As dificuldades são designadas para nos humilhar, para nos exercitar, para nos fazer sentir nossa necessidade da sabedoria do alto. Não é fácil chegar a um claro e adequado entendimento de qualquer uma das grandes doutrinas das Santas Escrituras; e Deus nunca intentou que assim fosse. A verdade deve ser “comprada” (Provérbios 23:23): ah! tão poucos estão dispostos a pagar o preço - dedicar-se a um devoto estudo da Palavra o tempo gasto com jornais ou recreações fúteis. Essas dificuldades não são insuperáveis, porque o Espírito, dado ao povo de Deus, guia-os em toda verdade. Igualmente assim para o ministro da Palavra: em humilde espera por Deus, unida a um diligente esforço para ser um obreiro que não tenha de que se envergonhar, irá no devido tempo expor esta verdade para a glória de Deus e a benção de seus ouvintes.

Esta é uma doutrina importante, como é evidente a partir de várias considerações. Talvez possamos expressar mais impressionamente a monumentabilidade desta verdade mostrando que aparte da eleição eterna não teria existido nenhum Jesus Cristo e, portanto, nenhum divino evangelho; porque se Deus nunca tivesse escolhido um povo para salvação, Ele nunca teria enviado Seu Filho; e Se Ele não tivesse enviado nenhum Salvador, ninguém teria sido salvo. Portanto, o próprio evangelho se originou nesta questão vital da eleição. “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação” (2 Tessalonicenses 2:13). E por que “devemos sempre dar graças”? Porque eleição é a origem de todas as bênçãos, a fonte de cada misericórdia que a alma recebe. Se a eleição for tirada, tudo será tirado, porque aqueles que têm qualquer benção espiritual são aqueles que têm todas as bênçãos espirituais: “ O qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo” (Efésios 1:3,4).

Como Calvino corretamente disse: “Nós nunca estaremos tão claramente convencidos como deveríamos, de que a nossa salvação provém da fonte da gratuita misericórdia de Deus, até que estejamos familiarizados com esta eleição eterna, que ilustra a graça de Deus por esta comparação, que Ele não adota todos indiscriminadamente para a esperança de salvação, mas a alguns dá o que recusa a outros. Ignorância deste princípio evidentemente desvia da glória divina, e diminui a real humildade. Se então, necessitamos ser recordados da origem da eleição para provar que obtemos a salvação de nenhuma outra origem do que a mera boa vontade de Deus então, aqueles que desejam extinguir este princípio, fazem tudo que eles podem para obscurecer o que eles deveriam magnificar e em alta voz celebrar”.

Esta é uma bendita doutrina, porque a eleição é a fonte de todas as bênçãos. Isto é feito inequivocadamente claro através de Efésios 1:3,4. Primeiro, o Espírito Santo declara que os santos tem sido abençoados com todas as bençãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo. Então, Ele prossegue a nos mostrar o porquê e como eles foram tão abençoados: é porque Deus nos elegeu em Cristo antes da fundação do mundo. A eleição em Cristo, portanto, precede ser abençoado com todas as bençãos espirituais, porque nós somos abençoados com elas somente estando nEle, e somente estamos nEle sendo escolhidos nEle. Vemos então quão grande e gloriosa esta doutrina é, porque todas nossas esperanças e prospectos pertencem a ela. Eleição, apesar de distinta e pessoal, não é, como algumas vezes descuidadamente declarado, uma mera escolha abstrata de pessoas para a salvação eterna, independente da união com o seu Representante do Concerto; mas uma escolha deles em Cristo. Ela, portanto, implica todas as outras bençãos, e todas as outras bençãos são dadas somente através dela e de acordo com ela.

Corretamente entendida não há nada semelhante para transmitir conforto e coragem, força e segurança, como uma apreensão do coração desta verdade. Ser assegurado de que sou um dos altamente favorecidos do Céu transmite a confidência de que Deus mui certamente irá suprir cada uma das minhas necessidades e fazer todas as coisas cooperarem juntamente para o meu bem. O conhecimento de que Deus me predestinou para a glória eterna fornece uma absoluta garantia de que nenhum esforço de Satanás poderá trazer sobre mim destruição, porque se o grande Deus é por mim, quem será contra mim? Isto traz paz para o pregador, porque ele agora descobre que Deus não o enviou para puxar o arco arriscadamente, mas que Sua Palavra realizará o que Lhe apraz, e prosperará naquilo para que Ele a enviou (Isaías 55:11). E que encorajamento isto dá ao pecador despertado. A medida que ele aprende que a eleição é somente uma questão da divina graça, a esperança é incendiada em seu coração; a medida que ele descobre que a eleição escolhe alguns dos maiores dos pecadores para serem monumentos da divina misericórdia, porque deveria ele se desesperar?

Esta é uma doutrina detestada. Alguém naturalmente pensaria que uma verdade que honra tanto a Deus, que exalta tanto a Cristo, e tão abençoada, tenha sido cordialmente sustentada por todos cristãos professantes que tenham tido ela claramente apresentada diante deles. Devido aos termos “predestinados”, “eleitos”, e “escolhidos”, ocorrem tão freqüentemente na Palavra, alguém certamente concluirá que todos que reivindicam aceitar as Escrituras como divinamente inspiradas receberiam com implícita fé esta grande verdade, referindo ao ato por si mesmo - como tornando pecadores e ignorantes as criaturas que assim façam - diante da soberana boa vontade de Deus. Mas tal está longe, muito longe de ser a situação real. Nenhuma doutrina é tão detestada pelo orgulhoso homem natural como esta, que faz da criatura nada e do Criador tudo; sim, em nenhum outro ponto a inimizade da mente carnal é tão patente e vigorosamente evidente.

Nós começamos nossas palestras na Austrália dizendo: “Eu vou falar esta noite sobre uma das doutrinas mais odiadas da Bíblia, a saber, a da soberana eleição de Deus”. Desde então temos rodeado este globo, e chegado à um contato próximo com milhares de pessoas pertencentes a muitas denominações, e milhares destes cristãos professos não aceitaram esta declaração; e hoje a única mudança que fazemos naquela declaração é que enquanto a verdade do castigo eterno é uma das mais desagradáveis aos não professos, a da soberana eleição de Deus é a verdade mais odiada e insultada pela maioria daqueles que reivindicam ser crentes. Anuncie claramente que a salvação não é originada na vontade do homem, mas na vontade de Deus (veja João 1:13; Romanos 9:16), que não há ninguém que queira ou possa ser salvo - porque como resultado da queda do homem, todo desejo e vontade para o que é bom foi perdido (João 5:40; Romanos 3:11) - e que até mesmo os eleitos precisam serem feitos dispostos (Salmos 110:3), e estrondosos gritos de indignação se levantarão contra tal ensino.

Neste ponto a questão é tensa. Comerciantes de méritos não permitirão a supremacia da divina vontade e a impotência para o bem da vontade humana, conseqüentemente eles são aqueles mais amargos em denunciar a eleição pelo soberano prazer de Deus, são os mais entusiasmados em gritar pelo livre-arbítrio do homem caído. Nos decretos do concílio de Trento - no qual o Papado definitivamente determinou sua posição sobre os pontos levantados pelos Reformados, e que Roma nunca rescindiu - aparece o seguinte: “Se qualquer um afirmar que desde a queda de Adão, a vontade do homem foi eliminada, que seja amaldiçoado”. Foi devido a sua fiel aderência à verdade da eleição, com tudo o que ela envolve, que Bradford e centenas de outros foram queimados pelos agentes do Papa. Indizivelmente triste é ver tantos Protestantes professos concordarem com a mãe das meretrizes neste erro fundamental.

Mas seja qual for a aversão que os homens possam agora ter à esta bendita doutrina, eles serão compelidos a ouvi-la no último dia, ouvi-la como a voz da final, inalterável e eterna decisão. Quando a morte e o inferno, o mar e a terra, derem os mortos, então o Livro da Vida - o registro no qual foram gravados antes da fundação do mundo toda a eleição da graça - será aberto na presença de anjos e demônios, na presença de salvos e perdidos, e esta voz soará às alturas do Céu, às profundezas do inferno e aos extremos finais do universo - “E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo” (Apocalipse 20:15). Assim, esta verdade que é odiada pelos não eleitos acima de todos os outros, é uma que soará nos ouvidos dos perdidos a medida que eles entrarem na sua eterna perdição! Ah, meu leitor, a razão pela qual o povo não recebe e devidamente prezam pela verdade da eleição, é porque eles não sentem a devida necessidade dela.

Esta é uma doutrina que separa. A pregação da soberania de Deus, como exercitada por Ele na pré-ordenação do destino eterno de cada uma de Suas criaturas, serve como um instrumento eficaz para dividir o joio do trigo. “Quem é de Deus ouve a palavra de Deus” (João 8:47): sim, não importa quão contrárias elas possam ser às suas idéias. É uma das marcas do regenerado que eles declaram que Deus é verdadeiro. Nem são exigentes na sua escolha, como são os religiosos hipócritas: uma vez que percebem que a verdade é claramente ensinada na Palavra, mesmo que esta seja absolutamente oposta à sua própria razão e inclinações, eles humildemente saúdam-na e implicitamente a recebem, e assim faria apesar de nenhuma outra pessoa no mundo crer nela. Mas isto é totalmente diferente com os não regenerados. Como o apóstolo declara: “Do mundo são, por isso falam do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro” (1 João 4:5,6).

Não conhecemos nada tão divisor entre a ovelha e os bodes do que uma exposição fiel desta doutrina. Se um servo de Deus aceita alguma nova carga, e ele deseja que seu povo deseje o puro leite da Palavra, e que prefira os substitutos do Diabo, deixe-o entregar uma série de sermões sobre este assunto, e será rapidamente os meios de “apartares o precioso do vil” (Jeremias 15:19).

Foi assim na experiência do Divino Pregador: quando Cristo anunciou que “ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido”, somos informados que, “desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele” (João 6:65,66)! Verdade é que de forma alguma todos que intelectualmente recebem o “Calvinismo” como uma filosofia ou teologia, dão evidência (em suas vidas diárias) de regeneração; todavia, é igualmente verdade que aqueles que continuam a criticar contra e firmemente refutar alguma parte da verdade, não merecem serem chamados de cristãos.

Esta é uma doutrina negligenciada. Apesar de ocupar um lugar tão proeminente na Palavra de Deus, ela é pregada mui pouco hoje, e ainda menos entendida. Certamente, não é esperado que os “altos críticos” e seus incautos cegos preguem o que faz do homem nada; mas até entre aqueles que desejam serem vistos como “ortodoxos” e “evangélicos”, quase não há alguém que dê à esta grande verdade um real lugar, seja nas ministrações do seu púlpito ou nos seus escritos. Em alguns casos isto é devido à ignorância: não tendo sido ensinado no seminário, e certamente nem nos “Institutos Bíblicos”, eles nunca perceberão sua grande importância e valor. Mas, em muitos casos é o desejo de ser popular para com seus ouvintes que amordaça suas bocas. Todavia, nem ignorância, preconceito, nem inimizade podem abolir a doutrina em si mesma ou diminuir suas importâncias vitais.

Ao terminar estas considerações introdutórias, permita-me assinalar que esta bendita doutrina deve ser manuseada reverentemente. Este não é um assunto para ser justificado ou especulado, mas aproximado em um espírito de santo temor e devoção. Ele deve ser manuseado sobriamente: “Quando estiver em discussão, engajado em uma justa disputa para vindicar a verdade de Deus das heresias e distorções, investigue o teu coração, coloque um vigia nos seus lábios, acautele-se do fogo selvagem em teu zelo” (E. Reynolds, 1648). Todavia, esta verdade é para ser tratada com firmeza, e clareza, independente do temor ou favor de homem, confiantemente deixando todos “resultados” na mão de Deus. Possa nos ser graciosamente concedido escrever de uma maneira que agrade a Deus, e a você o receber o que quer que seja dEle.

SUA FONTE

Acuradamente falando, eleição é um ramo da predestinação, o último sendo um termo mais abrangente do que o primeiro. Predestinação se relaciona com todas as criaturas, coisas e eventos; mas eleição é restrita aos seres racionais - anjos e humanos. Como a palavra predestinar significa, Deus desde toda a eternidade soberanamente ordenou e imutavelmente determinou a história e destino de cada uma e todas Suas criaturas. Porém, neste estudo nos confinaremos à predestinação como esta se relaciona ou concerne às criaturas racionais. E aqui também mais uma distinção deve ser observada. Não pode haver uma eleição sem uma rejeição, um tomar sem um passar por, uma escolha sem uma recusa. Como o Salmos 78 expressa-o: “Ele recusou o tabernáculo de José, e não elegeu a tribo de Efraim. Antes elegeu a tribo de Judá” (versos 67,68). Dessa forma, a predestinação inclui tanto a reprovação (a preterição ou o passar pelos não-eleitos, e então a pré-ordenação deles para a condenação - Judas 4 - por causa dos seus pecados) como a eleição para a vida eterna; sobre o primeiro não discutiremos agora.

A doutrina da eleição significa, então, que Deus selecionou alguns em Sua mente tanto dentre os anjos (1 Timóteo 6:21) como dentre os homens, e ordenou-lhes para a bem-aventurança e para a vida eterna; que antes dEle lhes criar, Ele decidiu o destino delas, como um construtor desenha seus planos e determina cada parte da construção antes de qualquer um dos materiais serem reunidos para levarem a cabo a execução de seu desígnio. Eleição pode ser definida dessa forma: ela é aquela parte do conselho de Deus através do qual Ele desde toda a eternidade Se propôs a revelar Sua graça sobre algumas de Suas criaturas. Esta foi feita eficaz por um decreto definido concernente a ela. Ora, em cada decreto de Deus três coisas devem ser consideradas: o princípio, o assunto ou conteúdo, o fim ou desígnio. Ofereçamos pois unas poucas considerações sobre cada uma delas.

O princípio do decreto é a vontade de Deus. Ele origina-se somente em Sua própria soberana determinação. Determinando o estado de Suas criaturas, a própria vontade de Deus é a única e absoluta causa do Seu decreto. Assim como não há nada acima de Deus para governá-LO, assim não há nada fora dEle próprio que possa ser em qualquer sentido uma causa impulsiva para Ele; dizer de outra forma é fazer da vontade de Deus uma vontade inexistente. Nisto Ele é infinitamente exaltado acima de nós, porque não somente somos sujeitos Àquele que é sobre nós, mas nossas vontades estão sendo constantemente movidas e dispostas por causas externas. A vontade de Deus não tem nenhuma causa fora de Si mesmo, ou de outra forma deveria haver algo anterior a Si mesmo (porque a causa sempre precede o efeito) e algo mais excelente (porque a causa é sempre superior ao efeito), e portanto Deus não seria o Ser independente que Ele é.

O assunto ou conteúdo de um divino decreto é o propósito de Deus para manifestar um ou mais de Seus atributos e perfeições. Isto é verdade de todos os divinos decretos, mas assim como há variedade nos atributos de Deus assim também há nas coisas que Ele decretou trazer à existência. Os dois principais atributos que Ele exerce sobre as criaturas racionais são Sua graça e Sua justiça. No caso do eleito, Deus determinou demonstrar as riquezas de Sua maravilhosa graça, mas no caso do não-eleito Ele achou certo demonstrar Sua justiça e severidade - retendo Sua graça deles porque foi do beneplácito de Sua vontade assim fazer. Todavia, não deve ser permitido por um momento que este último seja um sinal de crueldade em Deus, porque Sua natureza não é somente graça, nem somente justiça, mas ambas juntas, e portanto ao determinar exibir ambas delas não pode ser um sinal de injustiça.

O fim ou desígnio de cada divino atributo é a própria glória de Deus, porque nada menos do que isso pode ser digno dEle. Assim como Deus jura por Si mesmo porque Ele não pode jurar por nada maior, assim porque um grande e majestoso fim não pôde ser proposto do que Sua própria glória, Deus determinou o supremo fim de todos Seus decretos e obras - “O Senhor fez tudo para Si mesmo” (Provérbios 16:4 - versão do autor) - para Sua própria glória. Assim, como todas coisas são dEle como causa primária portanto, todas coisas são para Ele (Romanos 11:36) como fim supremo. O bem de Suas criaturas é apenas o fim secundário; Sua própria glória é o fim supremo, e tudo além é subordinado a isto. No caso do eleito é a graça de Deus que será magnificada; no caso do réprobo Sua pura justiça será glorificada. O que se seguirá neste capítulo será largamente uma ampliação destes três pontos.

A origem da eleição, então, é a vontade de Deus. Quase não é necessário assinalar que por “Deus” queremos dizer, Pai, Filho, e Espírito Santo. Embora haja três pessoas na Divindade, há apenas uma natureza indivisível e comum à todos Eles, e portanto apenas uma vontade. Eles são um, e Eles estão em um acordo: “Mas se Ele resolveu alguma coisa, quem então o desviará?” (Jó 23:13). Permita-nos assinalar que a vontade de Deus não é uma coisa aparte de Deus, nem é para ser considerada como sendo uma parte de Deus: a vontade de Deus é o próprio Deus querendo: ela é, se podemos assim falar, Sua própria natureza em atividade, porque Sua vontade é Sua própria essência. Nem é a vontade de Deus sujeita a qualquer vacilação ou mudança: quando afirmamos que a vontade de Deus é imutável, estamos somente dizendo que o próprio Deus é “sem mudança ou sombra de variação” (Tiago 1:17). Portanto, a vontade de Deus é eterna, visto que o próprio Deus não tem princípio, e visto que Sua vontade é Sua própria natureza, então Sua natureza deve ser desde a eternidade.

Para prosseguir um passo mais adiante. A vontade de Deus é absolutamente livre, não influenciada e não controlada por nada fora dela mesma. Isto se demonstra desde a criação do mundo - bem como de tudo nele. O mundo não é eterno, mas foi feito por Deus, todavia se deveria ou não ser criado, foi determinado por Ele somente. O tempo quando ele foi feito - se mais cedo ou mais tarde; o tamanho dele - se pequeno ou grande; a duração dele - se para uma estação ou para sempre; a condição dele - se deveria permanecer “muito bom” ou ser poluído pelo pecado; foi tudo resolvido pelo soberano decreto do Altíssimo. Tivesse Ele se agradado, Deus poderia ter trazido este mundo a existência há milhões de anos antes. Tivesse Ele se agradado, Ele poderia ter feito isto e todas as coisas num momento de tempo, em vez de seis dias e seis noites. Tivesse Ele se agradado, Ele poderia ter limitado a família humana a unas poucas centenas ou milhares, ou tê-la feita milhares de vezes maior do que ela é. Nenhuma razão pode ser designada porque Deus criou o mundo, quando e como do que Sua própria vontade imperativa.

A vontade de Deus foi absolutamente livre em relação à eleição. Ao escolher um povo para a vida eterna, não havia nada fora dEle mesmo que moveu Deus para formar tal propósito. Como Ele expressamente declara: “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (Romanos 9:15) - linguagem que não pode declarar mais definitivamente a absoluta soberania divina neste assunto. “Tendo nos predestinado para a adoção de filhos por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” (Efésios 1:5): aqui tudo novamente é resolvido no mero prazer de Deus. Ele concede Seus favores ou retém-os como Lhe agradar. Nem Ele precisa de qualquer vindicação nossa de Seu procedimento. O Altíssimo não é para ser trazido para o tribunal da razão humana: em vez de procurar justificar a alta soberania de Deus, nos é requerido somente crer nela, na autoridade de Sua própria Palavra. “Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Mateus 11:25,26) - o Senhor Jesus estava contente em descansar na soberania de Deus, e assim devemos estar.

Alguns dos mais hábeis expositores desta profunda verdade têm afirmado que o amor de Deus é a causa movedora de nossa eleição, citando: “Em amor nos predestinou” (Efésios 1:5); todavia ao fazer assim, pensamos que seremos acusados de uma leve imperfeição ou desvio da nossa regra de fé. Embora completamente concordando que as duas últimas palavras de Efésios 1:4 (como estão na Versão Autorizada) pertence propriamente ao início do versículo 5, todavia deve ser cuidadosamente notado que o verso 5 não está falando de nossa eleição original, mas de nosso ser predestinados para a adoção de filhos: as duas coisas são totalmente distintas, atos separados da parte de Deus, o segundo seguindo o primeiro. Há uma ordem nos divinos conselhos, como há nas obras da criação de Deus, e é tão importante prestar atenção no que é dito sobre o primeiro como se preocupar com o divino procedimento nos seis dias de trabalho de Gênesis 1.

Um objeto deve existir ou subsistir antes dele poder ser amado. A eleição foi o primeiro ato na mente de Deus, segundo o qual Ele escolheu as pessoas dos eleitos para serem santos e irrepreensíveis (v. 4). A predestinação foi o segundo ato de Deus, segundo o qual Ele ratificou pelo decreto o estado daqueles a quem Sua eleição foi dada uma real permanência diante dEle. Tendo escolhido-os em Seu amado Filho para a perfeição da santidade e justiça, o amor de Deus foi adiante deles, e concedeu-lhes a mais alta e preciosa benção que Seu amor jamais poderia oferecer: fazer deles Seus filhos pela adoção. Deus é amor, e todo Seu amor é exercido sobre Cristo e sobre aqueles que estão nEle. Tendo feito dos eleitos Sua propriedade pela soberana escolha de Sua vontade, o coração de Deus foi então colocado sobre eles como sendo Seu tesouro especial.

Outros têm atribuído nossa eleição à graça de Deus, citando “Há um remanescente segundo a eleição da graça” (Romanos 11:5). Mas aqui novamente devemos distinguir entre coisas que diferem, a saber, entre o início de um divino decreto e seu assunto ou conteúdo. É verdade, uma bendita verdade, que os eleitos são os objetos sobre os quais a graça de Deus é especialmente exercida, mas é outra coisa totalmente diferente dizer que sua eleição se originou na graça de Deus. A ordem sobre a qual estamos insistindo é claramente expressa em Efésios 1. Primeiro, “ Ele [Deus] nos elegeu nele [Cristo] antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis [justos] diante dele” (v. 4): que foi o ato inicial na divina mente. Segundo, “em amor, tendo nos predestinado para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo” e isto “segundo o beneplácito de sua vontade” (v. 5) : que foi o enriquecimento daqueles sobre quem Ele havia colocado Seu coração. Terceiro, “para o louvor da glória da sua graça, pela qual nos fez aceitos no Amado” (v. 6): que tanto o assunto como o propósito do decreto de Deus - a manifestação e magnificação de Sua graça.

“A eleição da graça” (Romanos 11:5), então, não é para ser entendida como o genitivo de origem, mas de objeto ou caráter, como em “a Rosa de Sarom”, “a árvore da vida”, “os filhos da obediência”. A eleição da igreja, bem como de todos Seus atos e obras, devem ser seguidas retroativamente até a incontrolada e incontrolável vontade de Deus. Em nenhuma outra parte nas Escrituras é a ordem dos divinos conselhos tão definitivamente revelada como em Efésios 1, e em nenhuma outra parte a ênfase é colocada tão fortemente sobre a vontade de Deus. Ele nos predestinou para a adoção de filhos “segundo o beneplácito de sua vontade ” (v. 5). Ele nos fez conhecido “o mistério de sua vontade” (não “graça”) e que “segundo o beneplácito de sua vontade , que propusera em si mesmo” (v. 9). E então, como se não estivesse suficientemente explícito, o parágrafo termina com “havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade, com o fim de sermos para o louvor da sua glória” (vv. 11,12).

Permaneçamos por mais um momento em cima dessa extraordinária expressão: “que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade, com o fim de sermos para o louvor da sua glória ” (v. 11). Note bem, não é “o conselho de seu coração”, nem mesmo “o conselho de sua mente”, mas VONTADE: não “a vontade de seu conselho”, mas “ o conselho de sua vontade”. Nisto Deus difere radicalmente de nós. Nossas vontades são influenciadas pelos pensamentos de nossas mentes e movidas pelas afeições de nossos corações; mas não é assim com Deus. “Segundo a sua vontade Ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra” (Daniel 4:35). A vontade de Deus é suprema, determinando o exercício de Suas perfeições. Ele é infinito em sabedoria, todavia Sua vontade regula as operações dela. Ele é cheio de misericórdia, mas Sua vontade determina quando e a quem Ele a mostrará. Ele é inflexivelmente justo, todavia Sua vontade decide se ou não a justiça será exercida: observe cuidadosamente, não é “Que não pode de maneira alguma ter por inocente o culpado” mas “Que não quer de maneira alguma ter por inocente o culpado” (Êxodo 34:7). Deus primeiramente quer ou determina que uma coisa aconteça, e então Sua sabedoria planeja a execução dela.

Assinalemos agora tudo o que tem sido refutado. De tudo que tem sido dito acima é claro, em primeiro lugar, que nossas boas obras não foram o que induziu Deus a nos eleger, porque este ato aconteceu na divina mente na eternidade - muito antes de qualquer criatura existir realmente. Veja como este mesmo ponto [a salvação pelas obras] é posto de lado em, “pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama” (Romanos 9:11). Novamente lemos: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas”. Então, visto que fomos eleitos antes de nossa criação, nossas boas obras não podem ser a causa movedora dela: não, elas são os frutos e efeitos dela.

Segundo, a santidade dos homens, seja em princípio ou prática, ou ambos, não é a causa movedora da eleição, porque como Efésios 1:4 tão claramente declara “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” - não porque éramos santos, mas para que pudéssemos ser. O “para sermos santos” era algo futuro, que seguiria a salvação, e é o meio para um fim mais adiante, a saber, nossa salvação, para a qual alguns homens são escolhidos. “Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do Espírito” (2 Tessalonicenses 2:13). Então, visto que a santificação do povo de Deus era o desígnio de Sua eleição, ela não poderia ser a causa da eleição. “Esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação” (1 Tessalonicenses 4:3): não meramente a vontade aprovadora de Deus, como sendo agradável à Sua natureza; não meramente a vontade preceptiva de Deus, como requerida pela Lei; mas Sua vontade decretiva, Seu conselho determinado.

Terceiro, nem é a fé a causa de nossa eleição. Como poderia ser? Durante o seu estado de não-regeneração todos os homens estão em um estado de incredulidade, vivendo neste mundo sem Deus e sem esperança. E quando tivemos fé, ela não de nós mesmos - seja pela nossa bondade, poder ou vontade. Não; ela é um dom de Deus (Efésios 2:9), e uma operação do Espírito (Colossenses 2:12), vinda de Sua graça. “E creram todos quantos haviam sido ordenados para a vida eterna” (Atos 13:48), e não “todos quantos creram, foram ordenados para a vida eterna”. Portanto, visto que a fé flui da divina graça, ela não pode ser a causa de nossa eleição. A razão pela qual outros homens não crêem, é porque eles não são das ovelhas de Cristo (João 10:26); a razão pela qual alguns crêem é porque Deus lhes deu fé, e conseqüentemente ela é chamada “a fé dos eleitos de Deus” (Tito 1:1).

Quarto, não foi a pré-visão de Deus destas coisas no homem que O moveu para escolhe-los. A presciência de Deus do futuro é fundado na determinação de Sua vontade concernente a este mesmo futuro. O divino decreto, a divina presciência e a divina predestinação é a ordem apresentada nas Escrituras. Primeiro, “que são chamados segundo o seu propósito”; segundo, “porque os que dantes conheceu”; terceiro, “também os predestinou” (Romanos 8:28,29). O decreto de Deus como precedente a Sua presciência é também declarado em, “a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus” (Atos 2:23). Deus pré-conheceu tudo que seria, porque Ele ordenou tudo que deveria ser; portanto, é colocar o carro antes do cavalo quando fazemos da presciência a causa da eleição de Deus.

Para concluir, permita-nos dizer que o fim de Deus em Seu decreto de eleição é a manifestação de Sua própria glória, mas antes de entrar em detalhe sobre este ponto, queremos citar várias passagens que declaram o próprio fato amplamente. “Sabei que o Senhor separou para si aquele que é piedoso” (Salmos 4:3). “Separou ” aqui significa escolher ou arrancar do resto; “aquele que é piedoso” refere-se ao próprio Davi (Salmos 89:19,20); “para si”, e não meramente para o trono ou reino de Israel. “Porque o Senhor escolheu para si a Jacó, e a Israel para seu tesouro peculiar” (Salmos 135:4). “Para dar de beber ao meu povo, ao meu escolhido, esse povo que formei para mim, para que publicasse o meu louvor” (Isaías 43:20,21), que é paralelo à Efésios 1:5,6. Da mesma forma no Novo Testamento: quando agradou a Cristo dar à Ananias uma explicação da conversão de Seu amado Paulo, Ele disse, “este é para mim um vaso escolhido” (Atos 9:15). Novamente, “reservei para mim sete mil varões que não dobraram os joelhos diante de Baal” (Romanos 11:4 ASV), que é explicado no próximo versículo como “um remanescente segundo a eleição da graça”.

Fonte: Monergismo

Heresiologia

O Sonho "Diabólico" de Ellen G. White

Robson Ramos

Ela “conversou” com “Tiago White” depois de morto e repetiu o erro do rei Saul, ouvindo conselhos do inimigo de Deus como se fossem uma mensagem inspirada, vinda através de um defunto. Como não há registro de que tenha se arrependido por isso, não é de se estranhar que para a reunião de 1888 da Conferência Geral, Deus já houvesse escolhido novos mensageiros.


Numa carta enviada a seu filho W. C. White em 12 de setembro de 1881 e arquivada pelo White Estate, Ellen G. White afirma que estivera clamando ao Senhor por alguns dias em busca de luz com respeito a seu dever, logo após a morte de seu marido. Certa noite teve um sonho espiritualista, cuja origem ela atribuiu a Deus e acreditou que houvesse ocorrido em resposta às suas orações!
Sonhou que estava dirigindo uma carruagem, quando o seu marido, Tiago White, que falecera em 6 de agosto, apareceu-lhe e assentou-se a seu lado. Em lugar de repreender e expulsar de sua mente em nome de Jesus aquele mensageiro do Mal, a irmã White tragicamente saudou-o com alegria, dizendo que estava feliz por tê-lo de seu lado mais uma vez, embora soubesse que não poderia tratar-se de seu marido.
Que coisa terrível, irmão! Na carta ao filho, ela confessa que teria dito: “Papai”, — era assim que tratava seu esposo — “teria o Senhor me ouvido e deixado que voltasse para junto de mim para que continuemos nosso trabalho juntos?”  Então, aquela assombração diabólica teria olhado muito triste para ela e dito que “Deus sabia o que era melhor para os dois”! Em seguida, pôs-se a aconselhá-la, como fez com o rei Saul, quando este consultou a médium de En-Dor.
O Diabo disfarçado de Tiago White disse a nossa pobre irmã que ela e o marido não deveriam ter se doado tanto à causa de Deus, que eles haviam se desgastado fisicamente a troco de nada, que os esforços deles não eram reconhecidos, que suas motivações eram sempre mal interpretadas, que ambos deveriam ter deixado outros fazerem o trabalho…
E então, sugere que ela a partir dali não deveria mais se envolver com tantas reuniões importantes, como fizera no passado, que recusasse os convites para pregações e que descansasse livre de cuidados e preocupações. Que quando tivesse vontade e forças, escrevesse, porque poderia fazer muito mais pela pena do que pela voz.
Em seguida, conforme o relato da própria irmã White, olhou para ela de um jeito especial, carinhoso, como Tiago White fazia enquanto vivia, e perguntou: “Você vai fazer o que estou lhe pedindo, Ellen? Não irá negligenciar todos esses cuidados? Deus sabe de tudo, mas esse pessoal da igreja nunca irá reconhecer nossos sacrifícios. Lamento ter-me envolvido tanto, com prejuízo para a nossa saúde… Deus não queria que fizéssemos tudo que fizemos sozinhos. Devíamos ter ido para a Costa do Pacífico e ter ficado apenas escrevendo. Temos tanta coisa importante para dizer… Você vai fazer o que estou lhe dizendo, Ellen?”.
A Sra. White caiu em si e percebeu que era Satanás quem falava com ela? Não. Pelo contrário, a mensageira do Senhor deixou-se enganar por seus sentimentos de desamparo e saudade por causa da viuvez (provavelmente) e acabou por fazer um pacto com aquele que a enganava, apresentando-se como seu marido morto! “Bem, Tiago, agora você vai estar sempre comigo e trabalharemos juntos de novo…”.
Era o que o diabo queria ouvir! “Sabe, Ellen, eu permaneci muito tempo aqui em Battle Creek. Deveria ter ido lá para a Califórnia, mas eu quis ajudar no trabalho e nas instituições aqui de Battle Creek. Cometi um erro… E você, Ellen, você tem o coração macio e será inclinada a repetir os mesmos erros que eu fiz. Não faça isso! Sua vida deve ser usada na causa de Deus…”.
A irmã White acordou, disse que o sonho lhe parecera muito real e que, por causa dele, não sentia obrigação alguma de ir até Battle Creek. Acreditou que esse sonho, nitidamente diabólico, fosse uma mensagem divina em resposta às suas orações e entendeu-o como uma proibição de participar da reunião da Conferência Geral.
Ouviu a voz de Satanás e pensou que fosse a de Deus, embora as Escrituras afirmem:
“O homem ou mulher que sejam necromantes, ou seja, feiticeiros serão mortos; serão apedrejados; o seu sangue cairá sobre eles.” Levítico 20:27.
“Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR, teu Deus, os lança de diante de ti. Perfeito serás para com o SENHOR, teu Deus.“ Deuteronômio 18:10-13.
“Para aquele que está entre os vivos há esperança; porque mais vale um cão vivo do que um leão morto. Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento. Amor, ódio e inveja para eles já pereceram; para sempre não têm eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.” Eclesiastes 9:4-6.
“Quando vos disserem: Consultai os necromantes e os adivinhos, que chilreiam e murmuram, acaso, não consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos? À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva.” — Isaías 8:19,20.
Se aquela a quem chamamos “Mensageira do Senhor” foi incapaz de resistir nessa ocasião a uma aparição satânica, o que dizer de nós, que negligenciamos o estudo da Bíblia e não buscamos contínua comunhão com o Céu, através da oração?! Quem acompanha criticamente a programação da tevê, percebe que, especialmente através das novelas da Rede Globo, nós e nossos filhos estamos sendo predispostos mentalmente a conviver com aparições de mortos-vivos num futuro muito próximo.
Essa grave falha da Sra. White, ao atribuir a Deus, mesmo depois de acordada, um sonho de evidente natureza satânica, em lugar de desacreditá-la como porta-voz de mensagens celestiais para o povo de Deus em diferentes ocasiões, pode ajudar-nos também a compreender um pouco melhor a natureza da inspiração divina dos profetas:
  1. O profeta não é uma espécie de fax, com conexão exclusiva e contínua a Deus, para receber unicamente Suas mensagens, o tempo todo. O profeta também emite mensagens contendo suas próprias opiniões e que, como nesse caso, podem até incluir heresias. Por isso, toda mensagem supostamente de origem divina deve ser provada pela Bíblia.
  2. O profeta não é infalível. Está sujeito às tentações de Satanás e pode eventualmente cometer erros, mas isso não invalida seu ministério. O apóstolo Pedro chegou a ser chamado de Satanás por Nosso Senhor Jesus Cristo, mas nem por isso deixamos de ler os conselhos inspirados de suas epístolas. 
  3. Não existem profetas 24 horas! A inspiração profética é momentânea, ocorrendo durante períodos escolhidos soberanamente por Deus, quando este necessita repassar uma mensagem específica ao povo. Nas horas restantes do dia, o profeta permanece apenas como um ser humano normal, sujeito a seus próprios pensamentos.
  4. O Diabo tenta interferir na transmissão de mensagens divinas para o profeta. Quando não consegue bloquear o contato, afastando profeta de Deus, pode tentar confundir o mensageiro com sonhos e visões mentirosas. 
Retornando ao caso específico do sonho diabólico de Ellen G. White, o episódio serve como reforço às mensagens inspiradas que ela própria transmitira, quanto às futuras simulações demoníacas de nossos entes queridos:
“Os santos precisam alcançar completa compreensão da verdade presente, a qual serão obrigados a sustentar pelas Escrituras. Precisam compreender o estado dos mortos; pois os espíritos de demônios lhes aparecerão, pretendendo ser amigos e parentes amados, os quais lhes declararão que o sábado foi mudado, bem como outras doutrinas não escriturísticas”. Primeiros Escritos, pág. 87.
“Os apóstolos, conforme personificam esses espíritos de mentira, são apresentados contradizendo o que escreveram, sob a inspiração do Espírito Santo, quando estavam na Terra. Negam a origem divina da Escritura Sagrada”. O Grande Conflito, pág. 557.
“Mediante os dois grandes erros – a imortalidade da alma e a santidade do domingo – Satanás há de enredar o povo em suas malhas. Enquanto o primeiro lança o fundamento do espiritismo, o último cria um laço de simpatia com Roma. O Grande Conflito, pág. 588.”
“Não é difícil para os anjos maus representar tanto os santos como os pecadores que morreram, e tornar essas representações visíveis aos olhos humanos. Essas manifestações serão mais freqüentes e aparecerão desenvolvimentos de caráter mais sensacional à medida que nos aproximarmos do fim do tempo”. Evangelismo, pág. 604.
“É o mais fascinante e bem-sucedido engano de Satanás – com a intenção de atrair as simpatias daqueles que depositaram seus entes queridos na sepultura. Anjos maus vêm na forma desses entes queridos, relatam incidentes relacionados com sua vida e efetuam atos que eles realizaram enquanto viviam. Desse modo, levam as pessoas a crer que seus amigos falecidos são anjos que pairam sobre essas pessoas e se comunicam com elas. Esses anjos maus, que aparentam ser os amigos falecidos, são encarados com certa idolatria e, para muitos, suas palavras têm mais valor do que a Palavra de Deus. The Signs of the Times, 26 de agosto de 1889.
Ele [Satanás] tem poder para fazer surgir perante os homens a aparência de seus amigos falecidos. A contrafação é perfeita; a expressão familiar, as palavras, o tom da voz, são reproduzidos com maravilhosa exatidão. (…) Muitos serão defrontados por espíritos de demônios personificando parentes ou amigos queridos, e declarando as mais perigosas heresias. Estes visitantes apelarão para os nossos mais ternos sentimentos de simpatia, efetuando prodígios para apoiarem suas pretensões. O Grande Conflito, págs. 552 e 560.

Satanás Personifica a Cristo

“O inimigo está-se preparando para enganar o mundo inteiro por seu poder operador de milagres. Ele pretenderá personificar os anjos de luz, personificar a Jesus Cristo”. Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 96.
“Se os homens são tão facilmente transviados agora, como subsistirão eles quando Satanás personificar a Cristo, e operar milagres? Quem ficará inabalado então por suas deturpações – professar ser Cristo quando é apenas Satanás assumindo a pessoa de Cristo, e operando aparentemente as obras do próprio Cristo?” Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 394. — Eventos Finais, págs. 156-157, 161-162 (versão digital).
 
Fonte:
albabloechliger.wordpress.com

Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org

 Parabéns ao Blog 5 Calvinistas, não estava escrevendo por está com problemas com a net.

Um ano celebrando a soberania de Deus 

Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! (Romanos 11:33-36)
Enquanto estudava no Seminário Presbiteriano de Brasília, o Rev. Marcos Alexandre, atual reitor do SPB, dizia aos seus alunos que o texto mais difícil da Bíblia era os capítulos 9, 10 e 11 do livro de Romanos. De fato, nestes capítulos o apóstolo Paulo trata de temas tão profundos, que ele simplesmente fecha o capítulo louvando a Deus e apontando a profundidade de Sua sabedoria e conhecimento.

E qual o assunto que desperta tanto louvor e que fala tanto da profundidade do conhecimento divino? Engana-se quem pensa que é a predestinação. Na verdade, Romanos 9 a 11 trata do tema que domina toda a Bíblia e deve dominar a vida de todos os cristãos: a soberania de Deus.

O Deus Soberano controla tudo o que acontece. A Ele pertencem todas as coisas (dele), Ele controla todas as situações (por meio dele) e faz com que tudo se encaminhe para o fim definido por Ele (para ele). O decreto da predestinação, o destino de Israel, o fim do mundo, a pregação do Evangelho...tudo isso são apenas manifestações do exercício deste poder divino.

Ótimo livro sobre a soberania de Deus, escrito pelo batista A W Pink
Porque Deus é Soberano, o objetivo central do mundo e da História não é a felicidade dos seres humanos, mas sim a glória do Senhor. É também por este motivo que reconhecemos que Ele tem o poder de definir o que é certo e errado, por meio de sua Lei. Mais do que isso, a salvação pela graça, por meio da fé, como fruto da pregação do Evangelho...tudo isso se sustenta única e exclusivamente na escolha divina de que este é o método justo e apropriado para a salvação da humanidade. E não paramos aí: porque o Senhor é o Rei Supremo, Ele tem o direito e a capacidade de governar cada ato da História, desde a crucificação de seu Filho até a roupa que você escolheu para vestir hoje.

Hoje confunde-se calvinismo com predestinismo. Mas a verdade é que ser calvinista (ou reformado) é muito mais do que acreditar nos cinco pontos. A doutrina reformada mais importante é a da soberania de Deus sobre todas as coisas. Esta é a base não só dos cinco pontos, mas de toda a prática dos que se identificam com os ensinos de João Calvino.

João Calvino: ele ensinou muito mais que predestinação.
O 5 Calvinistas nasceu há um ano, no dia em que se comemora a Reforma Protestante: 31 de outubro. Nestes 12 meses, foram 136 posts que buscaram, de uma forma ou de outra, falar sobre a soberania de Deus. Uma soberania que não é apenas teológica...por isso também falamos aqui sobre política, lógica, ética e até damos umas pitacadas sobre economia e cultura. Para este segundo ano, esperamos escrever mais...e sobre mais assuntos. Afinal, como calvinistas, entendemos que Deus deve reinar sobre todas as esferas da vida humana. Inclusive sobre aquelas onde o mundo acha que os cristãos deveriam ficar calados.

O nosso objetivo? Continua o mesmo. Fazer com que Deus, e somente Ele, seja glorificado cada vez mais.

SOLI DEO GLORIA!

Parabéns reformados!

493

Parabéns! 

O dia 31 de Outubro não foi apenas aniversário do 5Calvinistas e do iPródigo. Não foi simplesmente o dia das eleições para presidente do Brasil. Nem foi exclusivamente o dia do halloween. Para alguns, mais significativo do qualquer dos itens acima mencionados, foi o fato de se comemorar 493 anos de Reforma Protestante.
Provavelmente você já conhece a história. Uma igreja perdida. Um monge corajoso o suficiente, e pronto: tem-se a receita da Reforma. Correto?
Não.
Embora muitos tentem passar essa idéia, ou deixem isso transparecer no modo de contar a história, a base da Reforma não estava na coragem de Lutero. Ninguém nega que ele era, de fato, corajoso. O cara parecia um trator, abrindo espaços para a causa dos princípios bíblicos. Mas ele também tinha os seus momentos de dúvida e fraqueza, como na Dieta de Worms (1521).
R. C. Sproul relata este evento em seu livro "A santidade de Deus". Lá estava Lutero, diante dos chefões da hierarquia eclesiástica. Ao lado, os seus livros e tratados. Alguém lhe pergunta: "você se retrata dos seus escritos?". Aqui acontece a grande confusão. A maioria das pessoas espera e acredita que Lutero tenha, sem muita reflexão, respondido ousadamente que estava cativo da Palavra de Deus e pronto. Não foi bem assim.
Lutero tremeu e temeu. Pediu um prazo para pensar melhor sobre o assunto. Foi-lhe dado um dia a mais para refletir, e ele virou a noite em oração, suplicando por graça e coragem Divina.
O muro da Reforma, em Genebra
Apenas no dia seguinte, perguntado o mesmo ponto, o reformador conseguiu responder com força a famosa frase que conhecemos.
A história não é feita do heroísmo dos nossos ícones, mas da graça soberana de Deus. A mão invisível conduziu Lutero e companhia, dando força, graça e sabedoria para a obra da Reforma.

O Perigo da idolatria
Por que pensar sobre isso? Existem alguns pontos a considerarmos. O primeiro deles é que uma biografia segundo a Escritura ressalta os pontos fracos e fortes da personagem em evidência. A biografia de Davi demonstra o homem segundo o coração de Deus - vitorioso, guerreiro, exemplar, temente a Deus -, mas também mostra o adúltero, assassino, e incrédulo.
Ao falar de Pedro, a Escritura apresenta o ousado e fiel seguidor, mas também demonstra o traidor envergonhado.
Uma biografia adequada dos reformadores precisa encarar seus pontos fortes e pontos fracos.
Em segundo lugar, tal descrição ajusta a nossa interpretação da história. Todos somos intérpretes. Se não considerarmos as fraquezas e falhas de caráter dos nossos irmãos reformadores, corremos o risco de observarmos uma história bem distante da real. Esse fenômeno não é raro entre os reformados. Muitos gostariam realmente de viver no século XVI. Eles olham para o período da Reforma como "a era dourada". Sonham em usar aquelas vestes, em falar aquele linguajar, em estar naquelas igrejas. Mas o seu desejo está baseado em uma visão fantasiosa da história. Provavelmente eles não consideram com seriedade as falhas dos reformadores, bem como as dificuldades das igrejas e do contexto da época. Não havia igreja perfeita no período da Reforma. Provavelmente, os mesmos pecados que encontramos em nosso contexto, existiam por lá. Vejam, por exemplo, a situação que levou à demissão de Calvino. Sua pregação e excessiva rigidez moral começou a suscitar a famosa "fofoca". Pessoas falando mal do pastor, até o ponto de o Conselho da cidade tomar conhecimento.
Ou, para citar outro exemplo, a existência de cristãos nominais, que nada tinham de vida com Deus. Isso fica claro na situação em que Calvino precisa lutar para que os libertinos não tomem da ceia.
Entre os reformadores houve discussão e discórdia em pontos como a ceia do Senhor. Eles eram humanos como nós, e tiveram lutas e problemas como a impaciência, o desânimo, a ira, e o temor de homens. Fantasiar o passado apenas cria uma geração de reformados desconectados da realidade atual. Gente que sonha com uma época perfeita no passado, que na realidade nunca existiu.
A questão mais fundamental, contudo, não é o modo adequado de fazer biografia, ou de interpretar a história. O ponto crucial pelo qual devemos falar sobre as fraquezas dos reformadores é para nos livrar da idolatria. Alguns descreveriam a história da Reforma exatamente como eu caricaturei acima - tendo Lutero e/ou qualquer outro reformador como figura em evidência. Há quem fale tão apaixonadamente sobre os reformadores e as igrejas reformadas, que deixe  Deus de lado. O risco maior é o de termos os reformadores como o centro da história, deixando Deus em segundo plano. A Reforma não é sobre a coragem de Lutero, a sabedoria de Calvino, ou a paixão de John Knox. Ela é fundamentalmente sobre O Pai e Seu amor pela Igreja. Sobre Jesus e Sua obra redentora. Sobre o Espírito Santo e Sua vivificação.


Um convite ao auto-exame
Enquanto ainda estamos nos dias próximos que seguem o aniversário da Reforma, cabe a avaliação do coração: até que ponto estamos mais comprometidos com a Reforma do que com a causa da Reforma?
Em que medida temos priorizado as personagens humanas em detrimento do agente principal: Deus?
Como a nossa idolatria tem se refletido no nosso modo de falar, ser igreja, ensinar, e interagir com a cultura?
Olharmos para o Deus da Reforma pode suscitar em nós esperança e coragem, para abandonarmos as fantasias do passado e trabalharmos no presente, para a glória de Deus.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Planejamento Anual Para 2011

Graça e paz!
A Igreja Presbiteriana do Brasil em Monteiro estará realizando o primeiro planejamento anual para o ano seguinte da sua história. O evento contará com a participação do Rev. Altino Júnior dos Presbíteros Veronilton Paz (Vice Presidente do Conselho), Genival Andrade (Secretário do Conselho), Antonio Mauricio, dos Diáconos José Itelmo Nunes (Presidente da Junta diaconal), Vicente Sousa, Eneas Junior, Jorge Erison, Edmilson Vasconcelos, Gladistone Feitosa, e ainda com todos os líderes de ministérios e diretorias eleitas das Sociedades Internas (SAF, UMP e UPH). Será um dia de muitas bençãos.
Local: Templo Local (Rua Prefeito Inácio José Feitosa, 339)
Horário: 8:00h.
Breve disporemos neste espaço o nome das pessoas eleitas para as citadas diretorias.

Reflexões Sobre Educação, Ética e Cidadania a Partir do Pensamento Reformado

Osvaldo Henrique Hack Antônio
Máspoli de Araújo Gomes

Resumo: Existe uma profunda relação entre religião e ética, religião e educação, religião, educação e ética. A religião, através dos seus valores, fornece o substrato para o desenvolvimento da ética de um povo. A religião pode ainda estar na base da cosmovisão educacional de um grupo e finalmente, a educa­ção procura ser o instrumento de construção das atitudes éticas e morais de uma nação através do processo ensino-aprendizagem e da relação ensinante-aprendente. Partindo destes pressupostos, este trabalho busca compreender na história da educação reformada os princípios norteadores de uma educação, capaz de dar sustentação a formação integral do homem para a realização total do seu desenvolvimento como pessoa e cidadão que vive em comunidade em busca do bem comum.
Palavras-chave: Religião, Ética, Educação, Cidadania, Reforma Protestante, Ética Protestante e Filosofia Reformada.

A influência da Reforma do século XVI sobre a educa­ção é inegável. Este movimento religioso será um dos fatores importantes na ascensão de uma cultura escrita em função de algumas variáveis importantes. A Reforma vai definir a religião a partir de uma relação íntima e pessoal com Deus e esta comunhão com o sagrado se dará através do contato do cristão com os tex­tos da Bíblia elevada pela reforma protestante à catego­ria de revelação especial, a palavra de Deus (Anderson e Chanter, 1953). Lutero mesmo empenhou a sua vida na tradução da Bíblia para a língua alemã, a fim de colocar a Bíblia nas mãos do povo. Pouco ou nada adiantava colocar a Bíblia nas mãos de um povo analfabeto, mesmo com a vulgarização dos textos escritos pela invenção da imprensa (Brentano, 1968; Lessa, s.d).
Lutero, em sua obra A los magistrados de todas Ias ciudades alemanas, para que construyam y mantengam escuelas cristianas, datada de 1523, apresentava sua filosofia educacional na qual propu­nha que a educação deveria ter dois grandes objeti­vos: preparar as crianças para a leitura da Bíblia Sagrada e compreensão dos valores espirituais cris­tãos e adestrá-los para o exercício da cidadania pela participação consciente na comunidade e no governo civil. Cidadania entendida aqui como a submissão objetiva da consciência individual ao bem comum, as leis e as autoridades que respeitam as leis; e governo como aquele que busca o bem coletivo sob o primado das leis, a expressão derradeira e concreta dos valores cristãos, da sua ética e moral.
A educação reformada foi portadora de gran­des ideais. Um dos pioneiros da educação protestan­te foi João Sturm (1507-1589). Ele formulou e realizou em Estrasburgo, na Alemanha, um plano de ensino que compreendia três instituições diferentes: a família, o ginásio e a academia. Para ele, a educa­ção devia propor-se a três objetivos: a piedade, o saber e a eloqüência. Assim como na Alemanha, também na Suíça, na França, na Holanda e na Escó­cia, os reformadores foram precursores da moderna pedagogia, ou, pelo menos, grandes educadores. Citamos o exemplo de Calvino.
João Calvino, filho de Gerard Chauvin e Jeanne le Franc Chauvin, nasceu em Noyon, Picárdia, vinte e seis anos após o nascimento de Lutero, no dia 10 de julho de 1509. Seu progenitor era um próspero advogado, secretário do bispo, responsável pelos negócios da Igreja. Aos dezenove anos colou grau de Mestre de Artes no College de Montaigu, e doutorou­-se em direito em Orleans em 1531. Chegou a Genebra, Suíça, em 1536, onde assumiu o pastorado da Igreja Reformada naquele país. Publicou dezenas de livros, porém sua obra mais conhecida é As Institutas da Religião Cristã. João Calvino faleceu no dia 27 de maio de 1564.
Suas concepções educacionais foram espalha­das pela Holanda, Bélgica, Escócia, Inglaterra etc. e, tempos depois, nas colônias inglesas na América do Norte (Lessa, s.d.). Sua obra educativa foi importan­te. Criou numerosas escolas primárias e promoveu uma reforma moral dos cidadãos. Em 1539 fundou um colégio universitário chamado Academia, que deu origem a Universidade de Genebra, talvez sua melhor criação.
Outro fator determinante na construção dos princípios educacionais da Reforma foi a doutrina do Livre Exame. Esta doutrina baseia-se numa afirmação de Lutero segundo a qual todo homem é livre diante de Deus para ler e interpretar as sagradas Escrituras, tendo como mediador apenas a sua consciência e a ilu­minação do Espírito Santo de Deus. Esta concepção encontra-se na base da construção do moderno concei­to de consciência e responsabilidade individual posto que coloca o homem diante do transcendente como responsável direto por suas escolhas e seus atos.
A reforma protestante rompeu com as institui­ções escolásticas sobre a educação, posto que suas origens encontram-se no humanismo renascentista e deu um impulso decisivo para: a afirmação do princí­pio da instrução universal e laica. A partir do século XVII, alguns teóricos desenvolveram uma filosofia educacional protestante que desejavam adequar o espírito dos reformadores para o campo educativo. Com o objetivo de transformar esta filosofia numa prática, criaram procedimentos metodológicos capazes de fazer com que todas as crianças aprendessem.
O maior expoente da pedagogia protestante, contudo, foi Comenius, quando da publicação de sua Didática Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. Comenius é considerado o fundador da Pedagogia enquanto área do conhecimento específico.
Imbuído do espírito protestante, e querendo efetuar uma verdadeira reforma no sistema escolar de seu tempo, Comenius propõe a regeneração dos cos­tumes, a organização de um cenário social da época. Pretendia-se pela escola, trabalhar aspectos atinentes à moralização da vida social, à civilização dos costu­mes, à racionalidade da vida pública e, até mesmo, à institucionalização de uma ética do trabalho. Sua pro­posta educativa era universal, pragmática e buscava a rapidez em todo o processo de ensino-aprendizagem, tomando esta tarefa um prazer para o mestre e para o aluno. Em síntese, Comenius procurava formar homens sábios, piedosos e prudentes. Em seu mode­lo educacional contemplava já naqueles tempos a pri­mazia da inteligência, memória e vontade, na formação dos homens.
Além do mais, a cosmovisão protestante cal­vinista impunha um modo particular de ver a realida­de educacional. Esta era considerada como uma necessidade premente para a própria sobrevivência desta cosmovisão. A fé reformada, sua liturgia, seus ritos e cultos estavam todos calcados na cultura de tradição escrita, na leitura e interpretação da Bíblia Sagrada e esta não prescindia da educação dos fiéis, A fé impulsionava o sistema pedagógico, o qual for necia os pilares para a sustentação daquela, numa perfeita simbiose legitimadora como prefigurou Berger no Dossel sagrado (1985). O sistema educa­cional presbiteriano que tomou forma na Escola Americana e no Mackenzie College de São Paulo, era portador desta filosofia educacional com suas principais características diferenciadoras: a raciona­lidade, o pragmatismo, a universalidade de oportuni­dades educacionais, o respeito a dignidade da pessoa humana, a primazia da inteligência sobre a memória, e o amor ao próximo, como observa Gomes (2000).
A racionalidade do espírito protestante, decan­tada por Weber em sua obra A ética protestante e o espírito do capitalismo (1994) e a doutrina do Livre Exame atenuava as tensões suscitadas pelos embates científicos entre a fé e a razão facilitando a aquisição de novas tecnologias e novos saberes (Teixeira, 1971).
O pragmatismo protestante, derivado da sua racionalidade metódica, desenvolveu uma educação voltada para aplicações práticas como a educação para o comércio e indústria comprovando as tese de Laveleye, (1951) e concretizando as esperanças de Tavares Bastos (1938), que sonhava com a formação de homens capazes de contribuir para o desenvolvi­mento social, científico e tecnológico.
A universalidade de oportunidades educacio­nais pode ser depreendida pela inclusão de mulheres no processo educacional já no século XVII. A educa­ção de mulheres e a sua utilização como professoras nas escolas ampliava o sistema educacional, incluin­do nesta própria família, como fator de alfabetização para a leitura da Bíblia (Rodrigues, 1962) e colabo­rava para a convivência respeitosa entre os sexos.
O respeito a dignidade da pessoa humana pode ser inferi da pela ausência de castigos físicos, com a utilização de reforços positivos, a educação funcionava como um facilitador da aprendizagem transformando-a numa atividade lúdica. Os reforma­dores sonhavam com uma educação capaz de aceitar o homem tal como ele se apresenta perante o criador e o seu próximo.
A educação reformada com a utilização do método silencioso e indutivo colocava a primazia da inteligência sobre a memória, fato que a escola brasi­leira, pela média, desconhece até hoje. O estímulo da inteligência propicia o desenvolvimento da consciên­cia critica e esta é capaz de gerar as transformações que a humanidade carece para o seu desenvolvimen­to e aperfeiçoamento em sua caminhada.
Educação para o amor ao próximo que se expressa de forma objetiva em ações concretas e par­ticipação responsável na construção da cidadania e do bem estar da coletividade e da comunidade. Considerando as mais importantes expressões da justiça social: justiça pela igualdade, justiça pela necessidade e justiça pela proporcionalidade, sendo que esta última é a grande mediadora das tensões econômicas e sociais no mundo ocidental.
Reconhece-se desta forma a estreita ligação existente entre os princípios éticos, religiosos e educa­cionais. O interesse universal em despertar o ser huma­no para os valores essenciais da vida permite que as diferentes culturas e povos busquem seus próprios valores. Todavia, princípios éticos e educacionais sem­pre definem os valores porque visam alcançar objetivos comuns: formar hábitos, costumes, comportamentos para a convivência social, e ao mesmo tempo informar o cidadão e fazê-lo consciente de seu compromisso social como participante solidário.
Esta pesquisa enfatiza que muitos educadores do passado como John Comenius (1592-1670), Horace Mann (1796-1854), John Dewey (1896- 1952), procuraram enfatizar a importância dos prin­cípios éticos e morais na educação de crianças e jovens, para que a criatividade humana fosse desper­tada e orientada, visando o bem comum. O ser huma­no é provido de imensa capacidade e habilidade e precisa ser motivado a buscar o seu próprio desen­volvimento. A escola torna-se o instrumento hábil que oferece as condições para o desenvolvimento dos talentos individuais. Toda a metodologia ou pro­cesso de ensino-aprendizagem tem como fim último oferecer condições adequadas para a educação alme­jada. Todavia, o aparato instrumental pode ser dire­cionado para o bem como para o mal; tanto para a edificação como para a destruição da vida humana; tanto para o benefício como para o malefício do ambiente social. Daí a importância dos valores que direcionam a educação, valores esses que se funda­mentam em princípios éticos e morais.
As escolas religiosas no Brasil enfrentam o dilema desafiante: educar para transmitir valores éti­cos e morais. No primeiro caso a prioridade firma-se no objetivo de angariar novos adeptos e ampliar a influência religiosa; no segundo caso a preocupação concentra-se em transmitir valores que se fundamen­tam em conceitos éticos e religiosos, para oferecer uma visão de mundo que implique em cidadania e responsabilidade social.
Em momentos especiais do ensino brasileiro procurou-se transmitir valores ou criar-se ambiente de responsabilidade social educando para a cidada­nia. O ensino religioso nas escolas tem sido assunto de muitos debates nos vários níveis de decisão, jun­tamente porque se sente a necessidade de uma edu­cação orientada por valores e princípios.
O problema educacional brasileiro, analisado por Azevedo (1976: 101) apresentava as marcas de orientações distintas:
No terreno educacional não haviam estabelecido senão os primeiros contactos, nem travado os primeiros com­bates às concepções escolares correspondentes às duas crenças religiosas e ligadas a duas culturas, já diferen­ciadas, a européia e a norte-americana: a pedagogia pro­testante, progressista e libertadora, que tendia antes à emancipação do espírito do que a uma domesticação intelectual, e o ponto de vista católico, mais conservador e autoritário, especialmente do jesuíta.
A educação passou a ser entendida como meio de realização da pessoa humana. Ela deve preparar a pessoa não só para uma habilitação profissional, mas também, e muito mais, para a própria vida, oferecen­do as condições mínimas de convivência social. A educação é uma arte e a mais difícil entre todas por­que a matéria-prima é o ser humano em formação e crescimento. Os valores a serem transmitidos e apreendidos devem preparar o educando para a vida qualificada e dignificada no exercício da cidadania consciente. A pedagogia moderna não deve somente transmitir conhecimentos, porque não passa de um exercício de memorização; ela deve levar à reflexão e à descoberta de valores que respondam às necessi­dades básicas da vida humana. Segundo a compreen­são de Comenius, considerado o pai da pedagogia moderna, a escola deve oferecer educação para:
Formar homens sábios na mente, prudentes nas ações e piedosos no coração; apoiada nos pilares da inteligência, memória e vontade, a formação dos homens deve abar­car, particularmente no trato com a juventude, a instru­ção, a virtude e a piedade (Comenius, 1954: 145).
Estamos envolvidos em todas as partes do mundo num conflito de valores e o futuro das gera­ções depende dos rumos a serem tomados por lideres orientados por seus próprios valores. É responsabili­dade primordial da educação discutir os valores cul­turais, religiosos e éticos, que estabelecem as diretrizes comportamentais da convivência social. Os valores definem as ações, portanto, a prática da cidadania. A educação deve ser julgada não tanto pelo que o homem possui em conhecimento, mas sim pelo que é e pelo que faz. Capacidade para uma cidadania eficiente e honesta é mais importante do que a intelectualidade de lideres teóricos. A cidada­nia se efetiva em ações que demonstram responsabi­lidade social e ética no respeito ao ser humano e à sua dignidade e identidade pessoais.
A educação participa da formação da lideran­ça e da preparação dos formadores de opinião, e nesse sentido, precisa oferecer ao debate os valores e princípios que determinam a formulação de conceitos para visualizar a cosmovisão que reflita a realida­de social. Os valores devem compor a compreensão holística e de maneira alguma serem usados para radicalizar posicionamentos ou padrões de comportamento social. A nossa sociedade globalizada preci­sa discutir os valores e princípios, respeitando as opções de cada grupo, uma vez que todos cooperem para a convivência social e a solidariedade.

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Os autores:
Osvaldo Henrique Hack Antônio é Pós-doutorado em História Social pela USP. É doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e em Ciências, área de Ciência Social, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É mestre em História e licencia­do em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano de Campinas. Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Autor de vários artigos e é autor do livro Protestantismo e Educação Brasileira.
Máspoli de Araújo Gomes é doutor em Ciências da Religião pela UMESP, Mestre em Psicologia Social pela Universidade Gama Filho (RJ), especialista em Assuntos Psicossociais pela Escola Superior de Gerra, Estudos Brasileiros pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Sociologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Bacharelado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul (Campinas). Ex-professor do Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manuel da Conceição, professor do Seminário Presbiteriano do Rio de Janeiro desde a sua fundação até hoje. Professor titular de Teologia, diretor e fundador da Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Coordenador do Mestrado em Teologia da Universidade Presbiteriana Ma­ckenzie e atual diretor do Centro Presbiteriano de Pós Gra­duação Andrew Jumper. Pastor Presbiteriano há mais de 20 anos, dedicado ao efetivo pastorado de igrejas presbiterianas

Fonte: Um Olhar Sobre a Ética e Cidadania, Coleção Reflexão Acadêmica, vários autores, Universidade Presbiteriana Mackenzie, pág. 53-57.

Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org