segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Liderança e a Luta Contra o Pecado

Liderança e a luta contra o pecado (Parte II)


Por: Ronaldo Lidório


Há vários perigos a respeito do pecado. Um dos maiores é não o compreendermos e, com a mente confusa ou cauterizada, o tratarmos como parte da vida normal do crente. Outro perigo é nos acostumarmos com ele, mesmo com plena consciência de que peca contra o Pai. Em todas as situações a mente humana tende a desenvolver mecanismos ilusórios que colaboram para a perpetuação do pecado em nossas vidas. Tais mecanismos podem ser identificados através da racionalização, da fuga e da hipocrisia. A racionalizaçao argumenta sobre os motivos pelos quais se deve continuar pecando. A fuga impede que a mente pense de forma objetiva sobre o pecado tratando-o como um assunto distante, ligado apenas ao outro. A hipocrisia lida com o pecado através de um sentimento corrompido, justificando o pecado na observação de que outro peca ainda mais.

A racionalização

A racioanalização é facilmente perceptível em uma conversa. Quando o pecado é apontado na vida de outro e este possui já um padrão de racionalização sua primeira resposta é argumentativa e explicativa. Ele não assume o erro ou a fraqueza, mas fala com fervor do erro e fraqueza dos outros ao seu redor. Em determinado momento pode esboçar um reconhecimento de culpa, mas somente após uma longa caminhada de explicações e acusações que, em seu íntimo, lhe servem para gerar uma ilusória justificativa. A racionalização é uma tendência natural humana e a vemos presente no padrão comportamental infantil. Se confrontarmos nosso filho de 10 anos sobre sua atitude em meio a um conflito com o irmão ou a irmã, sua reação instintiva será justificar-se através do que o outro fez de errado. Quando uma criança, confrontada com seu erro, responde com a afirmação “ele me bateu primeiro...” está configurada a presença de um padrão mental de racionalização que podemos, ou não, carregar por toda nossa vida.

O problema central da racionalização é que ela nos distancia da verdade. Ajuda-nos, tão somente, a pensarmos sobre as razões que justificam o nosso erro, não nos confronta e jamais nos ajuda a termos corações transformados. Se você trabalha com um irmão que sempre racionaliza seus problemas pessoais há grave chance de que ele venha a repeti-los muitas e muitas vezes. A soberba e orgulho são aliados da racionalização, pois nos ajudam a pensar que o outro é inferior, está errado, e que somos vítimas neste processo. Ajuda-nos também a reconhecermos nosso erro, mas, mesmo assim, concentrar-nos nos erros do próximo. A soberba o faz pensar que de fato ele sempre está certo, ou que o outro sempre está mais errado. O orgulho o pretere de olhar para o próximo como Cristo olha para ele. Talvez a forma mais eficaz de combatermos a racionalização em nossas vidas seja cultivar a humildade. Corações humildes tendem a ser mais realistas e a realidade é um caminho para a verdade.

A fuga

A fuga, assim chamemos, impede que o pecado seja sequer avaliado ou reconhecido. Ele é tratado como um objeto distante e jamais deve ser seriamente observado. Tal mecanismo é mais dissimulado, porém se tornará perceptível pelas evasivas no pensamento ou discurso. Ambas as atitudes mentais possuem como característica um discurso evasivo e este é, em si, uma consequência direta do pecado.

A fuga, portanto, não segue um padrão primariamente comportamental, mas sim mental. É a forma como podemos aprender a pensar e é abundantemente encontrada em pessoas que cresceram em lares onde os problemas não eram jamais tratados. Simplesmente eram esquecidos em um canto. Lares onde os pais não assumiam a responsabilidade e não tinham conversas francas com seus filhos sobre os conflitos da vida e o pecado. A fuga, como padrão mental, leva a pessoa a distanciar-se internamente do problema. Mesmo quando se quebranta e reconhece o erro, não o expressa de forma clara.

O problema da fuga, bem como da racionalização, é que nos distanciamos da verdade e nos tornamos suceptíveis a cair novamente. A Palavra de Deus nos fala sobre o valor da verdade e seu valor em nossas vidas. E em um aconselhamento com irmãos que racionalizam ou fogem dos conflitos em pauta é necessário ser objetivo. Sugiro recapitular os problemas, descrecer objetivamente suas atitudes ou palavras, colocar o assunto sobre a mesa, com brandura e amor. Reitere, logo no início do aconselhamento, seu compromisso em caminhar com ele para que sinta que é amado e sinta-se seguro o suficiente para conversar de forma sincera e aberta. Ao colocar o assunto sobre a mesa, aguarde. Sua intenção não é pontuar seu erro, mas sim leva-lo a contornar o padrão de racionalização e fuga que tem seguido. Você não pode fazer isto para ele. Se nenhum passo for dado por ele inicie perguntas que possam ajudá-lo a caminhar, tais como: o que você acha sobre estas atitudes ou palavras? Como você se sente neste momento? O que você acha que está errado nesta atitude? Ore, e se puder peça outros que façam o mesmo, para que o Senhor ajude aquele que está no aconselhamento a transpor as barreiras da racionalização e fuga. Frequentemente o resultado é muito positivo, pois é maior aquEle que está em nós.

Gostaria de lhe propor um desafio, se este padrão mental e comportamental é encontrado em você. Coloque perante o Senhor estes desvios que lhe preterem de olhar objetivamente o pecado em sua vida: a racionalização e a fuga. Procure alguém para ajudá-lo e converse a respeito. Ore a Deus pedindo a Ele para mante-lo alerta e, sobretudo, com um olhar objetivo em relação a seus problemas. Um bom exercício é nomea-los. Não trate o pecado como erros gerais. Ele tem nome. Trate a mentira como mentira, a inveja como inveja. Nomeie seus problemas e converse com o Senhor e com um amigo chegado a respeito.

Necessitamos da Palavra que nos confronta, ensina, conduz à retidão e alinha nossos pensamentos impedindo a fuga irresponsável ou a racionalização improdutiva. Sendo assim, a busca por uma vida autêntica faz-nos olhar para Deus e torna-nos sensíveis ao pecado “... para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus, inculpáveis no meio de uma geração pervertida corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo” .

A hipocrisia

A hipocrisia já é, em si, uma ação objetiva em relação a um problema. Ou seja, há menor chance de alguém se manter hipócrita de forma insconciente, o que frequentemente acontece com a racionalização e a fuga.

A hipocrisia perante o pecado é bem retratada no filme A letra escarlate que mostra-nos a religiosidade no século XVII contando a história de peregrinos ingleses que haviam fundado uma cidade no Novo Mundo e desejam que esta fosse a Nova Jerusalém. Esta história mostra a hipocrisia humana perante o pecado. Um homem honesto e de boas intenções, o pastor que ensina aos índios, se apaixona por uma pessoa que julgava ser viúva e pecam, sendo levados à forca. Os líderes, seus algozes, os mais corruptos lobos vestidos de ovelhas selam seu destino. Um deles, prisioneiro do pecado, tenta viver uma vida aparentemente piedosa para esconder várias psico-patologias. Deseja adulterar e, quanto mais alimenta o desejo, acusa e condena os outros.

Outro grupo é representado por aqueles que vivem no pecado da mente e do espírito, vaidosos, egoistas, presunçosos e soberbos, e se autoafirmam através da perseguição que lançam aos pecados da carne. Acusando outros se sentem menos pecadores e justificam o próprio pecado, como a soberba e a altivez. Baxter salienta que iluminação é a primeira parte da santificação e que quanto mais clara for a luz de um crente, mais ardente e vivo será seu coração. Salomão enfatiza que Deus se entristece profundamente com tal conduta: “O senhor aborrece olhos altivos ” e “Em vindo a soberba, sobrevem a desonra ”. Gálatas 5 nos revela que as obras da carne estão todas no mesmo pé de igualdade, ou seja, os pecados contra a pessoa de Deus (idolatria, feitiçaria), contra o próprio corpo (prostituição, impureza, lascívia, bebedeiras e glutonarias) e contra o corpo de Cristo (inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções e invejas).

Devemos lutar não apenas contra a prostituição e a idolatria como claramente se faz na Igreja de Cristo, mas também contra a arrogância, a murmuração, o orgulho, a malícia, a avareza, a inveja, a altivez, a jactância, o desrespeito e o atrevimento.

Para a psicologia analítica a projeção é um mecanismo de defesa e consiste na dinâmica de “colocar” em alguém algo inaceitável de seu ego, geralmente negativo que é reprimido ou negado, na tentativa de sentir-se mais livre. A projeção, portanto, é um comportamento colaborador da hipocrisia.

A hipocrisia é um resultado direto da alma corrompida e provê maior corrupção. Leva aquele que dela é possuído a tratar dos erros alheios com veemência, dureza e intolerância, enquanto esconde em seu coração problemas semelhantes. Um dos frutos da hipocrisia, a meu ver, é o legalismo. O legalismo é uma forma de comunicá-la à sociedade, pois o legalista é aquele que se atém à forma da lei com tamanha intensidade que se torna um acusador, impiedoso, sem cores de misericórdia. Por outro lado, não raramente esconde seus problemas mais íntimos, neste caso o atrevimento, o desreipeito, a falta de amor.

Para sabermos se estamos tomando um caminho legalista devemos procurar os sinais. Cito dois deles. O primeiro é a facilidade no julgamento pois o legalismo se concentra em observar e julgar o outro, perdendo, assim, sua postura autoreflexiva, de avaliação de seu próprio coração. O segundo sinal é a arrogância, a falta de desejo e disposição de ouvir o outro, suas idéias e posições. A arrogância pretere o diálogo e, assim, o legalista acusa, jamais dialoga.

Se nossos corações andam nesta trilha. Se nos tornamos juizes de nossos irmãos e arrogantes o suficiente para evitarmos o diálogo e nos expressarmos tão somente pela crítica e acusação, é possível que já sejamos legalistas. Não é tarde para olhar para o Senhor, como quem busca misericórdia, amor ao próximo, zelo pela Palavra e um coração puro, coerente com a bondade do Senhor sobre nossas vidas.
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