quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Política Sadia


O ranking dos governadores e sua relação com a urna
Há uma relação direta entre a popularidade de um governante e a chance de ele ser reeleito, ou de ao menos influir na sua sucessão. A questão é onde passa a linha que separa vencedores e vencidos. O ranking de governadores do Ibope dá pistas.
Image

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Breve comentário sobre Mateus 5.20

Por isso vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.
Almeida Revista e Atualizada.
Não seria nenhum exagero dizer que a passagem supracitada é o cerne do mais famoso discurso de Jesus, o Sermão do Monte, visto que é exatamente aqui que o Redentor nos avisa que não podemos exercer nenhum tipo de justiça fora dEle, pelo fato de ter sido Ele, e tão somente Ele, Aquele a quem o Pai enviou para cumprir toda a Lei, nada revogando desta (Mt 5.17)*. É por este motivo que jamais haveremos de entrar nos portais celestiais, a menos que estejamos alicerçados em Sua perfeita Justiça (obediência), pela qual importa que sejamos sarados (Is 53.5). Fora de Cristo, nossa justiça não passa de meros “trapos de imundícia” para Deus (Is 64.6).
Isto posto, é apropriado que também enxerguemos aqui a doutrina da união do fiel com o seu Senhor (União Mística), pois não há a mínima possibilidade de obtermos um veredicto favorável da parte de Deus se não estivermos totalmente unidos a Cristo. Sem tal união, não seríamos em nada diferentes dos ativistas religiosos hipócritas contra quem Jesus proferiu graves acusações, visto que ainda teríamos como essência da piedade a mera obediência externa. Somente em Cristo é que a nossa justiça consegue exceder a dos fariseus. Fora disso, estamos estabelecendo a nossa própria (cf. Rm 10.3).
É nisto que creio.
Soli Deo Gloria!

 Nesse sentido, o referido texto também versa sobre a Humilhação do Redentor, que se submeteu à Lei para resgatar os que estavam sob ela, a fim de que recebessem a adoção de filhos (Gl 4.4,5).

Um convite á Liturgia. Você vem?



 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marcelo Lemos

Queridos irmãos em Cristo, estimados leitores que nos acompanham, daremos inicio hoje A uma série de artigos, reportagens, e publicações diversas, que terão como objetivo principal difundir, e promover, temas relacionados a Liturgia Reformada. 

Na verdade, há tempos que nosso portal já conta com um link chamado "Liturgia Reformada", e agora daremos um passo a mais, promovendo recursos e subsídios liturgicos e teológicos sobre o tema. Reconhecemos que uma espiritualidade liturgica é conceito estranho para a maioria de nossos irmãos brasileiros, mas, sabemos o quanto de valor pode ser agregado a Igreja Brasileira com o resgade de nossa herança liturgica reformada. 

Como primeiro artigo, escolhemos publicar o Prefácio do Livror de Oração Como Brasileiro, que pode ser encontrado no site da Diocese Anglicana do Recife, liderada DOM EDWARD ROBINSON DE BARROS CAVALCANTI, bispo diocesano da referida Igreja. Para os não iniciados em liturgia, é possível que este artigo sirva para fazer brotar duvidas e questionamentos. Não tem problema. Com a graça de Deus, e a colaboração de irmãos mais experiêntes no assunto, os próximos artigos trarão mais luz, e mais saber teológico, sobre este tema tão rico, e valioso.

O objetivo do presente volume [Livro de Oração Comum Brasileiro] é servir de suporte à devoção pessoal e ao culto comunitário de fiéis e comunidades que se intitulam Anglicanas, e de outras denominações protestantes, que nele encontrem apoio para uma forma organizada de culto.

O Livro de Oração Comum Brasileiro é herdeiro de uma rica tradição da Reforma Inglesa do século dezesseis, particularmente do gênio do Arcebispo de Cantuária Thomas Cranmer, com edições em 1549 e 1552. A edição revisada de 1662 se tornou um padrão litúrgico e doutrinário ("lex orandi; lex credendi"), com o qual se identifica esse volume, além de subsídios oriundos de outras Províncias da Comunhão Anglicana.

Todas as Igrejas de uma ou de outra forma são litúrgicas. A beleza da liturgia cristã se fundamenta, principalmente, em três princípios: (1) ela deve ser cristocêntrica; (2) ela deve ser racional; (3) ela deve ser solene.

O que apresentamos aqui, reúne estes três elementos: a exaltação a Cristo é vista em cada Ordem de Culto, pois Ele é o motivo de tudo o que aqui está exposto. Temos um culto racional, elaborado de tal forma que tanto os Ministros quanto os fiéis sentir-se-ão amparados por uma liturgia elaborada com ordem e decência, como acumulação da adoração da Igreja ao longo dos séculos. E, por fim, a solenidade da liturgia deve levar o adorador à experiência do encontro com Deus. Só há solenidade verdadeira se há um encontro com Cristo.

A liturgia sistematizada, expressando a Sã Doutrina, não engessa a adoração e nem inibe o espontâneo e o inculturado. Além do que, para muitos dos ritos, apresentamos uma diversidade de propostas e modelos.

Este manual apresenta várias ordens para a Oração Matutina, Oração Vespertina, o Ofício do Meio Dia ou das Completas, os Ofícios Eucarísticos ou Santa Comunhão, o Lecionário, e tantos outros recursos que podem ser utilizados como modelos: Batismo, Confirmação, Matrimônio, Ministério aos Enfermos, Funeral, Ordenação e devoções diárias para indivíduos e famílias.

Agradecemos ao Senhor da Igreja que nos permitiu colocar este trabalho ao serviço do povo de Deus no Brasil.

A Jesus Cristo, Senhor nosso, seja toda a honra e a glória!

Recife, dezembro de 2008.

Custódios do Livro Padrão:
Rev. Côn. Manoel Severino Moraes de Almeida
Vigário Geral

Rev. Virgílio Cezar H. P. Torres
Honoris Causa

Manifesto Presbiteriano sobre a Lei da Homofobia

Leitura: Salmo
O Salmo 1, juntamente com outras passagens da Bíblia, mostra que a ética da tradição judaico-cristã distingue entre comportamentos aceitáveis e não aceitáveis para o cristão. A nossa cultura está mais e mais permeada pelo relativismo moral e cada vez mais distante de referenciais que mostram o certo e o errado. Todavia, os cristãos se guiam pelos referenciais morais da Bíblia e não pelas mudanças de valores que ocorrem em todas as culturas.
Uma das questões que tem chamado a atenção do povo brasileiro é o projeto de lei em tramitação na Câmara que pretende tornar crime manifestações contrárias à homossexualidade. A Igreja Presbiteriana do Brasil, a Associada Vitalícia do Mackenzie, pronunciou-se recentemente sobre esse assunto. O pronunciamento afirma por um lado o respeito devido a todas as pessoas, independentemente de suas escolhas sexuais; por outro, afirma o direito da livre expressão, garantido pela Constituição, direito esse que será tolhido caso a chamada lei da homofobia seja aprovada.
A Universidade Presbiteriana Mackenzie, sendo de natureza confessional, cristã e reformada, guia-se em sua ética pelos valores presbiterianos. O manifesto presbiteriano sobre a homofobia, reproduzido abaixo, serve de orientação à comunidade acadêmica, quanto ao que pensa a Associada Vitalícia sobre esse assunto:

“Quanto à chamada LEI DA HOMOFOBIA, que parte do princípio que toda manifestação contrária ao homossexualismo é homofóbica, e que caracteriza como crime todas essas manifestações, a Igreja Presbiteriana do Brasil repudia a caracterização da expressão do ensino bíblico sobre o homossexualismo como sendo homofobia, ao mesmo tempo em que repudia qualquer forma de violência contra o ser humano criado à imagem de Deus, o que inclui homossexuais e quaisquer outros cidadãos. Visto que: (1) a promulgação da nossa Carta Magna em 1988 já previa direitos e garantias individuais para todos os cidadãos brasileiros; (2) as medidas legais que surgiram visando beneficiar homossexuais, como o reconhecimento da sua união estável, a adoção por homossexuais, o direito patrimonial e a previsão de benefícios por parte do INSS foram tomadas buscando resolver casos concretos sem, contudo, observar o interesse público, o bem comum e a legislação pátria vigente; (3) a liberdade religiosa assegura a todo cidadão brasileiro a exposição de sua fé sem a interferência do Estado, sendo a este vedada a interferência nas formas de culto, na subvenção de quaisquer cultos e ainda na própria opção pela inexistência de fé e culto; (4) a liberdade de expressão, como direito individual e coletivo, corrobora com a mãe das liberdades, a liberdade de consciência, mantendo o Estado eqüidistante das manifestações cúlticas em todas as culturas e expressões religiosas do nosso País; (5) as Escrituras Sagradas, sobre as quais a Igreja Presbiteriana do Brasil firma suas crenças e práticas, ensinam que Deus criou a humanidade com uma diferenciação sexual (homem e mulher) e com propósitos heterossexuais específicos que envolvem o casamento, a unidade sexual e a procriação; e que Jesus Cristo ratificou esse entendimento ao dizer, “. . . desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher” (Marcos 10.6); e que os apóstolos de Cristo entendiam que a prática homossexual era pecaminosa e contrária aos planos originais de Deus (Romanos 1.24-27; 1Coríntios 6:9-11).

A Igreja Presbiteriana do Brasil MANIFESTA-SE contra a aprovação da chamada lei da homofobia, por entender que ensinar e pregar contra a prática do homossexualismo não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos, ao mesmo tempo em que minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados principalmente pela Carta Magna e pela Declaração Universal de Direitos Humanos; e por entender que tal lei interfere diretamente na liberdade e na missão das igrejas de todas orientações de falarem, pregarem e ensinarem sobre a conduta e o comportamento ético de todos, inclusive dos homossexuais.

Portanto, a Igreja Presbiteriana do Brasil reafirma seu direito de expressar-se, em público e em privado, sobre todo e qualquer comportamento humano, no cumprimento de sua missão de anunciar o Evangelho, conclamando a todos ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo”.

Rev. Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes
Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie


Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org

Deus não Abandona seus Filhos

Rev. Charles Spurgeon



"Pois o SENHOR não rejeitará o seu povo, nem desamparará a sua herança." Salmo 94:14


Não, Deus sequer abandonará a um só deles. Os homens abandonam, mas Deus não, pois Sua eleição é imutável, e seu amor é eterno. Ninguém pode encontrar uma só pessoa a quem Deus tenha desamparado depois de ter revelado-se a ela de forma salvadora.


O Salmo menciona essa grandíssima verdade para dar ânimo ao coração do afligido. O Senhor disciplina aos Seus, porem, nunca os desampara. Nossa instrução é o resultado da dupla obra da lei e da vara, e o fruto dessa instrução é uma quietude de espírito e uma sobriedade de mente, das quais procede o descanso. Os ímpios são deixados sozinhos até que é cavada a fossa em que se afundarão e sumirão; mas os piedosos são enviados à escola afim que sejam preparados para seu glorioso destino no futuro mais adiante. O juízo retornará e terminará sua obra sobre os rebeldes, mas igualmente retornará para defender aos sinceros e aos piedosos. Por essa razão, podemos suportar a vara da disciplina com calma submissão, pois não significa para nós ira, mas antes, amor.


"Deus pode castigar e corrigir
Porem, não pode jamais abandonar;
Pode em fidelidade repreender, 
Porem, nunca deixar de amar"

Fonte: Projeto Spurgeon

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Autodefesa ou Dar o Outro Lado da Face?

George Crocker

Parece haver uma grande confusão nos círculos cristãos com respeito à declaração do nosso Senhor em Mateus 5:39: “Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra” (ARA). Muitos tomam esse versículo e reivindicam que não é correto, nem permitido, que um cristão se defenda, mas, antes, que ele deve ser passivo durante todo o tempo. À primeira vista parece que eles podem estar certos. Certamente parece que Cristo está ensinando o pacifismo aqui. Sim, mas é realmente isso?

O Contexto

O contexto dessa passagem é o Sermão do Monte, onde nosso Senhor está ensinando a conduta cristã apropriada no meio de um mundo incrédulo e de líderes religiosos hipócritas. Os escribas e os fariseus estavam tomando passagens da Escritura no Antigo Testamento (que era toda a Escritura que eles tinham naquela época) fora do contexto. Esse é o porquê Cristo constantemente começa suas palavras com: “Ouvistes que foi dito”. Ele estava corrigindo os erros de ensinamento e pensamento deles. Os escribas e fariseus eram famosos por dizer e não praticar (Mateus 23:3).
No contexto de Mateus 5:38-39 (bem como de Lucas 6:29 também), nosso Senhor ainda está corrigindo outro erro desses líderes religiosos. No versículo 38 ele diz: “Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente”. Os líderes religiosos, os escribas e fariseus, estavam tomando o que Deus tinha instruído em sua lei (Êxodo 21:24; Deuteronômio 19:21; Levítico 24:20) para o governo civil e fazendo dessa instrução uma questão privada e individual. O Senhor Deus tinha instruído os juízes e magistrados a punirem aqueles que faziam injúrias, fazendo-os sofrer do mesmo modo que eles tinham feito suas vítimas sofrer. Os escribas e fariseus ensinavam que isso significava vingança privada ou individual. Isso não estava certo. Não havia sido dado ao indivíduo o direito de vigança. Isso está nas mãos de Deus (veja Deuteronômio 32:35; Romanos 12:9) e de seus “meios” de punição = os magistrados civis (Romanos 13:4). Cristo desafia esse ensino contrário, e aqueles que deviam ter conhecido melhor, dizendo “eu, porém, vos digo”.
No versículo 39 de Mateus 5 Cristo agora os intrui que é o dever de todo homem suportar pacientemente as injúrias que ele recebe (Calvino) e não buscar vingança. É minha convicção que o Senhor NÃO está se referindo a questão de “autodefesa” nesse contexto. Ele NÃO está dizendo que é pecaminoso alguém se defender ou defender sua família quando ameaçado. Se ele tivesse dito, então isso seria uma contradição do que a Escritura diz em outros lugares. Aqui é onde eu me aparto de alguns comentaristas conversadores e reformados (tais como Ridderbos) que implicam que uma pessoa deve resistir “até mesmo de se defender”. Se eles querem dizer que em todas as circunstâncias esse deve ser o caso, então eles estão errados. Novamente, o Senhor não permite “vingança” individual. Contudo, defender a si mesmo ou sua família certamente não é proibido.
Se esse texto não está falando sobre autodefesa, o que o Senhor quer dizer quando ele diz “não resistais ao perverso” e então adiciona “mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”? Admitidamente, esse parece ser um texto pacifista. H.N. Ridderbos não nos ajuda nessa área quando ele diz:
Jesus especificamente menciona a face direita aqui, embora uma bofetada de uma pessoa destra normalmente acertaria o lado esquerdo do rosto. Isso provavelmente significa que a bofetada é dada com as costas da mão, visto que ela se daria no lado direito do rosto. Certamente sabemos que tal golpe seria considerado particularmente como um insulto. Essa injustiça, que é voluntariamente aceita aqui, é, portanto, não tanto uma questão de lesão ao corpo quanto de vexame (H.N. Ridderbos. “Matthew”: Bible Students Commentary. Zondervan. p. 113).
Portanto, essa não é uma passagem tratando com o que alguém deve fazer quando sendo fisicamente atacado e/ou tendo a vida ameaçada. É, contudo, uma passagem que ensina que a “vingança” não deve ser deixada nas mãos do indivíduo que é a vítima. A vingança pessoal ou até mesmo o “linchamento” está certamente fora de questão. O Senhor já tinha estabelecido o meio de tratar com punição o ofensor, pela espada do Estado. Também, é uma passagem que ensina paciência quando a pessoa está errada. Como o grande reformador João Calvino diz:
Quando a injustiça lhes (crentes) é feita, ele (Cristo) deseja que eles sejam treinados por esse exemplo à mansa submissão, para que pelo sofrimento eles possam aprender a ser pacientes (John Calvin. “Harmony of Matthew, Mark and Luke” Calvin's Commentaries. Baker.  p. 299).
Essas passagens em Mateus 5, então, proíbem a autodefesa?... Elas não tratam com ela e, além do mais, elas não a proibem também. Voltemos, então, o outro lado da face (trocadilho intecionado)... e brevemente olhemos algumas passagens que tratam com a autodefesa.

O Conceito de Autodefesa

Como escrevi acima, nosso Senhor estaria contradizendo a si mesmo ou a Escritura ao dizer que uma pessoa nunca deve defender a si mesmo ou sua família em nenhuma circunstância. A Palavra de Deus permite e encoraja a autodefesa. Nas Escrituras não encontramos Deus encorajando seu povo a serem “abutres” ou “pombas” quando tratando com questões de autodefesa. Eles devem ser apenas racionais.
Na parte primitiva da história redentora vemos o patriarca Abraão reunindo uma das primeiras milícias armadas (sem a aprovação de qualquer governo estatal ou federal, devo observar) para resgatar seu sobrinho sequestrado, Ló (Gênesis 14:12ss). Isso não era vingança, mas puramente defesa e proteção (nesse caso, resgate) de um membro da família e resgate de propriedade. Isso pode ser classificado como um exemplo bíblico de autodefesa. É interessante notar que mais tarde o “exército israelista foi uma milícia armada que entrou na batalha com cada homem levando as suas próprias armas - desde os tempos de Moisés, por todos os Juízes, e depois” (Pratt; ibid).
Em Êxodo 20:13, o sexto dos Dez Mandamentos, lemos: “Não matarás” (ARC e ARA). A tradução mais correta seria “não assassinarás”. Esse mandamento NÃO proíbe tirar a vida sob certas circunstâncias. Uma boa interpretação do que esse mandamento significa (exige de nós) é encontrado no Catecismo Maior de Westminster:
Quais são os deveres exigidos no sexto mandamento?
Resposta: Os deveres exigidos no sexto mandamento são todo empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos para a preservação de nossa vida e a de outros, resistindo a todos os pensamentos e propósitos, subjugando todas as paixões e evitando todas as ocasiões, tentações e práticas que tendem a tirar injustamente a vida de alguém por meio de justa defesa dela contra a violência; por paciência em suportar a mão de Deus; sossego mental, alegria de espírito e uso sóbrio da comida, bebida, remédios, sono, trabalho e recreios; por pensamentos caridosos, amor, compaixão, mansidão, benignidade, bondade, comportamento e palavras pacíficos, brandos e corteses, a longanimidade e prontidão para se reconciliar, suportando pacientemente e perdoando as injúrias, dando bem por mal, confortando e socorrendo os aflitos, e protegendo e defendendo o inocente. (Q. & A. 135).
Note que o Catecismo diz “preservação de nossa vida e a de outros, resistindo...”. Os escritores desse magnífico doumento entenderam a necessidade, às vezes, de usar meios defensivos para socorrer outros quando necessário. Eles também disseram: “por meio de justa defesa dela contra a violência”. Esse é um chamado para o uso legítimo da autodefesa. As passagens da Escritura que eles usam para defender (nenhum trocadilho intencionado!) essa declaração são: Salmos 82:4; Provérbios 24:11-12; 1 Samuel 14:45. Outra passagem da Escritura em Êxodo nos diz que proteger sua família e possessões usando força física quando um intruso entra em sua casa de noite é legítimo: “Se o ladrão for achado a minar, e for ferido, e morrer, o que o feriu não será culpado do sangue. Se o sol houver saído sobre ele, será culpado do sangue. O ladrão fará restituição total; e se não tiver com que pagar, será vendido por seu furto” (Êxodo 22:2-3). Essa passagem simplesmente significa que uma pessoa pode defender sua casa, sua vida e a da sua família se um ladrão ou intruso vier de noite e lhes ameaçar. Se for durante a luz do dia e a situação não ameaçar a vida, então a força letal NÃO pode ser usada se ele ver que o intruso não está armado. O intruso deve pagar por seu crime por restituição (fazer um pagamento substancial para a vítima) ou (se ele não tiver dinheiro) “pagar gradualmente” (até mesmo ser vendido como encravo para pagar).
Em 1 Samuel 13:19,22 vemos o que acontece quando indivíduos de uma nação não têm mais o equipamento para fazer e ter armas e defenderem a si mesmos, suas famílias e nação. Isso é um convite aberto para ser atacado e saqueado. Se não, na realidade, o que as pessoas anti-autodefesa estão colocando sobre nós? Tire as armas das mãos das pessoas comuns e você terá uma nação dominada por tiranos e criminosos (freqüentemente um e o mesmo).
Em Neemias 4 vemos que os judeus que retornaram foram instruídos a defenderem a si mesmos e ao muro que eles estavam construindo daqueles que queriam usar quaisquer meios para impedi-lo de ser construído. “Os que edificavam o muro, e os que traziam as cargas, e os que carregavam, cada um com uma mão fazia a obra e na outra tinha as armas. E os edificadores cada um trazia a sua espada cingida aos lombos, e edificavam; e o que tocava a trombeta estava junto comigo” (Neemias 4:17,18; ARC). Eles estavam prontos para usar a autodefesa não somente para protegerem a si mesmos e as suas famílias do pacto, mas também para defender a propriedade (casas e o muro de Jerusalém) deles por direito, lhes dado pelo Senhor. Nós estamos menos obrigados, como o povo do pacto de Deus, a usar medidas defensivas (o uso de armas de fogo, por exemplo) de proteger a nós mesmos, nossas famílias e nossas propriedades? Eu penso que não.
Há outras passagens no Antigo Testamento que poderiam ser dadas, mas essas devem ser suficientes. No Novo Testamento temos passagens tais como Lucas 22:36, que diz: “Disse-lhes, pois: Mas, agora, aquele que tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua veste e compre-a” (ARC). Nosso Senhor encorajou seus discípulos para terem proteção para uso em autodefesa. Em outros lugares no Novo Testamento temos Paulo dizendo que uma pessoa deve tomar cuidado de sua própria casa (1 Timóteo 5:18) e, comi eu disse em outro lugar, isso também implica em defender eles também. O Novo Testamento não contradiz a instrução do Antigo Testamento sobre autodefesa ao dizer “volta-lhe também a outra [face]”.

Conclusão

Esse pequeno artigo não pretende ser a resposta final sobre o assunto, nem eu espero necessariamente mudar as mentes dos pacifistas. Contudo, espero que eu tenha mostrado que “volta-lhe também a outra [face]” não proíbe uma pessoa de usar a autodefesa quando a vida de alguém e/ou família está enfrentando situações ameaçadoras. Referir-se à passagem de Mateus 5:38-39 para provar o pacifismo é enganoso e errôneo.
Estou totalmente convencido de que as Escrituras permitem que nos defendamos. Isso significa que temos direitos dados por Deus de “portarmos armas” para assim o fazer. Somente Deus pode tirar esses direitos. Eu concluo com uma citação do falecido Dr. A. T. Robertson, um estudioso do grego, sobre a passagem de Mateus:
Jesus protestou quando golpeado no rosto (João 18:22). E Jesus denunciou os fariseus (Mateus 23) e sempre lutou com o diabo. A linguagem de Jesus é ousada e pitoresca e não deve ser pressionada tão literalmente (ele está falando aqui da passagem de Mateus 5:39-39 em questão, GC). Paradoxos nos assustam e nos fazem pensar. Somos esperamos de satisfazer no outro lado da figura... Guerra agressiva ou ofensiva pelas nações é também condenada, mas não necessariamente a guerra defensiva ou a defesa contra o roubo e o assassinato. O pacifismo profissional pode ser mera covardia (A.T. Robertson. “Word Pictures in the New Testament”, Vol. I, p. 48).

___________________________
Fonte:
monergismo.com
Tradução: Felipe Sabino


Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org

Análise Calvinista de Versículos “Arminianos”: Hebreus 2.9

Heitor Alves


“... vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem”.
Esse é mais um texto usado pelos arminianos para afirmarem que Cristo morreu por toda a humanidade, visto que o texto fala de “todo homem” como significando a totalidade do gênero humano. Vamos à análise.
A palavra “homem” no grego é antropos. Interessante notar que em Hebreus 2.9 não aparece a palavra antropos. Não há no grego o vocábulo “homem”, para que se insinue que Cristo morreu por todos. Literalmente o texto diz o seguinte: “para que, pela graça de Deus, provasse a morte por tudo”. Logo, no original, não há nada no texto que indique que Cristo morreu por toda a humanidade.
Mas, mesmo com a ocorrência da palavra “homem”, ainda assim o texto não afirma que Cristo morreu pela humanidade. Isso é evidenciado através de uma referência a um texto no Velho Testamento.
O texto que é indicado como referência à Hebreus 2.9 é Isaías 53.12. Lá o texto diz que Cristo “foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu”. Não temos, em Isaías a idéia de totalidade da humanidade. “Muitos” não significam “todos”!
Voltando a Hebreus 2.9, os versos seguintes indicam que todos os homens são todos os filhos de Deus, e não toda a humanidade. O verso 10 fala que a morte de Cristo conduziu “muitos filhos à glória”. Ainda no verso 10, Cristo é chamado de “Autor da salvação deles”. Deles quem? “Deles” são os “muitos filhos” que Ele conduz à glória. Esses “muitos filhos” são chamados de “irmãos” (v. 11,12). Ainda no verso 12, encontramos a profecia de Salmos 12.12 declarando que esses “irmãos” faziam parte da congregação (grego ecclesia, que quer dizer “igreja”).
Pare um pouco para pensar: se Cristo “provou a morte por todo homem”, e em seguida esse “todo homem” é chamado de “filhos” que são conduzidos á glória, onde Ele é o autor da salvação deles, e que, por isso, são chamados de irmãos que estão cantando louvores na congregação, podemos concluir que todos os homens indistintamente são filhos de Deus? Todos os homens estão sendo conduzidos á glória? Todos os homens são tidos por “irmãos” de Cristo? Todos os homens fazem parte da igreja? Estão todos os homens cantando louvores?
Ainda não terminou. No verso 13 lemos: “E outra vez: Eu porei nele a minha confiança. E ainda: Eis aqui estou eu e os filhos que Deus me deu”. Isso significa que esses filhos pertenciam inicialmente a Deus, e que o próprio Deus deu esses filhos a Cristo.
As Escrituras declaram que a humanidade está dividida entre os “filhos de Deus” e os “filhos do diabo” (1Jo 3.10). Cristo insinua também que há uma separação entre as suas ovelhas e as que não são (Jo 10.14-16,26,27). Fica impossível de concluir que entre os filhos que Deus deu a Cristo (v. 13), estão também os filhos do diabo. Ora, quando Cristo afirma que ele provou a morte por todo o homem, fica evidente que Ele estava se referindo somente aos filhos de Deus dados a Ele. Também é evidente que Cristo exclui os que são tidos por “filhos do diabo”, pois não haveria motivos para o próprio Cristo fazer essa acepção!
O que dizer de João 17.1-9? Se Cristo “provou a morte por todo homem”, como querem os arminianos, como se explica o fato de Cristo não orar pela salvação de todo mundo? (Jo 17.9). Será que os arminianos descobriram que há uma confusão na Trindade? O Deus-Pai desejando a salavção de todo mundo, mas o Deus-Filho orando pela salvação de alguns? É absurdo a compreensão arminiana de que Cristo morreu por toda a humanidade!
Encontramos em João 17 uma clara referência aos filhos que pertenciam a Deus e que foram dados a Cristo (“aqueles que me deste, porque são teus”, Jo 17.9). É a mesma idéia de Hebreus 2.13 onde encontramos um grupo limitado de pessoas pertencentes a Deus sendo entregues a Cristo. E o próprio Cristo é contado entre eles, ou seja, Cristo se coloca entre esses filhos: “Eis aqui estou eu e os filhos...”. Essa relação de unidade que o próprio Cristo faz entre Ele e os filhos de Deus é impossível com aqueles que são tidos por “filhos do diabo”. Cristo jamais se uniria dessa forma com toda a massa da humanidade. Ele jamais se contaria entre aqueles que não são suas ovelhas!
Essa é a idéia: uma parte da humanidade chamada de “filhos de Deus”, onde o próprio Deus os deu ao seu Filho Jesus Cristo para morrer por eles, e não apenas isso, mas que ora pela salvação deles.
É antibíblico imaginar que Cristo morreu por toda a humanidade, pois isso acarretaria na conclusão de que todos os homens pertencem a Deus, e que todos eles foram dados a Cristo, e que Cristo ora pela salvação de todos eles, e que todos eles são chamados “filhos de Deus” e ainda de “irmãos” e que todos eles estão na igreja cantando louvores a Deus!
É irresponsável pegar um texto como Hebreus 2.9 e força o texto a dizer o que não é afirmado em lugar nenhum das Escrituras, ignorando até o sentido que as línguas originais dão ao texto.
Cuidado, pois nem sempre “todos” pode significar de fato “todos”!
Soli Deo Gloria


Leia mais: http://www.eleitosdedeus.org

Análise Calvinista de Versículos “Arminianos”: 1 Timóteo 2.4

Heitor Alves


1 Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens,
2 em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito.
3 Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador,
4 o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.

Este é um dos textos preferidos pelos arminianos, pois, segundo eles, Deus deseja a salvação de todos os homens. Deus espera que todos se arrependam e creiam no evangelho e, desta forma, sejam salvos. Ainda segundo os arminianos, este texto revela que o livre-arbítrio do homem possui a capacidade de escolher a salvação, pois, como diz o texto, assim é do “desejo” de Deus.

A Palavra “Desejo” no Grego

Vamos começar analisar este texto à luz da compreensão calvinista começando pela palavra desejo. Nós temos duas palavras que, no grego, são traduzidas por “desejo”: a primeira é qelw (= thelõ), a segunda é boulomai (= boulomai). Apesar de terem a mesma tradução, “desejo”, elas se diferem quanto ao seu sentido. Vamos lá.
A palavra qelw (= thelõ) está mais para uma conotação de sentimento. Nas passagens em que esta palavra aparece, em todas elas dão a entender simplesmente um “querer” (de desejo), “querer ter”, “ter prazer em”, “gostar”. Esta palavra aparece em Mt 20.21; Mc 10.43; 12.38; Lc 20.46; Jo 9.27; Rm 1.13; Gl 4.20. Em todas estas passagens, e em tantas outras onde a palavra ocorre, a idéia que se tem é de um “desejo”, uma “vontade”, que pode acontecer ou não. No texto de Gl 4.20, Paulo expressa seu sentimento ao dizer para os gálatas: “pudera eu estar presente, agora, convosco e falar-vos em outro tom de voz; porque me vejo perplexo a vosso respeito”. A palavra destacada “pudera”, no grego, poderia ser traduzida sem nenhum problema como “desejava”, “desejaria”. Por mais que Paulo desejasse estar com os gálatas, ele sabia que isso não seria possível. Temos aí um exemplo de um desejo sentimental, algo que ele gostaria que acontecesse, mas que não será possível.
A palavra boulomai (= boulomai) tem a ver com a idéia de deliberação ou planejamento. É um “desejo” que vai ser realizado pois este “desejo” foi planejado, deliberado. Quando esta palavra aparece, temos uma idéia de “plano”, “propósito”, “resolução”, “decisão”, “motivo”, “estar disposto”, “disposição”, “ordenar”. Ela aparece em Mt 1.19; 11.27; Lc 22.42; At 5.28; 1 Co 12.11; Ef 1.11; Hb 6.17 e outros. Esta palavra expressa não um simples “desejo”, mas um “desejo” tal que foi planejado, foi ordenado acontecer ou não. Em Lc 22.45 vemos Cristo pedindo para que Deus afastasse o cálice. Ele diz: “Pai, se queres, passa de mim este cálice...”. Não temos aqui um caso onde, talvez, Deus desejasse livrar o seu filho do cálice, mas temos um caso onde Deus havia planejado não livrar seu filho daquela situação, pois foi Ele mesmo que, deliberadamente, colocou o Seu filho nesta situação. Em Ef 1.11 vemos uma predestinação feita sob a “ordenação” de Deus, algo que Ele deliberadamente planejou e que, por isso, é dado como certa a realização da Sua vontade.
Imagino que a essa altura, o leitor já esteja curioso em saber qual das palavras aparece em 1 Tm 2.4. Bem, temos a palavra qelw. Em 1 Tm 2.4, encontramos Paulo afirmando que Deus gostaria que todos os homens fossem salvos, mesmo que Ele mesmo não planejasse tal coisa. Ou seja, isso não significa que Deus deseja soberanamente que todo ser humano seja salvo (que Deus salva cada um).

Vontade de Propósito e Vontade de Prazer

Acredito que a dificuldade reside numa compreensão equivocada na doutrina da vontade de Deus. Vou procurar ser o mais breve possível aqui. Há uma distinção na vontade de Deus. Porém não são duas vontades. É apenas uma vontade.
Temos a vontade de propósito e a vontade de prazer em Deus. A vontade de propósito certamente acontecerá, pois está ligada a um decreto de Deus. A vontade de propósito de Deus infalivelmente se realizará, pois é Ele mesmo quem opera imediata ou mediatamente, ou seja, Ele opera diretamente ou usa meios (indiretamente) ou causas secundárias para a execução da sua vontade (2 Cr 22.7; Sl 103.20,21; Is 46.9-11; Is 53.10; Dn 4.35; Mt 6.10; Mt 26.42; Jo 4.34; Jo 6.38,39; At 21.11-14; Rm 1.9,10; At 16.6,7; Rm 9,19; Fp 2.13; 1Pe 3.17).
A vontade de prazer indica o que Deus gostaria que acontecesse, mas que não depende de uma obediência do homem para acontecer. É a vontade de Deus em coisas que Ele gostaria que acontecessem na vida dos homens, mas que nem sempre acontecem. É um desejo que expressa a natureza constitucional de Deus (Lc 13.34). No texto de Lucas temos a palavra “quis” (Gr. hqelhsa, do verbo qelw, “querer”, “desejar”)
É um desejo natural e espontâneo de Deus para com todos os homens (Ez 18.23; 33.11). Os versos de Ezequiel expressam uma vontade constitucional em Deus. Deus não tem prazer na morte do perverso, mas tem prazer na conversão do ímpio. Mas, por razões desconhecidas de nós, Deus determina não satisfazer ou realizar seu próprio desejo. Todos os ímpios são criaturas de Deus, isso explica por que Ele não tem prazer na condenação deles (lembrem-se que o inferno, originalmente, foi feito para o diabo e seus anjos, e não para os homens, Mt 25.41). Deus aplica-lhes a condenação porque Ele é justo, e não porque se alegra na condenação deles.
Podemos, sem muito esforço, deduzir que a passagem de 1 Tm 2.4 está relacionada com a vontade de prazer de Deus, uma vontade natural, espontânea e constitucional. Esse argumento da “vontade de prazer” em 1 Tm 2.4 é apoiado, como vimos, pela palavra grega “vontade” significando apenas um desejo prazeroso, sentimental de Deus, e não um desejo de propósito.

Deus Age com Justiça, Não com Sentimentos

O que encontramos em 1 Tm 2.4 é nada mais do que um sentimentalismo de Deus em ver todos os homens conhecedores da verdade e, enfim, salvos. É a benevolência geral de Deus de não ter prazer na morte do ímpio. Isso não significa que Deus terá seu desejo frustrado em ver os homens indo para a perdição. Por quê?
Ao longo das Sagradas Escrituras, vemos Deus inteiramente preocupado em glorificar a sua justiça. Deus deseja ser glorificado em tudo, inclusive no exercício de sua justiça e de seus juízos. Deus não coloca, de maneira nenhuma, o seu sentimentalismo acima da sua justiça. Se tiver que executar a sua justiça, Ele certamente o fará (Rm 1.18; 2.5; 3.5).
Deus não pode ignorar a sua justiça simplesmente salvando aquele que não crer no nome do unigênito Filho de Deus (Jo 3.18). Deus precisa mostrar a sua ira contra todos aqueles que se mantém rebelde contra sua palavra (Jo 3.36).

O Desejo de Deus não Depende do Livre-Arbítrio

Talvez algum arminiano queira retrucar: “Se o desejo de Deus em 1 Tm 2.4 é apenas sentimental, então isso abre as portas para um livre-arbítrio humano. O homem deve possuir um livre-arbítrio para realizar o desejo de Deus ou não. Ora, Deus jamais desejaria algo que jamais aconteceria a um homem sem livre-arbítrio, né?”.
Nós calvinistas reformados não podemos ignorar este argumento arminiano. É um argumento lógico, porém errado e antibíblico. Apesar do texto dizer que Deus deseja a salvação de todos os homens, nem todos os homens serão salvos simplesmente pela vontade de propósito do próprio Deus!
Essa é para os arminianos: como pode Deus esperar ter o seu desejo satisfeito pelo livre-arbítrio do homem, se há evidências de Deus não salvando pessoas que Ele saberia que se arrependeriam? É correto imaginar Deus se recusando salvar os homens? O que você me diria se Deus soubesse que uma determinada tribo indígena se converteria ao evangelho, caso fosse pregado entre eles, e, mesmo assim, Deus proibiria a pregação entre eles? Foi exatamente isso o que aconteceu em Mateus 11.20-24.
Deus sabia que algumas nações se arrependeriam e se converteriam ao evangelho com a pregação da palavra, mas, por motivos não revelados a nós, Deus simplesmente se recusou em levar as boas novas a eles. Mais uma pergunta para os arminianos: Se Deus deseja a salvação de todos os homens, então porque Ele mesmo impede que o evangelho chegue aos ouvidos e aos corações de alguns? (Is 6.9-13).

Conclusão

Em 1 Tm 2.4 mostra o desejo constitucional de Deus, que é a vontade de prazer ou do seu deleite. Contudo, Deus mesmo afirma claramente em Romanos 9.18 que Ele “tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz”.
Podemos também deduzir que “todos os homens” do verso 4 signifique todos os homens de todas as classes, não se referindo a cada homem. Isso está perfeitamente evidente dentro do contexto de 1 Tm 2.1-6, visto que aparece a expressão “todos os homens” (v. 1, v. 4) e “todos” (v. 6).  Deus deseja e salva todos os tipos de pessoas, ou seja, Deus não escolhe seus eleitos de um único grupo apenas.
A verdade é que o texto de 1 Tm 2.4 não apóia a salvação universal (nem gramaticalmente e nem teologicamente), como querem os arminianos.


Leia mais: http://www.eleitosdedeus.org

Teologia Relacional: um Novo Deus no Mercado

Rev. Augustus Nicodemus Lopes

Os reflexos da onda gigante que provocou a tremenda catástrofe na Ásia no final de dezembro de 2004 alcançaram também os arraiais evangélicos, levantando, entre outras coisas, perguntas acerca de Deus, seu caráter, seu poder, seu conhecimento, seus sentimentos e seu relacionamento com o mundo e as pessoas diante de tragédias como aquela. Dentre as diferentes respostas, uma chama a atenção pela ousadia de suas afirmações: Deus sofreu muito com a tragédia e certamente não a havia determinado ou previsto. Ele simplesmente não pôde evitá-la, pois Deus não conhece o futuro, não controla ou guia a história, e não tem poder para fazer aquilo que gostaria. Esta é a concepção de Deus defendida por um movimento teológico conhecido como teologia relacional, ou ainda, teísmo aberto ou teologia da abertura de Deus.

A teologia relacional, como movimento, teve início em décadas recentes, embora seus conceitos sejam bem antigos. Ela ganhou popularidade através de escritores norte-americanos como Greg Boyd, John Sanders e Clark Pinnock. No Brasil, estas idéias têm sido assimiladas e difundidas por alguns líderes evangélicos, às vezes de forma aberta e explicita.

A teologia relacional considera a concepção tradicional de Deus como inadequada, ultrapassada e insuficiente para explicar a realidade, especialmente catástrofes como o tsunami de dezembro de 2004, e se apresenta como uma nova visão sobre Deus e sua maneira de se relacionar com a criação.
Seus pontos principais podem ser resumidos desta forma:

1. O atributo mais importante de Deus é o amor. Todos os demais estão subordinados a este. Isto significa que Deus é sensível e se comove com os dramas de suas criaturas.

2. Deus não é soberano. Só pode haver real relacionamento entre Deus e suas criaturas se estas tiverem, de fato, capacidade e liberdade para cooperarem ou contrariarem os desígnios últimos de Deus. Deus abriu mão de sua soberania para que isto ocorresse. Neste sentido, ele é incapaz de realizar tudo o que deseja, como impedir tragédias e erradicar o mal. Contudo, ele acaba se adequando às decisões humanas e ao final, vai obter seus objetivos eternos, pois redesenha a história de acordo com estas decisões.

3. Deus ignora o futuro, pois ele vive no tempo, e não fora dele. Ele aprende com o passar do tempo. O futuro é determinado pela combinação do que Deus e suas criaturas decidem fazer. Neste sentido, o futuro inexiste, pois os seres humanos são absolutamente livres para decidir o que quiserem e Deus não sabe antecipadamente que decisão uma determinada pessoa haverá de tomar num determinado momento.

4. Deus se arrisca. Ao criar seres racionais livres, Deus estava se arriscando, pois não sabia qual seria a decisão dos anjos e de Adão e Eva. E continua a se arriscar diariamente. Deus corre riscos porque ama suas criaturas, respeita a liberdade delas e deseja relacionar-se com elas de forma significativa.

5. Deus é vulnerável. Ele é passível de sofrimento e de erros em seus conselhos e orientações. Em seu relacionamento com o homem, seus planos podem ser frustrados. Ele se frustra e expressa esta frustração quando os seres humanos não fazem o que ele gostaria.

6. Deus muda. Ele é imutável apenas em sua essência, mas muda de planos e até mesmo se arrepende de decisões tomadas. Ele muda de acordo com as decisões de suas criaturas, ao reagir a elas. Os textos bíblicos que falam do arrependimento de Deus não devem ser interpretados de forma figurada. Eles expressam o que realmente acontece com Deus.

Estes conceitos sobre Deus decorrem da lógica adotada pela teologia relacional quanto ao conceito da liberdade plena do homem, que é o ponto doutrinário central da sua estrutura, a sua “menina dos olhos”. De acordo com a teologia relacional, para que o homem tenha realmente pleno livre arbítrio suas decisões não podem sofrer qualquer tipo de influência externa ou interna. Portanto, Deus não pode ter decretado estas decisões e nem mesmo tê-las conhecido antecipadamente. Desta forma, a teologia relacional rejeita não somente o conceito de que Deus preordenou todas as coisas (calvinismo) como também o conceito de que Deus sabe todas as coisas antecipadamente (arminianismo tradicional). Neste sentido, o assunto deve ser entendido, não como uma discussão entre calvinistas e arminianos, mas destes dois contra a teologia relacional. Não poucos lideres calvinistas e arminianos no âmbito mundial têm considerado esta visão da teologia relacional como alheia ao Cristianismo.

A teologia relacional traz um forte apelo a alguns evangélicos, pois diz que Deus está mais próximo de nós e se relaciona mais significativamente conosco do que tem sido apresentado pela teologia tradicional. Segundo os teólogos relacionais, o Cristianismo histórico tem apresentado um Deus impassível, que não se sensibiliza com os dramas de suas criaturas. A teologia relacional, por sua vez, pretende apresentar um Deus mais humano, que constrói o futuro mediante relacionamento com suas criaturas. Os seres humanos são, dessa forma, co-participantes com Deus na construção do futuro, podendo, na verdade, determiná-lo por suas atitudes.

Contudo, a teologia relacional não é novidade. Ela tem raízes em conceitos antigos de filósofos gregos, no socinianismo (que negava exatamente que Deus conhecia o futuro, pois atos livres não podem ser preditos) e especialmente em ideologias modernas, como a teologia do processo. O que ela tem de novo é que virou um movimento teológico composto de escritores e teólogos que se uniram em torno dos pontos comuns e estão dispostos a persuadir a Igreja Cristã a abandonar seu conceito tradicional de Deus e a convencê-la que esta “nova” visão de Deus é evangélica e bíblica.

Mesmo tendo surgido como uma reação a uma possível ênfase exagerada na impassividade e transcendência de Deus, a teologia relacional acaba sendo um problema para a igreja evangélica, especialmente em seu conceito sobre Deus. Muito embora os evangélicos tenham divergências profundas em algumas questões, reformados, arminianos, wesleyanos, pentecostais, tradicionais, neopentecostais e outros, todos concordam, no mínimo, que Deus conhece todas as coisas, que é onipotente e soberano. Entretanto, o Deus da teologia relacional é totalmente diferente daquele da teologia cristã. Não se pode afirmar que os aderentes da teologia relacional não são cristãos, mas sim que o conceito que eles têm de Deus é, no mínimo, estranho ao cristianismo histórico.

Ao declarar que o atributo mais importante de Deus é o amor, a teologia relacional perde o equilíbrio entre as qualidades de Deus apresentadas na Bíblia, dentre as quais o amor é apenas uma delas. Ao dizer que Deus ignora o futuro, é vulnerável e mutável, deixa sem explicação adequada dezenas de passagens bíblicas que falam da soberania, do senhorio, da onipotência e da onisciência de Deus (Is 46.10a; Jó 28; Jó 42.2; Sl 90; Sl 139; Rm 8.29; Ef 1; Tg 1.17; Ml 3.6; Gn 17.1; etc). Ao dizer que Deus não sabia qual a decisão de Adão e Eva no Éden, e que mesmo assim arriscou-se em criá-los com livre arbítrio, a teologia relacional o transforma num ser irresponsável. Ao falar do homem como co-construtor de Deus de um futuro que inexiste, a teologia relacional esquece tudo o que a Bíblia ensina sobre a Queda e a corrupção do homem. Ao fim, parece-nos que na tentativa extrema de resguardar a plena liberdade do arbítrio humano, a teologia relacional está disposta a sacrificar a divindade de Deus. Ao limitar sua soberania e seu pleno conhecimento, entroniza o homem livre, todo-poderoso, no trono do universo, e desta forma, deixa-nos o desespero como única alternativa diante das tragédias e catástrofes deste mundo e o ceticismo como única atitude diante da realidade do mal no universo, roubando-nos o final feliz prometido na Bíblia. Pois, afinal, poderá este Deus ignorante, fraco, mutável, vulnerável e limitado cumprir tudo o que prometeu?

Com certeza a visão tradicional de Deus adotada pelo Cristianismo histórico por séculos não é capaz de responder exaustivamente a todos os questionamentos sobre o ser e os planos de Deus. Ela própria é a primeira a admitir este ponto. Contudo, é preferível permanecer com perguntas não respondidas a aceitar respostas que contrariam conceitos claros das Escrituras. Como já havia declarado Jó há milênios (42.2,3): “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia.”

_________________________________________
Fonte: IPB


Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org

A Queda Dos Iluminados de Hebreus 6:4-6 em João Calvino e Matthew Poole

Moisés C. Bezerril

Este trabalho consiste num estudo bíblico de Hb 6:4-6, baseado no pensamento de João Calvino e Matthew Poole, um teólogo puritano genebrino do século XVII.
“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados e provaram o dom celestial e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que de novo estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia” (Hb 6:4-6).
Até que ponto Jesus é suficiente para nossa salvação? Certa vez, sintonizei-me numa emissora de rádio que apresentava um programa considerado evangélico e o pregador dizia estas palavras: "Não troque sua salvação por qualquer ‘ninharia’. Há pessoas que perdem a salvação por coisas bobas; mocinhas, por qualquer vaidade, estão perdendo a salvação; por causa do orgulho perdem a salvação. Meus irmãos não percam sua salvação". Isso nos faz indagar: Até que ponto Jesus é suficiente para a salvação desse pregador? As palavras deste texto, a princípio, são palavras que parecem nos fazer pensar que Jesus não foi suficiente para a salvação daqueles hebreus que caíram. Muitos afirmam crer em Jesus para a salvação, mas para eles só Jesus não é suficiente para salvá-los.
Parece até haver um problema nesta epístola em relação ao ensinamento dos outros livros neo-testamentários, pois o autor parece estar ensinando uma perda de salvação ou uma insuficiência de Cristo. E, na verdade, muitos abandonam este texto e não pregam sermão algum nele. Isso, porque muitos, ao se depararem com o conteúdo, sentem dificuldade por dois sérios problemas encontrados aqui.
O primeiro problema de Hb 6:4-6 é a queda dos iluminados. O segundo problema é a total impossibilidade de uma restauração ou renovação para os que caíram. O texto diz que é "impossível renová-los para arrependimento". A palavra grega ADYNATON , "impossível", dá a idéia, no N.T., de uma total impossibilidade, aplicada à paralisia ou enfermidade que anula qualquer desempenho de força, e é uma expressão comum para fraqueza, (At 14:8; Rm 8:3; Rm 15:1). Isto indica que não há nenhuma possibilidade de que estes que caíram se levantem novamente e sejam restaurados. Parece-me que aqui também não há perdão para os que caíram. São duas dificuldades. A primeira parece ser um problema para os calvinistas, pois, fala da queda dos que outrora foram iluminados; a segunda parece ser um problema para os arminianos, pois se deparam com o problema da impossibilidade da renovação e do perdão. Não é tão fácil tomar uma postura arminiana em afirmar que o texto afirma a possibilidade da queda dos iluminados, sem levar em conta que esses, por si, não podem voltar ao arrependimento. Como resolver a questão? A igreja ocidental sentiu uma dificuldade com este texto porque aparentemente quem cai não tem mais possibilidade de perdão.
A resposta a estas duas questões está na expressão "cair". Há necessidade de um entendimento teológico desta queda. Que tipo de queda é esta? Se não entendermos a que tipo de queda o autor aos Hebreus se refere, não poderemos entender que negação da possibilidade de renovação e perdão é esta.
Se os iluminados caem por causa de pecado, será que há pecado para o qual não há restauração nem perdão? Qual pecado para o qual não há possibilidade de renovação e arrependimento? Apenas o pecado contra o Espírito. Dessa forma, os iluminados só podem cair de maneira que não haja renovação e perdão para eles se puderem cair num tipo de pecado para o qual não há possibilidade nenhuma de restauração. O autor está dizendo que não há perdão, que é impossível que eles sejam restaurados.
Em certo sentido, o crente pode ser acometido de algumas quedas. A queda do estado de cristão comungante nominal; a queda do vigor espiritual; a queda do crescimento espiritual; a queda no pecado que leva o homem a uma letargia espiritual, ao sono profundo de modo que ele vai se desviando da intimidade com o Senhor, da comunhão dos santos e se torna parcialmente privado da graça de Deus. Veja que privado da graça não significa perder a graça. Os que crêem que se pode perder a salvação e acham que a queda destes iluminados se dá por causa de algum pecado comum, estão caindo num sério problema da afirmação da insuficiência de Cristo para nossa salvação. Jesus, ou é suficiente para minha salvação ou não o é. Se Ele é suficiente, estarei salvo, mas se Jesus não é suficiente para minha salvação, então eu tenho de cooperar com Ele para alcançar esta salvação e não posso ter certeza disso, nem mesmo um segundo sequer, pois não sei a que hora vou pecar. Portanto é muito sério dizer que estes iluminados caíram por causa do pecado. Ou seja, um pecado de roubo, prostituição, assassinato. O autor aos Hebreus não está tratando deste tipo de pecado aqui. A queda é muito mais séria porque a conseqüência é muito mais severa: é impossível a restauração. Na história bíblica, muitos que praticaram certos pecados foram restaurados pelo arrependimento. Um exemplo disto foi Davi. Mas, então, que queda é esta que não há restauração?
A queda não se refere a qualquer tipo de pecado contra Deus. A palavra grega para "queda" (PARAPTÔMA), pode muito bem referir-se à "ofensas comuns" do dia a dia de um cristão (Mt 6:14; Mc 11:25; Gl 6:1), bem como ao estado de morte espiritual e condenação eterna, no qual se encontram todos aqueles que ainda não foram vivificados e ressuscitados por Deus em Cristo Jesus (Rm 4:25;5:15-18,20; Rm 11:11; II Co 5:19; Ef 1:7; 2:1,5; Cl 2:13). Destes dois significados, o que de fato deve fazer parte do texto de Hebreus 6 é exatamente o segundo, pelo fato do primeiro referir-se à pecados passíveis de restauração, enquanto o texto em estudo refere-se à algo que não tem restauração. O texto nos traz a revelação de um tipo de pecado tão tremendo que não pode ser restaurado em tempo algum. A queda dos hebreus, para os quais não há perdão, os quais são chamados de iluminados, é a mesma queda a que Paulo se refere em Gálatas 5.1-4:
"Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei. De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes".
Este é o pecado para o qual não há perdão: a insuficiência de Cristo para a salvação. Eles estavam buscando justificação pela lei: “... procurais justificar-vos na lei...". Era o mesmo problema dos iluminados que caíram em Hebreus 6. Estavam negando toda a obra da redenção para sua salvação e agora queriam enfrentar a Lei "de peito aberto", para serem justificados. Paulo diz que se eles fizessem isso, estariam "obrigados a guardar toda a lei" (Gl 3:10). Só existem dois caminhos para a salvação: O caminho da Lei ou Cristo. Ou você escolhe Cristo pela fé para que a justiça dele seja considerada a sua, colocada entre você e Deus, de tal forma que Deus ao olhar para você não vê seu pecado, mas vê a justiça do Seu Filho Jesus Cristo e assim a Sua ira não lhe encontra; ou você busca cumprir a Lei para a salvação. A lei salva também. Como? Quando Deus propôs vida eterna a Adão, deu-lhe uma Lei e disse: "Adão você cumpre minha ordem e será recompensado". Eis a Lei para a vida eterna. Mas há um problema: a quem quer salvar-se pela Lei hoje, Deus exige que ela seja cumprida totalmente e por alguém sem pecado; nem um ponto sequer pode ser quebrado, nem um simples tropeçar da Lei. Você quer ser salvo assim? Quer ser salvo pela Lei, então terá de cumprir toda a Lei (Gl 3:10).
O que Paulo estava dizendo era: a pessoa que escolhe ser salva pela Lei está perdida! Por que? Porque não há quem cumpra a Lei e vocês têm de, pela fé, reivindicar a justiça de Cristo para serem salvos. Enfrentar a Lei para a salvação é decair da graça. No estado de pecado a Lei não salva mais o homem, mas sim a graça. Quem quiser se aventurar pelo caminho da Lei tem de cumprir toda a Lei, diz Paulo. Mas, ainda assim, fomos salvos por causa do cumprimento da Lei. Como? Não porque nós a cumprimos, mas porque Jesus a cumpriu cabalmente por nós.
Enquanto o problema dos gálatas era a circuncisão, o problema dos hebreus era a volta ao judaísmo e ao sacrifício judaico. Ambos eram considerados por eles como caminhos de justificação. Dessa forma posso entender por que os hebreus sofreram uma queda. Como se anula o sacrifício de Cristo? No versículo 2, Paulo diz: " Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará" (Gl 1:2) Ainda em Romanos 4:14 ele diz: "Pois, se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa". É como se ele dissesse: "Enfrentem a Lei e vocês estarão condenados porque se Cristo de nada aproveita, então, é porque vocês decaíram da graça e estão tentando a justificação pela Lei".
Então, o problema dos iluminados, o terem caído da graça, não é um problema de pecado do dia a dia. O termo (ANAKAINIZEIN), "restaurar" é uma famosa palavra rara do N.T, encontrada apenas neste texto de Hb 6:6. Este verbo é um composto de (ANA), preposição que forma 26 compostos em todo o N.T. com o significado de "outra vez", "de volta", "para trás". A idéia desse termo único em Hebreus, primariamente, é de uma re-novação, uma volta ao estado anterior. Esta compreensão é reforçada pelo termo PALIN, "de novo", sintaticamente e imediatamente relacionado a "restaurar". Indicaria isto que o real estado anterior dos iluminados seria um estado de graça salvadora? Creio que não, pois é possível que o autor aos hebreus esteja considerando a congregação visível dos santos como um estado de graça, e que a presença e ausência nesta congregação represente um tipo de queda e restauração (o que neste contexto é impossível por causa do tipo de pecado deles). É muito comum esta visão no Novo Testamento, o que se pode perceber também com relação ao pensamento dos apóstolos em relação ao problema da apostasia.
O problema dos nossos pecados atuais Deus já resolveu, já deu a solução (Rm 8:33-39; I Jo 2:1-2). O problema dos hebreus aqui é a anulação da fé e da promessa (Rm.4:14). Isto acontece sempre com os que buscam a Lei para uma auto-justificação. Neste versículo, Paulo diz que "se os da lei é que são os herdeiros, anula-se a fé e cancela-se a promessa". O que significa isso? Ora, salvação é promessa; somos salvos porque somos herdeiros, porque herdamos e não porque conquistamos por esforço próprio. É herança! Você não pode conquistar porque terá de enfrentar a Lei e ela lhe condena. Por isso, alguém tem de conquistar por você. A justiça de Cristo nos é dada por intermédio da fé que é um dom de Deus (Rm 5:1; Fp 3:9). Paulo diz que salvação é promessa de Deus. Se nós vamos estipular as condições para dar um presente, este não é promessa e sim um salário (Rm. 4:4-5). Quando você promete algo para alguém, e você estipula as condições para ele cumprir, este presente deixa de ser presente e passa a ser salário, porque ele estaria ganhando em decorrência de ter cumprido o estipulado. Mas promessa é graça, pois Paulo contrasta promessa com Lei. Ele diz que, se os da lei é que são os herdeiros, eles não precisam de fé, nem de promessa. Cada um se vira sozinho para conquistar a sua própria salvação.
Era como se o apóstolo Paulo estivesse dizendo assim: "Você acha que pode conquistar sua salvação? Então, terá de cumprir a Lei. Vamos retirar a promessa feita a você e vamos retirar a fé". Porque é a fé que chama a justiça de Cristo para nós (fé que Deus nos dá), e a promessa é a garantia da eleição graciosa e incondicional de Deus. Sem fé não temos justiça de fora, mas somente a nossa própria, e sem promessa não temos salvação de maneira graciosa da parte de Deus. Na justificação, convidamos o que está fora, o que não é nosso, a vir para nós. Nossa justiça é, como disse Lutero, "alienígena". Você quer ser salvo sem fé e sem promessa? Vire-se sozinho com a Lei (é isso que Paulo está dizendo aqui); depare-se e enfrente a Lei; tente salvar-se sozinho. Mas há um detalhe que você não deve esquecer: cumpra toda a Lei! Porque se errar num ponto apenas, a Lei o condenará eternamente, porque Deus não se relaciona com pecadores a não ser na base da justiça de Seu próprio Filho.
O apóstolo Paulo diz que a salvação é para pecadores. Nunca devemos pensar que estes iluminados aqui estão caindo (sem perdão) porque pecaram. Não é um problema tão simples de pecado "diário" a que o escritor aos Hebreus se refere, mas um problema muito mais sério porque repousa sobre estes iluminados a ira de Deus e a ausência do perdão.
O apóstolo Paulo diz em Romanos no cap. 7: 14 -25:
"Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado."
Aqui há o que os puritanos chamavam de gemitus sanctorum que é o gemido dos santos, dos regenerados. Há muitas interpretações em cima deste texto. Alguns autores dizem que aqui Paulo está tratando do gemido do não-regenerado. Mas o homem não-regenerado não luta com a Lei de Deus, pois a Lei não faz parte do seu cotidiano, ele está cego e morto, não tem tanta consciência da Lei de Deus a ponto de dizer: "Desventurado homem que sou!". A consciência que ele tem é uma impressão da Lei original no seu coração e mente, mas mesmo assim, afetada pelo pecado (Rm 2:13-16). Um não regenerado não diz isso a não ser que o Espírito o regenere e contraste sua condição de pecador com a Lei de Deus. Isso se dá na regeneração. Se diz também que Paulo estaria se referindo ao farisaísmo de sua época, pois eles eram amantes da Lei. A este argumento respondo que os fariseus eram observadores da Lei de forma exterior. Quanto ao homem interior eles não tinham prazer na Lei de Deus, tendo em vista que eram os maiores transgressores dessa Lei. Jesus afirmou que quanto ao homem interior eles só tinham podridão, eram os "sepulcros caiados", os maiores hipócritas daquela época.
Temos salvação mesmo em estado de pecado porque Jesus disse que Ele veio para os doentes e não para os bons. Mas o pecado ainda é uma realidade na vida do crente. O pecado não tem mais nenhum poder acusador e condenatório sobre os justificados, mas atrapalha a vida espiritual do crente e sua intimidade com Deus (Sl 32; Sl 51). Tanto é que no dia a dia da nossa salvação é necessário que haja um advogado, (I Jo 2:1). Que palavras extraordinárias! Eis a razão de não sermos consumidos por causa dos nossos pecados atuais!
Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.
Jesus é o nosso advogado e nossa propiciação; é a solução de Deus para que o pecado não nos condene, pois temos a justiça de Cristo. Por isso, toda vez que Deus olha para nós, mesmo que estejamos em pecado, Ele considera a justiça de Cristo como a nossa. Aqueles que afirmam que o crente perde a salvação por causa de um pecado cometido, estão, em outras palavras, dizendo que não têm um advogado, ou, se o têm, este é muito fraco porque o apóstolo João está dizendo exatamente isto: "Se todavia, alguém pecar, temos Advogado". Você já tentou chegar diante do juiz sem um advogado? A condenação é certa! Mas esta é a razão de não sermos consumidos em vista dos nossos pecados: temos um advogado!! E João ainda enfatiza mais: "Ele é a propiciação pelos nossos pecados...".
O que significa propiciação? Algumas versões famosas como RSV, NEB, NIV NRSV, traduzem erroneamente esta palavra por "expiação", mas esse não é o significado de HILASMOS, "propiciação", nem de HILASTERION, "propiciatório". Estas palavras, tanto no Velho Testamento como Novo Testamento significam o afastar a ira de Deus. Isso se relaciona sempre com o pecador, com a pessoa que praticou o delito, e não com o delito. Jesus é nossa propiciação porque quando pecamos, Ele é nosso advogado diante de Deus Pai. Jesus sempre diz ao Pai: "Este é justificado, não há condenação para ele". Jesus é o nosso Advogado, nossa propiciação porque, mesmo sendo salvos, quando pecamos diante de Deus, Cristo diz assim: "Pai, caia tua ira sobre mim (como já caiu) e não sobre aquele que foi justificado". Propiciação é afastar a ira de Deus de sobre aquele que merece a ira (Jo 3:36; Ef 2:3). Por isso nós permanecemos salvos mesmo pecando atualmente.
Para aqueles que acham que com o pecado do dia a dia perdem a salvação perguntamos: Quanto tempo podemos crer que passamos salvos? Quanto tempo você passa salvo durante um dia? Cinco minutos? Um minuto? Um segundo? Quem pode garantir que agora mesmo não está pecando? Pode ser que agora mesmo você esteja condenado. Na verdade a coisa é muito mais séria porque a salvação é para pecadores. Seremos glorificados lá, no dia do juízo, mesmo que para Deus já somos considerados neste estado. Mas enquanto estivermos aqui, estamos naquele gemitus sanctorum. Paulo disse: "Desventurado homem que sou. Quem me livrará do corpo desta morte?". Por quê? Porque na ressurreição o que é mortal será revestido de imortalidade e o que é corrupto será revestido pela incorruptibilidade (I Co 15:50-58). Por isso que essa glorificação e essa libertação total do poder do pecado será somente na eternidade. Mas o pecado não pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm 8:33-39). Se o amor de Deus estivesse em nós, esse amor, do dia para a noite se perderia porque fazemos coisas terríveis que entristecem ao Seu coração. Se dependêssemos da nossa integridade para que Deus nos amasse, não haveria um só dia em que não fôssemos odiados e que, conseqüentemente, estivéssemos perdidos. Mas o amor de Deus está em Cristo Jesus, porque somente Jesus satisfaz à Lei para nossa santificação e salvação. É algo que não está em nós. Observe as várias repetições da expressão "em Cristo Jesus "(Rm 8:39; Ef 1:5,6; 2:6,7,10).
Aqueles que dizem que perdem a salvação com o pecado, terminam se envolvendo em seríssimas implicações teológicas: 1) Eles não crêem na suficiência de Jesus como nossa justiça, nossa propiciação e nosso advogado; 2) Esses também não crêem na perfeição da justiça de Cristo como suficiente para satisfazer a Lei de Deus em tudo o que ela exige do pecador. Segundo o ensinamento do Novo Testamento sobre a expiação e propiciação, se um pecador volta a ser condenado por causa de seus pecados, isso indicará falhas na obra expiatória de Cristo. O que nos levaria, conseqüentemente, a concluir que a obra vicária de Jesus foi muito fraca para nos salvar da condenação eterna do pecado. Como compreender a perfeição da obra expiatória de Cristo se o pecado ainda tem poder condenatório sobre os quais foi aplicada esta obra? Como entender a qualidade da obra de Cristo se mesmo depois da nossa expiação e propiciação em Jesus, ainda assim podemos ser acusados de pecado condenador? Tudo isto seria possível se a obra de Cristo fosse defeituosa e não atendesse as exigências da lei de Deus quanto a nossa salvação eterna.
Qual era o estado desses iluminados antes da queda? Quando olhamos para as características da vida daqueles antigos hebreus percebemos aspectos semelhantes da vida espiritual dos crentes nos dias de hoje. Vejamos:
  1. Foram iluminados. Saíram de uma cegueira e começaram a enxergar.
  2. Provaram o dom celestial das bênçãos oferecidas no evangelho.
  3. Foram participantes do Espírito. O Espírito deu conhecimento, entendimento.
  4. Provaram da Palavra. Quando lhes foi pregado o evangelho naquele dia eles se maravilharam com a Palavra. Ouviram da vontade de Deus, e até fizeram votos de observá-la.
  5. Provaram dos poderes do mundo vindouro. Eles tiveram um claro entendimento do juízo de Deus sobre o mundo, das promessas de Deus, o desvendar do mundo futuro; tiveram uma clara distinção do juízo, bem como provaram dos milagres da era apostólica.

O que se tem argumentado normalmente na exegese deste texto é o seguinte:
  1. Que a idéia de iluminação encontrada em FOTISTHENTAS, "iluminados" não se refere de fato à iluminação trazida pela verdadeira regeneração, fazendo o pecador enxergar sua própria perdição e necessidade de um Salvador, mas apenas a uma chispa da luz do evangelho.
  2. Que o verbo grego GEYSAMENOS, "provaram", significa apenas "provar", indicando assim que aqueles hebreus apenas tiveram um "gostinho da graça", e não se fartaram da comida celestial.
  3. Que DOREAS, "Dom" é contrastado com CHARISMATA, "Dom", ou "graça salvadora", e que significa apenas "dom", como qualquer outra bênção dada por Deus a todos os pecadores.
  4. Que o termo METOCHOS, sempre indica "participante", "companheiro", mas nunca de fato quer significar intimidade, ou no caso do Espírito, "habitação".

Essa exegese de tais palavras e conseqüentemente a teologia extraída desta análise não podem ser sustentadas em todo o Novo Testamento pelas seguintes razões:
1. O termo FOTISTHENTAS, pode muito bem indicar a iluminação salvadora, que como revelação, é trazida à mente e ao coração dos homens sem Cristo para que entendam a verdade de Deus sobre o pecado e sobre a salvação (Jo 1: 9; Ef 1:18). Ainda mais, o termo HAPAX, sintaticamente ligado à FOTISTHENTAS aponta para algo que acontece uma só vez, o que pode ser dito da regeneração.
2. O uso de GEYSAMENOS no Novo Testamento não indica que ele sempre se refere à um "provar" superficial, ou apenas a um "gostinho" daquilo que se prova. Podemos ver seu uso para um total envolvimento com aquilo que se prova, que é o caso de Mc 9:1 e Jo 8:52 (provar a morte). Este termo também pode ser visto como o verbo "comer” (At 10:10). Nestes dois usos distintos deste termo, não há a idéia simplesmente de "provar", mas de envolver e digerir.
3. DOREAS ,(dom), não é necessariamente um contraste com as verdades salvadoras implícitas no termo CHARISMATA. Podemos encontrar DOREAS sendo usado como sinônimo de CHARISMATA em textos como João 4:10 referindo-se a Jesus; Atos 8:20, referindo-se ao Espírito; Romanos 5:15, 17 referindo-se à vida eterna. O autor da epístola poderia estar usando um destes significados sem problema.
4. A palavra grega METOCHOS também reflete a mesma natureza de abordagem que estamos fazendo. Dizer que o termo ali se refere apenas a uma "participação" do Espírito em vez de uma "habitação" do Espírito, não é convincente, tendo em vista que este termo também é usado para descrever nossa participação da vocação celestial no mesmo autor (Hb 3:1), e participantes de Cristo (Hb 3:14). O que pesa mais nesse argumento é que as duas ocorrências do termo, que contrastam com a interpretação sugerida, acontecem exatamente no mesmo autor, indicando uma unidade em seu pensamento sobre o termo METOCHOS.
Nosso grande problema com a exegese deste texto é que ela não ajuda a afirmar que o autor aos Hebreus estava falando de uma fé temporal, ou de uma pseudo-regeneração e pseudo-conversão. Calvino refere-se à queda desses hebreus como "fé temporal", mas ele não se baseia na exegese do texto, e sim, como estamos fazendo aqui, no estado posterior deles. Não conseguiremos encontrar pistas para descobrir se eles eram de fato regenerados ou não estudando o estado anterior deles, e sim estudando o estado posterior daqueles hebreus.
Mas, perguntamos: que tão grande queda foi essa que invalidou esse estado de graça e vetou a possibilidade e volta ao antigo estado de graça? Que trágica queda foi essa dos iluminados? A verdade está no versículo 6: "... caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia". Esse pecado é exatamente o problema que Paulo coloca em Gálatas 5:2-5, como já enunciamos anteriormente. Eles decaíram da graça porque procuraram a justificação por outro meio que não Cristo. Para isso não há perdão, não há como o homem ser salvo. Se a fé for anulada e cancelada a promessa, o que sobrará para o homem? A LEI! E sabe o que a Lei faz conosco nesta circunstância? Ela nos condenará friamente e nos levará ao inferno, pois o que ela exige para a nossa justificação não podemos cumprir. Estão condenados, diz o apóstolo Paulo. Você quer ser salvo Pela Lei? Cumpra toda a Lei. E por não podermos, estamos condenados, decaídos da graça, miseravelmente perdidos.
Esses Hebreus, diz o autor, estavam "crucificando para si mesmos o Filho de Deus". O que isso significa? Que esses "irmãos" estavam praticando obras da Lei, que era um caminho totalmente oposto ao caminho da graça. Por isso Paulo diz que os gálatas caíram da graça. Eles voltaram à prática desta Lei para sua justificação. Eles estavam negando o sacerdócio de Cristo, negando a nova aliança, toda a obra vicária do Senhor e voltando ao farisaísmo tão combatido por Jesus e pelo apóstolo Paulo.
O uso da expressão "cair da graça" não quer dizer necessariamente "perda de um genuíno estado de salvação anterior", pois, geralmente encontramos essa expressão no Novo Testamento sempre que é feita referência à descristianização de algum membro da igreja ou relacionado à apostasia, e geralmente à pessoas que nunca tiveram salvação. Percebamos que nem Paulo, nem o autor aos Hebreus estão emitindo alguma forma de juízo revelacional, ou trazendo uma revelação sobre o estado espiritual daqueles que decaíram da graça. Não! Não é isto que está em vista aqui. Tanto Paulo quanto o autor aos Hebreus estão se dirigindo à igreja visível de Cristo, de maneira exortativa, e emitindo um parecer inspirado sobre a condição deles a partir de uma visível apostasia da graça. Ora, se alguém abandona o caminho da graça e abraça o caminho das obras, a conclusão inevitável é: ele decaiu da graça; voltou para o caminho das obras, para o caminho da Lei. Nesta condição, quem se salvará?
Quando os apóstolos chegaram a Éfeso (Atos 19), eles fizeram uma pergunta àqueles discípulos de João Batista. Quando lemos esta palavra "discípulos" aplicada a eles, parece que eram crentes, mas vamos saber se são, de fato, crentes, quando continuamos a leitura do texto e vemos o apóstolo perguntando: "Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes?". Então eles responderam: "Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo". Para Paulo aquilo era uma anormalidade: "Não receberam quando creram? O que está havendo?" Paulo pergunta ainda para eles: "Em quem vocês foram batizados?”. Eles responderam: "No batismo de João Batista quando estava pregando" . Parece que estou ouvindo Paulo dizer: "Eis aí a causa. Por isso que vocês não conhecem a Jesus". Porque a expressão "batismo em nome de Jesus", em todo Novo Testamento, significa conversão, regeneração. Isso porque, durante muito tempo, na igreja apostólica, batismo era, não apenas um sinal, mas a própria conversão. Era uma evidência clara da conversão, pois eles perguntavam logo: "Vocês foram batizados em nome de quem?". Se não fosse em nome de Jesus, eles concluíam logo que não estavam salvos, pois eles tinham credenciais apostólicas para perguntar e concluir que o batismo em nome de Jesus representava a conversão.
Mas, por que a pregação e batismo de João Batista não salvaram aqueles discípulos? A resposta é que eles não haviam crido, tanto é que Paulo afirmou que eles deveriam ter recebido o Espírito quando cressem. Isto era porque João Batista estava pregando a mensagem messiânica e não a mensagem evangélica. Depois da vinda de Jesus, nenhuma mensagem messiânica pode salvar o homem. Bruner diz algo muito importante em seu livro TEOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO, página 161 "Desde a vinda de Jesus, o caso de cristãos crerem no Messias e, porém, serem batizados no batismo de João é naturalmente uma anomalia. E este é o problema por detrás desta passagem. Somente quando a fé no Senhor Jesus Cristo é ligada com o batismo nEle é que o cristão, é lógico, recebeu a iniciação cristã autêntica. O elo que faltava na formação espiritual dos efésios, portanto, não era o ensino sobre como ser batizado no Espírito Santo, era a fé e o batismo em Jesus. E quando foram dados esta fé e este batismo, assim também, gratuitamente, o Espírito também foi dado." Por isso, ninguém da velha dispensação que entrou na nova pode deixar de ser batizado em nome de Jesus. Mas o importante é que a mensagem messiânica não leva o homem, na era do Messias que chegou e está presente, à salvação. Por isso, eles estavam perdidos, sem salvação. Ora, se aquela mensagem messiânica não salvou àqueles, o que dizer daqueles hebreus que voltaram aos sacrifícios do Judaísmo? Estão perdidos tentando a justificação pela Lei. Para eles não existe nenhuma "obra" da Nova Aliança - Cristo - e sim somente a Lei, suas próprias obras e a aventura de buscar a justificação por ela. Por isso que eles decaíram da graça. Por isso que eles ao abandonarem o cristianismo e ao se voltarem para o judaísmo ficaram sacrificando a Jesus. O autor perguntava: "Será que vocês vão novamente para um sacrifício que já foi consumado? Se é assim, Cristo de nada vale para vocês". A pregação messiânica não serve mais, a pregação deve ser evangélica - as Boas Novas. O que são as Boas Novas? Cristo, Deus Emanuel, Deus presente.
Mas, não estou dizendo com isso, que os crentes fiéis do Velho Testamento foram salvos cumprindo a Lei. Não pensem nunca nisso. O judaísmo e os fariseus de todas as épocas, como o homem natural, pensam que a salvação é uma conquista dele mesmo. O homem natural diz em relação à salvação: "Devo fazer". O homem regenerado pelo evangelho diz: "Está feito". No VT os crentes eram salvos pela fé em Deus. A prova disto é a exigência do sangue no relacionamento entre Deus e o pecador. Esta exigência já era prova de que o caminho a ser trilhado pelo pecador deve ser sempre o da graça, e nunca o das obras. Por isso o sangue já pregava o Evangelho da graça. Mas não era fé no sangue do animal, como queriam os fariseus, mas fé em Deus. O sangue deveria dirigir os olhares dos israelitas para o caminho da graça, para a salvação que era promessa. Mas muitos entendiam erroneamente que era o próprio sacrifício que expiava. Paulo diz destes que eles decaíram da graça porque só conseguiam enxergar o caminho das obras.
Quem são estes do judaísmo que tentam justificação pela Lei? São exatamente aqueles que entenderam erroneamente o caminho da salvação. O próprio Deus havia providenciado sacrifícios que pregariam as Boas Novas, dizendo que o pecado seria expiado e a ira de Deus seria aplacada, mas através do sacrifício de Cristo que viria, mas que já era dado eficazmente como certo - as Boas Novas, Jesus, Deus Emanuel, Deus conosco. Esta é a pregação evangélica. Paulo falou sobre isso: "Bem que eu poderia confiar na carne (como muitos confiam). Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais; circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível (Fl.3:4-6) . Esta é a expressão máxima: "quanto à justiça que há na lei... ". Este é o pensamento farisaico quanto à salvação. Os homens queriam conquistar a sua salvação cumprindo a Lei por si mesmos. Os fariseus pensavam assim. Paulo era um exemplo disso, pois ele diz que quanto a isso ele era "irrepreensível" .
O texto diz que, se eles abandonaram o verdadeiro caminho para a justificação que é Cristo, se estes iluminados saíram deste caminho e foram para o caminho do judaísmo para buscar esta justificação pelas obras da Lei, então, podemos concluir que não eram justificados. Se estes iluminados foram buscar a justificação através da Lei, concluímos então, que eles não haviam sido verdadeiramente justificados. Anularam a fé, cancelaram a promessa e tornaram Cristo algo inútil. Deus não perdoa este pecado. Deus não perdoa esta anulação da obra redentora. Este é o pecado contra o Espírito. Só os não regenerados são passíveis de um pecado desta gravidade. Isto significa que nos tais nunca houve a regeneração, a obra da regeneração do Espírito, e a prova disso é que seu estado de suposta graça não foi suficiente para mantê-los no caminho da graça - abandonaram a Cristo. Mas que regeneração é esta que os faz abandonar as Boas Novas? Eles sempre estiveram em Adão e não em Cristo (I Co 15:22). Em Adão todos morrem e em Cristo todos são vivificados. Se o estado destes iluminados é estado de morte e sobre eles repousa a ira de Deus, não há propiciação para eles. Estão ainda em Adão naturalmente condenados. Não há perdão para estes iluminados porque eles resolveram caminhar nesta trilha da justiça pelas obras da Lei, pois é sempre esse o caminho da religião natural da humanidade.
É bem verdade que a exegese daqueles termos importantes não aponta para uma falsa fé naqueles hebreus, mas a falsa conversão daqueles "crentes temporários" pode ser facilmente constatada pelo autor da epístola por contemplá-los num caminho de obras.
Nada denuncia mais a nossa condenação do que tentarmos nos salvar a nós mesmos.
Como entender a iluminação destes que caíram da graça? A pergunta seria: Pode, então, um não eleito, um não salvo, um não regenerado, participar, de alguma forma, da graça de Deus? Será que o homem natural, pode, em algum sentido, ser iluminado? Será que aqueles que não foram eleitos, que não foram contemplados para a obra da justificação sobre suas vidas, podem participar, em algum sentido, da graça de Deus? Em Marcos 4:14-19 temos esta resposta. O versículo 16 diz que estes "ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria". Percebamos o envolvimento da fé temporal com a Palavra de Deus! Mas como "não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração, e lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da Palavra, logo se escandalizam. Os outros, os semeados entre espinhos, são os que ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a Palavra, ficando ela infrutífera. Os que foram semeados em boa terra são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta, a sessenta e a cem, por um". Por que a palavra frutificou? Porque a semente caiu em boa terra, criou raiz e essa raiz foi aprofundada. O v. 17 diz que os que se escandalizam ficam assim porque "não têm raiz em si mesmos”. Por isso não duram, são de pouca duração. Nestes não há regeneração.
A obra do Espírito na regeneração tem a dimensão de uma raiz que é cravada no interior do homem, num coração preparado por Deus (Ez 36:24-27). Sem esta raiz profunda não há regeneração, nem fé, nem santificação, nem obediência (Ef 1:4,5,13,14). Observem que esses foram os elementos indiscutíveis pelos quais, tanto Paulo quanto o autor aos Hebreus procuraram naqueles crentes, e que naquele momento estavam ausentes na vida daqueles irmãos. Então ele conclui: "Da graça decaístes". Por isso dura tão pouco. Mas há um envolvimento com a Palavra. Há uma duração, mesmo que pequena, há uma caminhada, uma iluminação, há um partilhar desta graça, mesmo sem raiz. Foram iluminados, mas não receberam os olhos da verdadeira visão espiritual, porque não tinham raiz. Entenderam certos princípios da vontade de Deus e até mesmo aguçaram suas consciências com a verdade do evangelho. Apenas se afastaram temporariamente das trevas do paganismo, do judaísmo, do caminho das obras da Lei.
Os verdadeiros filhos de Deus têm a luz da vida (Jo 8:12), enquanto que os perdidos têm apenas pequenas faíscas, centelhas de luz dessa graça. Os iluminados de Hebreus 6 provaram o dom celestial mas não digeriram verdadeiramente o corpo e sangue de Cristo que está em João 6:53. Não comeram a carne, nem beberam o sangue de Cristo.
Foram participantes das operações do Espírito mas nunca chegaram a ser batizados com o Espírito tornando-se assim habitação deste Espírito. Provaram da boa Palavra e até se alegraram, mas faltou-lhes raiz. Provaram a Palavra, viram e maravilharam-se com as coisas que estão nesta Palavra. Até guiaram-se pelos seus preceitos de vida e dirigiram suas famílias por eles, mas não durou muito, pois, não havia raiz, por isso abandonaram esta Palavra.
Em Romanos capítulo 8:9, Paulo diz que, se o Espírito de Deus não está no crente este tal não é dEle. Eles não poderiam ter o Espírito de Cristo porque seria uma contradição. Como poderiam eles terem o Espírito de Cristo e ainda assim não estarem em Cristo? Logo, eles não tinham essa habitação. Apenas provaram das manifestações do Espírito, mas, não da habitação do Espírito. Estes estão condenados, pois não têm o Espírito, mas sim o pendor da carne. Portanto, esse "provar do Espírito", esse ser "participante do Espírito" que mais tarde leva o crente à salvação por obras não corresponde à teologia paulina da habitação do Espírito, pois o resultado da habitação do Espírito é contrastante com a postura daqueles hebreus apóstatas da graça (Rm 8:4-27).
Provaram os poderes do mundo vindouro, mas, contentaram-se apenas com as centelhas da ira de Deus. Entenderam que haverá um grande juízo sobre o mundo mas se contentaram com o que Paulo diz em Romanos 2:14-15 - "Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se". Esse era o tipo de lei, de poder do mundo vindouro com o qual esses iluminados que caíram se contentaram. Porque os não crentes também têm uma lei, só que não é aquela Lei que milita contra a carne, mas é uma lei que apenas provoca o remorso no coração do assassino.
Que leva depressão ao espírito daquele que pratica o pecado, mas nunca o leva de volta à vontade de Deus. Nunca ele dirá: "no tocante ao homem interior, tenho prazer na Lei de Deus" (Rm 7:22). Mas, ao contrário, se contentam apenas com estas pequenas faíscas da luz de Deus, do Seu grande julgamento. Se contentaram apenas com esta concepção do julgamento de Deus. Uma outra concepção sobre os poderes do mundo vindouro é fundada no significado de DINAMEIS MELLONTOS AIÔNOS, "os poderes do mundo vindouro". O termo DYMANEIS pode ser entendido por milagres ou prodígios, indicando que aqueles hebreus poderiam ter provado dos poderes do reino dos céus, o que poderia ser exemplificado pela participação deles em uma época como a era apostólica, a qual foi confirmada com muitos poderes miraculosos.
Provaram do dom celestial. Certamente que eles até se esforçaram em conhecer melhor o Dom de Deus, Jesus. Até louvaram-no, fizeram-lhe orações e se alegraram com ele. Talvez tenham buscado socorro e amparo em Jesus. Quem sabe se eles, como muitos nos nossos dias, até foram curados, seus problemas solucionados, suas lágrimas estancadas nessa dimensão da presença de Cristo. Muitos deles até mesmo evangelizaram outros judeus e pregaram Jesus para eles. No entanto, abandonaram tudo isso, negaram tudo o que fizeram e voltaram para um caminho de obras. Então, o autor aos Hebreus diz: "Quão horrenda coisa é essa que vocês fizeram! Não há restauração para vocês!"
Tudo isso é a operação do Espírito na vida dos não regenerados como fruto da graça de Deus. E ainda assim, quando esses não regenerados caem deste estado, eles pecam contra o Espírito.
Conclusão do nosso estudo
O Autor aos Hebreus não está querendo ensinar com aquelas qualidades dos iluminados que elas são superficiais. A exegese do texto não aponta para este caminho. As qualidades que estão ali (iluminação, dom celestial, provar a Palavra e os Poderes celestiais, ser participante do Espírito Santo) são as qualidades que devem ser encontradas em todos os que são verdadeiramente regenerados.
Mesmo não tendo aqueles hebreus, de maneira profunda e eficaz, aquelas qualidades, a prova disto é que vieram a negá-las mais tarde, o autor da epístola estava dizendo que era impossível, depois da queda, para eles, o restaurar para o arrependimento. Neste ponto, o verbo ANAKAINIZEIN "restaurar ou renovar" está no infinitivo ativo, não trazendo nenhuma idéia passiva de "serem renovados ou restaurados por Deus". Tanto ADYNATON ("impossível"), quanto ANAKAINIZEIN ("renovar") referem-se aos iluminados, tirando-lhes qualquer possibilidade deles mesmos chegarem à graça salvadora de Deus. Então a melhor tradução do texto seria: "É impossível a estes iluminados, por suas próprias obras, voltarem ao caminho da graça."
O autor aos Hebreus, olhando para a igreja de Cristo, contemplava a assembléia dos que foram iluminados, provaram o dom celestial, a Palavra de Deus e os poderes do Reino e eram participantes do Espírito, e entre estes estavam aqueles irmãos que mais tarde abandonaram esta assembléia dos santos. Para o autor da epístola, estes irmãos participaram de forma visível das bênçãos que cercam os eleitos de Deus. A prova deste meu argumento é o fato de não conter no texto nenhuma forma de avaliação revelacional ou profética sobre o interior de cada um daqueles hebreus desviados do evangelho de Cristo. O capítulo 6 inicia exatamente ao estilo de uma exortação (1-3), encaixa uma advertência em forma de lembrança, e continua com a exortação (9-12).
O que quero dizer é que sua avaliação dos iluminados é do ponto de vista da assembléia visível dos santos. Se o julgamento que o autor faz sobre os iluminados é exortativo e em relação à assembléia dos santos, a qual ele podia contemplar, então, com o termo "queda", não devemos entender necessária e teologicamente "cair do estado de salvação eterna", nem a perda da justificação, pois eles nunca tiveram isso verdadeiramente. A idéia da queda corresponde a um abandono não somente da assembléia dos santos, mas também do caminho da fé e da graça salvadoras. Isto significa que o mero fato do autor dizer que caíram, quer dizer que eles deixaram a congregação dos santos e voltaram para o judaísmo. O participar das bênçãos dos regenerados quer dizer que tiveram um proveito de certa forma da atmosfera da graça. E o não serem restaurados para o arrependimento quer dizer que se isso depender das obras deles e do caminho que tomaram, jamais chegarão à graça salvadora e conseqüentemente nunca haverá perdão para eles.
A queda dos iluminados de Hebreus 6 refere-se também a uma total renúncia de Deus, da Sua Palavra, do seu dom e do Seu Espírito. Esses iluminados alienaram-se do Evangelho de Cristo e da graça salvadora, e foram totalmente excluídos do perdão. Este tipo de pecado somente pode ser cometido pelos não eleitos, pois àqueles que violam a segunda tábua da Lei de Deus é-lhes dado o perdão, mas àqueles que caem da graça são deixados por Deus permanecer neste estado.
Qual a lição prática que estes iluminados que caíram trazem para nós?
1. Nós não podemos nos contentar apenas com esses sinais dessa iluminação para pensarmos em regeneração. Nunca confundamos esses sinais dos iluminados com a regeneração. Nem tudo que for chamado evangélico, nem toda movimentação no meio evangélico é o Evangelho. A prova está aqui. Iluminados participaram da graça, mas nunca foram salvos. Somos tendenciosos a considerar salvos, crentes, e evangélicos, aqueles que confessam uma iluminação deste tipo. Mas a Palavra de Deus ensina a perseverança na vontade de Deus e a suficiência de Cristo como evidências de nossa regeneração (Mt 24:13; Jo 3:15,36; 5:24-25; 8:31; 10:26-29; 15:1-6; 15:10; I Jo 2:3-6,19,24,28,29; 3:7-10,24; 4:7,8,13,15,16; 5:4,5,18,19). O evangelho somente é verdadeiro quando Jesus é suficiente para a nossa salvação. Porém vemos tanto "marketing", tanta propaganda de um evangelho em que só Jesus não é suficiente.
2. O autor aos Hebreus se dirige a todos os crentes. Esta palavra não é dirigida apenas aos que caíram. Isso não está sendo escrito somente aos judaizantes da época do apóstolo; não se reduz apenas a uma época. Sua palavra é principalmente para os crentes fiéis que permanecem na congregação dos santos como um alerta para que ninguém venha a cair no mesmo delito da apostasia da graça. Decair da graça regeneradora só será possível se a pessoa nunca tiver sido alcançada por esta graça salvadora. Mas o "cair da graça" aqui é o participar visivelmente da graça e abandoná-la. É negar a graça, é anular a fé e cancelar a promessa. Sobre aqueles que decaem da graça o juízo é eterno. Mas sobre aqueles que decaem do estado de uma boa vida espiritual com Deus, Ele também tem juízo para eles. Ele também está dizendo que devemos nos sensibilizar de que os nossos pecados, a falta de sensibilidade para com o pecado, o cultivar o pecado na nossa vida, o achar que um pecado esporádico não faz mal a ninguém; o pensar que a mentira é menos pecado do que o adultério; e que a falta de compromisso, a insinceridade, a irresponsabilidade, a negligência, tudo isso são pecados menores do que o roubo ou assassinato é uma falta gravíssima nossa para com Deus.
Muitos pregam que perdem a salvação por caírem em adultério, ou num roubo ou qualquer pecado crasso, que chame atenção. Mas estão esquecidos de que João disse em Apocalipse que vão ficar de fora também os mentirosos (Ap 21:27; 22:15). Para os que têm tal concepção da salvação, um irmão mentiroso quase sempre nunca é visto como tão perdido quanto um "adúltero". Mas a Palavra de Deus diz que esse vai ficar de fora tanto quanto aquele que foi feiticeiro, que estava sob o paganismo ou judaísmo, que anularam a graça. Muitos mentirosos pensam que estão salvos, mas está escrito no livro: "MENTIROSO". Os que defendem a perda da salvação sempre estão pensando nos pecados graves e escandalosos, ao estilo da concepção do "pecado mortal" da Igreja Católica Romana. Nunca lhes vem à mente que se a estabilidade da salvação dependesse de nossa integridade ela seria perdida ao menor pecado, pois a Lei de Deus não admite qualquer forma de pecado, (Gl 3:22).
Com relação à vida espiritual da igreja o autor está dizendo: "Irmãos, fiquem em guarda contra a possibilidade de um sono em que um "pecadinho" se torne um pecado de estimação e vai vagarosa e sutilmente rastejando em vossas almas até tomar conta do coração e da mente. Tomem cuidado com este pecado que vai encontrando razões sociológicas, psicológicas, antropológicas e lógicas para um habitat em suas vidas, e quando vocês menos esperam estão na mais profunda letargia espiritual, distante da abundância da graça". Sobre estes Deus pesará a Sua mão. Estamos dizendo isso para que o povo de Deus se consagre cada dia mais.

_________________________
Esta exposição é baseada na obra puritana "A Commentary on the holy biblie" de Matthew Poole, teólogo puritano genebrino do século XVII.


Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org