Parte III - Redenção Particular Ou Expiação Limitada
Como já foi
observado, a eleição em si não salva ninguém; apenas destaca alguns pecadores
para a salvação. Os que foram escolhidos pelo Pai e dados ao Filho precisam ser
redimidos para serem salvos. Para assegurar sua redenção, Jesus Cristo veio ao mundo
e tomou sobre Si a natureza humana para que pudesse identificar-Se com o Seu povo
e agir como seu representante ou substituto. Cristo, agindo em lugar do Seu
povo, guardou perfeitamente a lei de Deus e dessa forma produziu uma justiça
perfeita a qual é imputada ao Seu povo ou creditada a ele no momento em que
cada um é trazido à fé nEle. Através do que Ele fez, esse povo é constituído
justo diante de Deus. Os que constituem esse povo são libertos da culpa e
condenação como resultado do que Cristo sofreu por eles. Através do Seu
sacrifício substitucionário Ele sofreu a penalidade dos seus pecados e assim
removeu sua culpa para sempre. Por conseguinte, quando Seu povo é unido a Ele
pela fé, é-lhe creditada perfeita justiça pela qual fica livre da culpa e condenação
do pecado. São salvos não pelo que fizeram ou irão fazer, mas tão somente na
base da obra redentora de Cristo.
O Calvinismo
histórico tem mantido de modo consistente a convicção de que a obra redentora
de Cristo foi definida em desígnio e realização; isto é, foi intencionada para render
completa satisfação em favor de certos pecadores específicos e que, de fato, assegurou
a salvação a esses indivíduos e a ninguém mais. A salvação que Cristo adquiriu
para o Seu povo inclui tudo que está envolvido no processo de trazê-lo a um correto
relacionamento com Deus, incluindo os dons da fé e do arrependimento. Cristo não
morreu simplesmente para tornar possível a Deus perdoar pecadores. Nem deixa Deus
aos pecadores a decisão se a obra de Cristo será ou não efetiva. Pelo
contrário, todos aqueles por quem Cristo morreu serão infalivelmente salvos. A
redenção, portanto, foi designada para cumprir o propósito divino da eleição.
Todos os calvinistas
concordam que a obediência e o sofrimento de Cristo são de valor infinito, e
que, se fosse o propósito de Deus, a satisfação rendida por Cristo teria
salvado todos os membros da raça humana. Não seria requerido de Cristo mais
obediência nem sofrimento maior para assegurar a salvação de todos os homens do
que foi requerido para a salvação apenas dos eleitos. Mas Ele veio ao mundo
para representar e salvar apenas aqueles que Lhe foram dados pelo Pai. Desta
forma, a obra salvadora de Cristo foi limitada no sentido em que foi designada
para salvar uns e não outros, mas não foi limitada em valor, pois seu valor é
infinito. Ela teria assegurado a salvação de todos, se essa tivesse sido a
intenção de Deus. Os arminianos também estabelecem uma limitação na obra
expiatória de Cristo, mas de natureza inteiramente diferente. Eles acreditam
que a obra salvadora de Cristo foi designada para tornar possível a salvação de
todos os homens, desde que eles creiam, e de que a morte de Cristo, em si
mesma, não assegura ou garante a salvação para ninguém. Desde que todos os
homens serão salvos como resultado da obra redentora de Cristo, devese admitir
que há uma limitação. Essa limitação consiste num desses dois pontos: ou a
expiação foi designada para assegurar a salvação para certos pecadores e não
para outros, ou ela foi limitada no sentido em que não foi intencionada para
assegurar a salvação de ninguém, mas apenas para tornar possível a Deus perdoar
os pecadores na condição da fé. Em outras palavras, a limitação deve ser
colocada, em desígnio, na sua extensão, (não foi intencionada para todos), ou
na sua eficácia (ela não assegura a salvação para ninguém). Como Boettner
adequadamente observa, "para o calvinista a expiação é como uma ponte
estreita que atravessa todo o rio; para o arminiano, é como uma grande e larga
ponte que vai apenas até a metade do caminho" (The Reformed Doctrine of
Predestination, p. 153). Desta forma, são os arminianos que impõem uma
limitação maior à obra de Cristo.
1. As Escrituras descrevem o fim intencionado e realizado
pela obra de Cristo como a salvação completa do Seu povo. (reconciliação,
justificação e santificação).
a) As Escrituras
declaram que Cristo veio, não para capacitar os homens a se salvarem a si
mesmos, mas para salvar pecadores: (Mt. 1.21; Lc. 19:10; Gl. 1:3-4; Tt. 2:14;
1Pe. 3:18);
b) As Escrituras
declaram que, como resultado do que Cristo fez e sofreu., Seu povo é reconciliado
com Deus, justificado, e recebe o Espírito Santo que o regenera e santifica. Todas
essas bênçãos foram asseguradas por Cristo mesmo, ao Seu povo.
l) Cristo, pela Sua
obra redentora, assegurou a reconciliação ao Seu povo: (Rom. 5:10- 11; 2Co.
5:18-19; Ef. 2:15-16; Cl 1:21-22);
2) Cristo assegurou a
justiça e o perdão que Seu povo necessita para a sua justificação. (Rom.
3:24-25; 5:8-9; 1Co. 1:30; Gál. 3:13; Col. 1:13-14; Heb. 9:12; 1Pe. 2:24);
3) Cristo assegurou o
dom do Espírito, o qual inclui regeneração e santificação e tudo que está
incluído nessas graças: Ef 1:3-4; Fil. 1:29; At. 5:31 Tt. 2:14; 3:5-6 Ef. 5:26;
1Co. 1:30; Heb. 9:14; 13:12 1Jo. 1:7).
2. Passagens que apresentam o Senhor Jesus Cristo, em tudo
que Ele fez e sofreu pelo Seu povo, como cumprindo os termos de um pacto ou
concerto gracioso no qual entrou com Seu Pai celestial antes da fundação do
mundo:
a) Jesus foi enviado
ao mundo pelo Pai para salvar o povo que o Pai Lhe deu. Os que o Pai Lhe deu
vêm a Ele e nenhum deles se perderá: (Jo. 6:35-40);
b) Jesus, como o bom
Pastor, dá a Sua vida pelas Suas ovelhas. Todos os que são Suas ovelhas são
trazidos por Ele ao aprisco, levadas a ouvir a Sua voz e a seguí-lo. Notemos que
o Pai tem dado as ovelhas a Cristo! (Jo. 10:11-29);
c) Jesus, em Sua
oração sacerdotal, roga não pelo mundo mas por aqueles que o Pai lhe dera. Em
cumprimento à tarefa dada pelo Pai, Jesus realizou a Sua obra. Essa obra era tornar
Deus conhecido do Seu povo e dar-lhe a vida eterna: (Jo. 17.1-26);
d) Paulo declara que
todas as "bênçãos espirituais" que os santos herdam, tais como filiação,
redenção, perdão de pecados, etc., resultam do fato de estarem "em
Cristo", e liga essas bênçãos à sua fonte última - o eterno conselho de
Deus - onde repousa a grande bênção de terem sido escolhidos em Cristo antes da
fundação do mundo para serem filhos de Deus, por meio dEle (Ef. 1:3-12).
e) O paralelo que
Paulo estabelece entre a obra condenatória de Adão e a obra
salvadora de Jesus
Cristo, o "segundo Adão", pode ser melhor explicado na base do princípio
de que ambos figuravam numa relação pactual com o "seu povo". Adão figurava
como o cabeça federal da raça e Cristo como o cabeça federal dos eleitos.
Assim como Adão
envolveu o seu povo na morte e condenação pelo seu pecado, assim também Cristo
trouxe justiça e vida ao Seu povo através de Sua justiça (retidão): Rom. 5.12-19).
3. Algumas passagens falam de Cristo morrendo por
"todos" os homens e de Sua morte como salvando "o mundo";
todavia, outras falam de Sua morte como sendo definida em desígnio, isto é,
para assegurar a salvação de um povo específico.
a) Há duas classes de
textos que falam da obra salvadora de Cristo em termos
gerais:
(1) As que contém a
palavra "mundo" (Jo. 1:9, 29;3:16,17; 4:42; 2Co 5:19; 1Jo. 2:1,2;
4:14 e;
(2) As que contêm a
palavra "todos" (Rm 5:18; 2Co 5:14,15; 1Tm 2:4-6; Heb 2:9; 2Pe 3.9 ;
Jo. 1:9; 29; 3:19; 3:16-17; 4:42; 2Co. 5:19; 1Jo. 2:1-2; 1Jo. 4:14; Rom. 5:18; 2
Co 5:14-15; 1Ti. 2:4-6; Heb. 2:9; 2Pe. 3:9).
Uma das razões para o
uso dessas expressões era corrigir a noção falsa de que a salvação era apenas
para os judeus. Frases como "o mundo", "todos os homens",
"todas as nações", "toda criatura”, eram usadas para corrigir
esse erro. Essas expressões eram usadas para mostrar que Cristo morreu para
todos os homens sem distinção (i.e., Ele morreu tanto para judeus como para
gentios), mas elas não pretendem indicar que Cristo morreu por todos os homens,
sem exceção (i.e., Ele não morreu com o propósito de salvar todo e qualquer
pecador perdido).
b) Há outras
passagens que falam de Sua obra salvadora em termos definidos e mostram que ela
foi intencionada para salvar infalivelmente um determinado povo, a saber,
aqueles que Lhe foram dados pelo Pai: (Mt. 1:21; 26:28; Jo. 10:11; Jo.
11:50-53; At. 20:28; Ef. 5:25-27; Rom. 8:32-34; Heb. 2:17; 3:1; 9:15, 18; Ap.
5:9
Tradução Livre e adaptada do livro Os Cinco Pontos do Calvinismo -
Definidos, Defendidos, Documentado, de David N. Steele e Curtis C. Thomas,
Partes I e II, [Presbyterian & Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ,
EUA.], Feito por João Alves dos Santos)
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