“A mim veio, pois, a palavra
do SENHOR, dizendo: Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te
conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí
profeta às nações. Então, lhe disse eu: ah! SENHOR Deus! Eis que não sei
falar, porque não passo de uma criança. Mas o SENHOR me disse: Não
digas: Não passo de uma criança; porque a tosos a quem eu te enviar
irás; e tudo quanto eu te mandar falarás. Não temas diante deles, porque
eu sou contigo para te livrar, diz o SENHOR. Depois, estendeu o SENHOR a
mão, tocou-me na boca e o SENHOR me disse: Eis que ponho na tua boca as
minhas palavras. Olha que hoje te constituo sobre as nações e sobre os
reinos, para arrancares e derribares, para destruíres e arruinares e
também para edificares e para plantares. Tu, pois, cinge os lombos,
dispõe-te e dize-lhes tudo quanto eu te mandar; não te espantes diante
deles, para que eu não te infunda espanto na tua presença”. Jr 1. 4-10,
17.
Quando nos
voltamos para as escrituras somos surpreendidos com o tipo de pessoas
que Deus usa para realizar os seus projetos. Muitas vezes, para nosso
desapontamento, os homens e mulheres bíblicos não foram os heróis que
imaginamos. Não encontramos modelos impecáveis de virtude. Por exemplo:
Abraão mentiu; Jacó enganou; Moisés assassinou e murmurou; Davi cometeu
adultério, e Pedro blasfemou. E quando nós olhamos para eles muitas
vezes nós nos vemos, e isso porque nós fomos moldados no mesmo barro que
eles. A Bíblia recusa-se a alimentar a nossa ânsia por cultuar heróis
para que possamos somente cultuar Aquele que nos chamou assim como
chamou esses personagens bíblicos.
Quando procuramos nas escrituras alguém
que se encaixe em uma vida de fidelidade, meus olhos recaem sobre a vida
do profeta Jeremias. Poderíamos citar muitos outros exemplos, no
entanto eu vejo na vida desse homem um exemplo de fidelidade no
sofrimento e não no prazer.
Hoje em dia fala-se muito sobre “uma
vida de excelência”, se existe alguém que se encaixe bem dentro desse
contexto bíblico é o profeta Jeremias. O seu livro nos deixa claro que a
excelência é resultado de uma vida de fé, de estar mais interessado em
Deus do que em si mesmo, e que tem pouco a ver com autoestima, conforto
ou realizações.
As qualidades marcantes em sua vida são
sua bondade, sua virtude e sua excelência. Ele viveu a vida em sua
totalidade. No entanto, sua piedade não o livrou das dificuldades, pois
enfrentou esmagadoras tempestades de hostilidade e fúria de dúvidas
amargas. A bondade de Jeremias não se traduzia em “ser bonzinho”. A
palavra mais adequada talvez fosse bravura. Por que
falamos isso? Porque durante seu ministério público de quarenta anos e
meio às mais confusas e caóticas décadas de toda a história de Judá,
Jeremias foi invencível. Por diversas vezes seu íntimo foi tomado por
intensa agonia, porém Jeremias nunca se desviou do curso traçado por
Deus. Ele foi cruelmente escarnecido e severamente perseguido, mas
jamais mudou a sua posição. Havia sobre ele uma tremenda pressão para
que mudasse, fizesse concessões, desistisse e se escondesse. Jeremias,
porém, jamais aceitou fazer qualquer destas coisas. Ele portou-se como
“muros de bronze”.
JEREMIAS: UM PROFETA AS PORTAS DO CATIVEIRO
O ministério profético de Jeremias foi
dirigido ao Reino Sul (Judá), durante os últimos quarenta anos de sua
história (626-586 a.C.). Ele viveu para ser testemunha das invasões
babilônicas em Judá, que resultaram na destruição de Jerusalém e do
templo. Tudo isso ocorreu porque a nação não deu ouvidos a voz do Senhor
por intermédio do seu profeta (cf. Jr 6.8,10, 14,15, 22,23, 7.24).
Jeremias testemunhou a queda de Jerusalém, capital de Judá, esmagada sob
as forças do exército babilônico. Presenciou todos os horrores da
guerra que proclamou, pois parte das suas profecias se cumpriram
enquanto estava vivo.
JEREMIAS: UM PROFETA QUE VIVIA O QUE PREGAVA
A função de um profeta é convocar as
pessoas a viverem bem, de forma certa – a serem humanas. Porém, isso é
mais do que apenas transmitir essa mensagem, é necessário também
vivê-la. O profeta deve ser aquilo que prega. Da mesma forma, nós
crentes em Jesus temos a obrigação de viver o que pregamos
principalmente os pastores, pois são os primeiros a exortarem a igreja a
ter uma vida com Deus e, infelizmente, pelo que temos visto por aí,
alguns são os últimos a tentarem por em prática o que pregam. Abençoam
as famílias, mas são divorciados. Pregam a fidelidade, mas são infiéis.
Falam sobre liberalidade, mas são apegados ao dinheiro. Dizem que tudo
que fazem é para glória de Deus, mas estão visando mesmo é a sua glória.
Dizem que estão à sombra da cruz, mas estão mesmo é a luz dos
holofotes. Pregar é muito fácil, difícil é ser como Jeremias, coerente
com o que se está pregando.
AS CONSEQÜÊNCIAS DA FIDELIDADE DE JEREMIAS
1º – VIDA SOLITÁRIA (Jr 16.1-4)
“Veio a mim a palavra do
SENHOR, dizendo: Não tomarás mulher, não terás filhos nem filhas neste
lugar. Porque assim diz o SENHOR acerca dos filhos e das filhas que
nascerem neste lugar, acerca das mães que os tiverem e dos pais que os
gerarem nesta terra: Morrerão vitimados de enfermidades e não serão
pranteados, nem sepultados; servirão de esterco para a terra. A espada e
a fome os consumirão, e o seu cadáver servirá de pasto às aves do céu e
aos animais da terra”.
O celibato e a austeridade de Jeremias
eram sinais da chegada de tempos difíceis e, de desastre para Judá. O
profeta envidou todos os seus esforços para cumprir sua missão,
esquecendo os confortos e prazeres pessoais. Não lhe restaria tempo para
cumprir seus deveres normais como marido e como pai. Era um tempo ruim
para constituir família em Jerusalém. De fato, não haveria mais células
familiares após o exército babilônico terminar a matança. O Senhor diz
para Jeremias: “Eis que farei cessar neste lugar, perante vós e em
vossos dias, a voz de regozijo e a voz de alegria, o canto do noivo e a
da noiva” (Jr 16.9). A nação de Judá estava próxima do fim, e no fim
também deveria estar seu regozijo. Assim, antes que tudo acontecesse, o
profeta tinha de retirar-se de toda a ocasião de felicidade. O profeta
Jeremias veria, com os próprios olhos, a calamidade que terminaria com a
alegria da nação.
Se o sofrimento do profeta já era
grande, imagine se ele perdesse a família? Seria muito maior seu
sofrimento. Às vezes Deus nos impede de termos determinadas coisas para
nos poupar de sofrimentos maiores posteriormente.
2º – SOFRIMENTO FÍSICO (Jr 20.1-3)
“Pasur, filho do sacerdote
Imer, que era presidente da Casa do SENHOR, ouviu a Jeremias
profetizando estas coisas. Então, feriu Pasur ao profeta Jeremias e o
meteu no tronco que estava na porta superior de Benjamim, na casa do
SENHOR. No dia seguinte, Pasur tirou Jeremias do tronco. Então, lhe
disse Jeremias: O SENHOR já não te chama Pasur e sim,
Terror-Por-Todos-Os-Lados”.
Jeremias acusou os líderes de Judá de
renderem-se a um sistema religioso que lhes garantia o sucesso em
qualquer um de seus empreendimentos, mas que, ao mesmo tempo, eles
estavam abandonando o Deus que os havia chamado para uma vida de amor e
fé. Jeremias também os acusou de utilizar elementos religiosos dos povos
que os cercavam, criando um ritual religioso visando aos benefícios da
luxúria, manobrando fórmulas religiosas a fim de obter prosperidade
financeira. Não está nada diferente os dias atuais da do tempo do
profeta Jeremias, quantas igrejas hoje que mais parece um centro
espírita do que uma igreja evangélica é tanto galho de arruda, tanto sal
grosso, tanta espada de São Jorge que misericórdia! Outras, mais
parecem um comitê político, os púlpitos viram palanques e o nome do
Senhor tem sido usado não para levar as pessoas a se converterem dos
seus maus caminhos, mas para fazer com que estes que os escutam votem
neles. O povo não passa de massa de manobra nas mãos desses falsos
crentes. E muitos ainda dizem que estão ali por ordem do Senhor Jesus,
inclusive pastores. O tempo passa, mas o homem continua o mesmo. E quem
ousa se levantar contra essa gente é perseguido ferozmente, quando não,
são rotulados como crente sem visão, que não tem as revelações de Deus, e
por aí a fora. Meu irmão, seja um Jeremias, não se venda a essa gente,
não lhes dê atenção. Não troque o pouco de Deus pelo “muito” do diabo.
Jeremias sofreu na pele por ser fiel a Deus, mas ele não foi o único.
Muitos antes dele sofreram e depois dele também. Mas o fim é a glória
que está reservada para os fiéis.
3º – CRISE EXISTENCIAL (Jr 20.7-9)
“Então eu disse a Deus: O
SENHOR me convenceu a ser profeta, e eu aceitei pensando que seria
protegido. O SENHOR foi mais forte do que eu e me obrigou a anunciar
suas palavras. E veja o resultado! Hoje toda a população de Jerusalém ri
às minhas custas! Porque sempre me obrigou a gritar alto, anunciando
castigo e destruição? Por causa disso, todos zombam de mim e já não
posso sair à rua sem passar vergonha! E apesar de tudo isso, não posso
deixar de falar sobre o SENHOR. Se penso em parar, as suas palavras
queimam como fogo no meu coração e nos meus ossos, o sofrimento é tanto
que não posso agüentar” (Bíblia Viva). O próprio texto
fala por si.
Fidelidade a Deus, muitas vezes gera
perseguição e morte, veja o que o apóstolo Paulo falou a esse respeito:
“Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão
perseguidos” (2Tm 3.12). E foi exatamente isso que John Wycliffe sofreu.
John Wycliffe viveu aproximadamente
entre 1320 e 1384. Discordando frontalmente da postura da igreja oficial
da sua época, Wycliffe defendia a idéia de que as pessoas deveriam ler a
Bíblia em sua própria língua. “As Escrituras Sagradas são propriedade
do povo e ninguém pode tirá-las do povo. Cristo e seus discípulos
converteram o mundo fazendo a Bíblia conhecida de um modo que lhes era
familiar… Oro com todo o meu coração para que, fazendo o que este livro
recomenda, possamos todos chegar à vida eterna”, disse certa vez.
Como foi que John Wycliffe pôs a Bíblia
nas mãos dos ingleses? Primeiro, ele organizou um grupo e começou a
traduzi-la da Vulgata, a tradução latina. Em 1382, John Wycliffe havia
traduzido o Novo Testamento para o inglês. Cada linha de sua tradução
foi escrita a mão; a imprensa só seria inventada 68 anos depois. Quando a
obra se completou, Wycliffe procurou homens que pudessem ensinar as
verdades da Bíblia ao povo inglês. Esses homens, foram treinados por ele
e ficaram conhecidos pelo nome de lolardos, viajavam por todo o país,
de dois em dois, pregando e ensinando a Bíblia.
A igreja oficial tentou destruir a
tradução, mandou prender Wycliffe e o declarou culpado de corrupção da
igreja. Wycliffe perdeu o emprego como professor na Universidade de
Oxford, e foi excluído da igreja. Doente, retirou-se para o interior do
país, onde veio a falecer. Foi tão odiado que em 1415, ou seja, 31 anos
depois da sua morte, seus ossos foram queimados em praça pública por
ordem do Papa, e as cinzas lançadas no rio Swift, como símbolo da
destruição de sua memória.
A memória e o exemplo de Wycliffe,
porém, continuam vivos ainda hoje. Existe até uma sociedade missionária –
os tradutores da Bíblia de Wycliffe – cujo ministério consiste em
traduzir a Palavra de Deus para outros idiomas; o grupo já conseguiu
fazê-lo para cerca de 650 línguas. A grande preocupação hoje da maior
parte dos editores da Bíblia é colocá-la na linguagem do povo, herança
de um teólogo que por causa da Bíblia se fez maldito.
Jeremias, assim como Wycliffe pagaram um
alto preço por serem fiéis a Deus. E você? A sua fidelidade a Deus tem
gerado perseguição em sua vida? O apóstolo Pedro nos fala em sua
primeira carta que se pelo nome de Cristo somos injuriados,
bem-aventurados somos, porque sobre nós repousa o Espírito da glória e
de Deus (1Pe 4.14). E completa dizendo: “Não sofra, porém, nenhum de vós
como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em
negócios de outrem; mas se sofrer como cristão, não se envergonhe disso;
antes, glorifique a Deus com esse nome”. (1Pe 4.15,16). A perseguição
pode vir sobre a nossa vida, mas que seja pela nossa fidelidade a Deus e
não por estarmos sendo infiéis a Ele.
O final de Jeremias não é conclusivo.
Nós gostaríamos de saber o seu fim, mas não sabemos. O capitulo 44
retrata como o profeta Jeremias passou grande parte da sua vida,
pregando a Palavra de Deus para um povo que o desprezava. Uma parte do
povo que conseguiu fugir para o Egito passou a adorar os deuses de lá e a
queimar-lhes incenso. O Senhor foi trocado pela Rainha do Céu. Mas lá
no Egito, um lugar que ele não gostaria de estar, tendo ao lado pessoas
que o trataram de forma cruel, ele prosseguiu fiel e corajosamente, sob o
fardo de uma impiedosa rejeição.
Existe uma fonte extra bíblica chamada
“lives of the prophets” de Charles Curtle Terrey que diz Jeremias morreu
no Egito, apedrejado até a morte pelos judeus. Ele foi enterrado no
lugar onde se erguia o palácio do Faraó; pois era honrado pelos
egípcios, em virtude dos benefícios que haviam recebido por intermédio
dele. Mediante suas orações, as serpentes, chamadas de epoth pelos
egípcios, haviam ido embora. Bem disse
Jesus: “Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa” (Mt
13.57).
Profeta vive para Deus e procura fazer a
Sua vontade, ainda que para isso tenha que sofrer retaliações. Profeta
luta pela causa de Deus sem medo dos homens. “Profeta é aquela pessoa
que cria um problema, revelando o problema a fim de solucionar o
problema”.
problema”.
A atuação apaixonada dos profetas tem
um significado central, que é a representação em pequena escala dos
sentimentos e intenções do próprio Deus. É Deus escolhendo uma pessoa
para falar em nome dele, para que o povo pudesse ver e ouvir o drama de
Deus no drama de um ser humano. E quando isso acontece, o profeta se
torna o nervo exposto de Deus, pois sua sensibilidade ao mal e à
injustiça aumenta a níveis quase insuportáveis. O nervo exposto do
profeta é uma janela para entendermos o caráter de Deus e que, como tal,
provoca dores intensas. Profeta é muito mais do que previsão de eventos
futuros, é Deus chamando de volta para si os que o rejeitaram.
Bibliografia:
GRAY, Alice. Histórias Para o Coração.
Jimmy Durante. 1ª Ed. Editora United Press, Editora Hagnos. São Paulo,
SP: 2001 reimpressão – setembro – 2004.
GUEDES, Marson. O Caminho de Jeremias. 1ª ed.
Associação Religiosa Editora Mundo Cristão. São Paulo, SP: 2004.
ORTBERG, John. Somos Todos (A)Normais? 1ª ed.
Editora Vida. São Paulo, SP: 2005.
PETERSON, Eugene. Corra Com os Cavalos. 1ª ed.
Editora Textos, RJ e Editora Ultimato, MG: 2004.
Fonte: Napec
Nenhum comentário:
Postar um comentário