quinta-feira, 14 de abril de 2011

Calvinismo em Foco

INTRODUÇÃO


   Bem sabemos que as reformas na Europa foram fundamentais para o surgimento e a consolidação do protestantismo atual. Muitos foram os homens que estiveram engajados pelo retorno da igreja ao evangelho. Dentre estes reformadores teremos como alvo o francês João Calvino. A apresentaremos sua biografia, obras  e alguns de seus pensamentos que consideramos importantes.  

  1.  João Calvino
1.1.  Sua vida e obras
       Segundo Earle Edwin Cairns poderíamos separar a vida de Calvino em dois grandes períodos. Até 1536, Calvino teria sido um estudante itinerante; de 1536 até sua morte em 1564, com exceção dos três anos de seu exílio em Estrasburgo, Calvino foi o grande líder de Genebra. 1  Ele nasceu em Noyon, cidade diocesana situada cerca de  95 Km ao nordeste de Paris2 em 10 de julho de 1509.3  Seu pai se chamava  Gérard Cauvin, que era assistente administrativo do bispo de Noyon. Sua mãe era Jeanne Cauvin que morreu quando Calvino tinha apenas 5 ou 6 anos. 4 Calvino teve educação cuidada e boa formação humanista. Passou um ano no Colégio de la Marche, em Paris, e quatro anos no Colégio Montaigu, donde saiu Mestre em artes. Depois deveria ter começado estudos de teologia, mas seu pai contrariando a primeira intenção, fez que estudasse direito. 5 Em 1532 recebeu seu diploma de direito na Universidade de Bourges.6 No final de sua vida , Calvino revelou sua “conversão inesperada”, que segundo estudiosos, teve lugar em algum momento dos anos de 1533-34. 7  Em Estrasburgo se casou com Idelette Bure em 1540. Casamento este que durou até 29 de março de 1549, quando sua esposa faleceu. 8 Calvino morreu em 27 de maio de 1564.9
       Várias são as obras de Calvino: Sobre a Clemência, de Sêneca; Comentários sobre o Antigo Testamento (Pentateuco, Josué, Salmos e Isaías) e todo Novo Testamento (com exceção de 2 e 3 João e Apocalipse); Sermões; Folhetos e Tratados  (sobre os reformadores radicais, católicos romanos, luteranos, reforma na igreja, santa ceia e predestinação); Cartas; Escritos Litúrgicos e Catequéticos e as Institutas que passou por vários processos de edições e revisões sendo que a de 1559 foi a final.10
1.2.  Pensamentos
   Segundo Alister McGrath “para se entender Calvino é necessário ler Calvino”11 por isso buscaremos o pensamento de Calvino nas Institutas sem, contudo deixar de lado os historiadores que serão posso dizer como “guias” nos conduzindo com segurança para a elaboração deste trabalho.
I. Conhecer Deus é tudo: No Capítulo I do primeiro livro de sua obra ele começa afirmando que o resumo de nossa sabedoria que deve ser sólida e verdadeira consiste em duas partes - Primeiro “o conhecimento de Deus”; segundo, “o conhecimento de nós mesmos”12. Sendo que o conhecimento de Deus é fundamental para podermos nos conhecer porque do contrário segundo Calvino “... o homem jamais chega a um conhecimento puro de si sem que, antes, contemple a face de Deus, e, desça para inspeção de si mesmo”. 13 Para Calvino Deus se torna conhecido como Criador “tanto na obra do mundo quanto na doutrina geral da Escritura”; e como Redentor “na imagem de Cristo”14
II. O pecado original: Quando a humanidade foi criada por Deus em sua forma original ela refletia bondade em todos os seus aspectos. Porém a queda do ser humano prejudicou os seus dons. 15 Que podemos dividir em dois grupos o primeiro são os sobrenaturais: a fé e a integridade. O segundo são os naturais: o intelecto e a vontade. 16
III. Jesus Cristo: Para Calvino Jesus só poderia ser nosso Mediador se “fosse verdadeiro Deus e verdadeiro homem”17. Calvino entendia que só por meio de Cristo o ser humano pode se aproximar de Deus. O Homem por mais incontaminado que fosse do pecado jamais poderia se achegar a Deus se não por Cristo, ou seja, nosso Mediador. Por isso Cristo como nosso Mediador veio pelo menos segundo Calvino com três propósitos estabelecidos por Deus que em Cristo seria matéria sólida da salvação. Jesus seria Profeta, Rei e Sacerdote. Como Profeta foi ungido com o Espirito Santo para pregar e testemunhar da graça de Deus18. Segundo Calvino a natureza do Reino Cristo é espiritual “uma vez daí se conclui o que Ele vale e confere para nós com toda a sua força e eternidade”. 19 Como nosso Sacerdote somente a Cristo coube esta honra “... uma vez que o sacrifício de sua morte apagou nossas faltas e satisfez com relação aos nossos pecados”. 20  
IV. Justificação pela fé: Calvino defendia que só seria justificado pela fé aquele que abandona sua justiça referenciada pelas obras, mas por meio da fé veste a justiça de Cristo de forma que na presença de Deus ele é visto como justo. Ele define que a justificação é forma como Deus nos recebe pela sua graça e nos justifica. Pela justificação somos perdoados e absolvidos pela justiça de Cristo. 21  
V. PREDESTINAÇÃO:
Chamamos predestinação ao decreto eterno de Deus pelo qual determinou o que quer fazer de cada um dos homens. Porque Ele não os cria com a mesma condição, mas antes ordena a uns para a vida eterna, e a outros, para a condenação perpétua. Portanto, segundo o fim para o qual o homem é criado, dizemos que está predestinado à vida ou à morte. 22
    Com base na exposição de Timothy George a doutrina da predestinação pode ser sintetizada em três palavras. A primeira é que a predestinação é absoluta, pois sua base é a vontade imutável de Deus. A predestinação em segundo lugar é particular, pois se destina apenas a indivíduos e não ao um conjunto de pessoas. Por último a predestinação é dupla significa que para manifestação da misericórdia de Deus alguns indivíduos foram destinados para a vida eterna, e outros para a manifestação da justiça de Deus à condenação eterna. 23
VI. Sacramentos: Sobre os sacramentos Calvino fala da importância de aprender o propósito desta instituição. Por isso ele trás duas definições sobre o que é um sacramento. Em primeiro lugar sacramento é um símbolo externo com o qual o Senhor tem como objetivo marcar em nossas consciências as promessas de sua bondade para conosco. Para Calvino os sacramentos abastece nossa fé em meio a nossa fraqueza e habilita nosso testemunho diante de Deus, dos anjos e entre os homens. Em segundo lugar o sacramento é uma declaração da graça de Deus para conosco ela é demonstrada de forma visível por meio de um recíproco testemunho diante de Deus. 24 Ele aponta o batismo como sacramento que testemunha nossa purificação e a eucaristia como nossa condição de salvo. 25 
VII. Igreja: Calvino define a igreja como invisível, pois só Deus a conhece, e a igreja visível, onde os cristãos são ordenados a honrar e manter comunhão com ela. 26 Para Calvino a igreja se torna conhecida de duas formas: Primeiro “onde a palavra de Deus é sinceramente pregada e ouvida”; segundo, onde “os sacramentos são administrados segundo a instituição de Cristo” e conclui “não podemos de modo algum duvidar de que ali está uma igreja de Deus”. 27
VIII. Estado: Calvino definia o governo civil em três partes: “o primeiro diz respeito ao magistrado, que é o guardião e defensor das leis; o segundo, à legislação mediante a qual o magistrado governa; o terceiro, diz respeito ao povo que deve ser governado pelas leis e obedecer ao magistrado” 28 Os magistrados tinha a responsabilidade de manter a tranquilidade, a ordem, a moralidade e a paz pública. 29 Para Calvino o poder civil era uma vocação, santa e legítima para Deus e considerada “a mais sagrada e honrosa de todas as vocações.”30 Por isso o magistrado “deve se empenhar na manutenção da honra divina”. 31

Considerações finais
   Embora nossa abordagem tenha sido mínima em relação à vida, obras e pensamentos de Calvino. No entanto podemos perceber nestas poucas linhas acima escritas que Calvino era um escritor fecundo, sua formação humanista lhe deu ferramentas fundamentais para sua vida intelectual principalmente em questões políticas e sociais e seu conhecimento bíblico lhe deu um espírito arguto na elaboração de seus pensamentos teológicos.

Notas:
  1. CAIRNS, Earle Edwin. O cristianismo através dos séculos: uma história da Igreja Cristã. 2º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008. p. 278.
  2.  LINDBERG, Carter. As Reformas na Europa. São Leopoldo Sinodal/IEPG, 2001. p.298.
  3. GONZALEZ, Justo L. A era dos reformadores: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 107.
  4. GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1993. p. 168.
  5. LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Paulinas/Edições Loyola, 2004. p. 333.
  6. CAIRNS, op. cit., p.280.
  7. LINDBERG, op. cit. p. 300.
  8. WACHHOLZ, Wilhelm. História e teologia da Reforma: Introdução. São Leopoldo: Sinodal, 2010. p. 76.
  9. GONZALEZ, op. cit. p. 117.
  10. GEORGE, op. cit. p. 185-188.
  11. MCGRATH, Alister. A vida de Calvino. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 171.
  12. CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: UNESP, 2008. v. 1. p. 37.
  13. CALVINO, op. cit. p. 38.
  14. CALVINO, op. cit. p. 40.
  15. MCGRATH, op. cit. p. 183.
  16. GONZALEZ, Justo L. Uma história do pensamento cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 147.
  17. CALVINO, op. cit. p. 441.
  18. CALVINO, op. cit. p. 469-470.
  19. CALVINO, op. cit. p. 471.
  20. CALVINO, op. cit. p. 476.
  21. CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: UNESP, 2008. v. 2. p. 193.
  22. CALVINO, op. cit. p. 380.
  23. GEORGE, op. cit. p. 232.
  24. CALVINO, op. cit. p. 692.
  25. CALVINO, op. cit. p. 711.
  26. CALVINO, op. cit. p.474.
  27. CALVINO, loc. cit.
  28. CALVINO, op. cit. p.878.
  29. CALVINO, op. cit. p.884.
  30. CALVINO, op. cit. p.879.
  31. CALVINO, op. cit. p.883.


BIBLIOGRAFIA
CAIRNS, Earle Edwin. O cristianismo através dos séculos: uma história da Igreja Cristã. 2º ed. São Paulo: Vida Nova, 2008.
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: UNESP, 2008. v. 1.
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: UNESP, 2008. v. 2.
GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1993.
GONZALEZ, Justo L. A era dos reformadores: uma história ilustrada do cristianismo. São Paulo: Vida Nova, 1995.
GONZALEZ, Justo L. Uma história do pensamento cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Paulinas/Edições Loyola, 2004.
LINDBERG, Carter. As Reformas na Europa. São Leopoldo Sinodal/IEPG, 2001.
MCGRATH, Alister. A vida de Calvino. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
WACHHOLZ, Wilhelm. História e teologia da Reforma: Introdução. São Leopoldo: Sinodal, 2010.

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