quinta-feira, 22 de março de 2012

Vai ficar segurando o leme?


Por Mauricio Zágari
Existem três tipos de escoteiros: do ar, do mar e básico (que faz atividades em terra). Quando era pré-adolescente, fui escoteiro do mar. Pois é, esse da foto aí ao lado sou eu mesmo. Todo fim de semana saía com meus companheiros para velejar pelas águas da Baía de Guanabara, no Rio, e participar de regatas ou outras atividades. Nunca peguei hepatite ou outra doença similar, graças a Deus, apesar de ter caído inúmeras vezes nas águas imundas e oleosas da Baía. Geralmente saíamos em escaleres, que eram barcos para 8 a 12 pessoas, e eu fazia parte da Patrulha Lobo do Mar, que navegava num escaler da 2a Guerra Mundial, o Nimbus. Num barco dessa envergadura, cada um tem uma atribuição. Meu papel era o de proeiro, ou seja, aquele que cuida da proa e de tudo o que exige ali estar - detalhes que não vêm ao caso. Mas o que eu gostava mesmo era de sair ao mar não de escaler, mas de Optimist, um barquinho pequeno para apenas um tripulante.

No Optimist você é responsável por tudo. É quem comanda o leme, quem enfuna a vela, quem faz as vezes de "bomba d'água" (tira a água que entra no fundo da embarcação) e tudo o mais. O Optimist é uma delícia. Se você pega um bom vento consegue velocidades espetaculares e enquanto o vento empurra o barquinho a toda velocidade ele aderna (se inclina) e você pode, por exemplo, lançar todo seu corpo para o lado de fora e arrastar os cabelos pela água. É uma sensação gostosa e indescritível.

Fato é que estamos, eu e você, num barco chamado vida. Enfrentamos momentos de tormenta, de bonança, de ondas altas, de marolas, dias de céu azul e noites de raios e trovoadas. Todos nós. O complicado é que nossas vidas não são como Optimists, em que temos controle absoluto de todas as funções, ela é um escaler (foto à esquerda). Só que num escaler não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Por ser uma embarcação grande, é impossível, por exemplo, estar na proa e no leme ao mesmo tempo. Ou cuidar da bujarrona (espécie de vela auxiliar) e tirar água do fundo do barco simultaneamente. Um barco desses não sai do lugar se a vela não estiver levantada, pois ele é movido a vento (ou só remando, o que não é nada agradável - deixa bons calos nas mãos), então enfunar (erguer) a vela é fundamental. Só que fazer isso e deixar o leme solto vai levar a embarcação a qualquer direção para onde o vento soprar. Mas se você fica só no leme e não levanta a vela, dá direção ao barco mas ele vai ficar paradinho, paradinho... E aí, como fazer?

Quando eu era escoteiro, a função mais cobiçada no escaler era a de timoneiro: assumir o leme. Você fica sentadinho, o ventinho batendo no seu rosto, na sua confortável zona de segurança. E dá uma sensação de poder. É VOCÊ quem determina para onde vai o barco. Uma mexidinha e ele corre na direção oposta. Já erguer a vela não é algo que muitos queiram fazer. Pois é preciso puxar cabos com força, machuca a mão, exige esforço, doem os bíceps... não é mole não. Mas enfim a vela sobe até o topo do mastro o vento a infla e o escaler ganha velocidade.

Nossa vida com Deus é como velejar num escaler. Temos de optar que função assumir, não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. Como dizia Cecilia Meireles, "ou se põe a luva ou se põe o anel". E nesse barco há dois passageiros: você e Jesus. A pergunta que você tem de se fazer é: que função quero assumir? Ah! A tentação é logo pegar o leme. Dá mais segurança. VOCÊ controla seus rumos, seus caminhos, seu destino, sua trajetória. Sim, VOCÊ vira o senhor da sua vida, quem diz se ela vai para a esquerda ou para a direita. É uma zona de conforto, você põe a mão no leme e diz para onde quer que sua vida siga. E lhe digo uma coisa: é um direito seu. Você pode fazer isso. Você tem poder de decisão.

Só que...

No que você assume o leme sobra para Deus erguer a vela. Bem, Ele tem força e a ergue sem nenhuma dificuldade. Mas aí, com a vela enfunada e o barco em movimento, só resta ao Todo-Poderoso sentar e ficar observando o que você está fazendo. E, posso te garantir: Ele fará isso meio temeroso. Pois sabe exatamente o caminho do porto seguro, sabe onde estão as rochas submersas e os recifes de coral. Mas você não sabe.

Então, meu irmão, minha irmã, não seria mais sábio inverter as posições? Abrir mão de ter tanto controle sobre a sua vida e deixar Cristo assumir o leme? Eu sei, dá medo. Não sabemos o rumo que Ele vai tomar. Não sabemos quanto tempo levará até atracarmos em terra firme. Ficamos sentados observando, sem o controle da situação. Mas fizemos nossa parte! Levantamos a vela! E com isso o barco entra em movimento e o timoneiro consegue dar rumo à embarcação. Querido, querida, abra mão do leme. Não tema. "Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle e o mais Ele fará" (Sl 37.5). Essa é a proposta do Evangelho: rendição. Dependência. Esperança. Confiança. Fé.

Nas vezes em que arranquei o leme das mãos de Cristo sempre me espatifei contra as rochas. Eu não quero o leme, por mais confortável que seja. Quero apenas levantar a vela, ou seja, fazer a minha parte, e depois descansar no Senhor. Ele conhece o caminho. Ele conhece os perigos. Ele sabe como me levar aonde planejou me levar desde antes da fundação do mundo. Que o vento do Espírito sopre, eu faça minha parte levantando as velas e Jesus assuma o leme da minha vida. Essa é a única maneira de eu poder relaxar, me deitar na proa, deixar o Sol da Justiça aquecer meu rosto e desfrutar desse delicioso passeio chamado vida.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Fonte: Apenas

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