quinta-feira, 11 de abril de 2019

Estudos Bíblicos em Mateus - Rev. Veronilton Paz

 


TEXTO BÍBLICO: MATEUS 28.18-20
18 Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. 19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; 20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século”.

INTRODUÇÃO:

      Deus foi o primeiro a fazer missões, pois enviou seu filho Jesus para salvar a humanidade. Na história do Velho testamento vemos que Deus criou o homem (Gn 1.26, 27), o homem pecou (Gn 3.6-10) e Ele prometeu resgatar o homem por alguém que iria esmagar a cabeça da serpente (Gn 3.15). Deus escolheu Israel para que atraísse todas as nações para o Senhor, podemos ver isto no chamado de Abraão quando dito que ele seria uma benção para todas as nações (Gn 12.3), mas Israel fracassou na sua missão e ao invés de atrair as nações para o Senhor, eles foram atraídos pelas praticas pagãs destas nações (Jr 2.13). No Novo Testamento Jesus veio e deu uma missão para a sua igreja realizar, que é testemunhar Dele para todo o mundo, começando em Jerusalém, Samaria e até os confins da terra (At 1.8). Jesus enviou sua igreja para proclamar a sua graça, amor, poder e libertação.

     Embora as Escrituras não tragam de modo explicito o autor deste evangelho, Matthew Henry diz que alguns manuscritos antigos possuem a inscrição “de acordo com Mateus”, e Eusébio descreve que Papias se referiu a Mateus como tendo reunido os oráculos a respeito de Jesus em hebraico, bem como Clemente, Henry disse ainda que a tradição atribui este evangelho a Mateus, bem como João Calvino e outros reformadores, sendo, possivelmente, escrito antes de 70 a.D.e o lugar que foi escrito é bem plausível que tenha sido escrito em Antioquia, pois Inácio, o primeiro pai da igreja, a citar Mateus, era bispo naquela localidade (HENRY, 2008, P.118).

     Esta passagem de Mateus relata quando Jesus faz seu discurso de comissionamentoaos seus discípulos para que continuem a obra que Ele começou. Ele enviou a igreja para proclamar o evangelho. Este discurso está presente também em Marcos 16.14-20; Lucas 24.36-49; João 20.19-23; Atos 1.1-11. Nestes trechos há um desafio de anunciar o evangelho e confiar no agir de Deus. Toda missão tem uma base de sustentação, e quem sustenta a missão da igreja é Cristo. Nesta passagem gostaríamos de tratar sobre a base missionária da igreja, exaurindo o tema proposto abaixo.

TEMA: A BASE MISSIONÁRIA DA IGREJA

1.    BASEIA-SE NA AUTORIDADE DE CRISTO SOBRE TODAS AS COISAS. V. 18
“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra”.

     A autoridade de Jesus descrita neste texto é a sua supremacia sobre tudo que existe, a sua soberania, o seu poder supremo, assim sendo ninguém pode questionar as suas ações, pois Ele está acima de todos e a ninguém deve nada, James Strong traz a assertiva que a palavra autoridade vem do grego ἐξουσία (Exousia) que significa liberdade para fazer o que quer, autoridade para uma decisão juridica, reger ou governar (STRONG, 2002, p.1469). Sobre esta autoridade de Jesus iremos examinar algumas lições que são:


1.1 Esta autoridade Dele não é pouca nem muita, ela é total.
“Toda autoridade [...]”

     Este texto fala que Jesus tem toda autoridade, ou seja, Ele tem poder absoluto. Esta atribuição de toda autoridade indica que Ele tem o controle de todas as situações, nada podendo acontecer fora desta autoridade ou do seu decreto, quando centraliza-se Cristo na  vida cristã, está apenas reconhecendo esta autoridade total que Ele  tem sobre nós. A igreja católica atribui alguma autoridade a Maria e aos santos quando afirma que eles “adquiriram mais do que precisavam para sua salvação e este baú que é um tesouro de boas obras”, disponibilizam para os pecadores buscar ajuda (Pequeno Catecismo Católico, A Comunhão dos Santos, 1999, p.55), porém quando lemos esta passagem, vemos que este ensino não se sustenta, afinal, se Cristo tem toda autoridade não há como sobrar algo para aqueles.

     Jesus comissionou a igreja depois da ressurreição com autoridade, esta autoridade adquirida passaria pelo estado de humilhação e de exaltação, com a ressurreição sua autoridade conquistada de modo titânico foi validada, sobre isto o Rev. Leandro Antônio de Lima, explicando sobre esta autoridade, disse que ela é jurídica por legitimidade, vejamos um trecho da obra:

Quando Jesus diz que toda autoridade lhe foi dada no céu e na terra está afirmando que a ressurreição o habilitou a conquistar a autoridade que Satanás lhe oferecera na tentação do deserto, em troca da submissão ao próprio Satanás, que não foi aceita. Porém, Cristo conquistou a autoridade legítima pelo caminho longo e árduo, o qual, de fato, era o único possível: O caminho da sangrenta cruz. Tendo então destronado o príncipe deste mundo, e conquistado a autoridade para que o evangelho fosse pregado a todas as nações, Cristo ressuscitou para garantir a execução dessa grande obra. Na ressurreição, Ele colheu os frutos do penoso trabalho da sua alma (Is 53.11), Ele conquistou toda autoridade (LIMA, 2016, p.81).

     Em outras palavras, o escritor citado está dizendo que a autoridade de Jesus é legítima e total, sendo confirmada na sua ressurreição dentre os mortos, para comissionar a sua igreja a levar o evangelho a todas as nações, quem envia tem toda autoridade, quem é enviado deve obedecer. Segundo William Smith, quando declaramos toda a autoridade de Jesus, isso faz com que nós não possamos lançar outro fundamento ou mensagem, mas a que já está declarada nas Escrituras como Cristocêntrica e transmiti-la de acordo com a vontade de quem tem toda a autoridade (SMITH, 1992, p.34). Ou seja, quem nos ordena fazer missões não é um pastor, concilio ou denominação, mas Aquele que tem toda autoridade, a Ele devemos obedecer. Obedecê-lo deve ser nosso maior prazer. Ele com a sua autoridade total nos conquistou e quer usar-nos para conquistar as nações.

1.2 Esta autoridade foi conquistada na terra como homem.
“[...] me foi dada [...]”

     Ele já tinha autoridade como Deus, quando se encarnou e passou pelo seu período de humilhação, ou seja, passou a conquistar a autoridade como homem, realizando sua obra aqui com a cruz e validando com a sua ressurreição, toda autoridade foi conquistada, sobre isto o Rev. José Martins afirma que

O termo usado aqui se refere não aquela autoridade que Jesus tinha no céu (Jo 17.5), mas a que Ele conquistou como o Verbo encarnado, por isso o autor sacro usa o termo “me foi dada”. Ele se encarnou para nos representar, a este homem o Pai deu a autoridade para iniciar e consumar a obra salvadora. Ele não tem apenas autoridade sobre algumas pessoas, mas Ele está no controle de tudo que existe (MARTINS, 1992, p.142).

     Jesus foi obediente até a morte, Ele não abriu mão nem um milímetro do plano, conquistando toda a autoridade, com a sua perfeita justiça, com o seu braço Ele executou a obra da salvação, realizou o sacrifício mais excelente (Hb 1.3), pisou sozinho o lagar (Is 63.3), experimentou o cálice da ira de Deus (Jo 18.11) e suportou toda a ignominia (Hb 12.2), aquele que era adorado pelos anjos (Hb 1.6), foi pisado, cuspido, escarnecido e morto pelos homens, com tudo isso suportou e venceu (Lc 18.32).

     A cruz foi o lugar onde Cristo foi humilhado e ao mesmo tempo ali foi lugar da vitória, ou seja, a cruz era um lugar de derrota e fracasso, porém, no dia em que nela penduraram o rabi da Galiléia, ela tornou-se o palco da vitória cósmica do Filho de Deus, na qual ele rasgou a divida, pisou a serpente e resgatou os eleitos. Ele conquistou toda a autoridade! Ele recebeu toda a autoridade! Jesus, o homem perfeito, tem toda autoridade! Ele é quem nos envia e a nós cabe obedecer!

     Perguntaram a uma missionária qual a razão dela fazer missões, ela disse que não tinha escolha, aquele que recebeu toda autoridade a comissionou e a ela não caberia perguntar, mas obedecer. Jesus conquistou toda a autoridade, nos dá autoridade sobre o mal, doenças e para pregar o evangelho, para isto nos dispondo o Espírito Santo.

1.3 Esta autoridade se estende na terra como já é plena no céu.
“[...] no céu e na terra”.

     A autoridade no céu é indicada por Rev. Leandro Lima como uma batalha escatológica, Ele expulsou do céu o que acusava os irmãos, seduzia as nações, então a vitória de Cristo, segundo o referido autor, seria nas regiões celestes e Ele venceu abrindo o céu para nós (Lima, 2016, p.88). A sua autoridade no céu foi conquistada por Ele como um rei que saiu para lutar e depois volta vitoriosamente, abrindo-se os portões para recebê-lo, tendo a igreja um representante que está assentado à direita de Deus, intercedendo, cooperando com ela e confirmando o seu serviço (Mc 16.19-20), por isso que a Igreja pode trabalhar crendo que os resultados virão dos céus, afinal Cristo tem toda autoridade lá.

     A autoridade de Jesus, embora se estenda a todo o universo, somente os que já pertencem é que entendem esta autoridade, sobre isto o pastor presbiteriano Willian S. Smith descreve que
      
A igreja é diferente já sabe que Jesus tem todo poder, já dobrou os joelhos perante Ele, confessou com os seus lábios que Ele é o Filho de Deus, já se submeteu a Ele.  Ser liberto do império das trevas quer dizer tornar-se súdito do Filho de Deus em um novo reino, o salvador fala aos seus discípulos com autoridade, essas pessoas deixaram tudo para segui-lo, assim submetendo-se a Ele [...] (SMITH, 1992, p.138).

     A igreja é a comunidade dos eleitos, sob a autoridade de Jesus, que os guarda e os leva a caminhar sob a tutela e proteção Dele no seu trabalho, o escritor reformado holandês Herman Ridderbos afirma que

Os discípulos deverão viver sob esta autoridade como um escudo, o horizonte se alarga, todas as nações são levadas em consideração, este trabalho será realizado de modo eficaz se a igreja estiver em comunhão com o Senhor exaltado que tem todo poder e autoridade (RIDDERBOS, 1980, p.95).

     A autoridade de Cristo na terra e no céu é um fato inconteste, Ele conquistou-a, esta autoridade suprema o faz nos comissionar para realizarmos a sua missão na terra, missão esta que será explanada nas linhas seguintes.


2.    BASEIA-SE NA ORDEM DE TRABALHO DADA POR JESUS A SUA IGREJA. V.19, 20a
19 Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; 20 ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado [...]”.

     Jesus deu uma ordem para que sua igreja trabalhe para o seu reino, se movimente e faça o que Jesus ordenou. Alguns autores dizem que a grande comissão apenas se referia aqueles discípulos daquela época, porém outros autores dizem que todos os crentes fazem parte desta grande comissão, dentre estes, o Rev. Ronaldo de Almeida Lidório, por sua vez, diz que da mesma forma que Cristo discipulou os discípulos, nós devemos discipular as nações (LIDÓRIO, 2014, p.167). Assim sendo, este que vos fala concorda que a grande comissão se estende a todos os servos de Deus de todos os tempos, como afirmava o Rev. Luiz Ricardo Monteiro da Cruz: “a grande comissão ainda não acabou, nós estamos dando continuidade a ela, ela somente encerrará quando o arcanjo tocar a trombeta e nosso mui amado Jesus voltar”.

2.1 O trabalho da igreja é ordenado por Jesus: Fazer discípulos de todas as nações
“[...] fazei discípulos de todas as nações [...]”

     Jesus disse que tem toda autoridade, aqui nos dá a ordem de fazer discípulos de todas as nações. Ou seja, o programa de Cristo tem alcance global, atinge a todos os povos. O pacto de Lausane definiu que a missão da igreja é “pregar toda a Escritura, em todo tempo, e a toda criatura, em todo lugar”, então tomemos cuidado com os que só querem pregar para ricos ou pobres, brancos ou negros, o evangelho deve chegar a todos. Vale lembrar que a missão principal da igreja não seria a evangelização, mas a adoração. Assim sendo a evangelização é uma consequência da adoração, conforme afirma John Piper, “a adoração é o combustível da missão” (PIPER, 2001, p.17).

     A obra missionária é ordenada por Jesus, conforme descreve o missiólogo reformado John Leonard que a ordem de discipular se faz acompanhando a pessoa até chegar à condição de caminhar sozinha, conforme se examina no trecho da obra abaixo:

A ordem principal aqui neste trecho é fazer discípulos, mas fazer discípulos não é apenas dar um folheto, ou pregar uma vez e abandonar a pessoa evangelizada, é fazer como Cristo fez com os doze, dedicar-lhe tempo até chegar à maturidade. É como um adestrador de cavalo que leva o animal para ir acompanhando a carroça enquanto um já adestrado puxa, com o tempo ele já manso pode ir fazendo junto com o outro, depois disso faz sozinho (LEONARD, 1992, P.142).

     O nosso campo não é apenas nossa família, cidade, país; mas o mundo inteiro. Como disse John Wesley: “O mundo é o nosso campo”, então aqui se exclui a pescaria em aquário feita por algumas igrejas, fazer discípulos é ir buscar pessoas que ainda não ouviram falar de Jesus e buscar levá-las a Cristo, tendo um crescimento saudável.

     O pastor D. A. Carson afirma que esta ordem de Jesus para fazer discípulos, leva os seus discípulos a obedecer e confiar no poder de quem está ordenando (CARSON, 2010, p.687-688), ou seja, além de obedecer ao chamado devemos realizar o mesmo confiante que aquele que nos chamou tem toda autoridade para nos fazer gerar frutos na missão.

2.2  O trabalho da igreja é detalhado por Jesus: Como fazê-lo?

     Cristo não apenas ordena, mas também define como deve ser este trabalho. Este trecho no grego indica, segundo Strong, um particípio, denotando assim Constância e continuidade, ou seja, não devemos desistir de fazer missões e evangelismo nos grandes centros e também nos sertões. Vamos examinar um pouco sobre o detalhamento de Jesus sobre o trabalho da igreja, ou seja, a forma como a igreja irá realizar este trabalho. Explanaremos

a) Indo até onde as pessoas estão.
“[...] Ide, portanto [...]”

     A igreja ao realizar a missão de anunciar Jesus não deve esperar as pessoas procurar a igreja, mas deve ir até elas, como diz o poeta que “o artista vai aonde o povo está”. O grande problema na obra missionária é que muitos vão com a visão errada de alcançar status; ou fugir de problemas; busca por aventuras, quando a obra de Deus não é lugar para aventureiros; apenas para ter uma profissão garantida. Alguns motivos corretos para fazer missões são promoção da glória de Deus entre os povos; buscar alcançar os perdidos por gratidão ao Senhor em tê-lo alcançado; preocupação de por Palavras e ações tornar Cristo conhecido.

     A realidade é que muitos não estão indo, a realidade é que há inúmeras pessoas sem Jesus e muitos crentes estáticos, assistindo a banda passar enquanto as seitas se proliferam. Você está indo aos perdidos ou espera que outros façam? Lembre-se que para fazer discípulos é preciso ir à procura dos perdidos, como Deus foi em busca de Adão no Éden (Gn 3.8-9), o pastor em busca da ovelha perdida (Lc 15.3-7). Aquele que semeia a palavra de Deus terá resultados, pois Ela não volta vazia (Is 55.11). Que possamos sair do nosso mundo encantado e ir até os perdidos.

     Uma declaração que merece atenção é a de Carl J. Bosma,pois o mesmo declara que este o verbo indo no particípio se refere a toda a vida do cristão (BOSMA, 2009, pp.26-27), ou seja, na visão do referido autor fazer discípulo é uma atividade que o cristão faz com a vida toda, utilizando palavras e ações, enquanto vive o evangelho faz discípulos, ele não escolhe entre trabalho, lazer, estudo ou fazer discípulos, quando realiza aquelas, está realizando essa, não é ir à igreja, mas ser igreja, viver de modo integral e urgente o evangelho, e assim fazer discípulos.Esta declaração faz sentido porque o grupo de discípulos iniciou com um grupo de irmãos na Galiléia, se espalhou pela Judeia, Samaria e outras regiões distantes, a ideia de discípulo fazendo discípulo foi crescendo progressivamente até chegar até nós, e nós devemos pegar o bastão e levar para frente.

     Semelhante ao que disse Bosma, o pastor luterano José Roberto Cristofani atestou que a tarefa de ir é seguir o curso natural da nossa vida e a expressão “indo de um lugar a outro” revela a vida cotidiana das pessoas (CRISTOFANI, José Roberto. Olhando Mateus pelo Retrovisor. Extraído de: https://www.jrcristofani.com/blog/item/214-olhando-mateus-pelo-retrovisor-mateus-281820>acessoem22/01/2019). Deus de fato separa alguns dentre todos para sair para lugares distantes como fez com os apóstolos (Lc 5.1-11), Barnabé e Saulo (At 13.1-3) e outros, entretanto, o indo deste texto também nos incentiva fazermos do lugar onde estamos o nosso campo missionário. Depois de realizarmos esta etapa precisamos incorporar a pessoa á uma igreja local, fato este tratado a partir deste intervalo.

b) Incorporando-os a uma igreja local.
“[...] batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo [...]”

     A igreja é uma comunidade que Deus escolheu e por meio dela o evangelho de Cristo é proclamado. O rito de iniciação por meio do qual a pessoa é incorporada à igreja é o batismo. Aqui não trataremos sobre formas de batismo, mas sobre a necessidade de se está associado a uma igreja local, o autor aos hebreus alerta o povo que não deixe de congregar, mas admoestar uns aos outros (Hb 10.25). A ordem de batizar é ingressar a pessoa na igreja local, afinal o rito de iniciação da pessoa na comunidade visível é o batismo.

     O escritor Fritz Rienecker afirma ainda que a “a locução “no nome de” significa a entrega do batizando ao Pai, Filho e Espírito. A realidade de Deus é desdobrada em três aspectos num só nome” (RIENECKER.1994, p.304), na verdade fazer discípulo deve levar a pessoa discipulada a um testemunho público de pertencimento ao Senhor, assim sendo ingressar na igreja pelo batismo é afirmar para os que estão presentes que sua vida pertence ao Deus Trino: Pai, Filho e Espírito Santo, fazendo parte da grande comissão, por isso que a Confissão afirma que este sacramento vai continuar até o final do mundo (CFW, Capítulo XXVIII, I).

     A igreja foi figurada por alguém como uma fogueira e na qual os paus se aquecem um ao outro. Não podemos cair na bobagem de alguns que vivem a dizer que a igreja é coisa de homens. A igreja é projeto de Deus, é mais que vencedora e tem a missão de preparar discípulos para servir ao Senhor e fazer outros discípulos de Cristo. Quando Cristo nos reconciliou com Deus nos concedeu o ministério da reconciliação, a fim de que outros sejam também alcançados pela graça de Deus (II Co 5.18-21), isto fazemos por meio da igreja local. Lucas descreve a missão da igreja em termos de evangelização, libertação, restauração e proclamação (Lc 4.18, 19).Para J. C. Ryle, o batismo é uma união do converso à igreja local, com um testemunho publico da sua fé em Cristo (RYLE, 2002, p.261), ou seja, não se deve batizar quem não estar disposto a unir-se à igreja.

     O Pastor D. A. Carson escreve que somente deve ser batizado aquele que foi feito discípulo, ou seja, aquele que declarou pertencer à família de Deus, que é a igreja (CARSON, 2010, p.690), isso desanda o comportamento de algumas igrejas que batizam as pessoas sem se importar se elas já são discípulos de Jesus, pois fazer discípulos implica em batizar os conversos, ou seja, ingressá-los em uma igreja local.

     O Rev. Hernandes Dias Lopes tratando sobre este tema de batizar os conversos, afirmou que “a igreja é importante, pois não existe crente isolado, fora do corpo. Não existe ovelha fora do rebanho, aigreja foi instituída pelo Senhor e os novos crentes devem ser integrados a ela pelo batismo” (LOPES, Hernandes Dias. A grande Comissão, Uma Missão Inacabada. Extraído de: <http://ipbvit.org.br/2012/04/23/a-grande-comissao-uma-missao-inacabada/>acessoem15/10/2018), o pastor citado concorda com a ideia que o batismo marca o ingresso do discípulo na igreja.

     Alguém que foi discipulado não deve ser jogado a sua própria sorte, mas entregue a uma igreja local e ela o instruirá e ensinará a também fazer discípulos. O homem foi criado para viver em sociedade e a igreja é uma comunidade de adoradores que buscam viver para glória de Deus e proclamar esta glória entre as nações, ou seja, é o ambiente perfeito para um salvo viver. Os que servem a Deus são definidos como “povo de propriedade exclusiva de Deus” (I Pe 2.9), povo é aglomerado de pessoas e não um individuo solitário, então não há base para ser crente em casa. O salvo precisa estar na igreja.

c) Ensinando-os a guardar os ensinos de Jesus.
“[...] e ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado [...]”.

     O discipulador não deve somente ensinar a ortodoxia cristã, mas também a ortopraxia. Além de ensinar a verdade das Escrituras deve-se também falar da importância da obediência. Eles precisam saber sobre o que Jesus ordenou e que está na Bíblia toda. Não devemos negar a verdade da Palavra de Deus às pessoas, mas é importante o que vem depois do conhecimento. Tiago falou que os cristãos não devem ser apenas ouvintes, mas praticantes da Palavra (Tg 1.22),ou seja, o mais importante não é o que se ouve, e sim o que se faz com o que se ouve.

     Doutrina e obediência, teologia e devoção, conhecimento e prática devem andar juntas. Alertamos que a maior ferramenta de quem discípula é seu exemplo de vida, afinal Spurgeon dizia que o mundo não conhece teologia nem dogmas, o que veem é nosso amor demonstrado uns pelos outros e por eles. Jesus tinha autoridade para pregar e ser seguido porque seus ensinos condiziam com suas práticas. Sua teologia condiz com sua prática de vida.A igreja não pode falhar no ensino sobre Jesus, pois podemos cair no erro de tornarmos as pessoas discípulas dos homens e não de Jesus. Para que ela pertença a Jesus precisa aprender sobre Ele, não apenas algumas coisas sobre o Senhor, mas tudo sobre Ele.

     Ensinar neste texto indica algo constante, pois, segundo R. V. G. Tasker, discípulo não é alguém que aprendeu, mas que vive aprendendo sempre, os dias de escola do cristão não acabam nunca (TASKER, 1980, p.220), enquanto houver discípulo haverá ensinamento sobre Jesus, muitas vezes as pessoas esquecem com facilidade o que Jesus ensinou e precisam ser sempre relembradas, o ministério de ensino na igreja precisa ser bem cuidado, precisamos de professores bem preparados em conhecimento bíblico-teológicos para que transmitam seja no templo, de casa em casa ou nas suas ocupações, a sã doutrina de modo fiel e avivado.

3.    BASEIA-SE NA PROMESSA ENCORAJADORA DA PRESENÇA DE JESUSV.20b
“[...] E eis que estou convosco todos os dias até consumação do século”.

     Jesus encerra o seu discurso trazendo uma promessa consoladora para os seus servos que seria sua maravilhosa presença com eles, não é uma promessa de um político ou de um homem falível, mas de Jesus o perfeito homem e verdadeiro Deus. Vejamos um pouco sobre o que Jesus falou detalhado abaixo.

3.1  A presença de Cristo é uma realidade na sua igreja.
“[...] E eis que estou convosco [...]”

     Jesus ao prometer a sua presença, ela não trata de algo hipotético, mas de uma realidade tão grande que ela seria experimentada na vida daqueles que o servem, mas neste contexto específico tratando sobre a grande comissão, é uma esperança auspiciosa para quem se lança na missão, Sobre isso Sherron K. George, missióloga reformada expressou-se da seguinte forma:

Os missionários precisam muitas vezes deixar pai, mãe, irmãos e amigos. Muitas vezes deixam sua terra para ir a lugares longínquos com outras línguas e culturas. Ao lançar Mão no arado o missionário não deve olhar para trás. Muitas vezes há pessoas que mesmo dentro da igreja tentam dissuadir o irmão de sair para outras terras, afinal em todo lugar tem pessoas para evangelizar, mas o que as pessoas muitas vezes não entendem é que é melhor cumprir a ordem de Jesus. Ele promete que não nos deixará só, assim sendo quando formos para um novo lugar plantar uma igreja, o Senhor Jesus nos acompanha (GEORGE, 2001, pp.25-26).

     A promessa de Jesus de estar conosco sempre, além de ser uma realidade, conta com um fator de suma importância que é a sua fidelidade, Ele além de ser poderoso, é igualmente fiel, sobre isso o Rev. José Martins expressou da seguinte forma:

O Senhor que prometeu sua presença conosco é o mesmo que sempre cumpriu suas promessas sem falhar.  Quando obedecemos o seu chamado missionário não corremos o risco de ficarmos sem assistência, pois Jesus, o nosso divino companheiro, amigo fiel e fonte inesgotável de onde recebemos tudo que precisamos, nos assistirá em todas as coisas (MARTINS, 1992, p.146)

     Esta fidelidade dele pode nos assegurar daquilo que Paulo escreveu, pois o mesmo disse que O Apostolo Paulo diz que nada nos separará do amor de Deus em Cristo Jesus (Rm 8.37). Ele está e sempre será conosco! ALELUIA!!!. O bispo anglicano J. C. Ryle afirmou esta presença real em termos de consolo, força, animo e santidade, ele ainda descreveu que mesmo eles estando agora com uma grande responsabilidade de fazer discípulos, eles não estavam sem alento, a presença do Senhor os impulsionava e os mantinha vivos e atuantes, anunciando com palavras e ações o reino de Deus (RYLE, 2002, P.263). Mas, esta presença além de ser real é também permanente, veremos esta verdade briosa nas seguintes linhas.

3.2  A presença de Cristo é permanente na igreja.
“[...] E eis que estou convosco todos os dias [...]”

     Algo muito importante nesta passagem é que Jesus usou o verbo no presente “[...] estou [...]”, ele não disse estarei nem estive. Ele afirmando isto, no dizer do Rev. Hernandes Dias Lopes, está deixando claro que está presente em nossa vida e que iria continuar presente conosco (LOPES, Hernandes Dias. A grande Comissão, Uma Missão Inacabada. Extraído de: <http://ipbvit.org.br/2012/04/23/a-grande-comissao-uma-missao-inacabada/>acessoem15/10/2018). A partir do dia que fomos alcançados pela graça de Deus em Cristo Jesus, sua presença está em nossa vida. Outra expressão usada foi [...] todos os dias [...], ou seja, até mesmo nos momentos ruins Ele está com seu povo.

     Quando parece que ninguém se converte no campo, quanto mais pregamos as pessoas parecem que não dão ouvidos, ou quando falta visão para a igreja, Jesus está presente conosco. Ore pedindo despertamento missionário na igreja. Não desista da missão que o Senhor te chamou e não demore a atendê-la que inúmeras pessoas estão esperando uma palavra de salvação, Jesus está presente na igreja, devido a isto é que o evangelista Marcos descreve este chamado em termo de cooperação e confirmação da obra da igreja (Mc 16.20), Ele somente faz isso na igreja porque estápresente e atuante no seu povo.

     Sobre esta permanência de Cristo, embora ela seja também para um chamado especifico, refere-se a todo o povo de Deus como um povo missionário por isso que Chistopher J. A. Wright afirma que o povo da aliança recebe a promessa da própria presença permanente de Cristo entre eles como um eco do que já fazia na sua igreja no Velho Testamente tipificada pelo povo de Israel, quando prometeu estar com Moisés, Josué e todo o seu povo (WRIGHT, 2014, P.371).

     Jesus prometeu estar conosco todos os dias na vida e missão do seu povo. Ele é o Emanuel que significa Deus conosco (Mt 1.23), agora Ele traz esta auspiciosa promessa que Ele estará todos os dias do nosso viver. Esta é uma declaração inaudita, porque na cruz lhe faltou à presença dos amigos, agora Ele é o nosso amigo presente de todas as horas e a sua presença garante a vitória final para a sua igreja, lição graciosa que estaremos esmiuçando a partir deste intervalo de tempo.

3.3 A presença de Cristo garante a vitória final a igreja.
“[...] E eis que estou convosco [...] até a consumação do século”

     A palavra consumação exprime o cumprimento do plano salvador de Deus para o seu povo, a presença de Jesus estará conosco até a consumação do século, ou seja, até a vitória final de Cristo e de sua igreja. Neste desfecho glorioso da história o Senhor Jesus será glorificado por todos, inclusive pelos que o rejeitam agora (Fp 2.10-11). Esta será também a vitória final de Cristo sobre o mal (Ap 20.10), a conclusão da obra da redenção dos eleitos. Jesus mandou que fosse pregado o evangelho a todos os povos e garante sua presença na vida da igreja. Esta gloriosa presença leva igreja a ter resultados positivos na evangelização, pois quem convence de pecado é o Espírito Santo (Jo 16.8). O evangelho chegará a todos os povos, afinal, em Apocalipse João viu uma grande multidão de salvos de todas as tribos, povos, línguas e nações (Ap 5.9; 7.9)

     O escritor e pastor A. T. Robertson afirma que consumação do século é uma meta que está no futuro desconhecido por nós e a presença de Cristo conosco é um incentivo para um maior esforço na missão, a garantia que Ele nos acompanha até que se consuma tudo, trazendo a esperança que a missão será cumprida e receberemos a vitória final do Redentor ressurreto e todo-poderoso que permanece com o seu povo todo o tempo (ROBERTSON, 2011, p.337). Não sabemos quando será este dia, mas que sua presença nunca nos deixará, assim temos certeza que a nossa missão terão resultados que se confirmarão no final.A sua presença na igreja traz resultado para o seu trabalho de evangelização. Afinal de contas, Ele é quem abre o coração do pecador (At 16.14-16), concede arrependimento para a vida (At 11.18; II Co 7.9-10), coloca a fé no coração (Ef 2.8), etc., A presença de Jesus garante a nossa vitória como algo certo e concreto e um dia ela estaremos para sempre com o Senhor.

CONCLUSÃO:

     Esta mensagem ora transmitida, longe de presumir ser um compêndio sobre missões, é apenas uma introdução a este assunto muito importante para a igreja de Cristo.  Se os queridos irmãos desejarem saber mais sobre este tema muito importante para o povo de Deus, abaixo você pode ter a oportunidade de conhecer alguns autores que tratam sobre o assunto em questão. Esta mensagem trouxe um pouco de luz sobre um texto muito conhecido que trata sobre a grande comissão, foi detalhado sobre a base missionária da igreja que é: A autoridade de Cristo sobre todas as coisas; a ordem de trabalho dada por Cristo para sua igreja e; a promessa encorajadora de Jesus aos seus servos.

APLICAÇÃO:

     Temos feito a obra de Cristo? Se temos feito, a fazemos segundo nos prescreve o Senhor ou segundo nos indica nosso coração?Quem sou eu e você na missão da igreja? Somos agentes ou expectadores? Nossa vida tem sido um testemunho vivo da graça de Deus? Que a nossa vida e a vida da IPB, como um todo, seja um objeto de louvor ao Senhor no lugar onde estivermos inseridos, seja nas grandes cidades ou nos sertões, façamos discípulos do Senhor por meio de palavras e ações anunciando o reino de Deus. Amém!

REFERENCIAS:

BOSMA, Carl J.Missões e Sintaxe Grega em Mateus 28.19. In: CPAJ: FIDES REFORMATA XIV, Nº 1 (2009): pp.9-34.

CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. 1 ed. São Paulo: Shedd Publicações, 2010.

CATÓLICO, Pequeno Catecismo. A Comunhão dos Santos. 1 ed. Lisboa – Portugal: FAIS, 1999.

CRISTOFANI, José Roberto. Olhando Mateus pelo Retrovisor. Extraído de: https://www.jrcristofani.com/blog/item/214-olhando-mateus-peloretrovisormateus281820>acessoem22/01/2019

GEORGE, Sherron K. A Igreja Evangelística. 4 ed. Patrocínio - MG: CEIBEL, 2001.

_________________. A Igreja Missionária. 1 ed. Patrocínio - MG: CEIBEL, 1990.

HENRY, Matthew.Comentário do Novo Testamento. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

LIDÓRIO, Ronaldo Almeida. Sal e Luz. 1 ed. Belo Horizonte – MG: Betânia, 2014.

LIMA, Leandro Antônio. A Batalha Escatológica. 1 ed. São Paulo: Agathos, 2016.

LEONARD, John. Além do Brasil: Introdução a Missões. 5 ed. Patrocínio-MG: CEIBEL, 1992.

LOPES, Hernandes Dias. A grande Comissão, Uma Missão Inacabada. Extraído de: acessoem15/10/2018

MARTINS, José.  Autoridade para Enviar. In: LEONARD, John. Além do Brasil: Introdução a Missões. 5 ed. Patrocínio-MG: CEIBEL, 1992.

PIPER, John. Adoração e Missões. Alegrem-se os Povos: A Supremacia de Deus em Missões. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.

RIDDERBOS, Herman. O Testemunho de Mateus Acerca de Jesus. 1 ed. Patrocínio – MG: CEIBEL, 1980.

RIENECKER, Fritz. Comentário Bíblico Esperança: Mateus. 1 ed. Curitiba – PR: Editora Evangélica Esperança, 1998.

ROBERTSON, A . T. Comentário de Mateus e Marcos. 1ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Mateus.2 ed. São José dos Campos – SP: Fiel, 2002.

SMITH, William. Introdução ao Novo Testamento: Mateus – Atos. 1 ed. Patrocínio: CEIBEL, 1992.

STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong: Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. 1 ed. Barueri – SP: SBB, 2002.

TASKER, R. V. G. Comentário de Mateus. 1 ed. São Paulo: Vida Nova, 1980.

WESTMINSTER, Confissão de Fé. Do Batismo. Capítulo XXVIII, I. Extraído de: <http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm>Acessoem15/01/2019.

WRIGHT, Christopher J. H. A Missão de Deus: Desvendando a Grande Narrativa da Bíblia. 1 ed. São Paulo: Vida Nova, 2014.