quarta-feira, 13 de outubro de 2010

História do Movimento Reformado


JOÃO CALVINO: O SURGIMENTO DE UM NOVO LÍDER

Alderi Souza de Matos

Com a morte de Ulrico Zuínglio, em 1531, parecia que a reforma suíça havia recebido um golpe fatal. O movimento continuou, sob a hábil liderança de Henrique Bullinger, mas possivelmente teria ficado restrito a algumas partes da Confederação Suíça e da Alemanha, sem causar um impacto mais amplo na Europa e no mundo. Foi então que entrou em cena um novo personagem, cujo brilhantismo intelectual e habilidade diplomática haveriam de dar profundidade teológica e amplitude continental à fé reformada. Esse personagem foi o reformador francês João Calvino.

Inicialmente, parecia pouco provável que Calvino viesse a se tornar um dos maiores vultos da Reforma Protestante. Nascido em 10 de julho de 1509 na cidadezinha de Noyon, na Picardia (nordeste da França), o menino Jean cresceu em um lar profundamente católico. Seu pai era advogado do clero local e secretário do bispo, posição que lhe permitiu obter para o filho um “benefício eclesiástico”, ou seja, um cargo na estrutura da igreja. Aos catorze anos, Calvino ingressou na antiga e prestigiosa Universidade de Paris, visando preparar-se para o sacerdócio. Estudou a teologia escolástica e as chamadas “humanidades”, isto é, as línguas (especialmente o latim) e a literatura da antiguidade clássica. Por três anos (1528-1531), também se dedicou ao estudo do direito em duas cidades do interior, Orléans e Bourges. Nesta última, teve a oportunidade de aprender grego com o erudito luterano Melchior Wolmar. Toda esse preparação esmerada haveria de ser muito valiosa para o seu futuro trabalho como reformador.

Regressando a Paris, Calvino dedicou-se à sua grande paixão, os estudos humanísticos, publicando um comentário do tratado Sobre a Clemência, do antigo filósofo estóico Sêneca. Pouco depois, ocorreu o primeiro grande ponto de transição em sua vida – sua conversão à fé evangélica –, sobre a qual existem poucas informações. No fim do mesmo ano (1533), ocorreu um incidente curioso. Nicolau Cop, um amigo de Calvino que acabara de ser eleito reitor da Universidade de Paris, fez um discurso polêmico em que expôs idéias protestantes e pediu reformas. As reações foram intensas e os dois amigos tiveram de fugir para salvar a vida. Calvino encontrou abrigo na casa de um amigo em Angoulême, onde começou a escrever a obra notável que o tornaria conhecido em toda a Europa.

Enquanto isso, crescia assustadoramente a repressão estatal contra os protestantes franceses. Calvino retornou brevemente à sua cidade natal em maio de 1534, a fim de renunciar ao seu benefício eclesiástico, e em janeiro do ano seguinte deixou a França, indo residir em Basiléia, na Suíça. Foi ali que ele teve a oportunidade de concluir as Institutas da Religião Cristã, publicando-as em março de 1536. Tinham como prefácio uma carta ao rei Francisco I, suplicando tolerância em favor dos evangélicos perseguidos. Com essa obra, Calvino foi reconhecido imediatamente com o principal líder e porta-voz do protestantismo francês. Poucos meses depois ocorreria o segundo grande momento de transição na vida do jovem reformador, que teve conseqüências ainda mais dramáticas e profundas.

Fonte: Portal Mackenzie

Cristianismo de entretenimento

A igreja pode enfrentar a apatia e o materialismo satisfazendo o apetite das pessoas por entretenimento? Evidentemente, muitas pessoas das igrejas pensam assim, enquanto uma igreja após outra salta para o vagão dos cultos de entretenimento.
Uma tendência inquietante está levando muitas igrejas ortodoxas a se afastarem das prioridades bíblicas.
O que eles querem
Os templos das igrejas estão sendo construídos no estilo de teatros. Ao invés de no púlpito, a ênfase se concentra no palco. Alguns templos possuem grandes plataformas, que giram ou sobem e descem, com luzes coloridas e poderosas mesas de som.
Os pastores espirituais estão dando lugar aos especialistas em comunicação, aos consultores de programação, aos diretores de palco, aos peritos em efeitos especiais e aos coreógrafos.
O objetivo é dar ao auditório aquilo que eles desejam. Moldar o culto da igreja aos desejos dos freqüentadores atrai muitas pessoas.
Como resultado disso, os pastores se tornam mais parecidos com políticos do que com verdadeiros pastores, mais preocupados em atrair as pessoas do que em guiar e edificar o rebanho que Deus lhes confiou.
A congregação recebe um entretenimento profissional, em que a dramatização, os ritmos populares e, talvez, um sermão de sugestões sutis e de aceitação imediata constituem o culto de adoração. Mas a ênfase concentra-se no entretenimento e não na adoração.
A idéia fundamental
O que fundamenta esta tendência é a idéia de que a igreja tem de “vender” o evangelho aos incrédulos — a igreja compete por consumidores, no mesmo nível dos grandes produtos.
Mais e mais igrejas estão dependendo de técnicas de vendas para se oferecerem ao mundo.
Essa filosofia resulta de péssima teologia. Presume que, se você colocar o evangelho na embalagem cor-reta, as pessoas serão salvas. Essa maneira de lidar com o evangelho se fundamenta na teologia arminiana. Vê a conversão como nada mais do que um ato da vontade humana. Seu objetivo é uma decisão instantânea, ao invés de uma mudança radical do coração.
Além disso, toda esta corrupção do evangelho, nos moldes da Avenida Madison, presume que os cultos da igreja têm o objetivo primário de recrutar os incrédulos. Algumas igrejas abandonaram a adoração no sentido bíblico.
Outras relegaram a pregação convencional aos cultos de grupos pequenos em uma noite da semana. Mas isso se afasta do principal ensino de Hebreus 10.24-25: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos”.
O verdadeiro padrão
Atos 2.42 nos mostra o padrão que a igreja primitiva seguia, quando os crentes se reuniam: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”.
Devemos observar que as prioridades da igreja eram adorar a Deus e edificar os irmãos. A igreja se reunia para adoração e edificação — e se espalhava para evangelizar o mundo. Nosso Senhor comissionou seus discípulos a evangelizar, utilizando as seguintes palavras: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19). Ele deixou claro que sua igreja não tem de ficar esperando (ou convidando) o mundo para vir às suas reuniões, e sim que ela tem de ir ao mundo.
Essa é uma responsabilidade de todo crente. Receio que uma abordagem cuja ênfase se concentra em uma apresentação agradável do evangelho, no templo da igreja, absolve muitos crentes de sua obrigação pessoal de ser luz no mundo (Mateus 5.16).
Estilo de vida
A sociedade está repleta de pessoas que querem o que querem quando o querem. Elas vivem em seu próprio estilo de vida, recreação e entretenimento. Quando as igrejas apelam a esses desejos egoístas, elas simplesmente põem lenha nesse fogo e ocultam a verdadeira piedade.
Algumas dessas igrejas estão crescendo em expoentes elevados, enquanto outras que não utilizam o entretenimento estão lutando. Muitos líderes de igrejas desejam crescimento numérico em suas igrejas, por isso, estão abraçando a filosofia de “entretenimento em primeiro lugar”.
Considere o que esta filosofia causa à própria mensagem do evangelho. Alguns afirmam que, se os princípios bíblicos são apresentados, não devemos nos preocupar com os meios pelos quais eles são apresentados. Isto é ilógico.
Por que não realizarmos um verdadeiro show de entretenimento? Um atirador de facas tatuado fazendo malabarismo com serras de aço se apresentaria, enquanto alguém gritaria versículos bíblicos. Isso atrairia uma multidão, você não acha?
É um cenário bizarro, mas é um cenário que ilustra como os meios podem baratear e corromper a mensagem.
Tornando vulgar
Infelizmente, este cenário não é muito diferente do que algumas igrejas estão fazendo. Roqueiros punk, ventríloquos, palhaços e artistas famosos têm ocupado o lugar do pregador — e estão degradando o evangelho.
Creio que podemos ser inovadores e criativos na maneira como apresentamos o evangelho, mas temos de ser cuidadosos em harmonizar nossos métodos com a profunda verdade espiritual que procuramos transmitir. É muito fácil vulgarizarmos a mensagem sagrada.
Não se apresse em abraçar as tendências das super-igrejas de alta tecnologia. E não zombe da adoração e da pregação convencionais. Não precisamos de abordagens astuciosas para que tenhamos pessoas salvas (1 Coríntios 1.21).
Precisamos tão-somente retornar à pregação da verdade e plantar a semente. Se formos fiéis nisso, o solo que Deus preparou frutificará.

John MacArhtur

Fé Reformada

O poder sobre os eleitos

O apóstolo orou a Deus, em favor dos santos em Éfeso, para que fossem iluminados os olhos do entendimento deles, a fim de que, entre outras coisas, soubessem “qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos…” (Ef 1.18,19) e para que fossem “fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito, no homem interior” (Ef 3.16). É dessa maneira que os filhos de Deus recebem a capacidade de combater o bom combate da fé e de batalhar contra as forças do adversário que constante e incansavelmente guerreia contra eles. Em si mesmos, não têm força alguma: são apenas “ovelhas”. A ovelha é um dos mais indefesos animais que existe; mas a promessa é firme: “Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor” (Is 40.29).
É esse poder dinamizante que Deus exerce sobre os justos; e, em seu íntimo, são capacitados a servi-Lo de maneira aceitável. Disse o profeta: “Eu, porém, estou cheio do poder do Espírito do SENHOR” (Mq 3.8). E o Senhor disse aos seus apóstolos: “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo” (At 1.8); e assim sucedeu, porque lemos subseqüentemente acerca daqueles mesmos homens: “Com grande poder os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça” (At 4.33).
O mesmo aconteceu ao apóstolo Paulo: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1 Co 2.4). Mas o escopo desse poder não se limita ao serviço, pois lemos em 2 Pedro 1.3: “Visto como pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as cousas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude”. Por isso, as várias graças do caráter cristão, “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” são atribuídas diretamente a Deus, sendo chamadas de “o fruto do Espírito’” (Gl 5.22; comparar com 2 Co 8.16).

A. W. Pink

http://www.oprincipaldospecadores.com

2º Aniversário Unificado das Sociedades da IP Monteiro-PB

Graça e paz!
Gostaria de divulgar este grandioso evento que ocorrerá nos dias 23 e 24 de Outubro de 2010. Contaremos com a presença do Rev. José Erivaldo, vulgo "Cabelo de Fogo" (3º IP Caruaru-PE) e o Ministério de Louvor Templus da mesma igreja, ainda contaremos com o Ministerio Levitas da IP Monteiro-PB e cantora Christiane Gisela. Veja o calendário do Evento:

Dia 23/10 Culto na Praça João Pessoa com mensagem evangelística e muito louvor a partir das 19:00

Dia 24/10 Escola Dominical Animada 09:30h, Culto de encerramento 19:00h

Faça sua caravana e venha participar conosco em um destes dias!

Projeto EVAS - Evangelismo e Ação Social

Graça e paz!
Estivemos realizando ontem (12) na Congregação Presbiteriana do Sítio Serrote o nosso 2º EVAS, foi um dia inteiro de voluntariado onde irmãos profissionais prestaram serviços gratuitos como corte de cabelos, manicure e pedicure, lanche para mais de 150 pessoas. O evento culminou com um culto à noite na congregação, o preletor foi o Rev. Altino Júnior (IP Monteiro-PB), logo após o culto houve entrega de brindes: Brinquedos e roupas infantis; roupas de adultos e outros brindes. Durante o dia um grupo de pessoas da SAF, UMP e UPH saiu de casa em casa, tivemos um saldo de 160 pessoas evangelizadas. Agora estamos aguardando o agir soberano do Espírito Santo na conversão destas vidas. Creio que é só uma questão de tempo. Se algum amigo desejar contribuir com a obra de evangelização desta congregação entre no e-mail cristaoreformado@gmail.com que nós conversaremos. Um abraço!
Pb. Missº Veronilton Paz da Silva (Cong. Presbiteriana do Sítio Serrote, Monteiro-PB)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Missão portas abertas

 IGREJAS DOMÉSTICAS SÃO FECHADAS NO NORTE DA SÍRIA

SÍRIA - A International Christian Concern (ICC) tem conhecimento de que pelo menos oito igrejas evangélicas no norte da Síria foram fechadas por ordem do Governo sírio.
    O fechamento das numerosas "igrejas domésticas" aconteceu porque o governo considerou inadequados os locais usados para reuniões. Muitas congregações na Síria não têm dinheiro para comprar um terreno e construir uma igreja, então, em vez disso, compram um apartamento e o transformam em um local de culto. No entanto, durante os últimos meses, o governo aplicou uma lei estabelecendo que as congregações se reunissem somente em edifícios que se assemelham a uma igreja.
    Muitos cristãos sírios acreditam, porém, que isso é uma “desculpa legal” do governo para o fechamento das igrejas, sendo apenas um disfarce para uma ofensiva mais ampla contra as atividades cristãs evangélicas na Síria. "Os cristãos sírios ativos na fé sabem que são vigiados de perto e que o governo espera ter uma desculpa para reprimi-los", disse um cristão sírio à ICC. "O governo tem como alvo todas as atividades religiosas que são consideradas "extremas" - De extremistas muçulmanos para os cristãos... Acredita-se que o governo tem recebido relatórios dos ortodoxos e determinadas denominações, bem como da polícia secreta e certas congregações muçulmanas."
    Em uma carta publicada no site do analista político e escritor cristão árabe Joel Rosenberg, ele explicou: "Nossos irmãos e igrejas na Síria necessitam urgente de orações. O governo fechou oito igrejas evangélicas nas últimas duas semanas. Todas elas são do norte da Síria: Lattakia, Tartous, Homs e Wadi Al-Nasara. Algumas das igrejas em Damasco e Aleppo sabem que sua vez [de fecharem] chegará logo. O governo tem fechado algumas das igrejas Batista e da Aliança. Aparentemente, é pela aprovação do Conselho Superior Sírio".
    Aidan Clay, gerente regional da ICC no Oriente Médio, disse: "Os cristãos sírios, ao contrário de alguns de seus vizinhos, gozaram de uma relativa liberdade para praticar sua fé. No entanto, a liberdade religiosa na Síria é um ideal delicado, e os cristãos sírios andam em uma situação insustentável para não ofender o governo e perder a sua preciosa liberdade de culto. Preconceitos e falsos relatos marcam a comunidade evangélica com os cristãos sírios ortodoxos e grupos muçulmanos e, caso continue, destruirá o frágil equilíbrio da liberdade religiosa, tão cara aos evangélicos sírios. A ICC pede ao governo sírio para que sustente esse equilíbrio, preservando a tolerância religiosa e protegendo suas minorias religiosas”.

Tradução: Carla Priscilla Silva

Fonte: International Christian Concern

No que alguém deve crer para ser chamado de calvinista?

Vejam que resposta bela de um irmão a uma pergunta sobre o calvinismo.
Essa foi uma pergunta que me fizeram lá no Formspring.me. Achei por bem postar minha resposta aqui.

Douglas,

Muito boa essa sua pergunta!
Veja bem. Já que o requisito para ser calvinista não é o mesmo que para ser salvo (porque se fosse já não seria mais pela Graça*), podemos dizer que para ser calvinista uma pessoa deve, sim, crer e defender algumas doutrinas distintivas do sistema teológico que ficou conhecido como "reformado", sistema este oriundo de João Calvino e seus sucessores (no contexto mais imediato, os puritanos).

Entretanto, uma vez que não há consenso entre os calvinistas sobre certos aspectos desta mesma fé (como por exemplo no campo da escatologia, pneumatologia e eclesiologia, somente para citar os mais relevantes), restringimos o termo àqueles que creem e defendem a soteriologia reformada, que foi historicamente resumida em cinco artigos - os famosos "Cinco pontos do Calvinismo". Isso é o mínimo que todo bom calvinista deve conhecer, defender e pregar (mesmo que ele depois acabe se enroscando, por exemplo, em questões envolvendo a ordem dos decretos - supralapsarianismo x infralapsarianismo).

Mas é óbvio que o calvinismo não é somente doutrina - ele também é vida! Não apenas ortodoxia, mas sobretudo ortopraxia. E que ninguém ouse afirmar que é um legítimo calvinista se não viver o que prega o legítimo calvinismo, pois, como diria um dos calvinistas mais ilustres de todos os tempos, Charles Haddon Spurgeon, "a profissão de fé sem a graça divina é a pompa funerária de uma alma morta".
Espero ter ajudado.

Volte sempre, e obrigado pela pergunta.
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* Não que ser calvinista seja fruto de obras! Continuamos atribuindo tudo à Soberana Graça de Deus!


Deus, aborto e família: por que não?

As eleições presidenciais de 2010 no Brasil já entraram para a História como sendo as primeiras em que os evangélicos ocupam um papel de destaque. Atribui-se ao voto evangélico a votação expressiva da candidata Marina Silva e a realização de um segundo turno, disputado entre os candidatos Dilma Rousseff e José Serra. E uma das conseqüências deste fato é a discussão de temas pouco comuns na campanha, como Deus, aborto e família.

O que, na opinião do jornalista Maurício Stycer, é um completo desastre. No post Eleições em nome Dele, Stycer reproduz a matéria Brasil regride séculos com programa eleitoral sobre Deus, aborto e família, onde ele faz algumas afirmações "dignas" de nota:
De um lado Dilma, de outro Serra. No meio, “a família brasileira”, esta entidade abstrata, a quem os dois candidatos resolveram se dirigir com promessas de “respeito à vida” e a Deus, como se o Brasil vivesse uma era de obscurantismo e perseguição religiosa.

Um atraso de séculos, dramatizado pelo discurso dos dois candidatos e de apelações variadas.

Um desastre. Num Estado laico e democrático, é assustador ouvir os candidatos à Presidência da República recorrerem a Deus para conseguir votos.
Mas, será que o jornalista está com a razão?

Um Estado laico não é igual a um Estado ateu
Começo dizendo que o caráter laico do Estado não significa tornar "Deus" ou "religião" assuntos tabus, proibidos, que jamais devem ser discutidos por agentes públicos. Tanto que o nome de Deus é mencionado no preâmbulo da Constituição Federal:
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (grifo meu)
No artigo 5º que trata dos direitos fundamentais, encontramos a base legal para que o Estado  (laico) promova, por exemplo, concursos públicos para capelães nas Forças Armadas:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
Stycer comete o mesmo erro que o jornalista Reinaldo Azevedo aponta em ação do Ministério Público Federal que quer proibir a realização de um concurso para capelães das Forças Armadas. Ao comentar sobre a ação, Reinaldo Azevedo diz:
Estado e Igreja estão separados no Brasil desde a República, e as relações têm sido harmônicas. Mas uma coisa a doutora Luciana Loureiro Oliveira não consegue negar, não é? O Brasil é um país esmagadoramente cristão, dividido em várias confissões, sendo a católica a majoritária.

Laicismo não pode se confundir com perseguição religiosa. Os sem-religião nas Forças Armadas não estarão submetidos a nenhum constrangimento — não receberão orientação nenhuma se não quiserem. Atender à maioria, nesse caso, não significa retirar direitos, então, da “minoria”.
Da mesma forma, falar sobre Deus na campanha não significa ferir o caráter laico do Estado. Nem Serra e nem Dilma estão defendendo que o Estado assuma um caráter confessional ou faça uma lei declarando a existência de Deus. Igreja e Estado continuam separados.


O Brasil teria regredido séculos é se fosse proibido discutir Deus na campanha. Aí sim estaríamos em uma idade de trevas, onde não seria mais possível discutir certos assuntos!

O povo não pode escolher a agenda política?
Aliás, se a democracia é o governo feito pelo povo, o fato do povo escolher que temas devem ser discutidos deveria ser louvado. Jornalistas e políticos estão acostumados a pautarem as discussões da sociedade (o famoso agenda setting), mas parece não aceitarem muito bem quando ela mesma coloca a sua própria agenda na pauta da imprensa e das campanhas políticas.

Entendo que a eleição de um(a) presidente da República envolva sim a discussão de vários temas relevantes para o país. Sei que nem todos são discutidos adequadamente...eu gostaria de ver, por exemplo, uma reestruturação dos impostos (reforma tributária) ser mais discutida. Mas um dos pilares da democracia é a convicção de que o povo é capaz de eleger seus governantes. Se somos capazes para nomeá-los, por que não somos capazes de perguntarmos o que nos interessa?

Valores também devem ser discutidos
Por fim, a mim me parece que a visão de Stycer exclui os valores mais importantes da campanha política. A impressão é a de que deveríamos discutir programas, ações...mas não valores e princípios. Sim, porque crenças e questões éticas estão diretamente relacionadas a princípios...os quais, por sua vez, acabam determinando as ações que serão tomadas.

A esmagadora maioria do Brasil acredita na existência de Deus. Para estas pessoas, Deus é um dos assuntos mais importantes de sua vida. No caso dos evangélicos, Deus é o tema mais proeminente de todos, o que determina tudo o que fazemos, como está escrito:
Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. (1 Coríntios 10:31)

Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! (Romanos 11:36)
Falar de aborto é falar, nada mais, nada menos, na vida humana. Será que este não é um assunto importante? Com a palavra, o cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer:
“Eu acredito que é bom que a questão do aborto seja também levada em consideração dentro dos debates políticos. É uma questão que merece consideração política. Ou a vida humana seria tão desprezível que não merece consideração política?”, afirmou o cardeal em coletiva sobre a “Semana Nacional da Vida”, no Amparo Maternal, em São Paulo. “Acho que é desejo dos eleitores que os candidatos tenham posições claras e coerentes com aquilo que de fato pretendem levar adiante”, acrescentou. (Matéria de André Mascarenhas, do Estado de São Paulo, que pode ser lida aqui).
Quanto à família, ela ainda é vista pela maioria das pessoas no Brasil como sendo a base da sociedade. É um dos assuntos que toca a maioria dos brasileiros de modo mais direto, porque envolve falar de casamento, paternidade e maternidade, adoção de filhos, cuidado com os mais idosos, abandono de crianças, divórcio, entre outros. Quem, em sã consciência, não acharia importante discutir este assunto?

Claro que, ao meu ver, o Estado não deve se intrometer na vida das famílias. Mas, ao aprovar leis como a Lei Maria da Penha (de violência doméstica contra às mulheres) ou a que tornou o divórcio um processo muito mais rápido, o Estado acaba sim influenciando as famílias brasileiras com suas decisões. Se tal assunto não é importante para o Sr. Maurício Stycer, para este pastor presbiteriano e outros milhões de evangélicos, trata-se de um dos temas cruciais que devem ocupar a mente dos brasileiros no século XXI.

Voltar no tempo?
No mais, encerro dizendo que Stycer comete um erro típico de uma sociedade relativista. Tudo pode ser discutido e debatido...menos os assuntos que interessam às igrejas cristãs. As idéias de outros parecem ser recebidas como naturais e próprias ao tempo...mas quando os cristãos querem discutir o que é relevante para nós...então a sociedade está regredindo séculos e caindo em uma era de obscurantismo.

Eu é que proponho ao jornalista que deixe um pouco de luz entrar em sua mente e mostre um pouco mais de respeito aos milhões de cristãos deste país que valorizam Deus, a vida humana e a família.