terça-feira, 20 de março de 2012

PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO! É BÍBLICO? (parte 1)

1 - INTRODUÇÃO

  A palavra ‘adorar’ em inglês é derivada do anglo-saxão ‘woerthscipe’ que significa ‘digno’. Essa palavra denota a dignidade de um individuo para receber honra especial de acordo com sua dignidade.

Se esta é a idéia base da adoração, em seu uso mais amplo, ela cresce quando a aplicamos a relação, criador-criatura. Da natureza desse termo, então a criatura deve honrar e reverenciar seu criador como Ele sendo, verdadeiramente, o seu Criador, seu Senhor e seu Deus. A verdadeira adoração é oriunda da atitude do coração e da mente da criatura direcionada a seu Criador. Isso é o que Jesus quis dizer quando falou da adoração em Espírito e em verdade (Jo. 4: 28). Esta adoração espiritual pode se expressar através de varias ações externas (litúrgicas). Contudo, ela perde o seu sentido sem a intenção interna do coração.
 Falar da Adoração Parece ser uma tarefa desafiadora, instigante, controversa e até polêmica, entretanto, quase nada se conhece escrito sobre o assunto. O entendimento errôneo dos conceitos acerca do que é adoração num conceito bíblico-reformado, tem aberto brechas para a entrada de “corpos estranhos” no culto presbiteriano reformado. Entrementes, alega-se, que estas mudanças não têm modificado a teologia da igreja; alegam que podemos abrigar dentro do vasto “guarda-chuva” presbiteriano uma imensidão variegada de liturgias e ainda assim não incorrermos no pluralismo teológico!
 Hodiernamente, A adoração pública do povo de Deus tem sido tratado hoje em dia, em função da liturgia. E a ênfase recai sobre este aspecto de modo muito constante. Algumas igrejas então, têm aberto mão de ter uma liturgia formalizada, com o objetivo de se livrar do incômodo estudo do assunto e de abrir mais espaço para uma pretensa “ação do Espírito Santo”.
Seria, então, importante tratar da adoração reformada? Talvez não o seria se não fosse por este motivo que por vezes igrejas se dividem; que pessoas abandonam as igrejas tradicionais; que se abandona a autoridade da Escritura (que não agrada todos os gostos pessoais); que se abre uma nova igreja ou funda-se outra nova denominação.
Pretendo então trazer ao interesse de quem se interessar a ler esse estudo, sobre a adoração, numa perspectiva bíblico-reformada. Visando, especificamente, um aprofundamento na matéria do “Princípio regulador da adoração”.
 Aqui proponho um estudo básico que ficará esboçado da seguinte forma: De inicio faremos uma abordagem histórica e confessional do princípio Regulador da adoração. Onde observaremos qual foi à posição de alguns Reformadores e de algumas confissões de fé reformadas com relação ao princípio regulador. Logo em seguida analisaremos o principio regulador da adoração numa perspectiva Teológica. Onde procuraremos qual a base bíblica para o princípio regulador da adoração. E por ultimo, procuraremos confrontar o nosso modelo de adoração com aquele Bíblico-reformado e, procurar reformular, interpretar e estudar, séria e comprometidamente, as implicações destes parâmetros para igreja moderna.
“O transbordar de um coração grato impulsionado pelo sentimento do favor divino” (Anônima).
   SOLI DEO GLORIA 
I- UMA ANÁLISE HISTORICO CONFESSIONAL DO PRINCIPIO REGULADOR DA ADORAÇÃO.
 I. A ADORAÇÃOA NOS PRIMEIROS SÉCULOS DA iGREJA.
São raros os documentos que descrevem os padrões utilizados pela igreja patrística no ato de adoração cristã, mas obviamente que havia um padrão definido de sua liturgia na celebração do culto patrístico. Dentre esses documentos havia uma carta à Igreja de Corinto no período 96 a.D., onde: Clemente de Roma incluiu uma oração longa e solene que se relaciona intimamente com as orações eucarísticas de séculos posteriores; ele também se refere ao Sanctus (Santo, santo, santo, Senhor dos exércitos, etc) que era característica comum de adoração judaica, bem como da cristã primitiva. O Didaquê (a: 100 a.D.) registra que a celebração da Comunhão era combinada com uma refeição comum (ágape ou festa do amor), e que era precedida da confissão de pecados; ele também menciona as ‘orações estabelecidas’ que deviam ser usadas, juntamente com o encorajamento que devia ser ministrado aos ‘profetas’ para improvisarem orações ‘tanto quanto desejarem’.
        No segundo século (II), Os cultos só continham a musicalidade dos salmos e hinos, e nos “cânticos espirituais”. A primeira participação dos padrões da adoração cristã neste período está definida numa “Apologia” de Justino Mártir, destinada ao Imperador Antoninus Pires, na qual descreve um culto de adoração cristã intitulada “Festa do Sol”.
        Já no terceiro século (III), os padrões de adoração cristã, utilizados no culto, podem ser encontrados nos escritos de Clemente de Alexandria; Tertuliano; Orígenes; Serapião de Thmuis e Cirilo de Jerusalém. Dentre esses escritos o mais importante foi registrado por Hipólito de Roma (morte, ci. 236), intitulado como “Tradição Apostólica”. Uma importante característica deste escrito é uma “Oração Eucarística” perfeita para servir de modelo na adoração cristã, a qual inicia-se com a “Saudação e o Sursum corda” (formas judaicas tradicionais).
        No quarto século (IV), encontramos um padrão de adoração mais primitivo, documentado e descrito nas “Constituições Apostólicas” (a: 380 a.D.) definida de “Liturgia Clementina”.
Ocorreram várias modificações nos padrões litúrgicos, neste período, pois havia uma abertura maior para desenvolver livremente as práticas cristãs, antes proibidas pelo imperador. “Adoração, no fim do século IV, não era mais espontânea, mas era ainda fortemente congregacional, com participação unânime nos hinos, nas orações e nos ‘Améns’”
Após o decreto do imperador Constantino no período 313 a.D., o cristianismo estabeleceu-se como uma religião tolerável em todo o império. Houve um crescimento numeroso das congregações cristãs, e a adoração passou a ser organizada e disciplinada pelos clérigos.
II. A ADORAÇÃOA NA IDADE MÉDIA
 No período da Idade Média, a igreja Católica preservou o padrão da adoração da era de Constantino, sendo infiel ao espírito cristão acerca de sua teologia eucarística devido à distorção da mesma. Ela também perdeu sua forma litúrgica como sua natureza coletiva pela busca de uma liturgia “fixa e complexa” dirigida pelos sacerdotes, que não exerciam um relacionamento congregacional. À medida que a igreja medieval se espalhou para oeste, através da Europa e das Ilhas Britânicas, devido as grandes pregações missionárias, a adoração passou a ter uma língua oficial latina, que se tornou à língua universal, por causa das “línguas vernáculas” que foram consideradas “vulgares” para transmitir a mensagem litúrgica. A adoração e a liturgia medieval passaram a valorizar a tradição gregoriana, a qual estava ligada ao padrão papal de Roma.
Na verdade o culto da eucaristia medieval fora considerado um culto “antibíblico”, e precisava de uma volta aos padrões do século I, uma verdadeira reforma dos seus padrões distorcida dentro de sua teologia e prática acerca do Novo Testamento.


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