Perguntas ao Calvinismo
Marcelo Lemos
No texto “Deus Ama Todos os Homens? - Uma Resposta Bíblica ao Artigo “Deus Ama a Todos”; do Blog arminiano Confraria Pentecostal”; nos
dedicamos a responder algumas objeções levantadas contra a Fé Reformada
pelo irmão Cléber, editor do referido blog. No texto de hoje, estaremos
analisando um outro texto do mesmo autor, o qual tem por título
“Perguntas ao Calvinismo”.
Nossa oração é que o Espírito Santo possa se valer deste estudo para iluminar o entendimento daqueles que estão a estudar estes assuntos tão importantes da Bíblia Sagrada.
O texto do irmão Cléber contém nove (09) perguntas; buscamos organizar nossas repostas seguindo o cronograma por ele estabelecido.
Escrevemos mais esta replica com coração humilde, e confiando apenas no Senhor: “Porque d’Ele e por Ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele, de eternidade a eternidade. Amém!” (Romanos 11.36).
Nossa oração é que o Espírito Santo possa se valer deste estudo para iluminar o entendimento daqueles que estão a estudar estes assuntos tão importantes da Bíblia Sagrada.
O texto do irmão Cléber contém nove (09) perguntas; buscamos organizar nossas repostas seguindo o cronograma por ele estabelecido.
Escrevemos mais esta replica com coração humilde, e confiando apenas no Senhor: “Porque d’Ele e por Ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele, de eternidade a eternidade. Amém!” (Romanos 11.36).
I
SOBRE DEUS E SUA “IRA”
“Como entender as inúmeras vezes em que Deus fica irado com a incredulidade e desobediência das pessoas? Por que essa ira se (segundo o calvinismo) foi Ele mesmo que "predestinou" essas pessoas a viverem longe dEle?”.
A objeção nasce do pressuposto de que não havendo “livre-arbitrio” não pode haver responsabilidade, nem culpa. Se Deus, como a Bíblia ensina, controla todos os eventos da história humana, então o homem não pode ser (segundo pensa o arminianismo) responsabilizado por seus pecados.
O grande problema é que “responsabilidade” não depende primeiramente de “livre-arbitrio”; antes, depende da não existência de um arbítrio livre. Mesmo nos eventos corriqueiros da vida, o que estabelece a nossa responsabilidade não é primeiramente a nossa capacidade de escolher, mas sim, a nossa obrigação a uma Vontade Maior; como a da Constituição, por exemplo.
Caso o cidadão brasileiro possuísse um “livre-arbítrio”; ou seja, caso ele fosse o seu próprio juiz, ele não precisaria atender as exigências da Federação. Mas, como temos a Constituição como nosso juiz maior na esfera civil, a qual é senhora do nosso ‘arbítrio’, podemos ser responsabilizados. Logo, ‘responsabilidade’ está ligada, antes de qualquer outra coisa, ao fato de não haver “livre-arbítrio”, e não na existência dele.
A diferença entre a Constituição e a Soberania de Deus, é que a primeira se faz senhora apenas do nosso “arbítrio”, mas não da nossa “volição”. Ela regula o que pode ou não ser feito, mas ela não interfere no andamento das ações; apenas aplica seu julgamento ao final da ação realizada. Por isso, o ‘louco’ é considerado “inimputável”, pois o Magistrado irá julgar se ele tinha ou não discernimento do “arbítrio”. Não tendo discernimento do “arbítrio” sobre si mesmo, o ‘louco’ age de acordo com uma volição livre, não responsabilizável. Neste sentido, o único ser dotado de “livre-arbítrio” é o ‘louco’. O Dicionário Aurélio define “arbítrio” como “resolução dependente apenas da vontade!”. Não lhe pode ser imputado culpa, porque ao não discernir o arbítrio sobre ele, o ‘louco’ age como se tivesse “livre-arbítrio”. Porém, mesmo no caso do ‘louco’, a não responsabilização é apenas relativa, e o seu “livre-arbítrio” apenas aparente, uma vez que ele , de fato, não “julga”, pois não é capaz de “discernir”. Em outras palavras, o seu juízo é sem discernimento, portanto errado por definição. Ele não pode ser responsabilizado, pois o seu arbítrio é livre.
A Soberania de Deus, no entanto, se estende sobre as duas coisas. Ela é Soberana sobre nosso “arbítrio”, e é também soberana sobre a nossa “volição”. Ou seja, é Deus quem estabelece o ‘certo’ e o ‘errado’. E a mesma vontade de Deus é quem escreve a história. Certamente os arminianos se apressarão em listar alguns textos onde Deus manda este ou aquele fazer uma escolha; porém, tais textos não alteram o fato de que Deus controla até mesmo as decisões dos homens: “Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor, que o inclina a todo o seu querer” (Provérbios).
Por isso, Paulo ao interpretar os eventos nos quais Faraó, rei do Egito, foi chamado a uma decisão, afirma:
“Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” – Romanos 9.17,18.
Toda vez que o arminianismo desejasse apresentar algum texto onde se fala de “decisões”, deveria ter em mente tais verdades bíblicas.
Por que Deus responsabiliza o homem, mesmo sendo Ele mesmo o Único Soberano da história? Ora, exatamente pelo fato d’Ele ser o Único Soberano da história!
Paulo sabia que os incrédulos fariam a seguinte objeção:
“Dir-me-ás então: Porque se queixa Ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade?” – Romanos 9.19.
Em outras palavras, os incrédulos tentam colocar Paulo contra a parede com o seguinte questionamento: “Paulo, seu ensino é irracional. Uma vez que o homem é exatamente o que Deus planejou, então, como é possível que Ele os condene por serem o que são? Não faz o menor sentido!”.
A resposta de Paulo não tem a menor preocupação em equilibrar a Soberania de Deus, com algum suposto livre-arbitrio humano. Paulo simplesmente ignora a existência dessa suposta tenção. Seu argumento, arrasador e conclusivo, é:
“Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” – Romanos 9.20.
Porém, dia após dia, geração após geração, os arminianos continuam repetindo uma objeção que já foi destruída pelo Espírito Santo a centenas de anos...
“Os calvinistas costumam dizer que Deus não predestinou ninguém para a perdição. Mas nesse caso Ele poderia ter predestinado-as à salvação e não o fez. Se decidiu não salvar a pessoa então porque irar-se com alguém que é incapaz de converter-se sem ajuda do Espírito Santo?”.
Não é verdade que “os calvinistas costumam dizer que Deus não predestinou ninguém para a perdição”. A afirmação não está correta. Trata-se de uma afirmação parcial. A doutrina da Dupla Predestinação é aceita por muitos calvinistas, porém, existem alguns que afirmam que Deus “apenas deixa que os não eleitos sigam o curso natural das coisas”. Aqui reside uma das maiores controvérsias internas do Calvinismo, que, no entanto, não interfere no entendimento da predestinação para a salvação – diz respeito apenas a ordem dos decretos. Denomino este segundo grupo como “calvinistas inconsistentes”, termo que aprendi com Vicent Cheug, pois eles não têm coragem de aceitar a doutrina bíblica da predestinação até suas ultimas conseqüências.
Este assunto é, em síntese, apenas uma questão de lógica, já que na pratica os dois acabam afirmando as mesmas coisas. E por se tratar apenas de uma questão de lógica, muitos teólogos renomados acham desnecessário se aprofundar nela. O assunto é tão vasto que outros teólogos, como o maravilhoso Strong, chega a ponto de se confundir, alegando defender a segunda posição (infralapsarianismo), quando na verdade parece aderir ao Amyraldismo, doutrina formulada originalmente por Moisés Amyraut, que seria, em tese, as bases do calvinismo de “quatro pontos”. Esta ultima foi sustentada por grandes nomes como A. H. Strong (cf. Teologia Sistemática; pgs. 777,778; refiro-me a versão em inglês, que tenho); e Richard Baxter.
Trata-se da discussão sobre a ordem dos decretos ANTES DA QUEDA, havendo, porém, comum entendimento quanto a natureza e aos efeitos dos decretos de Deus no homem caído:
“E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa lhe deter a mão, e lhe diga: Que fazes?” – Daniel 4.35.
As demais afirmações desse parágrafo já foram respondidas na seção anterior.
II
DEUS, CULPADO DO PECADO?
“Se Deus predestinou muitas pessoas a um estado de perdição então Ele é o culpado pelos pecados dessas pessoas, especialmente o pecado da incredulidade. Não é absurdo isso? Pelo calvinismo concluímos que Deus é cúmplice dos pecadores”.
Deus decretou o pecado. Deus decretou todas as coisas. Nada pode vir a existência se Deus assim não o desejou. Os arminianos alegam que Deus nunca quis que o pecado existisse. Isso é impossível. Primeiro a Bíblia nunca ensina isso. Em segundo lugar, a Bíblia diz que os planos de Deus não podem ser alterados. Logo, existindo o pecado, Deus quis que assim fosse:
“Bem sei que tudo podes, e que nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido” – Job 42.1.
“Mas, se Ele resolveu alguma coisa, quem então o desviará? O que sua alma quiser, isso fará!” – Job 23.13.
“Muitos propósitos há no coração do homem, porém o conselho do Senhor permanecerá” – Prov. 19.21.
“Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não aconteceram; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” – Isaías 46.10.
Mesmo assim os arminianos argumentam que se Deus decretou, de fato, todas as coisas, então ele é culpado pela existência do pecado. A objeção é irracional, e qualquer pessoa que conheça um milésimo de lógica percebe isso. Para que eu seja responsabilizado por algo, é necessário que exista alguém acima de mim, uma lei que superior a mim! Eu sou responsável exatamente por não ser livre. Se eu fosse livre, um livre juiz sobre mim mesmo – que aliás é o significado de “livre-arbitrio” – então, neste caso eu não poderia ser responsabilizado, pois não precisaria prestar contas a ninguém!
Só pode ser responsabilizado, aquele que precisa prestar contas a alguém! Se eu não devo contas a ninguém, posso até ser o AUTOR de alguma coisa, mas ninguém poderá me responsabilizar por algo que julgue “errado” naquilo que eu fiz. Esta é a essência da nossa responsabilidade: não somos donos dos nossos narizes!
“Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” – Romanos 9.20.
“E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa lhe deter a mão, e lhe diga: Que fazes?” – Daniel 4.35.
Segundo Paulo, Deus era o AUTOR da incredulidade dos judeus; e igualmente era o AUTOR do endurecimento no coração de Faraó. E daí? – é a resposta de Paulo. Desde quando aqueles que “são reputados em nada” se atrevem a questionar a vontade do Criador?
III
DEUS, UM OLEIRO QUE FAZ ‘DISTINÇÃO’?
“Deus é um Pai amoroso ou um Ditador cruel? Deus condena uma pessoa por ela agir exatamente conforme Ele mesmo predestinou?
É verdade que o vaso não pode questionar o oleiro quando Ele decide algo. Mas será que Deus é um oleiro irado e discriminador como descreve o calvinismo?”
Sem querer, o próprio irmão Cleber nos dá a resposta: “É verdade que o vaso não pode questionar o oleiro quando Ele decide algo”. Porém, envenenado pelo vírus humanista do arminianismo, ele questiona: “Mas será Deus um oleiro irado e discriminador como descreve o calvinismo?”.
Já vimos que Paulo não dá a menor atenção a este tipo de objeção:
“Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer. Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” – Romanos 9.13-23.
Irmão Cleber, o fato é que Deus faz distinção, de forma livre e soberana, sobre os vasos que tem em suas mãos – exatamente como ensina o ‘calvinismo’.
No próximo ponto falaremos mais sobre o suposto problema, alegado pelos arminianos, pelo fato de Deus fazer “distinção” entre pessoas.
IV
DEUS FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS?
“Se a Bíblia diz que Deus não faz acepção de pessoas (Ef 6.9), como pode alguém dizer que Ele escolhe alguns para a salvação e muitos para a perdição? Isso é acepção de pessoas! Mesmo que se alegue que todos merecem a morte eterna, ao escolher alguns, em detrimento de outros, isso é acepção de pessoas”.
Já temos respondido esta objeção em outra ocasião. No artigo “Deus Ama a Todos?” – publicado anteriormente aqui no blog – escrevemos:
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O que é fazer “acepção de pessoas”? Basicamente, trata-se de atitude preconceituosa que libera ou retém algum benefício, ou mesmo direito, com base nas nossas preferências pessoais, em detrimento, ou elevação, das qualidades de outrem.
A lei de cotas é um exemplo de acepção de pessoas. Os antigos banheiros exclusivos para negros também. No filme Fomos Heróis, de Mel Gibson, há uma cena inteligentemente cômica onde a esposa de um soldado, branca e idealista, diz algo como: “Temos problemas com lavanderia, pois não permitem que lavemos roupas coloridas”. “Como assim?”, alguém pergunta. “Bem, na entrada se lê: White Only!”. Ainda hoje grupos como Identidade Cristã, Supremacia Branca e outros imbecis julgam haver nos negros algo que lhes desagrada, que os torna inferiores, menos dignos, etc. Tal atitude caracteriza acepção de pessoas.
Na Bíblia, Deus nunca faz acepção de pessoas e nem permite que seus servos a façam. Importante destacar que em todas as referencias bíblicas, onde encontramos a idéia de acepção de pessoas, o contexto sempre será forense, estando defendia a isonomia do ‘jurista’ perante os direitos, e os deveres, individuais: Deut. 10.11; 16.19; II Cro. 19.7; Job 13.8; 13.10; 32.21; 34.19; Mal. 2.9; Ef. 6.9; Col. 3.25; Tiago 2.1, 9; I Pedro 1.17. Sendo a mesma linguagem usada contra a mentalidade judaica de que a salvação não poderia ser dada a outras nações: Atos 10.34; Rom. 2.11. Os judeus, que acreditavam poder barganhar seu lugar no Reino por causa da linhagem natural, e barrar a entrada de outros povos, estavam imaginando um Deus que fazia acepção de pessoas!
Com isso em mente, considero a Eleição Incondicional o meio mais bíblico e coerente para se resolver qualquer (alegado) problema de “acepção de pessoas” nos atos de Deus, e não o contraio. Ou seja, quando eu afirmo a Eleição Incondicional, estou muito mais distante de fazer “acepção de pessoas” do que aquele que a nega, e apega-se a uma salvação meritória e condicional; apesar de todo o esforço que o arminianismo faz para parecer o contrário!
Uma vez que “fazer acepção de pessoas” é quando eu escolho e rejeito indivíduos com base naquilo que eles fazem ou não fazem, são ou deixam de ser, conseguem ou deixam de conseguir, a eleição incondicional, que não prevê nenhum bem espiritual inato no ser, ao se manifestar em favor do ser num ato de livre graça, justificante, forense e vicário; não pode ser, tão facilmente quanto o próprio arminianismo, acusado deste mal. – Leia o texto completo.
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O resumo do que demonstrado no texto
acima é o seguinte: quando o arminiano sai a pregar um Deus que elege
apenas aqueles que se mostram aptos, e assim chegam ao fim, então, eles
estão – e não nós! – anunciando um Deus que faz “acepção de pessoas”.
Nós pregamos um Deus que escolhe, livre e soberanamente; sem qualquer
influencia do que temos, ou não temos; do que somos, ou não somos
capazes. Nós anunciamos Graça. Eles anunciam Mérito!
V
DEUS; AFOGANDO GATINHOS NA BANHEIRA?
”Quando Deus mandou o dilúvio e apenas Noé e sua família foram salvos, Ele estava brincando de “afogar gatinhos na banheira”? Ora, se Deus escolheu que ninguém mais seria salvo naquele tempo por que Ele mandou o dilúvio? Por que destruir a humanidade se Ele mesmo tivesse determinado que aquela geração fosse ímpia?”
Entendi a objeção do irmão Cleber; porém, cabe dizer que a questão em negrito está errada, desprovida de qualquer sentido, ou mesmo ligação com a própria objeção. Ora, Deus mandou o Dilúvio para destruir, ‘afogar os gatinhos’, e não para salvá-los. Logo, a pergunta não diz nada relevante sobre o fato de Deus ter desejado salvar apenas a família de Noé.
O mais correto seria perguntar: Se Deus desejava salvar apenas Noé, então porque ele mandou Noé pregar a todos a sua volta? Neste caso, teríamos uma objeção a responder. Em todo o caso, mesmo Deus tendo ordenado que Noé pregasse, não implica que ele desejava salvar a todos.
Observemos o caso de Faraó. Deus enviou várias mensagens a Faraó. A cada nova praga, Deus pedia que Faro libertasse o povo. E em cada uma delas, o coração de Faraó se endurecia, segundo Paulo, por obra do próprio Deus!. Por que Deus agiu assim? No caso de Faraó foi “para mostrar em ti o meu poder”, explica Paulo.
Por isso, antes de os arminianos questionarem “por que Deus mandou Noé pregar, mesmo não desejando salvar a todos?”, deveriam ter em mente que nenhum evento na história altera o fato de que Deus controla todas as coisas, em seus mínimos detalhes. Além disso, Deus não pode ser questionado quanto aos meios que ele utiliza. Ele pede algo para Faraó. E ele mesmo impede que Faraó lhe obedeça. E, por fim, Ele afoga o gatinho Faraó leito lodo do Mar Vermelho. Mesmo assim, a resposta de Paulo continua sendo a mesma: E daí? Quem é o homem para questionar os atos de Deus?
VI
DEUS FAZIA OS PROFETAS DE BOBOS?
“Será que Deus fazia os profetas de bobos? Pois Ele os mandava pregarem arrependimento a gerações que Ele mesmo escolheu que seriam ímpios”.
Deus faz os cristãos de bobos? Antes de responder leia as seguintes passagens:
“Sede vós perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus” – Mateus 5.48.
“Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver” – I Pedro 1.15.
Qual o mandamento de Deus nestas passagens? Que sejamos santos da mesma forma que nosso Pai é santo! Já pensou na gravidade de tal exigência? Será que ao menos conseguimos imaginar qual elevada é a santidade de nosso Pai?
E mesmo tendo nos entregue tamanha exigência, Deus nos ensina que,
“Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós” – I João 1.10.
Estaria Deus nos fazendo de bobos com duas afirmações tão opostas quando ao que ‘devemos’ e o que ‘podemos’?
Fizemos tal comparação apenas para demonstrar que o dilema que o irmão Cleber tenta nos propor, pode até impressionar alguns, mas como objeção não tem nada a dizer contra nossa fé bíblica.
Sim, Deus mandou os profetas pregarem; mas em lugar algum disse que todos os seus ouvintes seriam capazes de se arrependerem. Isaías, por exemplo, pregava o juízo vindouro, no qual Deus destruiria a nação, humilhando-a, desterrando-a, escravizando-a pelos inimigos. Deus diz que enviaria morte, pestes, calamidades, violência, estupros... Deus a reduziria a nada, até que sobrasse apenas um remanescente, eleito segundo a graça de Deus:
“Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, só um remanescente dele se converterá; uma destruição está determinada, transbordando em justiça!” – Isaías 10.22.
“E, há de ser que naquele dia o Senhor tornará a por a sua mão para adquirir outra vez o remanescente do seu povo...” – Isaías 11.11.
“Também Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque ele completará a obra e abrevia-la-á em justiça; porque o Senhor fará breve a obra sobre a terra. E como antes disse Isaías: Se o Senhor dos Exércitos não nos deixasse descendência, teríamos nos tornado como Sodoma, e teríamos sido feitos como Gomorra” – Romanos 9.27-29.
“Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal. Assim, pois, também agora neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra. Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos” – Romanos 11. 2-7.
VII
JESUS; DESINFORMADO SOBRE O CALVINISMO
“Jesus estava "desinformado sobre o calvinismo" quando ficava indignado ao ver a incredulidade do povo de algumas cidades (como Nazaré)? Ele teria esquecido que foi o próprio Pai que havia predeterminado que eles fossem incrédulos?”
Por que desinformado sobre o Calvinismo? Por acaso o Calvinismo ensina que Deus não fica indignado com o pecado? O Calvinismo ensina que Deus decretou todas as coisas, mas nunca que ele não fique indignado com o Pecado! A Bíblia ensina, por exemplo, que Deus determinou todos os eventos que culminaram na morte de Cristo:
“Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus fez por ele no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis. A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos dos injustos” – Atos 2. 22,24.
E, mesmo tendo Deus determinado cada um daqueles eventos, ele condena os assassinos de Cristo como “injustos”. Ou seja, o fato de Deus determinar a morte de Cristo, e também a forma de sua morte – a menos que os arminianos sustem que sua morte foi ‘opcional’, ou ‘acidental’ – não implica que ele não possa exercer seu juízo contra os vasos que usou para tal evento!
Agora, certamente Jesus estava desinformado quando aos dogmas do arminianismo:
“Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem. E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão!” – João 10.25-28.
VIII
JESUS; TENDO UM DELIRIO AO CHORAR POR JERUSALÉM?
“Segundo calvinismo foi Deus que predestinou as pessoas a viverem separadas dele – então por que no lamento sobre Jerusalém, Jesus disse "quantas vezes eu quis salvá-los, mas vocês não quiseram!"? Ele estava delirando?Mt:23:37: Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!”
Não vamos nem ter o trabalho de interpretar corretamente o texto citado pelo irmão Cleber; isto, em protesto ao extremado mau gosto com o qual ele armou esta objeção.
Porém, precisamos de poucas linhas para demonstrar a tolice deste parágrafo. A objeção do irmão Cleber diz: Se Deus realmente predestinou as coisas, então Jesus estava delirando ao dizer que quis ajuntar os israelitas!
Ora, se é verdade que a predestinação faz o lamento de Jesus ser apenas um delírio, então, o ‘livre-arbítrio’ do homem – defendido pelo irmão Cléber – transforma Jesus num chorão frustrado: eu quis, vocês não quiseram. O ‘livre-arbítrio’ transforma Jesus num “deus” incapaz de realizar sua própria vontade! O ‘livre-arbítrio’ faz de Jesus um refém da vontade humana.
Além disso, o ‘livre-arbitrio’, usado como chave hermenêutica pelo irmão Cleber na interpretação desta passagem, transforma a Bíblia num livro falível, contraditório. Isso mesmo, pois segundo as Escrituras, os judeus rejeitaram o Messias por ter sido esta a vontade de Deus:
“Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos. Como está escrito: Deus lhes deu espírito de profundo sono, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até ao dia de hoje. E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, E em tropeço, por sua retribuição; escureçam-se-lhes os olhos para não verem, E encurvem-se-lhes continuamente as costas. Digo, pois: Porventura tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum, mas pela sua queda veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação” – Romanos 11.7-11.
IX
GRAÇA É IRRESISTÍVEL?
“Foi Deus que predestinou que Adão e Eva iriam cair em pecado, trazendo conseqüências a todos os humanos? Ou essa foi uma escolha de Adão e Eva? Se a graça de Deus é mesmo Irresistível (como alega o calvinismo) porque Deus não impediu que Adão e Eva pecassem? Dessa forma não seria preciso nem mesmo a morte e o sofrimento de Jesus”.
Objeção sem o menor sentido. O irmão pergunta: se a Graça de Deus é realmente irresistível, então porque Deus não impediu a Queda de Adão? Ora, que isso tem haver? Por acaso o Calvinismo ensina que Deus tentou impedir a Queda de Adão? Não, não ensinamos isso! Nem a Bíblia. A Bíblia ensina que Deus colocou uma grande responsabilidade sobre os ombros de Adão, e depois disso, ‘permitiu’ – uso o termo sem qualquer ligação com ‘vontade permissiva’, ok? – que o Inimigo fosse tentar o homem. Além disso, se podemos entender todo o relato literalmente, conclui-se que em nenhum momento Deus preveniu o homem da possibilidade de haver tão grande tentação; nem de tamanho embuste. Sendo o relato literal, Adão e Eva foram às presas mais fáceis que a ‘Serpente’ já encontrou em seu caminho; pois conhecimento do bem e do mal eles não possuíam. O discernimento deles baseava-se apenas em ‘faça isso’, ‘não faça aquilo’. Sem qualquer juízo próprio de valor.
A questão correta, queridos irmãos arminianos, é a seguinte: Se Deus é, de fato, Soberano sobre tudo e todos. E se Deus, de fato, NÃO QUIS que Adão fracassasse, então, como ele conseguiu fracassar?
Deus sabia de tudo? Ou não sabia? Deus controlou a Serpente? Ou a Serpente age de forma autônoma, como um poder paralelo ao de Deus; numa demonstração de dualismo? Se Deus sabia da tentação que viria, por que não avisou Adão? Se for um Deus amoroso, e que não quer o resultado da tentação, não deveria ter avisado? Mais do que isso: deveria ter impedido; assim como um bom pai impede que material pornográfico seja entregue nas mãos de seus filhos!
Ou será que Deus estava ‘aberto’ ao futuro – open teísmo; arminianismo? Afinal, ele sai procurando Adão “onde estás?”; “Quem te mostrou que estas nu?”; “Comeste tu da arvore...?”; “Por que fizeste isto?”.
Ora, vamos a arminiamos! Por que não seguem com a lógica de sua teologia até suas conseqüências ultimas? Vamos lá! Coragem!
Além do mais, dizem os arminianos que aceitam a presciência de Deus. E aqui eles apenas adiam o problema que tentam jogar no colo dos calvinistas. Segundo eles, se Deus QUIS que o pecado acontecesse, então Deus não é um bom Deus. Porém, eles precisam admitir que Deus SABIA que o pecado viria, pois SABIA que Adão seria incapaz de vencer a tentação. Também precisam admitir que Deus PERMITIU que o pecado acontecesse. Aqui eles usam o argumento da ‘vontade permissiva’ de Deus. O problema é que se Deus foi ‘permissivo’ com a existência do pecado, implica que ele NÃO QUIS INTERFERIR, e portanto, ele QUIS e DEIXOU que o desastre por ele previsto, seguisse seu curso normal... Portanto, a objeção que tentam armar contra nós, volta-se contra eles mesmos.
Na conclusão de seu artigo o irmão Cleber faz três afirmações adicionais:
”O Arminianismo é a forma mais óbvia de entender a Bíblia”.
Será mesmo? Então porque o arminianismo precisa redefinir a seu bel-prazer termos como “eleição”, “pela graça somente”, “predestinação”?
“É por isso que os calvinistas gastam tanto tempo explicando e reafirmando seus conceitos”.
Reafirmamos constantemente nossos conceitos, pois os arminianos existem em oposição a doutrina bíblica. Eles existem como “protesto” a nós (não se esqueça, irmão Cleber, de vossa Remonstrance); logo, faz-se necessário reagir aos seus ataques.
Reafirmamos constantemente nossos conceitos, pois teologia se faz por meio de conceitos; e conceitos precisam ser explicados. Da mesma forma que reafirmamos nossos conceitos sobre trindade, escatologia, eclesiologia, etc. Não existe nada de errado em reafirmar conceitos teológicos – muito pelo contrário, é absolutamente fundamental que se faça exatamente assim! Esta observação, por si só, já anula completamente sua objeção.
Reafirmamos constantemente nossos conceitos, pois acreditamos em uma teologia séria, bem feita, bem fundamentada. Os arminianos que também pensam assim sobre a teologia, devem reafirmar seus conceitos também, sempre que for necessário.
Reafirmamos constantemente nossos conceitos, pois acreditamos que a Pregação é o principal meio da graça. O homem natural é inimigo da verdade, transformando a verdade de Deus “em mentira”. Porém, é justamente pela loucura da pregação que Deus chama os eleitos, que antes de tal chamado, vivem junto aos ‘filhos da ira’. Por isso, levamos a sério a necessidade de que o homem entenda corretamente o que esta ouvindo sobre o Evangelho.
“O Arminianismo é a forma mais responsável de entender a Bíblia pois não anula a responsabilidade humana”.
O Arminianismo arrisca-se a ser (a semelhança do Open Teísmo, seu filho) uma forma blasfema de entender a Bíblia, pois anula a soberania de Deus, estabelecendo a soberania do homem.
O Calvinismo por sua vez, estabelece a total Soberania de Deus, e fundamenta responsabilidade humana no fato de que Deus é soberano sobre tudo e todos; a quem todos haveremos de prestar contas.
Paz e bem.
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