Rev. Augustus Nicodemus Lopes
Apesar de até o presente só ter
melhorado a vida dos seus pregadores e fracassado em fazer o mesmo com a vida
dos seus seguidores, a teologia da prosperidade continua a influenciar as
igrejas evangélicas no Brasil.
Uma das razões pela qual os evangélicos têm dificuldade em perceber o que está errado com a teologia da prosperidade é que ela é diferente das heresias clássicas, aquelas defendidas pelos mórmons e "testemunhas de Jeová" sobre a pessoa de Cristo, por exemplo. A teologia da prosperidade é um tipo diferente de erro teológico. Ela não nega diretamente nenhuma das verdades fundamentais do Cristianismo. A questão é de ênfase. O problema não é o que a teologia da prosperidade diz, e sim o que ela não diz.
§ Ela está certa quando
diz que Deus tem prazer em abençoar seus filhos com bênçãos materiais, mas erra
quando deixa de dizer que qualquer bênção vinda de Deus é graça e não um
direito que nós temos e que podemos revindicar ou exigir dele.
§ Ela acerta quando diz
que podemos pedir a Deus bênçãos materiais, mas erra quando deixa de dizer que
Deus tem o direito de negá-las quando achar por bem, sem que isto seja por
falta de fé ou fidelidade de nossa parte.
§ Ela acerta quando diz
que devemos sempre declarar e confessar de maneira positiva que Deus é bom,
justo e poderoso para nos dar tudo o que precisamos, mas erra quando deixa de
dizer que estas declarações positivas não têm poder algum em si mesmas para
fazer com que Deus nos abençoe materialmente.
§ Ela acerta quando diz
que devemos dar o dízimo e ofertas, mas erra quando deixa de dizer que isto não
obriga Deus a pagá-los de volta.
§ Ela acerta quando diz
que Deus faz milagres e multiplica o azeite da viúva, mas erra quando deixa de
dizer que nem sempre Deus está disposto, em sua sabedoria insondável, a fazer
milagres para atender nossas necessidades, e que na maioria das vezes ele quer
nos abençoar materialmente através do nosso trabalho duro, honesto e constante.
§ Ela acerta quando
identifica os poderes malignos e demônicos por detrás da opressão humana, mas
erra quando deixa de identificar outros fatores como a corrupção, a
desonestidade, a ganância, a mentira e a injustiça, os quais se combatem, não
com expulsão de demônios, mas com ações concretas no âmbito social, político e
econômico.
§ Ela acerta quando diz
que Deus costuma recompensar a fidelidade mas erra quando deixa de dizer que
por vezes Deus permite que os fiéis sofram muito aqui neste mundo.
§ Ela está certa quando
diz que podemos pedir e orar e buscar prosperidade, mas erra quando deixa de
dizer que um não de Deus a estas orações não significa que Ele está irado
conosco.
§ Ela acerta quando cita
textos da Bíblia que ensinam que Deus recompensa com bênçãos materiais aqueles
que o amam, mas erra quando deixa de mostrar aquelas outras passagens que
registram o sofrimento, pobreza, dor, prisão e angústia dos servos fiéis de
Deus.
§ Ela acerta quando
destaca a importância e o poder da fé, mas erra quando deixa de dizer que o
critério final para as respostas positivas de oração não é a fé do homem mas a
vontade soberana de Deus.
§ Ela acerta quando nos
encoraja a buscar uma vida melhor, mas erra quando deixa de dizer que a pobreza
não é sinal de infidelidade e nem a riqueza é sinal de aprovação da parte de
Deus.
§ Ela acerta quando nos
encoraja a buscar a Deus, mas erra quando induz os crentes a buscá-lo em
primeiro lugar por aquelas coisas que a Bíblia constantemente considera como
secundárias, passageiras e provisórias, como bens materiais e saúde.
A teologia da prosperidade, à semelhança da teologia da libertação e do
movimento de batalha espiritual, identifica um ponto biblicamente correto,
abstrai-o do contexto maior das Escrituras e o utiliza como lente para reler
toda a revelação, excluindo todas aquelas passagens que não se encaixam. Ao
final, o que temos é uma religião tão diferente do Cristianismo bíblico que
dificilmente poderia ser considerada como tal. Estou com saudades da época em
que falso mestre era aquele que batia no portão da nossa casa para oferecer um
exemplar do livro de Mórmon ou da Torre de Vigia...
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