segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O que o ser humano pode fazer para salvar-se?


A história que acabamos de ler é relatada três vezes no Novo Testamento. Mateus, Marcos e Lucas foram todos inspirados pelo mesmo Espírito ao escrevê-la para a nossa instrução. Não se deve duvidar de que há um propósito muito sábio na tripla repetição dos mesmos feitos e de feitos tão simples. O objetivo é indicar-nos que os ensinamentos que podem ser extraídos da passagem merecem uma atenção particular da igreja de Cristo.

Aprendamos, antes de tudo, nesta passagem, a respeito da ignorância que o homem tem de si mesmo.

Há o relato de que alguém “veio correndo” aonde estava o nosso Senhor, e que “se ajoelhou diante dele” e lhe fez a solene questão: “Que farei para herdar a vida eterna?” À primeira vista, aparentava uma boa intenção: ele se ocupava de questões espirituais, enquanto que a maioria dos que estavam em sua volta apresentavam-se descuidados e indiferentes; mostrava-se disposto a reverenciar o nosso Senhor, ajoelhando-se diante dEle, enquanto que os escribas e fariseus desprezavam-No. No entanto, este homem ignorava completamente o estado do seu coração. Após ouvir o nosso Senhor recitar os mandamentos que determinam os nossos deveres quanto o próximo, imediatamente declarou: “Tudo isso guardei desde a minha mocidade.” A natureza íntima da lei moral, sua aplicação aos nossos pensamentos, palavras e ações, é algo do qual ele apresentou total ignorância.

É, infelizmente, muito comum a existência da cegueira espiritual que está demonstrada aqui. Milhares dos que se denominam cristãos, atualmente, não têm a mais remota ideia da sua pecaminosidade e de suas culpas diante dos olhos de Deus. Lisonjeiam-se por não fazer nada de mal. Não assassinaram, nem roubaram, nem cometeram adultério, nunca deram falso testemunho; portanto, acreditam que não podem correr o risco de deixarem de ir para o céu. Esquecem a santidade de Deus, com quem terão de retratar-se; esquecem as repetidas vezes que violaram sua lei de pensamentos ou intenções, embora sua conduta externa seja muito regrada. Nunca estudam algumas partes da Escritura, por exemplo, o capítulo 5 de Mateus, ou, se o fazem, é como se tivessem um espesso véu sobre os seus corações, e não colocam em prática o que leram. O resultado é que eles andam envoltos em sua própria retidão. Como a igreja de Laodiceia, estão “ricos e em abundância de bens, e de nada necessitam” - Apocalipse 3:17. Vivem satisfeitos de si mesmos, e assim frequentemente morrem.

Guardemo-nos desse estado de alma. Enquanto crermos que podemos guardar a lei de Deus, Cristo de nada nos aproveitará. Peçamos a Deus o dom de autoconhecimento. Peçamos ao Espírito Santo que nos convença do pecado, que nos revele os nossos corações, a santidade de Deus, a necessidade que temos de Cristo. Feliz o que aprendeu na prática o significado destas palavras de Paulo: “E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri.” – Romanos 7:9. A ignorância da Lei e o desconhecimento do Evangelho caminham juntos. Aquele cujos olhos foram abertos realmente à espiritualidade dos mandamentos, não descansará enquanto não encontrar a Cristo.

Aprendamos, aliás, nesta passagem, sobre o amor de Cristo aos pecadores.

Esta é uma verdade que põe em destaque a expressão que Marcos utiliza, na sua narração da história, que “Jesus, olhando para ele, o amou.” Esse amor, sem dúvida, era piedade e compaixão. Nosso Senhor observou compadecidamente a estranha mistura de fervor e ignorância que estava diante dele. Viu, cheio de piedade, aquela alma lutando em toda debilidade e miséria que a queda produz; viu aquela consciência inquieta com a convicção de necessitar ajuda; viu aquela inteligência estar cega e cercada de trevas - sem conseguir ver os primeiros rudimentos da religião espiritual. Assim como um nobre edifício em ruínas, destelhado, com suas paredes rachadas, é inútil - mesmo mostrando, ainda, sinais da habilidade com que foi planejado e fabricado -, assim imaginamos que Jesus, com terna diligência, contemplava a alma deste homem.

Não devemos esquecer que Jesus ama e se compadece das almas dos ímpios; mas é induvidável o fato de que ele sente um amor especial pelos que ouvem a sua voz e o seguem; são as ovelhas que o Pai lhe deu. Ele as vigia com especial cuidado. São sua Esposa, ligados a Ele por um pacto eterno, e eles são avaliados em alto preço - como partes dEle mesmo. O coração de Jesus é um coração muito grande: nele abundam a piedade, a compaixão, e um terno interesse pelos que estão afundados no pecado e escravizados ao mundo. Aquele que chorou pela incrédula Jerusalém é sempre o mesmo; ainda deseja recolher a si o ignorante e o que crê ser justo, o infiel e o impenitente, contanto que eles desejem ser recolhidos – Mateus 23:37. Podemos dizer, com confiança, ao pecador mais incorrigível, que Cristo o ama. Há salvação preparada para o pior dos homens se ele quer dirigir-se a Cristo. Se os homens permanecem perdidos, não é porque Jesus não os ame e nem está disposto salvá-los. Palavras solenes que Ele pronunciou nos revelam esse mistério: “Os homens amaram mais as trevas do que a luz.” “E não quereis vir a mim para terdes vida.” – João 3:19; 5:40.

Aprendamos, finalmente, nesta passagem, o grande perigo do amor ao dinheiro. É uma lição que nos é inculcada duas vezes. A primeira é revelada através da conduta do homem descrito até aqui. Com todo o desejo que manifestava de conseguir a vida eterna, amava mais ao seu dinheiro que sua alma.“Retirou-se triste.” E pela segunda vez o nosso Senhor proclamou, em solenes palavras, aos discípulos, “quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.” O dia final, tão somente aquele dia, provará de uma maneira completa a verdade destas palavras.

Coloquemo-nos em guarda contra o "amor ao ouro" – é um laço tanto para o pobre quanto para o rico. O que perde a alma, não é o que possui riquezas, mas aquele que confia nelas. Peçamos a Deus que venhamos a nos sentir satisfeitos com o que possuímos. A sabedoria mais elevada é pensar como Paulo, quando disse, “já aprendi a contentar-me com o que tenho.” – Filipenses 4:11.

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