sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
OS PONTOS DO CALVINISMO – EXPOSIÇÃO BÍBLICA (3)
Parte III - Redenção Particular Ou Expiação Limitada
Como já foi
observado, a eleição em si não salva ninguém; apenas destaca alguns pecadores
para a salvação. Os que foram escolhidos pelo Pai e dados ao Filho precisam ser
redimidos para serem salvos. Para assegurar sua redenção, Jesus Cristo veio ao mundo
e tomou sobre Si a natureza humana para que pudesse identificar-Se com o Seu povo
e agir como seu representante ou substituto. Cristo, agindo em lugar do Seu
povo, guardou perfeitamente a lei de Deus e dessa forma produziu uma justiça
perfeita a qual é imputada ao Seu povo ou creditada a ele no momento em que
cada um é trazido à fé nEle. Através do que Ele fez, esse povo é constituído
justo diante de Deus. Os que constituem esse povo são libertos da culpa e
condenação como resultado do que Cristo sofreu por eles. Através do Seu
sacrifício substitucionário Ele sofreu a penalidade dos seus pecados e assim
removeu sua culpa para sempre. Por conseguinte, quando Seu povo é unido a Ele
pela fé, é-lhe creditada perfeita justiça pela qual fica livre da culpa e condenação
do pecado. São salvos não pelo que fizeram ou irão fazer, mas tão somente na
base da obra redentora de Cristo.
O Calvinismo
histórico tem mantido de modo consistente a convicção de que a obra redentora
de Cristo foi definida em desígnio e realização; isto é, foi intencionada para render
completa satisfação em favor de certos pecadores específicos e que, de fato, assegurou
a salvação a esses indivíduos e a ninguém mais. A salvação que Cristo adquiriu
para o Seu povo inclui tudo que está envolvido no processo de trazê-lo a um correto
relacionamento com Deus, incluindo os dons da fé e do arrependimento. Cristo não
morreu simplesmente para tornar possível a Deus perdoar pecadores. Nem deixa Deus
aos pecadores a decisão se a obra de Cristo será ou não efetiva. Pelo
contrário, todos aqueles por quem Cristo morreu serão infalivelmente salvos. A
redenção, portanto, foi designada para cumprir o propósito divino da eleição.
Todos os calvinistas
concordam que a obediência e o sofrimento de Cristo são de valor infinito, e
que, se fosse o propósito de Deus, a satisfação rendida por Cristo teria
salvado todos os membros da raça humana. Não seria requerido de Cristo mais
obediência nem sofrimento maior para assegurar a salvação de todos os homens do
que foi requerido para a salvação apenas dos eleitos. Mas Ele veio ao mundo
para representar e salvar apenas aqueles que Lhe foram dados pelo Pai. Desta
forma, a obra salvadora de Cristo foi limitada no sentido em que foi designada
para salvar uns e não outros, mas não foi limitada em valor, pois seu valor é
infinito. Ela teria assegurado a salvação de todos, se essa tivesse sido a
intenção de Deus. Os arminianos também estabelecem uma limitação na obra
expiatória de Cristo, mas de natureza inteiramente diferente. Eles acreditam
que a obra salvadora de Cristo foi designada para tornar possível a salvação de
todos os homens, desde que eles creiam, e de que a morte de Cristo, em si
mesma, não assegura ou garante a salvação para ninguém. Desde que todos os
homens serão salvos como resultado da obra redentora de Cristo, devese admitir
que há uma limitação. Essa limitação consiste num desses dois pontos: ou a
expiação foi designada para assegurar a salvação para certos pecadores e não
para outros, ou ela foi limitada no sentido em que não foi intencionada para
assegurar a salvação de ninguém, mas apenas para tornar possível a Deus perdoar
os pecadores na condição da fé. Em outras palavras, a limitação deve ser
colocada, em desígnio, na sua extensão, (não foi intencionada para todos), ou
na sua eficácia (ela não assegura a salvação para ninguém). Como Boettner
adequadamente observa, "para o calvinista a expiação é como uma ponte
estreita que atravessa todo o rio; para o arminiano, é como uma grande e larga
ponte que vai apenas até a metade do caminho" (The Reformed Doctrine of
Predestination, p. 153). Desta forma, são os arminianos que impõem uma
limitação maior à obra de Cristo.
1. As Escrituras descrevem o fim intencionado e realizado
pela obra de Cristo como a salvação completa do Seu povo. (reconciliação,
justificação e santificação).
a) As Escrituras
declaram que Cristo veio, não para capacitar os homens a se salvarem a si
mesmos, mas para salvar pecadores: (Mt. 1.21; Lc. 19:10; Gl. 1:3-4; Tt. 2:14;
1Pe. 3:18);
b) As Escrituras
declaram que, como resultado do que Cristo fez e sofreu., Seu povo é reconciliado
com Deus, justificado, e recebe o Espírito Santo que o regenera e santifica. Todas
essas bênçãos foram asseguradas por Cristo mesmo, ao Seu povo.
l) Cristo, pela Sua
obra redentora, assegurou a reconciliação ao Seu povo: (Rom. 5:10- 11; 2Co.
5:18-19; Ef. 2:15-16; Cl 1:21-22);
2) Cristo assegurou a
justiça e o perdão que Seu povo necessita para a sua justificação. (Rom.
3:24-25; 5:8-9; 1Co. 1:30; Gál. 3:13; Col. 1:13-14; Heb. 9:12; 1Pe. 2:24);
3) Cristo assegurou o
dom do Espírito, o qual inclui regeneração e santificação e tudo que está
incluído nessas graças: Ef 1:3-4; Fil. 1:29; At. 5:31 Tt. 2:14; 3:5-6 Ef. 5:26;
1Co. 1:30; Heb. 9:14; 13:12 1Jo. 1:7).
2. Passagens que apresentam o Senhor Jesus Cristo, em tudo
que Ele fez e sofreu pelo Seu povo, como cumprindo os termos de um pacto ou
concerto gracioso no qual entrou com Seu Pai celestial antes da fundação do
mundo:
a) Jesus foi enviado
ao mundo pelo Pai para salvar o povo que o Pai Lhe deu. Os que o Pai Lhe deu
vêm a Ele e nenhum deles se perderá: (Jo. 6:35-40);
b) Jesus, como o bom
Pastor, dá a Sua vida pelas Suas ovelhas. Todos os que são Suas ovelhas são
trazidos por Ele ao aprisco, levadas a ouvir a Sua voz e a seguí-lo. Notemos que
o Pai tem dado as ovelhas a Cristo! (Jo. 10:11-29);
c) Jesus, em Sua
oração sacerdotal, roga não pelo mundo mas por aqueles que o Pai lhe dera. Em
cumprimento à tarefa dada pelo Pai, Jesus realizou a Sua obra. Essa obra era tornar
Deus conhecido do Seu povo e dar-lhe a vida eterna: (Jo. 17.1-26);
d) Paulo declara que
todas as "bênçãos espirituais" que os santos herdam, tais como filiação,
redenção, perdão de pecados, etc., resultam do fato de estarem "em
Cristo", e liga essas bênçãos à sua fonte última - o eterno conselho de
Deus - onde repousa a grande bênção de terem sido escolhidos em Cristo antes da
fundação do mundo para serem filhos de Deus, por meio dEle (Ef. 1:3-12).
e) O paralelo que
Paulo estabelece entre a obra condenatória de Adão e a obra
salvadora de Jesus
Cristo, o "segundo Adão", pode ser melhor explicado na base do princípio
de que ambos figuravam numa relação pactual com o "seu povo". Adão figurava
como o cabeça federal da raça e Cristo como o cabeça federal dos eleitos.
Assim como Adão
envolveu o seu povo na morte e condenação pelo seu pecado, assim também Cristo
trouxe justiça e vida ao Seu povo através de Sua justiça (retidão): Rom. 5.12-19).
3. Algumas passagens falam de Cristo morrendo por
"todos" os homens e de Sua morte como salvando "o mundo";
todavia, outras falam de Sua morte como sendo definida em desígnio, isto é,
para assegurar a salvação de um povo específico.
a) Há duas classes de
textos que falam da obra salvadora de Cristo em termos
gerais:
(1) As que contém a
palavra "mundo" (Jo. 1:9, 29;3:16,17; 4:42; 2Co 5:19; 1Jo. 2:1,2;
4:14 e;
(2) As que contêm a
palavra "todos" (Rm 5:18; 2Co 5:14,15; 1Tm 2:4-6; Heb 2:9; 2Pe 3.9 ;
Jo. 1:9; 29; 3:19; 3:16-17; 4:42; 2Co. 5:19; 1Jo. 2:1-2; 1Jo. 4:14; Rom. 5:18; 2
Co 5:14-15; 1Ti. 2:4-6; Heb. 2:9; 2Pe. 3:9).
Uma das razões para o
uso dessas expressões era corrigir a noção falsa de que a salvação era apenas
para os judeus. Frases como "o mundo", "todos os homens",
"todas as nações", "toda criatura”, eram usadas para corrigir
esse erro. Essas expressões eram usadas para mostrar que Cristo morreu para
todos os homens sem distinção (i.e., Ele morreu tanto para judeus como para
gentios), mas elas não pretendem indicar que Cristo morreu por todos os homens,
sem exceção (i.e., Ele não morreu com o propósito de salvar todo e qualquer
pecador perdido).
b) Há outras
passagens que falam de Sua obra salvadora em termos definidos e mostram que ela
foi intencionada para salvar infalivelmente um determinado povo, a saber,
aqueles que Lhe foram dados pelo Pai: (Mt. 1:21; 26:28; Jo. 10:11; Jo.
11:50-53; At. 20:28; Ef. 5:25-27; Rom. 8:32-34; Heb. 2:17; 3:1; 9:15, 18; Ap.
5:9
Tradução Livre e adaptada do livro Os Cinco Pontos do Calvinismo -
Definidos, Defendidos, Documentado, de David N. Steele e Curtis C. Thomas,
Partes I e II, [Presbyterian & Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ,
EUA.], Feito por João Alves dos Santos)
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
OS PONTOS DO CALVINISMO – EXPOSIÇÃO BÍBLICA (2)
Parte II - Eleição
Incondicional
Devido ao pecado de Adão, seus descendentes
entram no mundo como pecadores culpados e perdidos. Como criaturas caídas, eles
não têm desejo de ter comunhão com o seu Criador. Ele é santo, justo e bom, ao
passo que eles são pecaminosos, perversos e corruptos. Deixados à sua própria
escolha, eles inevitavelmente seguem o deus deste século e fazem a vontade do
seu pai, o diabo. Conseqüentemente, os homens têm se desligado do Senhor dos
céus e têm perdido todos os direitos de Seu amor e favor. Teria sido
perfeitamente justo para Deus ter deixado todos os homens em seus pecados e miséria
e não ter demonstrado misericórdia a quem quer que seja. É neste contexto que a
Bíblia apresenta a doutrina da eleição.
A doutrina da eleição declara que
Deus, antes da fundação do mundo, escolheu certos indivíduos dentre todos os
membros decaídos da raça de Adão para ser o objeto de Seu imerecido amor.
Esses, e somente esses, Ele propôs salvar. Deus poderia ter escolhido salvar
todos os homens (pois Ele tinha o poder e a autoridade para fazer isso), ou Ele
poderia ter escolhido não salvar ninguém (pois Ele não tem a obrigação de
mostrar misericórdia a quem quer que seja), porém não fez nem uma coisa nem
outra. Ao invés disso, Ele escolheu salvar alguns e excluir (preterir) outros.
Sua eterna escolha de determinados
pecadores para a salvação não foi baseada em qualquer ato ou resposta prevista
da parte daqueles escolhidos, mas foi baseada tão somente no Seu beneplácito e
na Sua soberana vontade. Desta forma, a eleição não foi condicionada nem
determinada por qualquer coisa que os homens iriam fazer, mas resultou
inteiramente do propósito determinado pelo próprio Deus. Os que não foram escolhidos
foram preteridos e deixados às suas próprias inclinações e escolhas más.
Não cabe à criatura questionar a
justiça do Criador por não escolher todos para a salvação. É suficiente saber
que o Juiz de toda a terra tem agido bem e justamente. Deve-se, contudo, ter em
mente que se Deus não tivesse graciosamente escolhido um povo para Si mesmo, e soberanamente
determinado prover-lhe e aplicar-lhe a salvação, ninguém seria salvo. O fato de
Ele ter feito isto para alguns, à exclusão dos outros, não é de forma alguma
injusto para os excluídos, a menos que se mantenha que Deus estava na obrigação
de prover salvação a todos os pecadores - o que a Bíblia rejeita cabalmente.
A doutrina da eleição deve ser vista
não apenas contra o pano de fundo da depravação e culpa do homem, mas também
deve ser estudada em conexão com o Eterno Pacto ou acordo feito entre os membros
da Trindade. Pois foi na execução deste pacto que o Pai escolheu desse mundo de
pecadores perdidos um número definido de indivíduos e deu-os ao Filho para
serem o Seu povo. O Filho, nos termos desse pacto, concordou em fazer tudo
quanto era necessário para salvar esse povo escolhido e que lhe foi concedido
pelo Pai. A parte do Espírito na execução desse pacto foi e é a de aplicar aos
eleitos a salvação adquirida para eles pelo Filho.
A eleição, portanto, é apenas um
aspecto (embora muito importante) do propósito salvador do Deus Triuno, e dessa
forma não deve ser vista como salvação. O ato da eleição em si mesmo não salvou
ninguém. O que ele fez foi destacar (marcar) alguns indivíduos para a salvação.
Desta forma, a doutrina da eleição não deve ser divorciada das doutrinas da
culpa do homem, da redenção e da regeneração, pois de outra forma ela será
distorcida e deturpada. Em outras palavras, se quisermos manter em sua perspectiva
bíblica, e corretamente entendido, o ato da eleição do Pai deve ser relacionado
com a obra redentora do Filho, que Se deu a Si mesmo para salvar os eleitos e
com a obra renovadora do Espírito, que traz o eleito à fé em Cristo.
1. Declarações gerais mostrando que
Deus tem um povo eleito, que Ele predestinou esse povo para a salvação e, desta
forma, para a vida eterna (Dt. 10.14-15; Sl. 33:12; Ag. 2:23; Mt. 11:27; 22:14
)
2. Antes da fundação do mundo, Deus
escolheu determinados indivíduos para a salvação. Sua escolha não foi baseada
em qualquer resposta ou ato previsto, a ser cumprido pelos escolhidos. A fé e
as boas obras são o resultado e não a causa da escolha divina.
a) Deus fez a escolha: (1Ts 1:4; 2:13);
b) A escolha divina foi feita antes da
fundação do mundo: (Ef. 1:4; 2Ts. 2:13; 2Tim. 1:9; Ap. 13:8; 17:8);
c) Deus escolheu determinados
indivíduos para a salvação - seus nomes foram escritos no livro da vida antes
da fundação do mundo: Ap 13:8;17:8.[acima];
d) A escolha divina não foi baseada em
qualquer mérito previsto naqueles a quem Ele escolheu, nem foi baseada em
quaisquer obras previstas, realizadas por eles: (Ro. 9.11-16; 10:20);
e) As boas obras são o resultado e não
a base da predestinação: Ef. 1.12; 2:10; Jo. 15:16);
f) A escolha divina não foi baseada na
fé prevista. A fé é o resultado e, portanto, a evidência da eleição divina, não
a causa ou base de Sua escolha: (At. 13.48; 18:27 Fl.1:2; 2:12; 2:13; 1Ts.
1:4-5; 2Ts. 2:13-14);
g) É através da fé e das boas obras
que alguém confirma sua chamada e eleição: (2Pe. 1.5-11);
3. A eleição não é a salvação, mas é
para a salvação. Assim como o presidente eleito não se torna o presidente de
fato até o dia da sua posse (instalação), assim aqueles que são eleitos para a
salvação não são salvos até que sejam regenerados pelo Espírito e justificados
pela fé em Cristo:(Em Efésios 1:4 Paulo mostra que os homens foram eleitos “em
Cristo” antes que o mundo existisse. Em Rm 16:7 ele mostra que os homens não estão
realmente “em Cristo” até que se convertam). (Ro. 11.7; 2Ti. 2:10; At. 13:48;
1Ts. 2:13-14)
4. A eleição foi baseada na
misericórdia soberana e especial de Deus. Não foi a vontade do homem, mas a
vontade de Deus que determinou que pecadores iriam ser alvos da misericórdia e
ser salvos: (Ex. 33.19; Dt. 7:6-7; Rom. 9:11-24; 11:4-36 )
5. A doutrina da eleição é apenas uma
parte da doutrina bíblica mais ampla da soberania de Deus. As Escrituras não
apenas ensinam que Deus predestinou certos indivíduos para a vida eterna, mas
que todos os eventos, grandes ou pequenos, acontecem como o resultado do eterno
decreto de Deus. O Senhor Deus reina sobre os céus e a terra com absoluto
controle. Nada acontece fora do Seu eterno propósito: (1Cr 29.10-12; Jó 42:1-2;
Sl. 115:3; 135:6; Is. 14:24-27; 46:9-11; 55:11; Jer. 32:17; Dan. 4:35; Mt.
19:26)
Tradução Livre e adaptada do livro Os Cinco Pontos do Calvinismo -
Definidos, Defendidos, Documentado, de David N. Steele e Curtis C. Thomas,
Partes I e II, [Presbyterian & Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ,
EUA.], Feito por João Alves dos Santos)
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
OS PONTOS DO CALVINISMO – EXPOSIÇÃO BÍBLICA (1)
Parte I - Depravação
Total Ou Inabilidade Total
O ponto de vista que
alguém toma a respeito da salvação será determinado, em grande escala, pelo
conceito que essa pessoa tem a respeito do pecado e de seus efeitos sobre a natureza
humana. Por isso, o primeiro ponto tratado pelo sistema calvinista é a doutrina
bíblica da depravação total ou inabilidade total. Quando o calvinista fala do
homem como sendo totalmente depravado, quer dizer que sua natureza é corrupta,
perversa e totalmente pecaminosa. O adjetivo “total” não significa que cada
pecador está tão completamente corrompido em suas ações e pensamentos quanto
lhe seja possível ser. O termo é usado para indicar que todo o ser do homem foi
afetado pelo pecado.
A corrupção estende-se
a todas as partes do homem, corpo e alma. O pecado afetou a totalidade das
faculdades humanas - sua mente, sua vontade, etc. (Confissão de Fé, VI, 2).
Também se pode usar o adjetivo “total” para incluir nele toda a raça humana,
sem exceção. Como resultado dessa corrupção inata, o homem natural é totalmente
incapaz de fazer qualquer coisa espiritualmente boa. É o que se quer dizer por “inabilidade
total”. A inabilidade referida nessa terminologia é a “inabilidade espiritual”.
Significa que o pecador está tão espiritualmente falido que ele nada pode fazer
com respeito à sua salvação.
É evidente que muitas
pessoas não salvas, quando julgadas pelos padrões humanos, possuem qualidades
admiráveis e realizam atos virtuosos. Porém, no campo espiritual, quando julgadas
pelos padrões divinos, são incapazes de fazer o bem (Confissão de Fé, XVI, 1 e 7).
O homem natural está escravizado pelo pecado: é filho de Satanás, rebelde para
com Deus, cego para com a verdade, corrompido e incapaz de salvar-se a si mesmo
ou de preparar-se para a salvação. Em resumo, o não regenerado está morto em
pecado e sua vontade está escravizada à sua natureza má. O homem não veio das
mãos do seu Criador nessa condição depravada. Deus fez a Adão perfeito, sem
qualquer maldade em sua natureza. Originalmente, a vontade de Adão estava livre
do domínio do pecado. Ele não estava sujeito a qualquer compulsão natural para
escolher o mal; porém, por sua queda, trouxe a morte espiritual sobre si mesmo
e sobre toda a sua posteridade. Desse modo, lançou a si mesmo e a toda a raça
na ruína espiritual e perdeu para si e para os seus descendentes a habilidade
de fazer escolhas certas no campo espiritual. Seus descendentes ainda são
livres para escolher - todo homem faz escolhas em sua vida - mas, visto que a
geração de Adão nasce com natureza pecaminosa, não tem a habilidade para escolher
o bem ao invés do mal. Por conseguinte, a vontade do homem não é mais livre (i.e.,
livre do domínio do pecado) como era livre a vontade de Adão, antes da queda. Em
vez disso, a vontade do homem, como resultado da depravação herdada, está
escravizada à sua natureza pecaminosa.
A Confissão de Fé de
Westminster nos dá uma declaração clara e concisa dessa doutrina: “O homem,
caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto
a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem
natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo
seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso” (IX, 3). 1.
Como resultado da transgressão de Adão, os homens são nascidos em pecado e são,
por natureza, espiritualmente mortos; portanto, para se tornarem filhos de Deus
e entrarem no Seu reino precisam nascer de novo, do Espírito.
1. Como resultado da
transgressão de Adão, os homens são nascidos em pecado e são, por natureza,
espiritualmente mortos; portanto, para se tornarem filhos de Deus e entrarem no
Seu reino precisam nascer de novo, do Espírito.
a) Quando Adão foi
colocado no jardim do Éden, foi advertido para não comer do fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal, sob pena de imediata morte espiritual;
b) Adão desobedeceu e
comeu do fruto proibido (Gn 3:1-7); por conseguinte, trouxe morte espiritual
sobre si mesmo e sobre a raça;
c) Davi confessou que
tanto ele, como os demais homens, foram nascidos em pecado (Sal. 51).
d) Porque os homens
são nascidos em pecado e são, por natureza, espiritualmente mortos. Jesus
ensinou que, para alguém entrar no reino de Deus, é preciso nascer de novo.
(Jo. 3.5-7)
2. Como resultado da
queda, os homens estão cegos e surdos para a verdade espiritual. Suas mentes
estão entenebrecidas pelo pecado; seus corações são corruptos e malignos (Gen.
6:5; 8:21; Ec. 9:3; Jr. 17:9; Mc. 7:21-23; Jo. 3:19; Ro. 8:7-8; 1Co. 2:14; Ef.
4:17-19, 5:8; Tt. 1:15) ):
3. Antes dos
pecadores nascerem no reino de Deus pelo poder regenerador do Espírito, são
filhos do diabo e estão debaixo de seu controle. São escravos do pecado (Jo.
8:34, 44; Rom. 6:20; Ef. 2:12; 2Tim. 2:25-26; Tt. 3:3; 1Jo. 3:10);
4. O domínio do
pecado é universal: todos os homens estão debaixo do seu poder; por conseguinte,
ninguém é justo, nem um só (Rom. 3:9-18).
5. Os homens, sendo
deixados em seu estado de morte, são incapazes, por si mesmos, de se
arrepender, de crer no evangelho ou de vir a Cristo. Não têm poder, em si
mesmos, para mudar sua natureza ou preparar-se para a salvação (Jer. 13:23; Mt.
7:18; Jo. 6:37, 44, 65 Rom. 11:35; 1Co. 2:14; 2Co. 3:5).
Tradução
Livre e adaptada do livro Os Cinco Pontos do Calvinismo - Definidos,
Defendidos, Documentado, de David N. Steele e Curtis C. Thomas, Partes I e II,
[Presbyterian & Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ, EUA.], Feito por
João Alves dos Santos)
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