sexta-feira, 15 de julho de 2016

7 MOTIVOS PARA NÃO SE PREOCUPAR



motivos biblicos para nao se preocupar
Existe um pecado que bons cristãos de classe média cometem mais do que o pecado da preocupação?

Você acorda dez minutos depois do que esperava e a ansiedade já começa a tomar conta de você: e se eu estiver atrasado? E o tráfego? Como está o clima? Você passa na frente do espelho e se preocupa que seu rosto tem mais rugas do que costumava ter. Desce as escadas correndo e, porque está com pressa, deixa seus filhos comerem qualquer coisa que queiram, e aí, então, você começa a se preocupar se o açúcar realmente causa câncer. Enquanto arruma as crianças, você se dá conta que um de seus garotos não fez o dever de casa, de novo. Você se preocupa por não saber se ele algum dia vai ter juízo e, enquanto deixa seus filhos na escola, você se preocupa com a possibilidade deles se envolverem com a galera errada ou se vão cair da escada horizontal.


Assim que chega em casa, você checa o Facebook apenas para relaxar. Lá você lê sobre quão incríveis são as crianças de todas as outras pessoas e sobre todos os fantásticos cupcakes que suas amigas fazem e você se preocupa com a possibilidade de ser um fracasso como mãe. Mais tarde, nessa mesma manhã, você sente aquela dor no seu joelho novamente. Você se preocupa com a possibilidade de ter que fazer uma cirurgia de substituição total da junta do joelho e se o seguro irá cobrir e como você irá pagar por isso e quem irá tomar conta das crianças se você estiver imobilizada por um mês. Então você se preocupa com a dor que talvez esteja um pouco pior, assim você checa todos os sites médicos e se dá conta de que você provavelmente tem um caso raro de coqueluche que se espalhou para seus membros.

Horas mais tarde, quando seus filhos estão na cama, você liga a televisão para se esquecer do que aconteceu no dia. À medida que passa os canais e se envolve com as notícias, você começa a se preocupar com a economia e o vórtice polar e o aumento da criminalidade na sua cidade. Você se preocupa com as divisões raciais no país e como irá falar com seu amigo que vê as coisas de modo pouco diferente e, talvez, você se preocupa por não saber se a polícia a trataria com justiça ou se preocupa com a segurança de seu irmão que é policial. Então, você desliga a TV e fala com seu esposo e se preocupa com a tosse dele que não parece melhorar e se preocupa com as demissões que estão acontecendo no trabalho. E, finalmente, ao se deitar para dormir você sente uma tremenda sensação de ansiedade e nem sequer sabe o porquê. Por razões que não consegue sequer entender, você começa a se preocupar com sua vida e seus filhos e seus pais e sua igreja e sua saúde e com voar e dirigir e dormir e comer e um medo generalizado de que os dias futuros poderiam ser realmente ruins.

Consegue se identificar?

Jesus pode ajudar.

Preocupação pode ser o pecado mais comum entre as pessoas “normais” da igreja. Agora, você pode achar que isso não é muito encorajador. “Ótimo, eu me preocupo com tudo. E agora, além da minha preocupação, eu vou me sentir mal por me preocupar e vou me preocupar com isso.” Mas seja encorajado: Se preocupação é apenas uma parte de sua personalidade ou parte do que envolve ser mãe (ou um estudante ou um empresário ou o que quer que seja), Deus pode não fazer nada para ajudá-lo. Mas se preocupação é um pecado, então Deus pode perdoá-lo por isso e ajudá-lo a superar isso.

Mateus 6.25-34 é uma das grandes passagens da Bíblia sobre preocupação. Jesus diz três vezes “não andeis ansiosos” (25, 31, 34). Mas ele não para aí. Jesus está interessado em mais do que transmitir comandos. Ele quer trabalhar com os nossos corações. E então ele dá sete razões por que não deveríamos ser ansiosos.

Razão #1: A vida é importante demais (Mt 6.25). Nós precisamos endireitar nossas prioridades. Realmente importa que você tenha as coisas boas da vida; comida, bebidas extravagantes, roupas luxuosas? Você está vivendo toda sua vida por uma etiqueta na parte de trás de suas calças ou no interior de sua camisa que a faz se sentir a “tal”? Você vai olhar para o seu passado e desejar ter sido mais exigente quanto às suas escolhas de vestuário? A vida não é mais do que um aglomerado de células tentando conseguir seu sustento, tentando se sentir bem, tentando ter uma boa aparência?

Vivemos em uma era na qual as pessoas enlouquecem por causa de comida. Enquanto a maioria das pessoas ao longo da história mundial tem se preocupado em saber se conseguirão alguma coisa para comer, nós nos preocupamos com o tipo de vida que a galinha teve antes de a comermos. Eu não estou dizendo que não deveríamos nos preocupar com a maneira como os animais são tratados. Porém, vamos nos lembrar de que a vida é mais do que o alimento e o corpo é mais do que as vestes.

Razão #2: Você é importante demais (Mt 6.26). Nós não apenas insultamos Deus quando nos preocupamos com comida e roupas e dinheiro, insultamos nós mesmos. A preocupação diz ao mundo, “Eu não tenho valor”. A ansiedade é uma afronta a bondade de Deus e ao valor do homem e da mulher feitos à sua imagem. Deixem os pássaros e esquilos serem seus pregadores. Deus os está alimentando. Quando os vir a encarando através da janela, eles estão dizendo: “O que você está olhando? Confie em Deus.” Quando você ouvir os pássaros cantando, eles estão cantando uma canção para lembrá-lo da provisão de Deus. Deus cuida dos pequenos animais; ele cuidará de você.

Razão #3: Não faz bem algum (Mt 6.27). Você já refletiu sobre os tempos difíceis da vida e pensou: “Não sei como teria conseguido fazer aquilo se não tivesse me preocupado?” Ninguém reflete sobre o passado e conclui: “O dinheiro estava curto, mas a preocupação realmente me fez superar.” “O ensino fundamental foi difícil. Eu apenas gostaria de ter me preocupado mais.” “O diagnóstico foi assustador, mas então eu consegui que todos os meus amigos se preocupassem juntamente comigo.”

Se agora todos nós fizéssemos uma pausa por alguns segundos e nos preocupássemos com o pagamento do carro, o pagamento da hipoteca ou com a possibilidade de estarmos sem seguro, não viveríamos nem um segundo a mais. Eu não chequei isso com os médicos que conheço, mas não acho que eles, em momento algum, se aproximem do leito e digam ao paciente: “Bem, senhora, o quadro não parece bom. Tudo que podemos fazer neste momento é nos preocuparmos.”

O homem não sabe sua hora. Não cabe a nós dirigirmos os nossos passos (Jr 10.23). Todos os nossos dias foram escritos no livro de Deus quando nem um deles havia ainda (Sl 139.16). Você e eu precisamos admitir que somos impotentes com relação a certas coisas. Eu sou impotente para fazer todo tipo de coisa. Não posso fazer alguém crer no evangelho. Não posso ressuscitar os mortos. Não posso sentar ao lado do berço por toda uma noite para garantir que o bebê continue respirando. E certamente não posso viver nem mais um nanossegundo além do que devo viver. Ninguém jamais viveu uma hora a mais por ter se preocupado com quando iria morrer.

Razão #4: Deus se importa com você (Mt 6.28-30). Deus faz as flores do campo crescerem. Por quê? Porque ele quer. Porque elas são bonitas. Porque ele é criativo. Porque ele gosta de beleza. Porque ele quer que as pessoas desfrutem delas. Porque ele se importa com as flores. E ele cuida até mesmo da relva. A relva vai morrer. Seu gramado ficará marrom. Vai ficar frio, congelado, morto – provavelmente já está. Mas em alguns meses, tudo vai reverdecer. E você não terá nada a ver com isso. Talvez você plante algumas outras sementes. Talvez você contrate um especialista em cuidado de gramados para ajudar a deixar tudo excelente. Mas mesmo se você não fizer nada, a relva voltará a crescer. Porque Deus é Deus e ele gosta de grama verde.

Você vê o que Jesus chama de preocupações? Ele nos chama de “os de fé pequena.” Nossa preocupação é um insulto para o caráter de Deus. Quando nos preocupamos, não estamos acreditando na verdade sobre Deus. Nós estamos duvidando que ele vê, que ele sabe, que ele se importa, que ele é mais do que capaz. Fé é mais do que uma vaga noção de que Jesus existiu e que vamos para o céu se pedirmos para ele entrar em nossos corações. Fé é uma maneira prática de olhar para o mundo. A fé bíblica se estende para toda a vida, não meramente a salvação de nossas almas. Quando nos preocupamos, estamos dizendo a Deus: “Não confio em você para conduzir a minha vida. Eu não acho que você realmente esteja no controle. É melhor eu me preocupar com essas coisas. Preciso fazer tudo para tomar conta de mim mesmo porque não tenho certeza de que você irá.” Mas pense sobre isso: Deus cuida de animais selvagens. Ele toma conta de flores do campo. Ele cuida até mesmo da relva. Por que ele não cuidaria de você?

Razão #5: Os pagãos se preocupam (Mt 6.30-32a). Alguns de nós nos preocupamos tanto que podemos até ser ateus. Estamos vivendo como se Deus realmente não existisse. É isso que os pagãos fazem.

Um pagão não tem que ser alguém que adora ídolos e sacrifica sapos. Um pagão é alguém que acha que a vida consiste em que se vai comer, em que se vai beber, em que se vai vestir. Pagãos pensam que a vida consiste na abundância de suas posses. Pagãos gastam e acumulam seu dinheiro como se não houvesse um Deus no universo os protegendo e cuidando deles.

Deixe-me pausar aqui porque alguns de vocês estão fazendo a pergunta que o resto de nós tem medo de dizer: “Mas e se Deus não cuidar de mim? E os cristãos morrendo de fome? E os cristãos sendo expulsos de suas casas? E os milhares de bons cristãos que, nesse ano, irão morrer de câncer e por causa de acidentes de carro ou ataques cardíacos? Deus não promete cuidar deles também?”

Essas são perguntas aceitáveis – e perguntas que não iriam surpreender Jesus ou qualquer dos escritores da Bíblia. O livro do Apocalipse fala sobre um determinado número de mártires. Paulo disse aos Romanos que mesmo em meio à tribulação, perseguição, fome, nudez, perigo, espada e matança, nós seríamos mais do que vencedores. Jesus disse aos seus discípulos: “E sereis entregues até por vossos pais, irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós. De todos sereis odiados por causa do meu nome. Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça. É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma.” (Lucas 21.16-19). Jesus nunca disse aos seus discípulos que ser um cristão era um vale gratuito para sair do sofrimento.

Então, podemos contar com Deus ou não?

Primeiro, precisamos nos lembrar do contexto. Jesus está falando sobre pessoas que servem a mamom ao invés de servirem a Deus (Mt 6:24). No relato de Lucas 12, Jesus está falando sobre ricos tolos construindo celeiros maiores e sobre pessimistas preocupados acumulando tesouros na terra. O que ele está tentando provar é que nós não morreremos por causa de generosidade elevada. Essa é a primeira coisa a notar.

Mas isso é apenas parte da resposta. Eu acho que o resto da resposta é encontrado no versículo 32: “Vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas”. O que são “elas”? Os versículos 30 e 31 sugerem que “elas” sejam comida e bebida. E para quê nós precisamos dessas coisas? Para viver. Deus sabe o que nós precisamos para continuar a viver… tão longo ele quer que vivamos. Deus sabe que precisamos de roupas, comida e bebida para viver e nos dará todas as roupas, comida e bebida para vivermos até que ele queira que morramos.

Isso é baseado em uma profunda verdade teológica: Deus não é estúpido. Deus nos vê. Ele sabe que estamos aqui. Ele não saiu para almoçar. Ele não está tirando um cochilo. Ele não é como um pai que perde um filho em alguma outra parte do supermercado. Ele é por você, não contra você. Jesus não promete que todos os seus sonhos mais mirabolantes irão se concretizar, mas promete que Deus irá lhe dar o que você precisa para glorificá-lo e para viver todos os dias que ele escreveu em seu livro.

Isso pode soar meio bobo, mas é realmente profundo. Há mais na vida, Jesus está dizendo, do que viver. Nós iremos morrer. Então, não faça com que seu objetivo na vida seja simplesmente permanecer vivo; você irá falhar nesse aspecto. Nós estamos aqui para fazer mais do que evitar a morte. “Deus lhes dará toda a comida e bebida e roupas que vocês precisam para viver”, diz Jesus. “E quando eu quiser que parem de viver, vocês irão parar de viver. Eu estou no controle. Vocês foram colocados aqui por uma razão maior do que apenas viver.” Seja consumido, diz o v. 33, com o reino. Seja consumido com o vislumbre do reinado e do domínio de Deus sobre sua vida, sua família, sua igreja, e os povos perdidos do mundo. Afinal de contas, você não é um pagão.

Razão #6: O reino é mais importante (Mt 6:33). Jesus quer libertar os pessimistas preocupados. Quando nós temos carros, barcos, tratores e casas bacanas, nós nos preocupamos com eles. E se um acidente acontecer, ou um raio cair, ou um ladrão invadir a casa? Jesus diz “Que tal um tesouro melhor? Por que não perder sua vida pelas coisas que permanecem?” Como diz Randy Alcorn, “Você não pode levar o dinheiro com você, mas pode enviá-lo antecipadamente.”

Não se livre de todos os seus alvos: substitua seus alvos pagãos por alvos piedosos. Seja consumido com o reino. Seja consumido com o vislumbre do reinado e do domínio de Deus sobre sua vida, sua família e sua igreja. Gaste-se pelos povos perdidos do mundo. Faça de sua prioridade apresentar mais pessoas ao Rei, traga mais pessoas para o reino, treine pessoas para viverem sob a autoridade desse Rei e de seu reino.

Jesus pode não tornar sua vida fácil, mas ele fará sua vida feliz. Ele quer nos libertar da busca por becos sem saída aos quais temos nos metido. Se você vive por causa do dinheiro, tem razão de estar ansioso. Se a coisa mais importante em sua vida é sua carreira, isso pode dar errado. Se sua saúde ou sua aparência ou seus filhos são suas paixões reais, você pode se decepcionar grandemente. Você tem razão para se inquietar. Mas se você busca o reino em primeiro lugar, você não pode perder.

Razão #7: O amanhã estará ansioso por si mesmo (Mt 6:34). A graça de hoje foi para as provações de hoje. E quando as provações de amanhã chegarem, então Deus terá uma nova graça esperando por você.

Ansiedade é viver o futuro antes que ele chegue. “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha porção é o SENHOR, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.” (Lm 3:22-24).

O que irá acontecer amanhã?

Eu posso lhe dar mil exemplos de coisas que não sabemos – diagnósticos, acidentes, empregos, testes, encontros, bebês, críticas, conversas difíceis, até a morte. Nós não sabemos o que irá acontecer amanhã. Mas aqui está uma coisa com a qual você e eu podemos contar: haverá novas misericórdias do Senhor quando chegarmos lá.

Como posso parar de me preocupar? Conte com o apoio de Jesus. Mas também olhe para Jesus. Ele vê. Ele sabe. Ele se importa. Ele é um compassivo sumo sacerdote. E ele nunca irá deixá-lo nem abandoná-lo.

Por: Kevin DeYoung


Tradução: Márcio Faleiro

Revisão: Vinícius Musselman Pimentel

MinisterioFiel.com.br

Kevin DeYoung é o pastor principal da University Reformed Church, em East Lansing (Michigan)
Graduado pelo Hope College
Mestrado em teologia pelo Gordon-Conwell Teological Seminary
É preletor em conferências teológicas e mantém um blog na página do ministério ­ The Gospel Coalition



QUE É UM EVANGÉLICO?

crente

Os rótulos geralmente são confusos, especialmente quando o conteúdo da embalagem muda. Suco de uva pode virar vinagre com o passar dos anos na adega, porém o rótulo não muda junto com as mudanças na substância. O mesmo vale para o termo evangélico".


Desde o "Ano do Evangélico", correspondente ao bicentenário de nossa nação (no caso os EUA) em 1976, o termo - pelo menos na América do Norte - veio a identificar aqueles que salientam um determinada marca da política, uma abordagem moralista e frequentemente legalista da vida, e certo tipo de imitação, "cafona" de estilo de evangelismo. Para alguns o termo compreende o emocionalismo que eles veem na televisão religiosa. Para outros, hipocrisia e justiça própria. E aí há as memórias que muitos de nós, que fomos criados como evangélicos, temos: ambientes familiares fortes e cuidadosos; um senso de pertencer a um mesmo lugar, com os amigos que gostam de conversar das "coisas do Senhor".

Independente do seu passado, é importante entender o significado do termo "evangélico".

As pessoas só começaram a usar o rótulo no século XVI, designando aqueles que abraçaram o Evangelho que havia - num sentido bem real - sido recuperado pela Reforma Protestante naquele século. "Evangélico" vem de "evangel", que é o termo grego para "evangelho". Deste modo, os "evangélicos" eram luteranos e calvinistas que queriam recuperar o evangel e proclamá-lo dos altos dos telhados. Era uma designação empregada para colocar os Protestantes num agudo contraste com os Católicos Romanos e "seitas". Mas para entender por que estes Protestantes pensavam que eram realmente aqueles que recuperaram o verdadeiro e bíblico Evangelho, temos que entender o que era aquele evangelho.

O "Evangel"

A Reforma era uma coleção de "solas" - esta é a palavra latina para "somente". Eles vibravam ao dizer "Sola Scriptura!", significando, "Somente as Escrituras". A Bíblia era a "única regra para fé e prática" (Westminster) para os reformadores. Você vê que a igreja acreditava que a Bíblia era totalmente inspirada e infalível, mas a igreja era o único intérprete infalível da Bíblia. Os Reformadores acreditavam que a Tradição era importante e que os Cristãos não a deveriam interpretar por eles mesmos, mas que todos os cristãos sejam clérigos ou leigos, deveriam chegar a um comum entendimento e interpretação das Escrituras juntos. A Bíblia não deveria ser exclusivamente deixada aos "espertos", mas isso nunca significou para os Reformadores que cada cristão deveria presumir que ele ou ela pudessem chegar a interpretações da Bíblia sem a orientação e assistência da Igreja.

O principal ponto de "Sola Scriptura" era este: Não deveria ser permitido à Igreja fazer regras ou doutrinas fora das Escrituras. Não existem novas revelações, nem papas que ouvem diretamente a voz de Deus, e nada que a Bíblia não apresente deveria ser ordenado aos cristãos.

O segundo "sola" era "Solo Christus", "Somente Cristo". Isto não queria dizer que os Reformadores não criam na Trindade - pois o Pai e o Espírito Santo eram igualmente divinos, mas que Cristo, sendo o "Deus-Homem" e nosso único Mediador, é o "Homem de frente" para a Trindade. "Aquele que me vê a Mim, vê ao Pai que me enviou", disse Jesus. Num tempo em que meros seres humanos estão tomando o lugar de Cristo como Mediador entre Deus e cristãos, os reformadores proclamaram juntamente com Paulo: "Há somente um Deus e um Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem" (1 Tim. 2: 5). Eu cresci em igrejas onde tínhamos "apelos ao altar" e esta pode ser a coisa mais próxima que nós cristãos modernos temos do "chamado ao altar" medieval, a missa. Em nossas igrejas, o pastor atuaria como mediador, vendo nossa mão levantada "enquanto cada cabeça está baixa e cada olho fechado", e nós iríamos para a frente onde ele estava, o chamado "altar" e repetiríamos uma oração após ele. Então ele afirmaria que, tendo "feito a oração", nós agora estaríamos salvos. Eu me lembro de ter sido "salvo" novamente, e novamente. Quando me senti culpado após uma particular e desagradável noite de sábado, lá ia eu novamente ao altar. Cristãos medievais estavam sempre apavorados até a morte, por ver que poderiam morrer com pecados não confessados e assim iriam para o inferno. Assim, a missa era uma oportunidade de "estar em dia com Deus" e de "encher a banheira" que tinha tido um vazamento por causa do pecado.

Os reformadores, porém, diriam àqueles dentre nós que vivem ansiosos quanto ao fato de estar ou não dentro do favor de Deus, ou se estamos cedendo demais ou obtendo vitória: "Somente Cristo!" É a Sua vida e não a nossa, que conta para a nossa salvação; foi a Sua morte sacrificial e ressurreição vitoriosa que nos assegurou vida eterna. Porque Ele "entregou tudo"; o Seu mérito cobre totalmente o nosso demérito.

E isso nos traz ao próximo "sola" - "Sola Gracia" (Somente a Graça!) Roma acreditava na graça; de fato, a Igreja insistia que, sem a graça, ninguém poderia ser salvo. Só que a graça era o tipo de "um pó mágico" que ajudava a pessoa a viver uma vida melhor - com a ajuda de Deus. Os reformadores, em contrapartida, diziam que a graça não é uma substância que Deus nos dá para vivermos uma vida melhor, mas sim uma atitude em relação a nós, aceitando-nos como justos por causa da santidade de Cristo, e não nossa.

Por isso eles lançaram o quarto "somente" (sola), que sabemos ser "Sola Fide" (somente a fé). Considerando que somos salvos somente pela graça, como obtemos essa graça? Roma argumentava que essa graça era distribuída pela igreja através dos vários métodos que os "altos escalões" haviam inventado. Fé mais amor, ou fé mais boas obras, ou alguma coisa assim, tornou-se a fórmula para a salvação. Os reformadores ao contrário, insistiam que do início ao fim, "salvação é obra do Senhor" (João 2: 9). "O Espírito dá vida; o homem em nada colabora" (João 6: 55). "Não depende da decisão, nem do esforço do homem, mas da misericórdia de Deus" (Rom 9: 16). Assim a fé em si mesma é um dom da graça de Deus e não se pode dizer dela que seja "a coisa" que nós fazemos na salvação: Pois nós não somos nascidos da vontade da carne ou da vontade do homem, mas de Deus" ( João 1: 13).

No minuto em que uma pessoa olha para "Cristo somente" para sua salvação, dependendo da Sua vida santa e sacrifício substitutivo na cruz, naquele exato momento ela ou ele é justificado (posto em posição de justiça, declarado justo, santo, perfeito). A própria santidade de Cristo é imputada (creditada) na conta do crente, como se ele ou ela tivessem vivido uma vida perfeita de obediência - mesmo enquanto aquela pessoa continua a cair repetidamente no pecado durante sua vida. O Cristão não é alguém que está olhando no espelho espiritual, medindo a proximidade de Deus pela experiência e progresso na santidade, mas é antes alguém que está "olhando para Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé"( Heb. 12: 2). Resumindo, é o estilo de vida de Cristo, não o nosso, que atinge os requisitos de Deus, e é por Ele que a justiça pode ser transferida para nossa conta, pela fé (olhando somente para Cristo).

Finalmente, os reformadores disseram que tudo isso significa que Deus é quem tem todo o crédito. "Soli Deo Gloria" (Somente a Deus seja a Glória) era a forma que eles colocavam - nosso último "sola", que quer dizer, "A Deus somente seja a Glória" Um evangélico, portanto, era centrado em Deus; alguém que estava convencido de que Deus havia feito tudo e que não restava nada que o homem considerasse seu a não ser seu próprio pecado. Isto não apenas transformou radicalmente a vida devocional dos crentes que o abraçaram, mas toda a estrutura social também.

Numa velha taverna do século XVII em Heidelberg, na Alemanha, lê-se no alto "Soli Deo Gloria!" Johann Sebastian Bach, o famoso compositor, assinou todas as suas composições com aquele slogan da Reforma. Do mesmo modo, um outro compositor, Handel, declarou, "Que privilégio é ser membro da igreja evangélica, saber que meus pecados estão perdoados. Se nós fossemos deixados à mercê de nós mesmos, meu Deus, o que seria de nós?" Grandes e nobres vidas requerem grandes e nobres pensamentos, e a soberania e a graça de Deus são, para o crente, grandes e nobres pensamentos. Os reformadores disseram a Roma o que J.B.Philipps, o tradutor inglês da Bíblia, disse à igreja contemporânea: "O Deus de vocês é muito pequeno".

A Reforma, a qual produziu o termo "evangélico", também recuperou a doutrina bíblica do "sacerdócio universal de todos os santos" e a noção bíblica do chamado e vocação. A igreja tinha dividido os cristãos em primeira classe (aqueles que serviriam no "ministério cristão em tempo integral") e segunda classe (aqueles que estavam empregados em serviços "seculares"). Os reformadores concediam, por direito, que todos os cristãos são sacerdotes e são, por isso, ministros de Deus, independente de estarem varrendo uma sala para a glória de Deus, moldando uma peça de cerâmica, defendendo um cliente na corte, curando um paciente, ordenhando uma vaca, ou conduzindo uma congregação no louvor. Não há o "secular" e o "sagrado" - Deus criou o mundo inteiro e fez a vida neste mundo como algo inseparável de nossa própria humanidade.

Como nós ajustamos as coisas hoje?

A questão, é claro, é se "evangélico" hoje significa o que significou há quinhentos anos.

Em primeiro lugar, muitos dos evangélicos de hoje têm uma visão das Escrituras inferior à que a igreja de Roma tinha no século XVI. Instituições evangélicas de peso duvidam da confiabilidade da Bíblia e de sua infalibilidade - a menos, claro, que se trate daquilo que eles já decidiram que é verdade. Outros acreditam que a Bíblia é inerrante, porém acrescentam novas regras e revelações ao cânon. "A Bíblia é suficiente", nos aconselhariam os reformadores. Os sermões, com muita frequência, são "pop-inspiracionalistas" discursos superficiais de "Como criar filhos positivos" ou "Como ter uma auto-estima" em detrimento de sérias exposições das Escrituras. De acordo com o Gallup, "Os EUA são um país de iletrados bíblicos", ainda que 60 milhões deles se consideram "evangélicos".

Em segundo lugar, muitos evangélicos modernos também não acreditam que Cristo é suficiente. Às vezes pessoas muito boas e nobres substituem Cristo como nosso único Mediador, assim como o Espírito Santo. Enquanto louvamos o Espírito juntamente com o Pai e o Filho, o Filho tem este papel único de nosso único advogado e Mediador. Não devemos olhar para a obra do Espírito nos nossos corações, mas para a obra de cristo na cruz. Às vezes, nós temos mediadores humanos que não são o Deus-Homem Jesus Cristo. Precisamos de outras coisas pelo meio, como a figura do pastor no "apelo" do altar ao qual me referi anteriormente. Não muito tempo atrás eu vi um tele-evangelista de sucesso tirando o fone do gancho e informando seus telespectadores que "esta é sua conexão com Deus". Uma banda secular, "Depeche Mode", canta sobre "Seu próprio Jesus Pessoal" que pode ser contactado ao se pegar no fone e fazendo sua confissão. Enquanto estivermos neste assunto, também deveríamos mencionar que foi a venda de indulgências de John Tetzel (redução do período no purgatório em troca de valores em dinheiro) que inspirou as "Noventa e Cinco Teses "de Lutero, desencadeando a Reforma. "Quando a moeda bate no cofre", o coro cantava, "uma alma do purgatório é vivificada". Será que isso realmente é diferente da venda da salvação que temos visto na televisão cristã, rádio, e mesmo em muitas igrejas? Dinheiro e salvação têm sido distorcidos para serem uma coisa só no meio de muitos de nós. "Eles vendem salvação a você", canta Ray Stevens, "enquanto eles cantam 'Amazing Grace' ('Graça Maravilhosa')".

Muitos evangélicos hoje creem que "Somente a Graça" (sola gracia) é algo como livre-arbítrio, uma decisão, uma oração, uma ida até a frente, uma segunda bênção, algo que nós façamos por Deus que nos dará confiança de sermos alvo do Seu favor. Doutrinas como eleição, justificação e regeneração são discutidas quase que nunca, porque elas mostram o quadro de uma humanidade que é incapaz e nem ao menos pode cooperar com Deus em matéria de salvação. Se nós formos salvos é Deus e Deus somente que deverá faze-lo.

E sobre "Somente a Fé" (sola fide)? Muitos evangélicos acham que a fé não é suficiente. Se um indivíduo crê em Cristo e daí sai e o anuncia, será que a fé é suficiente? Alguns insistem que a fé mais a entrega, ou a fé mais a obediência, ou fé mais um sincero desejo de servir ao Senhor servirão como uma fórmula. O fato de que os evangélicos hoje lutam com estas questões indica que nós não ouvimos o "som seguro" de "Somente a Fé" em nossas igrejas. Fé é suficiente porque Cristo é suficiente.

Como se comparariam os evangélicos de hoje com os seus predecessores em matéria de "Somente a Deus seja a Glória"? Auto-estima, glória-própria, centralidade do "eu" parecem dominar a pregação, ensino e a literatura popular do mundo evangélico. Os evangélicos de hoje sabem muito pouco do grande Deus dos reformadores - um Deus que faz tudo conforme o Seu agrado, em relação aos céus e às pessoas sobre a terra e "que faz tudo conforme o conselho da Sua vontade" (Dn. 4; Ef. 1: 11). Os evangélicos hoje, refletindo sua cultura e sociedade mais ampla, estão intimidados por um Deus que é Deus. Porém que outro Deus é digno de confiança? Em poucas palavras, que outro Deus existe? Louvar ao Deus de uma experiência pessoal ou o Deus de preferência pessoal é louvar um ídolo. Os reformadores levaram isso a sério, e aqueles que quiserem ser evangélicos genuínos também devem faze-lo.

Conclusão

Muitas pessoas se perguntam por que o povo da "Reforma" parece bravo. Ninguém quer estar ao redor de pessoas bravas - e eu não gostaria de ser conhecido como uma pessoa "brava". Mas precisamos encarar o fato de que estes são tempos de grande infidelidade para o povo de Deus. A nós foi dada uma fé rica, com Cristo no centro. Porém trocamos nossa rica dieta por um saco de pipocas e estamos mal nutridos. Se os evangélicos terão a mesma saúde espiritual que tiveram em épocas passadas, eles terão que voltar para as verdades que fazem de "evangélicos" "evangélicos". A Bíblia - nosso único fundamento; Cristo - nossa única esperança; Graça - nosso único evangelho; Fé - nosso único instrumento; a Glória de Deus - nosso único alvo; o Sacerdócio de todos os santos - nosso único ministério. Este evangelicalismo original ainda é suficiente para fazer, mesmo de nossas menores vitórias, algo muito grande.



Nota Sobre o Autor: Dr. Michael Horton é professor no Seminário Teológico Reformado, Orlando-Flórida e editor da revista Modern Reformation.

Extraído do Jornal "Os Puritanos" Ano V - Número 3

Via: www.monergismo.com

Extraído de: http://www.materiasdeteologia.com/2014/06/que-e-um-evangelico-por-michael-horton.html#ixzz4EW6MVA1V

Verdades Espirituais Extraídas de Gênesis 3:15 (Parte 2)


Missº Veronilton Paz da Silva
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