Por Silas Figueira
“Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl 4.19).
A epístola aos Gálatas foi escrita às
igrejas do Sul da Galácia fundada por Paulo e Barnabé quando de sua
primeira viagem missionária, ou seja, quando eles estiveram em Antioquia
da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe (At 13.13-14.25).
Esta carta
teve dois motivos básicos quando foi escrita: a defesa do apostolado de
Paulo e frear as heresias que estavam entrando nessas igrejas. As
igrejas da Galácia haviam sido invadidas pelos falsos mestres
judaizantes logo após a primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé.
Esses mestres judaizantes estavam ensinando que os gentios deveriam ser
circuncidados e que deveriam observar a Lei de Moisés para serem salvos,
ou seja, eles estavam dizendo que a graça de Cristo não era suficiente
para que eles alcançassem a salvação. Eles interpretavam tanto a Lei
quanto o Evangelho erradamente.
Eles não entendiam que o papel da Lei
não é salvar, mas revelar o pecado. A função da lei não é levar a homem
ao céu, mas conduzi-lo ao Salvador.
Podemos dizer que a carta aos Gálatas é um tratamento de choque para uma igreja que está com o pé na estrada da apostasia [1].
Por isso que o apóstolo dos gentios diz com tanta veemência: “sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl 4.19b).
SER COMO CRISTO PRATICANDO A PALAVRA é andar nos passos do Mestre sem olhar para trás. Como disse Jesus: “Porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou” (Jo 5.30).
SER COMO CRISTO PRATICANDO A PALAVRA é
nos posicionarmos contra as heresias que hoje tem invadido as nossas
igrejas. Como disse Paulo a Tito: “Porque existem muitos
insubordinados, palradores frívolos e enganadores, especialmente os da
circuncisão. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas
inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1.10,11).
Se realmente queremos ser como Cristo praticando a palavra, nós precisamos
estar como o apóstolo Paulo atento as heresias que tentam destruir a
igreja nos dias de hoje, pois o próprio apóstolo nos diz que era
imitador de Cristo (1Co 11.1). Dentro desse contexto desta carta vemos
que Paulo se apresenta como uma mãe em agonia de parto (Gl 4.19b). Por
isso quero destacar algumas coisas básicas que Paulo fez e que serve de
exemplo para todos nós hoje:
A primeira coisa que observamos é que o apóstolo Paulo lutou em defesa do Evangelho:
“Admira-me que estejais passando tão
depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro
evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e
querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl 1.6,7).
O apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos 1.16 disse: “Pois
não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”.
Existem três tipos de pessoas: os que se
envergonham do evangelho, os que são vergonha para o evangelho e os que
não se envergonham do evangelho.
Os que não se envergonham do Evangelho o
defendem com unhas e dentes. Foi isso que Paulo fez. As igrejas da
Galácia estavam trocando o verdadeiro evangelho por um falso evangelho.
Trocando a liberdade de Cristo pela escravidão da Lei.
Hoje não estamos vivendo dias diferentes
da época de Paulo, pelo contrário, o mesmo espírito que agiu naquela
época é o mesmo espírito maligno que atua hoje tentando perverter o
verdadeiro Evangelho. Como está escrito em 1Tm 4.1: “Ora, o
Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns
apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de
demônios”.
Se não, vejamos o que tem atuado em muitas igrejas hoje:
O Evangelho da Prosperidade –
onde a benção e a graça de Deus sobre a pessoa é medida pelos bens que
ela possui. Teologia esta que está na maioria dos púlpitos das igrejas
pentecostais e neopentecostais. Descobri recentemente um detalhe
interessante nesta teologia, que Cristo morreu na Cruz do Calvário para
que eu tivesse muita saúde, carro zero, casa na praia e ser muito rico,
ou seja, Jesus não passa de um gênio da lâmpada.
Teologia Inclusiva – A
Teologia Inclusiva, como a própria denominação sugere, é um ramo da
teologia tradicional voltado para a inclusão, prioritariamente, dos
homossexuais. Segundo os seus adeptos, a Teologia Inclusiva contempla
uma lacuna deixada pelas estruturas religiosas tradicionais do
Cristianismo, pois, por meio da Bíblia, compreende que todos os que
compõem a diversidade humana, seja ela qual for, têm livre acesso a Deus
por meio do sacrifício de Jesus Cristo na cruz. É o famoso venha como
está e fique como está.
Alguns textos que condenam o
homossexualismo: Gn 19; Lv 18.22, 20.13; Rm 1.24-28,32; 1Co 6.9,10; 1Tm
1.8-10. Mas Deus é poderoso para mudar a vida dessas pessoas.
Teísmo Aberto ou Teologia Relacional – O
atributo mais importante de Deus é o amor. Todos os demais estão
subordinados a este. Isto significa que Deus é sensível e se comove com
os dramas de suas criaturas. Deus não é soberano. Deus ignora o futuro,
pois ele vive no tempo, e não fora dele. Ele aprende com o passar do
tempo. Deus se arrisca. Ao criar seres racionais livres, Deus estava se
arriscando, pois não sabia qual seria a decisão dos anjos e de Adão e
Eva. E continua a se arriscar diariamente. Deus corre riscos porque ama
suas criaturas, respeita a liberdade delas e deseja relacionar-se com
elas de forma significativa.
Igrejas Emergentes – As
igrejas emergentes estão mais preocupadas com o ouvinte do que com a
mensagem em si, e em seu desejo de pregar um evangelho que seja
“aceitável” ao homem pós-moderno, acabam por negligenciar os
pressupostos básicos do cristianismo, chegando mesmo a negar a
literalidade do nascimento virginal de Cristo, seus milagres, a
ressurreição de Jesus e a existência do inferno eterno. É “a preferência
pela vivência correta ao invés da doutrina correta”. Teologia passa
longe dessas igrejas.
Missão Integral – Esse
evangelho não passa de uma variante protestante da Teologia da
Libertação. Os que defendem essa teologia são líderes cristãos que
continuam trancados no armário do socialismo [2].
Teologia Liberal (ou liberalismo teológico)
A “Teologia Liberal é um movimento que, iniciado no final do século XIX
na Europa e Estados Unidos, tinha como objetivo extirpar da Bíblia todo
elemento sobrenatural, submetendo as Escrituras ao crivo da crítica
científica (leia-se ciências humanas) e humanista. No liberalismo
teológico, geralmente, não há espaço para os milagres, profecias e a
divindade de Cristo Jesus”. Relativizando a autoridade da Bíblia, o
liberalismo teológico estabeleceu uma mescla da doutrina bíblica com a
filosofia e as ciências da religião. Ainda hoje, um autor que não
reconhece a autoridade final da Bíblia em termos de fé e doutrina é
denominado, pelo protestantismo ortodoxo, de “teólogo liberal”. Um
pequeno exemplo nós encontramos em relação à existência de Jó. Para os
liberais ele não passa de uma alegoria, mas então eu me questiono porque
que em Ez 14.14,20; Tg 5.11 falam dele como se ele fosse um personagem
real. Então eu fico com a Bíblia e não com os defensores dessa teologia.
Bem disse Jesus “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22.29).
Por eu lutar contra essas coisas que estão entrando em muitas igrejas eu tenho sido taxado de conservador. Como se isso fosse uma ofensa para mim, mas lhes digo que não é.
A segunda coisa que observamos é que o apóstolo Paulo lutou pela singularidade do Evangelho:
“Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim,
como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá
além daquele que recebestes, seja anátema” (Gl 1.8,9).
Depois de falar da apostasia da igreja e
da ação nociva dos falsos mestres, Paulo reafirma a singularidade do
Evangelho, afirmando que todos aqueles que pervertem o evangelho e
perturbam a igreja com falsas doutrinas estão debaixo da maldição
divina. Três coisas nós observamos aqui:
Em Primeiro lugar – o evangelho é maior que os apóstolos. A mensagem é maior que o mensageiro. A prova do ministério de uma pessoa não é a sua popularidade: “Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos” (Mt 24.11), nem os sinais e prodígios miraculosos que ela realiza: “Então,
se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis;
porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes
sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24.23,24), mas sim sua fidelidade à Palavra de Deus: “Tu,
porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado,
sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas
letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo
Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra” (2Tm 3.14-17).
Em Segundo lugar – o evangelho é maior que os anjos. (Hb 1.14: “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?” Tem
igrejas que ouvem e veem anjos voando pra lá e pra cá e ouvem os seus
“recados”, mas estão surdas a voz de Deus através de Sua Palavra.
Em Terceiro Lugar – o evangelho puro e simples traz bênção, mas o evangelho adulterado gera maldição. A palavra ANÁTEMA quer dizer banimento divino.
A terceira coisa que observamos é que o apóstolo Paulo mostrou qual era a sua verdadeira motivação em pregar o Evangelho:
“Porventura, procuro eu, agora, o
favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse
ainda a homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1.10).
O apóstolo Paulo não era um político nem
agia como tal, mas um embaixador do Reino de Deus. Seu propósito não
era agradar aos homens, mas levar a eles a mensagem da salvação que lhe
fora designada.
Duas coisas eu quero destacar aqui:
Em primeiro lugar:
Paulo não negociou a verdade para procurar o favor dos homens (v 10a).
No Evangelho Emergente o apóstolo Paulo seria banido, pois ele não
estaria agradando aos seus ouvintes com a sua teologia.
Em segundo lugar: Paulo
estava a serviço de Cristo e não dos homens (v 10b). Paulo não pregava
para agradar, pois não negociava a verdade da Palavra.
Charles Spurgeon dizia para
seus alunos: “Meus filhos, se a rainha da Inglaterra vos convidar para
serdes embaixadores em qualquer país do mundo, não vos rebaixeis de
posto, deixando de serdes embaixadores do Rei dos reis e Senhor dos
senhores”.
Diante da situação que se encontrava as igrejas da Galácia nós temos uma pequena ideia porque o apóstolo Paulo disse “sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós”. Porque
na verdade Paulo era apóstolo, mas também era pastor. E na condição de
pastor ele sofria por ver a igreja sendo atacada de forma tão cruel
pelos judaizantes. Paulo se apresenta como uma mãe que sofre por seus
filhos, mas não deixa de exortá-los (Gl 4.19): “Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós”.
1) Paulo na condição de pastor aprofunda relacionamentos com os membros dessas igrejas – 19a – Paulo os chama de meus filhos.
Como pai da fé dos Gálatas demonstra profundo desgosto pela imaturidade
dessas igrejas, mas não deixa de lhes chamar a atenção por estarem
errando.
2) Paulo na condição de pastor quer gerar filhos espirituais sadios – 19b– Não filhos deformados espiritualmente, mas perfeitos em Cristo.
3) Paulo na condição de pastor busca a maturidade dos crentes – 19c – Não
basta nascer, é preciso crescer rumo à maturidade espiritual. Portanto
qualquer sistema religioso que não produza o caráter de Cristo na vida
de seus adeptos não é realmente cristão, mas um pseudo cristianismo.
SER COMO CRISTO PRATICANDO A PALAVRA é
mais que pastorear, é lutar pela sã doutrina com todas as forças. É não
esmorecer diante das adversidades e nem se vender a esse sistema
corrompido institucionalizado que temos visto por aí.
Paulo defendeu o seu apostolado com a
vida e não só com palavras. Ele viveu o que pregou e pregou o que viveu.
Que o Senhor nos ajude a sermos assim também.
Notas:
[1] LOPES, Hernandes Dias. Gálatas, a carta da liberdade cristã. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2011: p. 9.
[2] VENÂNCIO, Norma Braga. A Mente de Cristo Conversão e Cosmovisão Cristã. Ed. Vida Nova, São Paulo, SP, 2012: p. 49.
Fonte: Napec