“Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne? Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na verdade, foram em vão. Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé? É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão” (Gálatas 3:1-9).
1. O que é o evangelho.
O evangelho é Cristo crucificado, sua obra consumada na cruz. E pregar o evangelho é apresentar Cristo publicamente como crucificado. O evangelho não é, antes de mais nada, as boas novas de um nenê na manjedoura, de um jovem numa banca de carpinteiro, de um pregador nos campos da Galiléia, ou mesmo de uma sepultura vazia. O evangelho trata de Cristo na cruz. O evangelho só é pregado quando Cristo é “publicamente exposto na sua cruz”. Esse verbo, prographein, significa “exibir ou representar publicamente, proclamar ou expor em um cartaz” (Arndt-Gingrich). Era usado em referência a editais, leis e notícias que eram expostos em algum lugar público para que fossem lidos, e também com referência a quadros e retratos.
Isso significa que, quando pregamos o evangelho, temos de nos referir a um acontecimento (a morte de Cristo na cruz), expor uma doutrina (o particípio perfeito “crucificado” indicando os efeitos permanentes da obra consumada de Cristo), e fazê-lo publicamente, ousadamente, vivamente, para que as pessoas vejam como se o testemunhassem com os seus próprios olhos. Isso é o que alguns autores têm chamado de elemento existencial da pregação. Fazemos mais do que descrever a cruz como um acontecimento do primeiro século. Na realidade descrevemos Cristo crucificado diante dos olhos de nossos contemporâneos, de modo que sejam confrontados com o Cristo crucificado hoje e percebam que podem receber hoje a salvação de Deus vinda da cruz.
2. O que o evangelho oferece.
Com base na cruz de Cristo, o evangelho oferece uma grande bênção. Versículo 8: “Em tu serão abençoados todos os povos”. O que é isso? É uma bênção dupla. A primeira parte é justificação (versículo e a segunda é o dom do Espírito (versículos 2-5). É com esses dois dons que Deus abençoa a todos os que estão em Cristo. Ele nos justifica, aceitando-nos como justos diante dele, e coloca o seu Espírito em nós. E ainda mais, ele nunca oferece um dom sem dar o outro. Todos os que recebem o Espírito são justificados, e todos os que são justificados recebem o Espírito. É importante observar esta dupla bênção inicial, uma vez que atualmente muita gente ensina uma doutrina de salvação em dois estágios, que primeiros somos justificados e só posteriormente recebemos o Espírito.
3. O que o evangelho exige.
O evangelho oferece bênçãos; e nós, o que devemos fazer para recebê-las? A resposta adequada é “nada”! Não temos de fazer nada. Temos apenas de crer. Nossa reação não consiste nas “obras da lei”, mas em ouvir a “pregação da fé”, isto é, não em obedecer a lei, mas em crer no evangelho. Obedecer é tentar fazer a obra da salvação pessoalmente, enquanto que crer é deixar que Cristo seja o nosso Salvador e descansar em sua obra consumada. Assim Paulo enfatiza que recebemos o Espírito pela fé (versículos 2 e 5) e que somos justificados pela fé (versículo 8). Realmente, a palavra “fé” e o verbo “crer” aparecem seis vezes neste pequeno parágrafo (versículos 1-9).
Assim é o verdadeiro evangelho, o evangelho do Antigo e do Novo Testamento, o evangelho que o próprio Deus começou a pregar a Abraão (versículo e que o apóstolo Paulo continuou pregando no seu tempo. É a apresentação, diante dos olhos dos homens, de Jesus Cristo como crucificado. Nessa base tanto a justificação como o dom do Espírito são oferecidos. E se exige apenas a fé.
STOTT, John. A Mensagem de Gálatas, Editora ABU; pp. 69-71.
Nenhum comentário:
Postar um comentário