Por Marcelo Lemos
Nosso leitor, André, pergunta sobre o modo como os calvinistas interpretam S. Mateus 24. 12, 13. A pergunta se justifica, pois a primeira vista, tem se a impressão de que tal texto nega um dos chamados “Cinco Pontos do Calvinismo”, a saber, a Perseverança dos Santos. Quando falamos em 'perseverança dos santos', estamos dizendo que o pecador, uma vez salvo, não tornará a se perder, antes, será eternamente preservado por Deus. Aí entra a dúvida nosso irmão André, uma vez que o texto bíblico diz “aquele que perseverar até o fim, será salvo”. Realmente parece haver um contraste entre a fé calvinista e o ensino das Escrituras. Veremos se é realmente assim.
Analisando o contexto.
A primeira coisa que devemos observar é o contexto da afirmação feita por Jesus Cristo. Estamos no capítulo 24 de S. Mateus, onde Jesus fala da Destruição de Jerusalém, por volta do ano 70 d.C. É importante compreender isso, para que não se pegue literalmente o que é dito aqui, e aplique a todos os crentes de todas as eras.
Em síntese, o objetivo de Cristo aqui é mostrar aos seus discípulos que o fim de Jerusalém estava próximo, e que eles deveriam tomar certas precauções a fim de escaparem do cerco, e não serem enganados pelos falsos profetas que viriam prometendo salvação aos judeus sitiados. Todas as profecias de Cristo, aqui em Mateus 24, se realizaram, como se pode verificar, por exemplo, lendo as obras de Flávio Josepho, um judeu que estava em Jerusalém quando a tragédia atingiu a cidade.
A interpretação aqui é semelhante a que podemos aplicar as cartas que S. João enviou ás Sete Igrejas da Asia, onde lemos: “Ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as nações, e com vara de ferro as regerá” (Apoc. 2.26). O problema é que interpretamos tais promessas como referencia a algo que ainda não aconteceu, quando eles tinham em mente o Juízo de Deus contra Jerusalém, e o triunfo histórico do Evangelho. Jesus tem mente, no Livro do Apocalipse, e em Mateus 24, orientar seus discípulos sobre o fim da Era Judaica. Era o Reino de Deus sendo entregue a Igreja da Nova Aliança:
“Portanto, eu vos digo que o Reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que de os seus frutos. E, quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-a; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó!” (S. MATEUS 21.43,44).
Este é o contexto de Mateus 24: a Destruição de Jerusalém, de modo que a fé em Cristo era o único meio de escapar de tal juízo. Por isso, alguns poucos anos antes da Destruição de 70, S. Paulo escreveu sobre os judeus: “Porque vós, irmãos, haveis sido feitos imitadores das igrejas de Deus que na Judeia estão em Jesus Cristo; porquanto também padecestes de vossos próprios concidadãos o mesmo que os judeus lhes fizeram a eles. Os quais também mataram o Senhor Jesus Cristo e aos seus próprios profetas, e nos tem perseguido; e não agradam a Deus, e são contrários a todos os homens, e nos impedem de pregar aos gentios as palavras da salvação, a fim de encherem sempre a medida de seus pecados; mas a ira de Deus caiu sobre eles até ao extremo!” (I Tess. 2.14-16). O juízo contra Jerusalém já se tornava realidade, mesmo antes de 70, pois cerca de 30.000 judeus foram mortos em um tumulto durante a Páscoa do ano 48. Era apenas o “princípio de dores”, o começo do “fim”.
É desta salvação que fala Mateus 24, o escape da Grande Tribulação contra Jerusalém. Entre a Ressurreição de Cristo e a vinda de Cristo em juízo contra Jerusalém, na Grande Tribulação, haveria vários “sinais do fim”; a saber:
a) Falsos messias: “Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos” (v.5). De fato aconteceu, quando Jerusalém foi cercada, os judeus recusaram se render, confiando em muitos profetas que garantiam que Deus não os havia abandonado... Mas, os cristãos, sabiam que isso era mentira, que deviam fugir para escapar, pois foram alertados por Cristo (S. MATEUS 24.15-18).
b) Guerras e ameaças de guerras: “E ouvireis de guerras e rumores de guerras”(v.6,7). Vide comentário acima sobre I Tess, 2.14-16.
c) Desastres naturais: “fome, pestes, terremotos” (v.7,8).
d) Perseguição aos cristãos: “vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome” (v.9). Vide, novamente, I Tess, 2.14-16.
e) Apostasia: “Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão. E surgirão falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até o fim será salvo” (vv. 10.13).
O contexto continua sendo Israel e seu povo. Jesus está dizendo que eles abandonariam a fé, até mesmo aqueles que nominalmente diziam acreditar no Messias. Estes não perseverariam, e cairiam juntamente com Jerusalém, a Grande Prostituta. Entretanto, estes apostadas jamais foram verdadeiros discípulos de Jesus, pois quanto a estes, a promessa de Cristo é: “E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos eleitos serão abreviados aqueles dias... Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (vv. 22,24).
Concluindo
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