Por Marcelo Lemos
“Assim os derradeiros serão os primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (S. MATEUS 20.16).
Nosso versículo é uma das provas mais claras da Doutrina da Eleição, no entanto, não é incomum vê-lo utilizado como munição por aqueles que negam a eleição. Aqueles, raciocinam parecido com isto: se Cristo chama muitos, e nem todos que ele chama são salvos, significa que é o homem quem decide ser salvo ou não. Analisaremos este argumento mais de perto.
Antes de prosseguirmos, quero agradecer ao irmão Carlos Alberto, pela sugestão do tema. Na medida do possível, vamos atendendo a todos os que entram em contato conosco.
Muitos são chamados.
Eis uma verdade incontestável, e quem em nada causa prejuízo a Doutrina da Eleição. A declaração de Cristo é uma pedra de tropeço aos denominados Hipercalvinistas, a saber, aqueles que desejando enfatizar a Soberania de Deus, negam os meios da graça, como a pregação por exemplo. Um hipercalvinista não evangeliza, e não gosta de evangelistas – raciocina que se Deus elegeu alguém, ele não precisa evangelizar os perdidos, pois Deus dará um jeito para que o eleito ouça o Evangelho (quem sabe numa visita a Igreja). As palavras de Cristo condenam tais raciocínios rebeldes.
São rebeldes, haja vista Cristo ter sido muito claro quanto a tarefa de Evangelização: “Pregai o Evangelho a toda criatura!” (S. MARCOS 16.15). Não nos foi ordenado pregar apenas aos eleitos, mas a “toda” criatura, sem distinção. Não somos nós quem escolhemos os que irão ouvir ou não a Mensagem do Evangelho, mas Deus quem escolhe quem receberá o dom da fé. “A toda criatura” não nos concede qualquer escolha.
Assim, a Mensagem do Evangelho, o chamado de Cristo é feito indiscriminadamente, onde quer que a Palavra seja anunciada. Em seu Ministério, Cristo não verificou antes quem era eleito, para numa reunião em particular lhes anunciar as Boas Novas. Jesus dirigia-se as multidões e chamava: “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba” (S. JOÃO 7.37).
Muitos eram chamados. É verdade que nem todos eram chamados, mas apenas o que ouviam Sua pregação, e eram “muitos”. De modo semelhante, em nossos dias nem todos são chamados: em muitas partes do mundo sabe-se da existência de povos ainda não alcançados. Aos tais não foi concedido, ainda, por Deus, o privilégio de ouvir a voz do Bom Pastor (ATOS 17.26). Para maiores detalhes sobre esta questão, clique aqui.
Mas poucos são escolhidos.
Se é verdade que Cristo chama a muitos, mas nem todos que ouvem Seu chamado se salvam, não se deve concluir que a Doutrina da Eleição é falsa% Não se deve concluir que é o homem quem decide o seu próprio destino eterno% Definitivamente, não existem tais possibilidades. E isso é confirmado pelo próprio Cristo.
O mesmo Cristo que convida “vem a mim e beba”, é o mesmo que garante que o homem não é capaz de, por sí mesmo, achegar-se a Ele: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer” (S. JOÃO 6.44). E outra vez, neste mesmo capítulo joanino: “Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido” (S. JOÃO 6.65). Ainda que chamasse a todos que Lhe ouviam, Cristo nega que o homem seja capaz de atender a seu chamado, a menos que Deus “o traga”, a menos que Deus “o conceda”.
Vamos analisar rapidamente estes dois termos utilizados por Cristo: “trazer” e “conceder”.
“Se o Pai que me enviou não o trouxer”. No grego o verbo carrega o sentido de “arrastar” e “atrair”. É utilizado, por exemplo, quando Tiago fala dos ímpios que “vos arrastam aos tribunais” (S. TIAGO 2.16), e também quando, na pesca milagrosa, se diz que Pedro “puxou a rede para a terra” (S. JOÃO 21.10,11). As palavras de Cristo implicam na negativa de conceder ao homem qualquer capacidade inata de crer no Evangelho: “nenhum homem pode vir a mim, a menos que o Pai o traga a mim”. Com essas palavras Cristo confirma duas doutrinas fundamentais da Teologia Reformada: depravação total e chamada eficaz.
Depravação Total é o reconhecimento de que o homem, por si só, é incapaz de voltar a viver, pois, estando morto em seus pecados, não é capaz de qualquer bem espiritual: “... tanto judeus quanto gregos, todos estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há um justo, nenhum sequer! Não há ninguém que entenda, não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só!” (ROMANOS 3.9b-12).
Se tal é a condição espiritual do homem, apenas pela iniciativa divina poderá o homem achegar-se a Cristo com fé. Por isso, se diz na teologia que Deus atrai o pecador eleito com uma Chamada Eficaz. Ainda que o Evangelho seja ouvido por todos, resultando numa chamada geral e comum a todos que o ouvem; apenas quem é chamado eficazmente, pela atuação interna do Espírito Santo (S. JOÃO 16.7,8), é que pode vir a Cristo.
“Se por meu Pai não lhe for concedido”. O verbo aqui utilizado confirma a Chamada Eficaz. O ir a Cristo não é algo que o homem possa fazer por suas próprias forças, capacidades intelectuais ou méritos – é algo que Deus lhe “concede”. Este verbo é utilizado, por exemplo, na belíssima parábola do Filho Pródigo. Quando o Filho retorna ao lar, e mesmo nada merecendo, o Pai ordena aos servos: “Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e coloque um anel em sua mão...” (S. LUCAS 15.22). “Coloque um anel em sua mão”. Trata-se de um dom, um presente não merecido, que se recebe por Graça.
Por isso falamos em Chamada Eficaz: não podemos fazer, mas Deus nos concede, por Graça. “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da Ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), (...) Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie!” (EFÉSIOS 2.1-8).
Deveriam nossos irmãos arminianos abandonar as tentativas de se munirem das Palavras de Cristo com intenção de combater a Fé Reformada. Inquestionavelmente, a emblemática expressão de Cristo, “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”, em nada coloca em xeque a Doutrina da Eleição, antes a confirma.
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