Na manhã do dia 31 de outubro de 1517 AD., Martinho Lutero, monge agostiniano e professor de teologia da Universidade de Wittemberg, Alemanha, fixou, na porta da Igreja do castelo de Wittemberg, 95 teses ou declarações, lançando assim as bases para a Reforma Religiosa do século XVI. Portanto, estamos completando, no dia 31 de outubro deste ano, 493 anos de Reforma Protestante.
Segundo Cairns (1984, p.240), a Reforma pode ser conceituada como: “Um movimento de reforma religiosa [na Igreja Católica romana] objetivando voltar à pureza original do Cristianismo do Novo Testamento e resultando na formação de Igrejas nacionais, entre 1517 a 1563.”
Apesar da contribuição de fatores intelectuais, morais, sociais, políticos e econômicos para o advento da Reforma, o mais importante e decisivo desses fatores foi o teológico. A Igreja Católica Romana, desde a época do imperador Constantino, 323 AD., já vinha acumulando uma série de desvios teológicos, em relação ao ensino das Sagradas Escrituras, e no início do século XVI, a Igreja havia chegado a ponto de vender indulgências ou “passagens para o céu.” As indulgências eram documentos que as pessoas adquiriam por uma importância em dinheiro e que, segundo a Igreja Católica Romana, livrava aqueles que as comprassem das penas do pecado. As indulgências tinham sido declaradas como dogma, em 1343 AD., pelo papa Clemente VI, e depois estendidas também às almas, no purgatório, em 1476 AD., pelo papa Sixto IV. João Tetzel, um dominicano, encarregado pelo papa Leão X de vender indulgências na Alemanha, dizia que: “A indulgência que eles [ele e sua comitiva] vendiam deixava o pecador ‘mais limpo do que saíra do batismo’, ou ‘mais limpo do que Adão antes de cair’, que ‘a cruz do vendedor de indulgência tinha tanto poder como a cruz de Cristo’, e que no caso de alguém comprar uma indulgência para um parente já morto, ‘tão pronto a moeda caísse no cofre, a alma saía do purgatório.”(GONZALES, 1983, p.53).
Foi contra estes e outros desvios doutrinários que Lutero fixou as suas 95 teses, na porta da Igreja de Wittemberg, analisando-os à luz das Sagradas Escrituras. O interesse de Lutero era que a Igreja reconhecesse os seus erros, se arrependesse e voltasse a ser uma igreja conforme os padrões da Bíblia. Mas a resposta da Igreja veio através de bulas papais, excomunhão, inquisição e ameaças de morte. Lutero, então, logo percebeu que só lhe restavam duas opções: retratar-se de seus ensinos, ministrados à luz das Sagradas Escrituras, ou suplicar a ajuda de Deus e prosseguir em frente; sendo esta a sua decisão, assumida na dieta de Worms (Alemanha), em 1521 AD., dizendo em alemão: “É impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente. Minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus, e não é seguro nem honesto agir-se contra a consciência de alguém. Assim, Deus me ajude. Amém.” (NICHOLS, 1985, p. 151).
Lutero, de fato, precisava suplicar a ajuda de Deus, pois muitos de seus antecessores já haviam sido mortos por ordem dos tribunais da inquisição, como por exemplo, João Huss (1373-1415), queimado vivo por decisão do Concílio de Constança, em 1415 AD. E Deus o ajudou pelos caminhos da providência, preservando-lhe a vida e dando-lhe condições de continuar o seu trabalho. Lutero traduziu a Bíblia para a língua alemã, possibilitando ao povo, por si mesmo, ler a Palavra de Deus e conhecer a verdade.
Assim, a Reforma ganhou força consolidando-se na Alemanha. Na Suíça, a Reforma teve a contribuição de Zuínglio (1484-1531) e depois de João Calvino (1509-1564), que sistematizou o pensamento teológico reformado expondo-o com a publicação, em 1533 AD., da obra: As Institutas da Religião Cristã. A teologia calvinista impulsionou a Reforma na Escócia, com João Knox (1515-1570), na Holanda, Inglaterra e França.
Os princípios básicos da Reforma são:
1º - A SUPREMACIA DA BÍBLIA SOBRE A TRADIÇÃO ou Sola Scriptura. Somente a Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é a única regra de fé e de prática. A tradição por melhor que seja, tem apenas valor histórico. 2 Timóteo 3.15-17; Gálatas 1.8-9;
2º - A SUPREMACIA DA FÉ SOBRE AS OBRAS ou Sola Fide. O homem é salvo pela fé no sacrifício vicário de Cristo sem a cooperação de obra alguma. As obras testificam a fé, mas não ajudam o homem na sua salvação. Efésios 2.8-9; Romanos 1.16-17; 5.1; Gálatas 2.16.
3º - SALVAÇÃO PELA GRAÇA ou Sola Gratia. A salvação é um ato exclusivamente da graça, do favor imerecido de Deus, para com os homens. É Deus quem chama, salva e aplica no coração dos homens a sua graciosa salvação. Efésios 2.8-9; Romanos 8.28-30.
4º - A SUFICIÊNCIA DO SANGUE DE CRISTO ou Solo Christi. O sacrifício de Cristo é suficiente e eficiente para a salvação do homem. Não há necessidade de mais nada: obras, ritos ou cerimônias. João 1.29; 3.14-16; 5.24; Hebreus 9.10-12;
5º - A SOBERANIA DE DEUS ou Sole Deo Glorie. Deus é o soberano Senhor e tudo está debaixo da sua soberania. Romanos 11.33-36.
Concluindo, a Reforma é um marco na história do Cristianismo e um divisor de águas. Redescobriu o princípio da supremacia do povo sobre o sacerdote ou Sacerdócio Universal dos Crentes. Em Cristo, todos nós somos sacerdotes servindo uns aos outros. 1 Pedro 2.9. Ela surgiu e venceu os obstáculos de sua época, porque homens e mulheres se consagraram à obra do Senhor, e ele, como o único Senhor da Igreja e da História, soberanamente dirigiu todos os fatos.
A influência da Reforma não ficou restrita apenas ao campo da religião, mas alcançou também a vida social, cultural e política dos povos, contribuindo para a formação de um mundo mais comprometido com a Palavra de Deus, com os direitos humanos, com a liberdade e o progresso. A Deus toda a glória!
Rev. Gilson Altino da Fonseca
Professor de História da Igreja Cristã no Instituto Bíblico Eduardo Lane, em Patrocínio, MG.
Referências:
CAIRNS, E. E. O Cristianismo através dos séculos. São Paulo: Vida Nova, 1984.
GONZALES, J.L. Uma história ilustrada do Cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1983. v.I-V
HULBUT, J.L. História da Igreja Cristã. Miami: Vida, 1998.
NICHOLS, R. H. História da Igreja Cristã. 6. ed., São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985.
SMITH, William S. Do Pentecostes até o Renascimento. 3. ed. Patrocínio: Ceibel, 1984.
Fonte: www.ibel.org.br
oi,sou da religião cristã reformada do brasil,estou desesperada tentando encontrar algum lugar que ainda faça casamento e batizado nessa religião.Adoraria se pudesse me ajudar,meu e-mail é cibele_gnr@hotmail.com
ResponderExcluirObrigada!
Olá!
ResponderExcluirQual sua igreja, minha querida. Em que cidade você mora? Desculpe pela demora longa é que não sabia desta mensagem
Ola. Como faco para saber mais sobre a doutrina? (por exemplo a visao da igreja com relacao ao divorcio, segundo casamento etc)? Tenho tentado pesquisar mas nao encontro nada.
ResponderExcluirPode me indicar um website ou algum link para leitura por favor?
Obrigada.
Entre em Contato com o Rev. Hernandes Dias Lopes no site www.hernandesdiaslopes.com.br, ele é bem embasado para esta informação.
ResponderExcluirGraça e paz meu nobre pastor,ficar divorciado é pecado ?
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