terça-feira, 26 de abril de 2011

A Luz de Deus e a Cegueira dos Homens


Todavia, apesar da claríssima luz sob a qual as obras de Deus são expostas à contemplação, representando o Seu Ser e a Sua realeza imperecível, tão preso à carne está o nosso espírito que não conseguimos ver esses testemunhos tão nitidamente manifestos. Sim, pois, quanto à composição do universo, quantos elevam os olhos aos céus? E dos que percorrem muitas regiões da terra, quantos se lembram do Criador? Não se põem, antes, a contemplar as criaturas, esquecidos do Criador?
Quanto às coisas que sucedem no curso comum da vida diária, não são muitos os que imaginam que são guiados pela roda do destino cego, que os faz girar e agitar-se para cá e para lá, em vez de atribuírem à providência de Deus o bom governo do mundo? E se alguma vez somos constrangidos por estas coisas a pensar em Deus (o que acontece necessariamente com todos os seres humanos), logo depois de conceber uma débil noção de uma divindade duvidosa, recaímos na loucura da nossa carne e, com nossa vaidade, corrompemos a pura verdade de Deus. É bem verdade que nisso nós somos diferentes uns dos outros. Cada um inventa seus erros particulares. Nisto, porém, somos parecidos: Todos nós nos desviamos do único Deus verdadeiro e nos deixamos dominar por nossas enganosas imaginações. Este mal não afeta somente os elementos do povo simples e inculto, mas atinge também os que noutras áreas se mostram excelentes e instruídos. Quanta insensatez, quanta tolice, tem mostrado a imensa linhagem dos filósofos! Porquanto, ainda que poupemos os outros filósofos que abusivamente erraram, que dizer de Platão, que, sendo o mais sóbrio e o mais razoável deles todos, e não estando distante da religião, perdeu-se em sua busca de um deus corpóreo – o que é impróprio e totalmente indigno da majestade divina. E que dizer dos outros, se os principais, que deveriam esclarecer o restante do povo, erram tão grosseiramente?
De igual modo, quanto ao governo das coisas humanas, é tão patente a ação da providência divina que é impossível negá-la. Mas isso não dá proveito maior do que acreditar que todas as coisas são deixadas em desordem e temerariamente dirigidas pelo destino cego. A tal ponto chega a nossa propensão para a vaidade e para o erro! Como sempre, estou falando dos que atingiram alto grau de excelência, não dos tipos vulgares, cuja loucura em contaminar e corromper a verdade ultrapassa todas as medidas.

16º Tese de Lutero - Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o desespero, o 
semidesespero e a segurança.

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