quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A ordenação feminina: motivos e consequências


Um dos assuntos indigestos para a igreja contemporânea, no que tange discussão de opiniões e o afastamento de um procedimento bíblico, a meu ver, é a questão da ordenação feminina ao pastorado. A justificativa da não-observância do mandamento de que a mulher não ocupe o cargo de pastor geralmente segue as seguintes linhas: 1-Paulo ordenou isso em consonância com a cultura para a qual escrevia e 2-a mulher é tão capaz quanto o homem de exercer o ministério.

A primeira linha de raciocínio ignora que Paulo está, sempre, em suas cartas, pregando justamente contra a cultura das pessoas que vão lê-lo. No caso de Ef 5:25, por exemplo, ele ordena um amor sacrificial pela esposa, algo que um grego jamais pensaria, posto que o amor era algo possível somente entre homens. No caso do véu, como em I Co 11:2-16, Paulo ordena o seu uso, mas ressalta que essa não era a prática de outras igrejas pelo mundo conhecido (I Co 11:16). No caso da proibição da ordenação feminina, porém, não há um motivo cultural por trás; se houvesse, Paulo mesmo o apontaria.

A verdadeira questão de por que a mulher não deve se tornar pastora, no meu entender, reside na segunda linha de raciocínio. É verdade que há mulheres muito capacitadas ao ministério; há decerto mulheres piedosas que conhecem profundamente a Palavra de Deus, que são sensíveis às necessidades do rebanho de Deus. Mas nós não podemos nos esquecer de que o pastorado não é somente um cargo ou carreira: é um dom do Espírito, que Ele dá a quem Lhe apraz.

No momento em que passamos a pensar a ordenação pastoral como advinda de mérito, de habilidades e capacidades adquiridas, e não na ordenação espiritual, então aparentemente não deveria ser considerado problema que mulheres se tornassem pastoras. Mas o pastorado, assim como qualquer outro dom espiritual, tem a ver com a direção de Deus, e não com as capacidades. Paulo reconhece isso acerca do seu próprio apostolado várias vezes (ex: I Co 3:4-7, II Co 4:7, Gl 2:20), isto é, que o ministério que Deus nos dá depende inteiramente dEle, do Seu poder, do Seu agir.
A proibição bíblica da ordenação feminina tem por objetivo lembrar tanto a homens quanto a mulheres que o mais importante é o dom que Deus dá. Homens e mulheres possuem e podem adquirir habilidades e capacidade de liderar o rebanho, considerando as capacidades naturais que são exigidas, bem como o conhecimento. Mas o dom espiritual é ministrado por Deus, e é a dom que o ministro do Evangelho deve se fiar, ou melhor, ele deve se fiar em Deus, depender dEle, e não de suas capacidades adquiridas, por mais que elas sejam requisitadas ao serviço.

O fato de as mulheres não poderem ocupar essa posição humilha-as, mas também humilha aos homens. Não conhecemos nós, por acaso, mulheres piedosas e santas? Não conhecemos mulheres que poderiam cuidar do rebanho? Não conhecemos mulheres sensíveis a Deus, com um conhecimento maior que muitos pastores? É evidente que conhecemos. Isso nos lembra que o ministério é graça de Deus, e não premiação pelo nosso esforço. Isso nos leva a buscar o dom que vem de Deus, e não dependermos das nossas próprias capacidades. Impede-nos de olharmos para o que já alcançamos e ficarmos satisfeitos conosco mesmo, mas damos glórias a Deus e reconhecermos que não somos nada. A proibição da ordenação feminina ao pastorado tem por objetivo humilhar homens e mulheres a fim de que reconheçam sua total dependência nos dons que Deus dá aos homens.

Quanto á prática da ordenação feminina, o que a igreja tem colhido com isso? Igrejas que permitiram no passado a ordenação feminina, que tinham um entendimento de que o pastorado advém de capacidade, o que aconteceu? Não é por causa disso que vemos um degladio de egos entre pastores e pastores? Se bem que, por causa dessa mesma luta entre eles, uns já não são mais pastores: são bispos, bispas, apóstolos, e recentemente um paipóstolo [sic] apareceu. Quando o ministério é entendido como resultado de esforço e mérito, a cultura desse mesmo mérito exige que haja promoções para diferenciar um pastor com mais méritos que outro. Não é de se espantar que as mesmas igrejas que aprovam ordenação feminina sejam as mesmas que agora advogam ministério apostólico.

Que a proibição da ordenação feminina seja obedecida, pelo menos por nós, e que ela nos humilhe completamente, para que nos confiemos somente no dom que está em Cristo Jesus. Amém!


Daniel Campos

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