segunda-feira, 27 de junho de 2011

MISSÕES CATÓLICAS E PROTESTANTES A PARTIR DO SÉCULO 16

Alderi Souza de Matos
A igreja cristã, em suas diferentes expressões, sempre tem tido a consciência de possuir uma missão no mundo. O entendimento dessa missão varia de uma confissão para outra, mas inclui no mínimo o objetivo de anunciar o evangelho (a mensagem cristã) a outros povos e culturas, e implantar a igreja entre esses povos. Alguns períodos da história do cristianismo foram especialmente dinâmicos no que diz respeito ao esforço missionário da igreja. Um desses períodos foi o que teve início com as grandes navegações empreendidas por diversas nações européias no final do século 15 e início do século 16. Tais viagens, que tinham primariamente objetivos comerciais, tiveram como resultado um contato sem precedentes com novos povos e regiões do planeta. Adicionalmente, esse período coincidiu com a ocorrência de profundas transformações religiosas na vida da Europa, notadamente o surgimento da Reforma Protestante e a revitalização do catolicismo romano em reação à mesma. Esse catolicismo militante tomou a dianteira no que diz respeito às missões mundiais.

1. A cruz e a espada
Até o final do século 15, a atuação missionária católica romana limitou-se quase que exclusivamente à Europa ocidental. Fora da Europa ocorreram apenas umas poucas iniciativas isoladas, que não produziram resultados duradouros, como a missão do franciscano João de Monte Corvino na China em 1294. Também ficou célebre o trabalho persistente, porém infrutífero, do terciário franciscano Ramón Lull entre os muçulmanos do norte da África, onde foi morto por volta de 1315. A Europa oriental e o Oriente Médio eram campos de atuação da Igreja Ortodoxa, que enfrentava sérias limitações impostas pelo islamismo.

Todavia, a partir de 1492, com o surgimento dos impérios coloniais espanhol e português nas Américas, na África e na Ásia, a Igreja Romana teve uma oportunidade inédita para expandir a sua fé nesses continentes ainda pouco alcançados. Nesse esforço tiveram papel destacado as ordens religiosas, tanto antigas (franciscanos, dominicanos, agostinianos) quanto novas, especialmente os jesuítas, oficializados em 1540. As perdas sofridas pela igreja na Europa em decorrência da Reforma Protestante foram compensadas pela conquista de outros povos para a cristandade.

Em muitas regiões, os missionários católicos chegaram ao mesmo tempo em que os conquistadores e colonizadores, como foi o caso da América Latina e de algumas partes da América do Norte, África e Extremo Oriente. Em outros casos, os missionários atuaram fora de áreas colonizadas por seus correligionários, enfrentando, portanto, maiores dificuldades. Na África, as primeiras regiões atingidas, entre 1490 e 1650, foram o Congo, Angola, Moçambique e Madagascar, com poucos resultados iniciais. Quanto ao Oriente, ficaram célebres os esforços de pioneiros como Francisco Xavier (Índia, Malásia, Japão), Rodolfo Acquaviva (Índia), Mateus Ricci (China), Alexandre de Rhodes (Indochina) e Roberto de Nobili (Índia), entre outros. Em virtude da colonização espanhola, as Filipinas tornaram-se o único país majoritariamente cristão da Ásia.

Uma situação mais complexa envolveu a América Latina, em que os missionários atuaram lado a lado com os conquistadores e foram parte de um sistema que com freqüência explorou os nativos e contribuiu para a destruição da sua cultura e identidade. Houve, no entanto, honrosas exceções, como os frades Bartolomé de las Casas, Luis Beltrán e Juan de Zumárraga, que protegeram os índios, bem como Pedro Claver, o benfeitor dos escravos africanos na Colômbia. A expulsão dos jesuítas dos domínios portugueses (1759) e espanhóis (1767) colocou um fim a esse período áureo das missões católicas no terceiro mundo.

2. Primórdios protestantes
Nos séculos 16 e 17, um período de intensa atividade missionária católica em vários continentes, os protestantes pouco fizeram em termos de missões mundiais. As causas apontadas para isso são várias: (a) a teologia dos reformadores não dava ênfase à Grande Comissão como um desafio para a igreja da época; (b) o protestantismo ainda incipiente buscava consolidar-se em meio a grandes dificuldades; (c) os protestantes tinham acesso limitado às novas áreas missionárias; (d) havia falta de instrumentos eficientes como as ordens religiosas católicas.

As primeiras tentativas de missões aos indígenas americanos, todas infrutíferas, ocorreram no Brasil, nas Índias Ocidentais e no Suriname (séculos 16 e 17). Nessa época surgiram as primeiras missões evangélicas inglesas, voltadas para a América do Norte: a Sociedade para a Propagação do Evangelho na Nova Inglaterra (1649), a Sociedade para a Promoção do Conhecimento Cristão (1698) e a Sociedade para a Propagação do Evangelho em Terras Estrangeiras (1701).

O movimento missionário protestante teve seus primórdios com o pietismo alemão, um movimento de renovação do luteranismo liderado por Philip Spener e Auguste Francke, com sede na Universidade de Halle (1694). A colaboração entre o rei da Dinamarca e os pietistas resultou na primeira missão protestante, que enviou os missionários Bartolomeu Ziegenbalg e Henrique Plütschau para Tranquebar, na Índia, em 1705.

Os pietistas influenciaram o conde Nikolaus Ludwig von Zinzendorf (1700-1760), que acolheu em sua propriedade na Saxônia um grupo de refugiados morávios perseguidos pela Contra-Reforma, herdeiros do pré-reformador tcheco João Hus. Sob a liderança do piedoso Zinzendorf, os morávios empreenderam um vigoroso movimento missionário que até 1760 enviou 226 missionários a São Tomás (Ilhas Virgens), Groenlândia, Suriname, Costa do Ouro, África do Sul, Jamaica, Antigua e aos índios norte-americanos.

3. Pioneiros anglo-saxões
Os ingleses, influenciados tanto pelos pietistas e morávios quanto pelo avivamento evangélico do século 18, iniciaram um movimento de oração intercessória pela conversão dos pagãos. Um líder de grande impacto foi o batista William Carey (1761-1834), considerado “o pai das missões modernas”. Em 1792, ele publicou “Um estudo sobre a obrigação dos cristãos de usarem meios para a conversão dos pagãos” e pregou um célebre sermão baseado em Isaías 54.2-3. Vencendo muita oposição e desânimo, fundou com vários companheiros a Sociedade Batista Particular para a Propagação do Evangelho entre os Pagãos, depois denominada Sociedade Missionária Batista. Em 1793, Carey foi para a Índia, onde passou o restante da sua vida e traduziu a Bíblia para vários idiomas.

Finalmente, no início do século 19, um grupo de estudantes do Seminário de Andover, na Nova Inglaterra, criou a “Sociedade de Investigação do Assunto de Missões”, o que levou em 1810 à fundação da Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras. Dois anos depois, vários missionários foram enviados para a Ásia, entre os quais Adoniram Judson, que trabalhou na Índia e na Birmânia. Outros campos pioneiros da Junta Americana foram o Ceilão, o Oriente Próximo, a China e Madura, uma ilha da Indonésia.

No século 19, outros notáveis missionários protestantes foram: Reginald Heber (Índia), Robert Morrison e Hudson Taylor (China), Guido Verbeck, James Hepburn e Samuel Brown (Japão), Horace Underwood e Henry Appenzeller (Coréia), John Paton (Mares do Sul), Ludwig Nommensem (Sumatra), Daniel Bliss e Howard Bliss (Síria), David Livingstone e Robert Moffat (África), Robert Kalley, Ashbel Simonton e William Bagby (Brasil). Entre as mulheres, destacaram-se Mary Slessor (Calabar, África Ocidental), Florence Young (Austrália, Ilhas Salomão e China) e Amy Carmichael (Índia), entre outras.

O historiador Kenneth S. Latourette concluiu: “Nunca antes, em um período de igual duração, o cristianismo ou qualquer outra religião tinha penetrado pela primeira vez em uma área tão grande”, no que foi secundado pelo missiólogo J. Herbert Kane: “Nunca dantes na história da igreja cristã se fizera um esforço tão concentrado, organizado e hercúleo visando levar o evangelho até os confins da terra”.

4. Missões em retrospecto
A avaliação do esforço missionário nos últimos séculos, quer católico quer protestante, leva a algumas conclusões gerais, tanto positivas como negativas. Em seu livro A Concise History of the Christian World Mission (Breve história da missão cristã mundial), Herbert Kane arrola algumas críticas que têm sido feitas a muitos missionários: (a) tinham um complexo de superioridade; (b) trataram de maneira insensível as religiões “pagãs”; (c) deixaram de distinguir entre o cristianismo e a cultura ocidental; (d) exportaram o denominacionalismo juntamente com o evangelho; (e) deixaram de incentivar a indigenização do cristianismo; (f) foram culpados de paternalismo; (g) não foram sábios no uso dos fundos missionários do Ocidente; (h) identificaram-se muito de perto com o sistema colonial.

Ao mesmo tempo, é importante destacar as contribuições positivas de muitos missionários: (a) amaram os povos entre os quais trabalharam; (b) desenvolveram uma apreciação genuína pelas culturais locais; (c) aprenderam as línguas locais e traduziram as Escrituras; (d) proporcionaram educação moderna para os povos do terceiro mundo; (e) foram os primeiros a crer no potencial dos “nativos”; (f) abriram hospitais, clínicas e escolas de medicina; (g) introduziram reformas sociais e políticas; (h) formaram uma ponte entre o Oriente e o Ocidente; e (i) plantaram a igreja em quase todos os países do mundo.

Perguntas para reflexão:
1. Por que a associação entre as missões cristãs e o colonialismo foi tão problemática? Isso ainda acontece hoje?
2. Foi justificável a demora dos protestantes em iniciar missões em âmbito mundial? Por quê?
3. Quais os principais desafios e barreiras enfrentados pelas missões internacionais e transculturais? Como superá-los?
4. Qual deve ser o objetivo maior do esforço missionário em determinada região ou país?
5. Quais são as diferentes ênfases das missões católicas e protestantes?
Sugestões bibliográficas:
CALDAS, Carlos. O último missionário. São Paulo: Mundo Cristão, 2001.
CÉSAR, Elben M. Lenz. História da evangelização no Brasil: dos jesuítas aos neopentecostais. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2000.
GONZÁLEZ, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo. Vol. 7: A era dos conquistadores. São Paulo: Vida Nova, 1983.
NEILL, Stephen. História das missões. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.
STEUERNAGEL, Valdir (Org.). A missão da igreja: uma visão panorâmica sobre os desafios e propostas de missão para a igreja na antevéspera do terceiro milênio. Belo Horizonte: Missão Editora, 1994.

A oração na história da igreja

Alderi Souza de Matos

No início da era cristã, a espiritualidade pessoal judaica era caracterizada por três elementos principais: esmolas, oração e jejum (ver Mt 6.1-18). Jesus valorizou essas práticas, contanto que realizadas com uma atitude interior correta, dando ênfase especial à oração. Ele estabeleceu alguns princípios a serem observados: prioridade da oração particular, discrição e humildade (“fechada a porta”), objetividade (sem “vãs repetições”), confiança no cuidado paternal de Deus. Também ensinou aos seus discípulos uma significativa oração modelo, o “Pai Nosso”.

No final do 1º século ou início do 2º, começaram a surgir normas sobre a oração. Um antigo documento da época, a Didaquê, afirma o seguinte: “Não orem como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou no evangelho: ‘Pai nosso que estás no céu... Porque teu é o poder e a glória para sempre’. Orem assim três vezes por dia” (8:2-3). Existem evidências de que, desde uma época muito remota, os cristãos em muitos lugares observavam certas horas de oração particular. Tertuliano menciona a manhã e a noite, bem como as tradicionais horas terceira, sexta e nona. Além disso, a Tradição Apostólica de Hipólito fala de um culto público matinal para ensino e oração ao qual todos eram incentivados a ir diariamente. No culto público, os cristãos ajoelhavam-se para orar, exceto aos domingos (ver G. P. Fisher, History of the Christian Church, pág. 65).

Em pouco tempo surgiram orações litúrgicas pré-estabelecidas. A Didaquê (caps. 9 e 10) apresenta alguns belos exemplos:

“Celebrem a eucaristia deste modo: Digam primeiro sobre o cálice: ‘Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste por meio de teu servo Jesus. A ti a glória para sempre’. Depois digam sobre o pão partido: ‘Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste por meio de teu servo Jesus. A ti a glória para sempre. Do mesmo modo que este pão partido tinha sido semeado sobre as colinas, e depois recolhido para se tornar um, assim também a tua Igreja seja reunida desde os confins da terra no teu reino, porque tua é a glória e o poder, por meio de Jesus Cristo, para sempre’.

Depois de saciados, agradeçam deste modo: ‘Nós te agradecemos, Pai santo, por teu santo Nome, que fizeste habitar em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelaste por meio do teu servo Jesus. A ti a glória para sempre. Tu, Senhor todo-poderoso, criaste todas as coisas por causa do teu Nome, e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e uma bebida espirituais, e uma vida eterna por meio do teu servo. Antes de tudo, nós te agradecemos porque és poderoso. A ti a glória para sempre. Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, livrando-a de todo o mal e aperfeiçoando-a no teu amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada para o teu reino que lhe preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre. Que a tua graça venha, e este mundo passe. Hosana ao Deus de Davi. Quem é fiel, venha; quem não é fiel, converta-se. Maranata. Amém’”.

Na Epístola de Clemente aos Coríntios (c. 96 AD) existe uma oração tão elaborada que pode ter sido usada habitualmente por esse líder no culto público (Fisher, pág. 65). Por volta do ano 150, o culto cristão foi descrito da seguinte maneira por Justino Mártir em sua Primeira Apologia (caps. 65, 67):


“Depois de termos lavado dessa maneira aquele que se converteu e deu o seu consentimento, o conduzimos aos irmãos reunidos para em comum oferecer orações por nós mesmos, por aquele que foi iluminado e por todos os homens do mundo... Ao terminar as orações, mutuamente nos saudamos com o ósculo da paz e logo se traz ao presidente o pão e um cálice de vinho com água. Ele os recebe, oferecendo-os ao Pai de todas as coisas num tributo de louvores e glorificações, em nome do Filho e do Espírito Santo, dando graças por sermos considerados dignos de tamanhos favores da sua clemência. Terminadas as orações e ações de graça, os presentes as ratificam com o “Amém”, palavra hebraica que significa “assim seja”... Sobre tudo o que recebemos, louvamos o Criador de todas as coisas em nome de Jesus Cristo, seu Filho, e do Espírito Santo” [Referência ao costume, obrigatório para os cristãos assim como para os judeus, de dar graças a Deus antes de receber as suas dádivas, o que tornava cada refeição um ato sagrado.]

Podia haver a tendência de valorizar mais as esmolas e o jejum que a oração: “O jejum é melhor que a oração, mas as esmolas melhores que ambos” (2 Clemente 16). Mais tarde, passou-se a ter em alta estima as orações intercessórias dos santos falecidos, especialmente os mártires. Daí surgiu o costume de dirigir orações a eles. Mais adiante, o mesmo foi feito com Maria. Desde o segundo ou o terceiro século, também surgiu a prática de se orar pelos mortos.

A oração recebeu grande ênfase em conexão com o monasticismo. Bento de Núrsia (6º século) entendia que ela era o âmago da vida monástica. Todos os dias havia horas prescritas para a oração particular, mas a maior parte das devoções ocorria na capela, onde os monges se reuniam sete vezes durante o dia e uma vez no meio da noite, conforme o Salmo 119.164, 62.

Na Idade Média, os místicos, como era de se esperar, deram grande ênfase à oração. Foi o caso de Bernardo de Claraval (séc. 12) e dos Irmãos da Vida Comum (séc. 14). Outros exemplos são os místicos espanhóis do século 16, Teresa de Ávila (1515-1582) e João da Cruz (1542-1591). O misticismo geralmente surgia numa época em que a religião se tornava excessivamente institucionalizada e as pessoas buscavam um relacionamento mais pessoal com Deus.

Em reação à religiosidade medieval, o protestantismo retornou a padrões exclusivamente bíblicos no que diz respeito à oração. Os reformadores escreveram amplamente sobre o assunto. Calvino dedicou ao tema o maior capítulo das Institutas (Livro III, Cap. 20), que tem por título: “A oração, que é o principal exercício da fé e por meio da qual recebemos diariamente os benefícios de Deus”. Ele aborda questões como: (a) a natureza e o valor da oração; (b) as regras da correta oração; (c) a intercessão de Cristo; (d) a rejeição das doutrinas errôneas da intercessão dos santos; (e) tipos de oração: particular e pública; (f) o uso do canto e da linguagem falada na oração; (g) exposição detalhada da Oração do Senhor, e (h) momentos especiais de oração e necessidade de perseverança.

No protestantismo, alguns movimentos têm dado grande ênfase à oração. Alguns exemplos significativos são o puritanismo inglês e norte-americano, o pietismo alemão, o avivamento evangélico inglês e os despertamentos norte-americanos. Certos personagens ficaram conhecidos pela sua vida de oração: Martinho Lutero, George Miller, João Wesley, Charles Simeon, Robert Murray M’Cheyne, Jonathan Edwards e David Brainerd, entre outros.
Fonte: www.mackenzie.com

História do Movimento Reformado


 ULRICO ZUÍNGLIO: O FUNDADOR DA TRADIÇÃO REFORMADA

Alderi Souza de Matos

A grande importância atribuída a João Calvino, o mais destacado teólogo e organizador do movimento reformado, muitas vezes obscurece a figura do reformador Ulrico Zuínglio, o líder inicial desse movimento. Zuínglio nasceu no dia 1º de janeiro de 1484 (apenas dois meses após o nascimento de Lutero) na vila de Wildhaus, no Cantão de St. Gall, nordeste da Suíça. Após freqüentar uma escola latina em Berna, ingressou na Universidade de Viena, onde entrou em contato com o humanismo. Em seguida, estudou na Universidade de Basiléia, na qual foi influenciado pelo interesse bíblico de alguns mestres e formou um círculo de amigos que mais tarde o puseram em contato com o grande humanista holandês Erasmo de Roterdã.

Após obter o grau de mestre em 1506, foi ordenado ao sacerdócio e tornou-se pároco na cidade de Glarus. As influências humanistas e as suas próprias experiências como capelão de mercenários suíços na Itália o levaram a opor-se a esse sistema. Tal fato contribuiu para a sua transferência para Einsiedeln em 1516 e dois anos mais tarde para Zurique, onde se tornou sacerdote da principal igreja da cidade. Tendo lido recentemente a tradução do Novo Testamento feita por Erasmo, começou em 1519 a pregar uma série de sermões bíblicos que causaram forte impacto. A partir dessa época, defendeu um grande programa de reformas em cooperação com os magistrados civis. Suas idéias sobre o culto público e os sacramentos representaram uma ruptura mais radical com as antigas tradições do que fez o movimento luterano.

O ano de 1522 foi decisivo. Zuínglio protestou contra o jejum da quaresma e o celibato clerical, casou-se secretamente com Ana Reinhart, escreveu Apologeticus Archeteles (seu testemunho de fé) e renunciou ao sacerdócio, sendo contratado pelo concílio municipal como pastor evangélico. Nos dois anos seguintes, uma série de debates públicos levou à progressiva implantação da reforma em Zurique, culminando com a substituição da missa pela Ceia do Senhor em 1525. Infelizmente, alguns de seus primeiros colaboradores, tais como Conrado Grebel e Félix Mantz, adotaram posturas radicais quanto ao batismo, dando início ao movimento anabatista, que gerou fortes reações das autoridades.

Os últimos anos da vida de Zuínglio foram marcados por crescente atividade política. No interesse da causa reformada, ele defendeu a luta contra o império alemão e também contra os cantões católicos da Suíça. Buscando fazer uma aliança com os protestantes alemães, encontrou-se com Lutero no célebre Colóquio de Marburg, convocado pelo príncipe Filipe de Hesse em 1529. Embora concordassem em quase todos os pontos discutidos, os dois reformadores não puderam chegar a um acordo com relação à Ceia do Senhor. No dia 11 de outubro de 1531, quando acompanhava as tropas protestantes na segunda batalha de Kappel, Zuínglio foi morto em combate. Segundo se afirma, suas últimas palavras foram: “Eles podem matar o corpo, mas não a alma”. 
Fonte: www.mackenzie.br