Jo.10.1-18
O Evangelho segundo João foi escrito por João- “O Discípulo a quem Jesus amava”, a sua ênfase está em revelar a Jesus como o Messias esperado, por meio dos seus milagres, os quais Jesus realizava com a autoridade de Filho de Deus, o qual deixa claro que realiza as obras do Pai. Neste trecho do Evangelho, Jesus se utiliza de linguagem simples e lança mão de coisas do cotidiano do seu povo naquela época, onde havia muitos pastores e rebanhos, este era um dos ofícios mais comuns que havia ali. Naquela época já existiam aqueles que distorciam a Lei e Os Profetas para o seu próprio bel-prazer, de forma que colocavam um jugo sobre os ombros do povo eu nem mesmo eles podiam levar. O Mestre utiliza este paralelo entre o pastor e o ladrão, tanto para abrir os olhos dos que eram enganados, quanto para repreender aqueles falsos pastores/líderes que os subjugavam, tendo em vista que falava entre os judeus, inclusive entre os fariseus, os quais o estavam inquirindo acerca de si mesmos (cap. 9.40-41).
Ele diz que “aquele que não entra pela porta é ladrão e salteador”, ou seja, não é digno de confiança, é invasor (v.1). Isto significa que existe o pastor e o que se faz passar por pastor, e que devemos estar atentos a cada detalhe, buscando reconhecer quem é o Pastor genuíno. “O que entra pela porta é pastor das ovelhas”, ou seja, este sim é digno de confiança, pois “as ovelhas o reconhecem como tal” (v.2). Neste versículo podemos fazer uma correlação com a eleição, pois aqueles que são de Cristo, os que foram eleitos nele antes da fundação do mundo, ouvirão a pregação da Palavra e virão até Ele, pois são suas, estão unidas a Ele e o reconhecem, no tempo determinado por Deus na historia. “Para este o porteiro abre” (v.3), há livre acesso para ele ali, pois é esperado. “As ovelhas o reconhecem, e seguem após ele”. Ele guia aquelas ovelhas que são verdadeiramente suas, e é isto que demonstra a identificação das ovelhas com o pastor, até mesmo a sua voz é inconfundível para elas (Jo 5.25; Jo 6.37-40), não é fácil enganá-las. “Ele as leva para fora”, não para roubar-lhes dali, mas para levá-las a boas pastagens, cuidando para que não comam algo que não presta (o cuidado de Deus para com as suas ovelhas também é profetizado pelo Profeta Ezequiel em EZ 34). É interessante observarmos aqui o cuidado do nosso Pastor para conosco, quando, por meio da sua Palavra, nos instrui para que reconheçamos aquilo que podemos ou não “comer” dentre tantas coisas que ouvimos em nosso contexto atual, só não consegue distinguir entre o bom pasto e os abrolhos aquele que faz como os cristãos de Beréia, os quais ouviam a pregação e observavam as Escrituras comparando, provando o que ouviam. O nosso Pastor nos dá esta capacidade, entretanto devemos estar sempre bem alimentados dos seus “bons pastos” (v.3). Além de tirá-las para fora do aprisco, o verdadeiro pastor não as deixa à toa, mas “vai adiante delas”, guiando e cuidando, pois as mesmas reconhecem a sua voz e sabem que ele lhes fará somente o bem. Aqueles que seguem a Cristo jamais estarão sozinhos ou desamparados em meio a grandes perigos, pois o Pastor está com eles (v. 4). “As ovelhas deste pastor jamais seguirão o estranho; antes, fugirão dele” (v.5). Como já mencionamos as ovelhas que reconhecem o seu dono, jamais darão crédito a estranhos. Aqueles que verdadeiramente pertencem a Cristo automaticamente rejeitam o que não vem dele e fogem de tudo aquilo que, mesmo se chamando “evangelho” não passa de anátema (II Jo 7-11; Rm 16.17; I Co 1.6-9). Até este versículo do trecho, Jesus lhes fala por meio de uma ilustração, porém eles não compreendem (v.6). “Em verdade vos digo: Eu Sou a porta das ovelhas” (v.7)- Jesus afirma que É a porta das ovelhas. Provavelmente outros já haviam tentado se destacar como mestre, exemplo e guia para aquele povo, o qual, segundo o Profeta Isaías, andava em trevas e habitava na região da sombra da morte e tinha, portanto, necessidade de um pastor, de um guia, de um redentor (Is 9.2). Ele afirma que é o Pastor que havia sido prometido (Is 49.9-10). “Todos os que vieram antes de mim são ladrões e salteadores” (v.8). Jesus aqui reivindica para si a autoridade e credibilidade do próprio Messias diante dos falsos mestres existentes naquela época. “Aquele que entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem.” (v.9)- Jesus fala claramente que Ele É a única porta para a salvação (como o reafirma em Jo 14.6), provavelmente foi baseado nesta declaração do Senhor Jesus que Lucas escreve: “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.” (At 4.12). “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” (v.10)- Jesus declara que, enquanto “o ladrão” (que podemos interpretar aqui como o próprio Diabo) tem como objetivo roubar, matar e destruir não apenas na vida física, terrena, mas para sempre; assim, Ele, o Messias, tem como objetivo, salvar da condenação eterna e fazer com que as “suas ovelhas” (seus eleitos) tenham desde já uma vida em abundância, ou seja, uma vida com propósito, a qual já passa a ser experimentada aqui numa atitude de louvor e glorificação a Deus e se concretizará na sua plenitude quando estivermos com Ele, gozando-o para sempre. “Eu sou o bom pastor, o bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (v. 11)- Jesus se lembra da atitude do pastor de ovelhas, o qual está disposto a tudo para defender o rebanho, como vemos o exemplo de Davi, que enfrentou um leão e um urso (I Sm 17. 34-36 a), e em seguida Ele mesmo se coloca como este Bom Pastor, o qual entrega a sua vida pelas “suas” ovelhas. E aí mais uma vez percebemos que Jesus afirma ter as suas ovelhas no meio de toda a humanidade, pelas quais derramou a sua vida, tornando-se o nosso Redentor. “O mercenário que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e as dispersa. O mercenário foge porque é mercenário, e não tem cuidado com as ovelhas” (v. 12,13)- Jesus afirma que o falso pastor é descuidado, finge cuidar das ovelhas, no entanto, as abandona e as deixa perecer. Assim são os falsos mestres, que não cuidam, não oferecendo às ovelhas pastos saudáveis, as enreda no engano, e quando estas se encontram em perigo, ele as ignora. O próprio inimigo de nossas almas também age desta forma; engana, ilude e não se importa se vão perecer juntamente com ele, simplesmente que cumprir o seu intento: afastá-las da possibilidade de encontrar a Verdadeira Porta, o Verdadeiro Pastor. “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.” (v.14,15)- Percebemos claramente aqui que mais uma vez Jesus enfatiza que tem suas ovelhas (Jo 6.39) e Ele ainda irá reforçar esta verdade mais adiante (v.27-29; 17. 9-10). E, além disso, ainda reivindica para si a autoridade de Filho de Deus, o que revoltava os judeus ainda mais (v. 33). “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor.” (v. 16)- Jesus agora fala de coisas que jamais os judeus imaginariam: As suas ovelhas não eram apenas dentre o povo judeu, mas também gentios, de toda tribo, língua, povo e nação (Rm 9.24-27; Gl 3.14; Ap 5.9). Se nos reportarmos a Isaías 40.11, vamos ver ali a promessa de que viria o Sumo Pastor, o qual arrebanharia o rebanho de Deus. Jesus, portanto, se declara sendo este Pastor. “Por isso o Pai me ama, porque dou a minha vida para reassumi-la. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para entregá-la e também para reavê-la. Este mandato recebi do meu Pai.” (v.17,18)- O Senhor Jesus fala sobre a sua morte e ressurreição e mais uma vez reivindica a sua autoridade de Filho e a sua autoridade sobre a própria morte, concedida por Deus, o qual segundo Ele era o seu Pai. Por isso os judeus se revoltaram e começaram a dizer que ele poderia estar endemoninhado ou que poderia estar louco, o que podemos verificar nos versículos seguintes. Jesus era o Filho de Deus e falava com autoridade como tal (Jo 1.4; 2.18-22; 11.25 a; 14.7-11; 17.18 a; Mt. 28.18 b; Mc 1.22) Ele tem a vida em si mesmo, a entregou voluntariamente, e a tomou de volta no ato da ressurreição (I Jo 3.16 a; Ef 2.1,5; Mc 14.22; Hb 9.14; 10.12; At 2.23-36) e é isso que Jesus afirma diante dos judeus, bem antes que viesse acontecer (Jo 20.1 a At 1.11).
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