Objeção aos “versículos” arminianos.
Por Denis Monteiro
Apresentarei neste artigo uma objeção à interpretação remonstrante sobre
passagens que supostamente apoiam a doutrina da expiação ilimitada (que
Cristo morreu por toda a humanidade), e sobre a doutrina de que o
cristão pode perder a salvação, doutrinas que são apoiadas pelos
arminianos. As passagens são: João 3.16; Rm 14.15; 1Co 8.11; 2Co
5.18,19; Cl 1.19,20; 1Tm 2.5,6; 1Jo 2.2.
João 3. 16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Segundo
a interpretação arminiana desta passagem (João 3.16), dizem eles, que
está se referindo a morte de Cristo por toda a humanidade, “Porque Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16.
Mas
será que o texto está dizendo que a morte de Cristo foi para toda a
humanidade? Para esta afirmação, necessita-se de provas. Mas segundo o
texto grego diz que “deu para o que nele crê não pereça.”. Deus não deu para o mundo, e sim, para cada um que crê, ou seja, é limitado. Porque muitos não creram e nem crerão.
Como
eu posso afirmar isso? Deste modo, olhando para a doutrina da
justificação. Na doutrina da justificação vemos que somos absolvidos na
morte de Cristo e se Cristo morreu por toda a humanidade logo, todos
estão absolvidos. Mas o texto bíblico não diz isso. Em Isaías 53 diz que
“ele justificará a muitos” . Paulo aos Romanos diz que “somos justificados pela fé” são justificados justamente aqueles que Deus “de antemão conheceu…predestinou…chamou…justificou…” (Rm 8.29,30). Fé/crê (gr. pisteuo/pistis)
está justamente atrelado com a morte de Cristo “ deu seu filho
Unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça” (Jo 3.16) e com a
justificação “o homem é justificado pela fé” (Rm 3.28) “para sermos
justificados pela fé em Cristo” (Gl 2.16).
Então concluísse em
Jo 3.16 que a entrega de Cristo, como descrito em Isaías 53 foi pelas
“as nossas dores” e que foi “ferido pelas nossas transgressões e moído
pelas nossas iniquidades”. Cristo foi “moído” segundo o agrado do Senhor
Deus e que “o trabalho da sua alma ele [Jesus] verá e ficará
satisfeito” e Cristo “justificará a muitos”. João 3.16 nos mostra a
certeza de salvação, “todo aquele que nele crê não pereça”, e a expiação
limitada, limitada aos que crê (creram todos quantos estavam ordenados
para a vida eterna. Atos 13:48).
Romanos 14.15 Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu.
1 Coríntios 8.11 E pela tua ciência perecerá o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.
Olhando
estas duas passagens, sem analisar o contexto, dar-se a entender que o
crente pode perder para sempre a salvação. Mas será que esta
interpretação está correta em relação com a Escritura Sagrada? Nestas
duas igrejas os crentes “fortes” estava pecando por terem feito os
crentes “fracos” pecarem. E a relação entre as duas igrejas são a mesma,
por causa de alimento.
Analisando Romanos 14 em seu contexto, a afirmativa arminiana sobre a perda de salvação é errônea. Em Romanos 14.4 Paulo diz “Quem
és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em
pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar.”. William Hendriksen diz:
É
preciso ter em mente que “o que come’ ou “o forte” é a pessoa que está,
pela soberana graça [de] Deus e pelo poder iluminador do Espírito
Santo, de posse da percepção do significado da morte de Cristo para o
viver diário. Em melhor condição que a pessoa “fraca” ou “abstinente”,
ela apreendeu a verdade tão maravilhosamente expressa em Colossenses
2.14, a saber: que Cristo “cancelou o escrito de divida, que consistia
em ordenanças, o qual se nos opunha. Ele o removeu, pregando-o na cruz”.
A
pergunta, pois, é esta: “Quando uma pessoa, pela graça de Deus, guarda
esta lição no coração, ela renunciará a esta joia preciosa?” Por certo
ela não pode permanecer de pé por seu próprio poder. Ela, porém, possui
um Salvador que disse: “Minhas ovelhas ouvem minha voz; eu as conheço,e
elas me seguem, e eu lhes dou a vida eterna, certamente jamais
perecerão, e ninguém as arrebatará de minhas mãos” (Jo 10.27-28). Ou,
como Paulo expressa a mesma verdade aqui em Romanos 14.4: “E ele ficará
de pé, porque o Senhor é poderoso para mante-lo de pé”
Esta
explicação de Hendriksen é plausível, porque o comentarista não nega o
seu contexto. Porque se no verso 15, segundo a interpretação arminiana, o
cristão pode se perder para sempre. O versículo 4 mostra claramente que
o cristão pode até cair, mas não se perder eternamente porque é Deus
quem o sustenta. D.A. Carson explica:
A
palavra perecer (apollymi) é bem forte, normalmente com o significado de
condenação eterna (2.12; 1Co 1.18; 2Co 2.15; 2Ts 2.10). Esse pode ser o
sentido aqui, embora, se for, pode ser que Paulo não pense nisso
literalmente. Ou pode ser que “perecer” esteja sendo usado aqui com um
sentido bem mais fraco: o de “causar dano espiritual”.
Logo, segundo o auxilio de D.A. Carson e a tradução da Bíblia viva, o termo “perecer” 1Co 8.11 é “de causar um grave dano espiritual”. Então
concluísse que o termo “perecer” em Romanos tem o mesmo sentido de 1Co
8.11 pelo o fato de estarem tratando, praticamente, do mesmo assunto.
Porque se não anularemos a obra de Cristo, o qual diz o profeta Isaías: “Ele
verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu
conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as
iniquidades deles levará sobre si.” E o termo “perecer” em 1Co 8.11
não pode significar perdição eterna, porque se for assim, logo, Paulo
caiu em contradição.Veja a declaração dele em 1Co 8.1: “O qual [Deus] vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo.”.
2Corintios 5.18,19 E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação;Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.
Para os arminianos, o versículo 19 está dizendo que Cristo reconciliou “consigo o mundo” e
que este mundo, segundo a interpretação deles, é literalmente o
universo e tudo quanto nele há. Mas será que mais uma vez eles estão
correto segundo as Escrituras Sagradas? Veremos.
Paulo no versículo 14 e 15 diz: “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram.
E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”, ou
seja, Paulo está dizendo que Cristo morreu por todos e por estes que
Cristo morreu não viverá mais para si mesmo, mas para Cristo. E
continuando, o apóstolo diz no vs.17: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”. Seguindo a ordem da descrição do apóstolo, no vs.15 Paulo diz que a morte de Cristo por “todos” fez que estes “todos” não “vivam mais para si” mas
vivam para Cristo, o qual morreu e ressuscitou por eles. E estes que
por quem Cristo morreu, eles estão agora em Cristo, porque Cristo morreu
por eles, e assim, vivem para Cristo e estes são uma “nova criatura”. Agora
quem são estes que por quem Cristo morreu, por que se Cristo morreu por
toda a humanidade, como explicam os arminianos, logo toda a humanidade
não vive mais para si mesmo mas vivem para Cristo e são também uma nova
criatura?
Então, se os arminianos dizem ser este “mundo” descrito
em 2Co 5.19 a humanidade inteira, então toda a humanidade não vive mais
para si mesmo e sim vive para Cristo e nisto os adeptos da doutrina do
universalismo estão certos, que todos no fim serão salvos. Mas o
interessante é que o vs.18 faz referencia a uma pequena palavra “vos” que
significa na gramática pronome pessoal da 2.ª pessoa do plural, que se
emprega quando nos dirigimos a muitas pessoas. E no verso seguinte Paulo
faz referencia a um pronome demonstrativo “isto,é” demonstrando que este mundo somos nós, igreja. Veja a comparação: “que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo” / “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo”. Então, concluísse que este “mundo” descrito
em 2Co 5.19 somos nós, os quais Cristo reconciliou desde a fundação do
mundo, os quais não irão adorar a besta e nem o falso profeta como
descrito em Apocalipse: “Todos os habitantes da terra a adorarão,
aqueles cujos nomes desde o princípio do mundo não estão escritos no
livro da vida do Cordeiro que foi morto.” Apocalipse 13.8, porque
os que irão adorar e se perder eternamente são aqueles que por quem
Cristo não morreu e nem estavam escrito no livro da vida desde a
fundação do mundo. Porque é na morte de Cristo que somos reconciliados,
logo os que adorarão a besta são justamente aqueles que por quem Cristo
não morreu; “A besta que viste era, e já não é, e ela há de subir do
abismo e vai-se para a perdição. Os habitantes da terra, cujos nomes
não estão escritos no livro da vida desde o princípio do mundo, se
admirarão, vendo a besta que era e que já não é e que virá.” Apocalipse 17:8.
Mais uma vez, a interpretação arminiana não se enquadra com a Escritura Sagrada.
Colossenses 1.19,20 Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse. E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.
Para os arminianos, este
versículo está tratando da reconciliação universal em Cristo. Que tudo o
que há na terra e no céu, tanto homens, mulheres e anjos foram
reconciliados com Deus. Calvino em sua exposição na Carta aos
Colossenses pergunta: “Pois, que ocasião há para reconciliação, onde não há discórdia nem ódio?”, Calvino
faz esta pergunta, sobre a suposta reconciliação dos anjos que estão
nos céus. D.A. Carson faz uma breve explicação desta passagem:
Céus
e terra foram restaurados à ordem definida por Deus. O universo está
sob o domínio do seu Senhor e a paz cósmica foi restaurada. Reconciliar e
“fazer a paz” (que envolve a ideia de trazer a paz; ou seja. vencer o
mal) são expressões usadas como sinônimos para descrever a obra poderosa
que Cristo realizou na história por meio de sua morte na cruz.
Carson explica que até os principados e potestades foram “apaziguados”, e assim ele continua:
Continuam
a existir e se opõem a homens e mulheres (cf. Rm 8.38,39), mas no fim
das contas não podem prejudicar alguém que esteja em Cristo. Sua queda é
certa (1Co 15.24-28). Além disso, não se pode deduzir a partir desse
versículo que todos os homens e mulheres ímpios aceitaram livremente a
paz alcançada pela a morte de Cristo. Mesmo que no final todo joelho se
dobre diante de Jesus e o reconheça como Senhor (Fp 2.10,11), não
devemos supor que todos ficarão felizes com isso. Sugerir que o v.20
aponta para uma reconciliação universal, na qual todas as pessoas
acabarão por desfrutar as bênçãos da salvação, não tem nenhum
fundamento.
Mas será que esta reconciliação com todas as
coisa, tanto as que estão na terra, como as que estão no céu tem a ver
com toda a humanidade perdida? Ou será que esta reconciliação com todas
as coisas tem a ver com os versículos 13 e 14? O qual diz: O qual
nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do
Filho do seu amor; Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a
remissão dos pecados. Esta reconciliação foi dada no ato da morte
de Cristo, Ele nos tirou do lado inimigo, o qual é o inimigo de Deus, e
nos fez sua propriedade. Mas se o arminiano pensa que esta reconciliação
foi a toda humanidade, então todos são amigos de Deus, e isto irá
contradizer o que o próprio apóstolo Paulo disse em Romanos 1.18 “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens…”.
Logo, entende-se que esta reconciliação foi feita aos eleitos, porque
no cap. 2.13ss Paulo faz referencia ao cap. 1.19,20 mas explicando mais
claramente para que não haja nenhuma má interpretação. Segue-se assim:
Colossenses 2.13 E,
quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa
carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas,
Paulo
é claro em dizer que estávamos mortos, separados de Deus. E não tem
como fazer uma reconciliação com alguém morto. Então, Paulo diz que
Cristo nos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas. A mesma referência que Paulo faz em 1.13 “O
qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino
do Filho do seu amor; Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber,
a remissão dos pecados”
Colossenses 2.14,15 Havendo
riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de
alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a
na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs
publicamente e deles triunfou em si mesmo.
Paulo está dizendo que Cristo riscou o escrito de divida que era contra nós cravando-a na cruz e segundo Calvino: “Paulo, contudo, diz que ficaram desarmados [os demônios], de modo que já não podem apresentar nada contra nós, sendo assim destruída a atestação de nossa culpa.”. A mesma referencia que Paulo faz em 1.21,22 “Vós,
sendo outrora alienados e inimigos no vosso entendimento pelas vossas
más obras, contudo agora vos reconciliou no corpo da sua carne pela sua
morte, para vos apresentar santos e sem defeito e inculpáveis perante
ele.” (Sociedade Bíblica Britânica).
Então temos que pensar
um pouco. Se Cristo reconciliou todas as coisas, como dizem os
arminianos, todos os seres humanos existentes na terra. Então as ofensas
deles, todas as ofensas (2.13), estão perdoadas. Será, então, que a
doutrina universalista está correta, todos serão salvos? Logo, não
podemos fazer esta afirmativa porque o próprio apóstolo diz que nos “nos reconciliou no corpo da sua carne [na de Cristo] pela sua morte, para vos apresentar santos e sem defeito e inculpáveis perante ele.” (Colossenses 1.22). Paulo está dizendo que a reconciliação foi dada a nós e somos nós que seremos apresentados diante de Deus “santos e sem defeito e inculpáveis perante ele”.
1Timóteo 2.4-6 Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.
Segundo a
interpretação arminiana, esta passagem é uma pedra no sapato
calvinista, ou o tendão de Aquiles do calvinista. Porque para eles a
declaração do apóstolo Paulo é que Deus deseja que todos os homens, sem
exceção, sejam salvos. E que Cristo também morreu por todos os homens,
sem exceção. Mas será que mais um vez a interpretação remonstrante está
correta? Veremos.
Mas antes eu tenho que fazer uma pergunta: “Cristo
morreu por todo ser humano individualmente, inclusive por Judas e o
Anticristo, expiando realmente a culpa e pagando a dívida de todos e de
cada um?”
Mas como de praxe, nós reformadores temos que
explicar um pouco do contexto da passagem para que tenhamos uma melhor
interpretação da mesma. Paulo admoesta aos irmãos da igreja que cada um
deles devem fazer orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens;
Pelos
reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida
quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade; (1 Timóteo
2:1-2). Paulo vem alertando os irmão para que não hajam entre eles um
exclusivismo. Ou seja, Paulo estava dizendo que era para fazer orações
não só pelos irmãos mas por todos os tipos de pessoas. Não só por irmãos
em Cristo, mas pelos reis e pelos que estão elevados em dignidade. E nisto segue-se a ordem e Paulo diz que “todos os homens se salvem” e que houve “redenção por todos”. Ou seja, oração por todos, a salvação de todos e que Cristo morreu por todos. Mas será que o termo “todos” tem a ver com toda a humanidade, em sua totalidade?
O pronome “todos” dito
pelo o apóstolo não quer dizer “por todos os seres humanos”, mas sim
“por todos os tipos de pessoas” de qualquer que seja a sua posição na
vida. Porque, analisando o pronome grego, “todos” (gr. panton) significa “todos os tipos”, “todas as espécies” o mesmo pronome grego descrito em 6.10 “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males…”(Almeida Corrigida e Revisada Fiel). Então
seguindo o texto grego, Deus em sua redenção e eleição foi para todos
os tipos de homens (Mt 20.28; Mc 14.24). E isto é explicado em
Apocalipse 5.9 “compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação”.
Ou seja, “Cristo comprou para o Senhor Deus, homens de todos os tipos
sem exceção. Existem homens redimidos e eleitos em todas as tribos,
língua, povo e nação” (paráfrase minha).
Mais um vez, analisando as Escrituras Sagrada, a interpretação arminiana não condiz com a hermenêutica bíblica.
O ultimo texto a ser analisado é:
1 João 2.2 E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.
Segundo
a interpretação arminiana/ católica, desta passagem, Cristo haveria
morrido por toda a humanidade. Eles dizem que esta frase: “pelos de todo o mundo”; se refere a toda a humanidade. Mas será que esta interpretação está correta? Vamos analisar.
Primeiro,
quero fazer uma comparação com uma passagem no Evangelho do mesmo
escritor desta epistola. Se encontra em João 11.51-52 : Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que
Jesus devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também
para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos.;
(e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo. 1Jo
2.2). Veja a semelhança da narrativa de João em seu evangelho e na
epistola. Mas você deve estar se perguntando: “Ela, a epistola, não foi
escrita só para gentios?” João inicia a sua carta com os seguintes
dizeres: O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida
(Porque
a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos
anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada);
O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo.
1 João 1:1-3. Parece que João está escrevendo a pessoas que estavam
desde o inicio com ele, pessoas estas que tinham visto a Cristo, tocado
nEle e ouvido palavras de dEle. Logo, João estava escrevendo
primeiramente para Judeus , o qual era coluna da igreja “judia”: “Reconhecendo
a graça que me fora concedida, Tiago, Pedro e João, tidos como colunas,
estenderam a mão direita a mim e a Barnabé em sinal de comunhão. Eles
concordaram em que devíamos nos dirigir aos gentios, e eles, aos circuncisos.” Gálatas 2:9.
Então,
segue-se que a comparação da passagem da primeira epistola é clara com a
passagem no Evangelho de João que Cristo não só morreu pelos os judeus
convertidos, mas também pelos os outros que andam dispersos que não são deste aprisco, que serão agregadas (Jo 10.16).
A segunda analise que eu quero fazer é da palavra “mundo”. Vimos anteriormente que Cristo não morreu só pelos judeus convertidos mas pelos outros que serão reunidos em um corpo os filhos de Deus que andam dispersos. Agora veremos sobre esta colocação da palavra “mundo”. Louis Berkhof explica:
“A
palavra mundo algumas vezes se usa para indicar que o particularismo do
Antigo Testamento pertence ao passado, e que abriu caminho ao
universalismo do Novo Testamento”
O reverendo Augustus Nicodemus faz uma declaração quanto a esta palavra, mundo:
“Entretanto,
não podemos aceitar qualquer solução que minimize a eficácia do
sacrifício de Jesus ou que exclua o aspecto de abrangência universal do
que ele fez, ainda que não o compreendamos inteiramente – rejeitamos
obviamente o universalismo, que declara a salvação de cada homem e
mulher que já viveu. Assim, provavelmente deveríamos preferir a
abordagem reformada tradicional, que remonta a Agostinho, e afira que
Cristo morreu pelo mundo apenas potencialmente, enquanto que,
eficazmente, somente pelo o seu povo, os eleitos. E ainda, dentro dessa
mesma abordagem, devemos procurar entender as palavras que apontam para
uma extensão universal da obra de Cristo dentro de seus respectivos
contextos. Assim, aqui em 2.2, não é impossível que João quis
dizer que Cristo morreu não somente por ele e pelo os crentes a quem
escreveu essa carta, mas também por outras pessoas de todas as nações do
mundo, ou pessoas de todas as classes sociais.”
Então não podemos dizer que Cristo morreu só pelo o mundo
daquela época, mas por pessoas de todos os tipos de todas as épocas,
pessoas estas, que foram agregadas ao rebanho de Cristo. Mas será que
esta palavra mundo, referindo-se a morte de Cristo, quer
referir-se a expiação por toda a humanidade? A palavra mundo, nem sempre
refere-se a toda a humanidade. Porque se for, então o evangelho já foi
anunciado a toda a humanidade, segundo a narrativa de Paulo em Romanos
1.8 “Primeiramente dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé.” e em Colossenses Paulo diz que a verdade do evangelho “chegou a vós, como também está em todo o mundo;” Colossenses 1.5,6.
Para
finalizar, quero fazer uma comparação com as ações de nossa vida.
Quando estamos para sair para algum lugar com a nossa família, e a mesma
demora para sair nós a chamamos, e quase sempre chamamos assim: “Todo mundo pode entrar no carro, para nós irmos embora?” É
claramente que não estamos chamando toda a humanidade para entrar no
carro e ir embora, mas que estamos chamando um certo grupo de pessoas
para entrar no carro e partir. Na tradução da Bíblia Viva quando Jesus
prega para a mulher samaritana lhe mostrando quem poderia e pode matar a
sede de um miserável pecador, diz a Palavra de Deus que ela “deixou o seu cântaro ao lado do poço, voltou à aldeia e disse a todo mundo.” (João 4.28 – Bíblia Viva), e é claro que ela não anunciou sobre Jesus Cristo a toda a humanidade e sim “àqueles homens” (Jo
4.28 – Almeida Corrigida e Revisada Fiel). Logo, este texto de 1 João
2.2 não apoia a doutrina de que Cristo morreu por toda a humanidade,
porque em outras passagens vemos declarações de que Cristo morreu por
sua igreja, por suas ovelhas:
Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, Efésios 5:25
Mas
Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo
nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados
pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, sendo
inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito
mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Romanos 5:8-10
Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. João 10:11
Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas. João 10:15
Pois, da mesma forma que o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, o Filho também dá vida a quem ele quer dá-la. João 5:21 – NVI
Mas
se Cristo morreu por toda a humanidade, por que Cristo orou por aqueles
que o Pai Soberano deste a Cristo e não por toda a humanidade? “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” João 17:9
Nota:
Comentário Bíblico Vida Nova, D.A Carson; R.T France; J.A. Motyer; G.J. Wenham. – São Paulo: Vida Nova, 2009
Bíblia de Genebra, Ed. Cultura Cristã.
Romanos - João Calvino. - 2º Edição – São Paulo: Parakletos, 2001.
Comentário do Novo Testamento Romanos. William Hendriksen, São Paulo: Cultura Cristã.
1 Coríntios – João Calvino. – 2º ed. – São Bernardo do Campo, SP: Edições Parakletos, 2003
Série Interpretando o Novo Testamento: Primeira Carta de João. – Augustus Nicodemus Lopes. – São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
Fonte: Teologia e Apologética
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