terça-feira, 26 de outubro de 2010

Deu no Blog 5 Calvinistas

Graça e paz!

Eu lendo o Blog 5 Calvinistas vi esta bela mensagem e publico para nossa edificação. Pb Missº Veronilton Paz

As igrejas têm o direito de falar!

As eleições de 2010 certamente marcarão uma mudança na forma como as igrejas evangélicas participarão da política brasileira de agora em diante. Até agora, os evangélicos eram mais lembrados pela eleição de deputados e pouco considerados em eleições majoritárias (exceto no Rio de Janeiro, onde Anthony Garotinho e Marcelo Crivella conseguiram ser eleitos governador e senador, respectivamente). Mas em 2010 foi a primeira vez em que os evangélicos ocuparam um papel de destaque nas eleições presidenciais, inclusive colocando temas religiosos na campanha, como o aborto.

Mas, até onde a Igreja pode interferir em uma eleição? Se há uma separação entre a Igreja e o Estado, ela pode dizer o que o Estado deve fazer? A Igreja pode indicar algum candidato ou não recomendar o voto em alguém? Todas estas perguntas foram levantadas em 2010 e causam polêmica na sociedade. Respondê-las pode parecer irrelevante para algumas pessoas...mas a forma como nos posicionamos diante destas questões diz muito sobre como nós enxergamos qual o verdadeiro papel dos cristãos neste mundo.
A forma como você crê determina a forma como você vê e vive
O "não-posicionamento"
A postura mais aceita na sociedade é a do não-posicionamento. Os fiéis, individualmente, podem se posicionar, mas as igrejas não. É o ponto de vista que foi defendido por Frei Betto, em uma entrevista para a Folha de São Paulo em 23/10/2010:
FOLHA: Como o sr. vê a participação direta de bispos, padres e pastores na campanha, pregando contra ou a favor de um ou outro candidato?

FREI BETTO: Eu defendo o direito de que qualquer cidadão brasileiro, seja bispo, seja até o papa, tenha a sua posição e a manifeste. O que considero um abuso é, em nome de uma instituição como a Igreja, como a CNBB, alguém se posicionar tentando direcionar o eleitorado. Eu, por exemplo, posso, como Frei Betto, manifestar a minha preferência eleitoral. Mas não posso, como a Ordem Dominicana à qual eu pertenço, dizer uma palavra sobre isso. Considero um abuso.
Frei Betto vai além. Para ele, a discussão de temas religiosos é um oportunismo, algo que não é tão importante para o país:
FOLHA: Pelo que se supõe, já que não há muita clareza nos candidatos, nem Dilma nem Serra são favoráveis ao aborto em si, mas ambos parecem abertos a discutir sua descriminalização. Por que é tão difícil para ambos debater esse tema com clareza e honestidade?

FREI BETTO: Porque é um tema que os surpreende. Não é um tema fundamental numa campanha presidencial. É um vírus oportunista, numa campanha em que você tem que discutir a infraestutura do país, os programas sociais, a questão energética, a preservação ambiental. Entendo que eles se sintam constrangidos a ter que se calar diante dos temas importantes para a nação brasileira e entrar num viés que infelizmente está plantando no Brasil as sementes de um possível fundamentalismo religioso.
Embora Frei Betto seja católico, seu ponto de vista mostra um desprezo muito grande pela religião. As instituições religiosas não devem opinar e sua agenda não é importante. Quando a sociedade vai discutir valores ou questões éticas, atendendo ao apelo das igrejas, ela se desvia do "principal" e as igrejas se tornam "fundamentalistas".

Quadro de Giovanni Fattori mostrando João Batista repreendendo Herodes
O exemplo dos profetas
A melhor resposta que pode ser dada ao frei está na figura dos profetas. Ao longo de todo o Antigo Testamento, os profetas repreenderam reis e poderosos, denunciaram crimes e colocaram temas religiosos na agenda política de Israel. Quando faziam isso, os profetas não falavam apenas em seu próprio nome...mas sim no nome de Deus. A fala deles era, portanto, mais do que um posicionamento institucional...era revestida da autoridade do próprio Deus e deveria ser observada pelo povo.

Um exemplo interessante é a questão das leis. Dentro de um ponto de vista laico ou extremamente legalista (no sentido jurídico), não cabe ã Igreja julgar leis, e sim os seus fiéis. Mas não era o que pensava Isaías:
Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos! (Isaías 10:1-2)
O "ai" vai para os legisladores, mas as leis são avaliadas por Deus. O profeta se levanta, por exemplo, contra as leis que promovem injustiça contra os pobres, os órfãos e as viúvas. O profeta Amós proclama o juízo de Deus por causa de um imposto cobrado sobre o trigo:
Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis tributo de trigo, não habitareis nas casas de pedras lavradas que tendes edificado; nem bebereis do vinho das vides desejáveis que tendes plantado. (Amós 5:11)
Até mesmo as alianças feitas com outros países eram criticadas pelos profetas:
Depois disto, Josafá, rei de Judá, se aliou com Acazias, rei de Israel, que procedeu iniquamente. Aliou-se com ele, para fazerem navios que fossem a Társis; e fizeram os navios em Eziom-Geber. Porém Eliézer, filho de Dodavá, de Maressa, profetizou contra Josafá, dizendo: Porquanto te aliaste com Acazias, o SENHOR destruiu as tuas obras. E os navios se quebraram e não puderam ir a Társis. (2 Crônicas 20:25-27)
Estes textos mostram que a Igreja pode sim se posicionar, biblicamente, sobre a agenda política do país. A Igreja pode denunciar os pecados dos governantes, as leis injustas, os impostos opressivos e até mesmo sobre política externa. Não é preciso ficar calado e deixar que o debate seja feito por outros segmentos sociais: Deus também tem algo a dizer sobre estes assuntos e cabe ao Seu povo refletir a voz divina. O mesmo pode ser dito sobre autoridades. A base do ensino bíblico é a de que as autoridades, mesmo as ímpias (como era o Império Romano nos dias dos apóstolos) devem ser respeitadas:
Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. (Romanos 13:1)
No entanto, em circunstâncias específicas, alguns profetas foram usados por Deus até mesmo para dar golpes de Estado e derrubar governantes impiedosos:
Então, o profeta Eliseu chamou um dos discípulos dos profetas e lhe disse: Cinge os lombos, leva contigo este vaso de azeite e vai-te a Ramote-Gileade; em lá chegando, vê onde está Jeú, filho de Josafá, filho de Ninsi; entra, e faze-o levantar-se do meio de seus irmãos, e leva-o à câmara interior. Toma o vaso de azeite, derrama-lho sobre a cabeça e dize: Assim diz o SENHOR: Ungi-te rei sobre Israel. Então, abre a porta, foge e não te detenhas. Foi, pois, o moço, o jovem profeta, a Ramote-Gileade. Entrando ele, eis que os capitães do exército estavam assentados; ele disse: Capitão, tenho mensagem que te dizer. Perguntou-lhe Jeú: A qual de todos nós? Respondeu-lhe ele: A ti, capitão! Então, se levantou Jeú e entrou na casa; o jovem derramou-lhe o azeite sobre a cabeça e lhe disse: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Ungi-te rei sobre o povo do SENHOR, sobre Israel. Ferirás a casa de Acabe, teu senhor, para que eu vingue da mão de Jezabel o sangue de meus servos, os profetas, e o sangue de todos os servos do SENHOR. Toda a casa de Acabe perecerá; exterminarei de Acabe todos do sexo masculino, quer escravo, quer livre, em Israel. Porque farei à casa de Acabe como à casa de Jeroboão, filho de Nebate, e como à casa de Baasa, filho de Aías. Os cães devorarão Jezabel no campo de Jezreel; não haverá quem a enterre. Dito isto, abriu a porta e fugiu. (2 Reis 9:1-10)
Logo, o respeito às autoridades não anula o dever cristão de criticá-las quando elas erram (oposição) e até mesmo de derrubá-las em situações excepcionais (o caso de Jeú e Acabe não é o único). Desta maneira, dependendo da circunstância, as igrejas podem sim se colocar contra candidatos ou autoridades que defendam pontos de vista opostos aos bíblicos.

E isso vale até mesmo para questões de "foro íntimo". No Novo Testamento, João Batista tornou-se inimigo do rei Herodes porque denunciava os pecados reais, especialmente as suas relações com a sua cunhada Herodias. E, por causa disso, o profeta acabou virando mártir:
Por aquele tempo, ouviu o tetrarca Herodes a fama de Jesus e disse aos que o serviam: Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos, e, por isso, nele operam forças miraculosas. Porque Herodes, havendo prendido e atado a João, o metera no cárcere, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão; pois João lhe dizia: Não te é lícito possuí-la. E, querendo matá-lo, temia o povo, porque o tinham como profeta. Ora, tendo chegado o dia natalício de Herodes, dançou a filha de Herodias diante de todos e agradou a Herodes. Pelo que prometeu, com juramento, dar-lhe o que pedisse. Então, ela, instigada por sua mãe, disse: Dá-me, aqui, num prato, a cabeça de João Batista. Entristeceu-se o rei, mas, por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, determinou que lha dessem; e deu ordens e decapitou a João no cárcere. Foi trazida a cabeça num prato e dada à jovem, que a levou a sua mãe. Então, vieram os seus discípulos, levaram o corpo e o sepultaram; depois, foram e o anunciaram a Jesus. (Mateus 14:1-12)
A verdade é que não há um assunto político que deva ser um tabu para as igrejas, desde que exista uma base bíblica clara e consistente para tratar a matéria.

Os limites
Contudo, isso não significa que a Igreja deva assumir o papel do Estado e comece, ela mesma, a legislar e julgar as pessoas. A teocracia não é o caminho, como já falei em outro post. A Igreja deve influenciar, nunca impor. E esta influência deve acontecer em cima de bases e princípios bíblicos claros e estabelecidos. Nos assuntos em que a Bíblia se cala, a Igreja deve se calar também. Naqueles assuntos onde as Escrituras não são claras, os posicionamentos devem ser cautelosos.

O verdadeiro limite para a liberdade de pensamento e opinião política dentro da verdadeira Igreja de Cristo (na sociedade a liberdade deve ser ampla) deveria ser este: a Bíblia. Naqueles assuntos onde o ensino bíblico é claro (como, por exemplo, no papel dos governos), nem os cristãos e nem a instituição Igreja deveriam ter vergonha de se posicionar. E se os assuntos são mencionados na Escritura, a Palavra de Deus, não é um frei quem vai desconsiderá-los como sendo sem importância.


A Bíblia: a única regra de fé e prática do protestante e também de suas instituições
Contudo, isso não significa que a instituição Igreja também deva ir para o outro lado e apoiar formalmente candidatos, especialmente quando esse apoio é dado como moeda de troca e não em cima de um programa de governo. Mas, dependendo da circunstância e das opções que estão em jogo, apoiar algum candidato também não é um erro. Aliás, em alguns casos, a omissão é que é o pecado.

Que circunstâncias justificariam as excepcionalidades? Governos ou candidatos que ameacem a liberdade religiosa e a pregação do Evangelho, com certeza devem ser combatidos. Fora isso, entendo que é preciso uma discussão maior por parte de todo o povo de Deus para uma melhor definição.

Se este é o caso das eleições de 2010? Ao meu ver, sim. Embora as igrejas evangélicas históricas não tenham se posicionado, vários pastores e personalidades protestantes têm declarado abertamente o seu voto. Para alguns, como Frei Betto, isso é um oportunismo. Mas não creio que seja este o caso de homens como Solano Portela e Geremias do Couto. Quanto ao meu posicionamento, ele pode ser conferido clicando aqui.

Que possamos aprender, especialmente os reformados, a pautarmos as nossas discussões e decisões políticas pelos ensinos da Escritura Sagrada e não pela opinião dos teólogos "da moda". Que a Bíblia seja não apenas regra de fé, mas também de prática...inclusive na política.

Graça e paz do Senhor,

Rev. Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

P.S: Já está avisado no blog, mas não custa repetir que este post reflete um ponto de vista pessoal.

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