Predestinação
Martin Bucer (1491-1551)A palavra grega proorismos significa literalmente "predeterminação”¹, mas a tradução comum é 'predestinação'. São Paulo, de fato, usa o verbo proorizein para significar duas coisas: primeiro, a eleição dos santos e sua separação do restante da massa poluída ² da humanidade perdida (o que a Escritura designa pela palava hibdîl, que é usada pelo Senhor quando ele fala da eleição do seu próprio povo para fora do resto das nações),³ e, em segundo lugar, a eleição dos santos antes mesmo deles terem nascido.4 Agora o objetivo do apóstolo nesta passagem (em Romanos 8), é nos ensinar que Deus nos destinou à salvação antes de nascermos, e muito menos antes que tivéssemos feito qualquer boa obra.
A partir deste fato, ele procede a demonstrar que este propósito de Deus para nossa salvação é fixo e imutável e não pode ser frustrado por qualquer uma de suas criaturas, porque Deus nos adotou por sua própria iniciativa e por sua própria bondade, a qual não pode mudar, e sem qualquer consideração por nosso mérito, que sempre oscila de forma desastrosa.
Por isso presciência, predeterminação e eleição 5 são neste momento, por assim dizer, uma e a mesma coisa, porque Deus nos escolheu em Cristo antes que a fundação do mundo estivesse estabelecida, tendo predeterminado pré-definido (proorisas) nos adotar como filhos.6
Predeterminação (proorismos), então, que chamamos vulgarmente de "predestinação", é aquele ato de designação da parte de Deus, segundo a qual em seu secreto conselho ele designa e realmente seleciona e separa do resto da humanidade, aqueles a quem Ele vai atrair para seu Filho, Jesus, nosso Senhor, e enxertar neles (tendo os trazido a esta vida a seu próprio tempo) [410], e a quem, quando assim atraídos e enxertados, Ele regenerará através de Cristo e santificará para cumprir seus propósitos. Isso, então, como eu disse, é a predestinação dos santos.
Há em adição uma predestinação geral. Proorismos significa simplesmente "pré-determinação", e Deus faz todas as coisas pelo seu predeterminado conselho, 7 atribuindo cada e toda coisa a seu próprio uso, e assim separando elas das outras coisas na medida em que seu uso é definido. Se você requisitar uma definição desta predeterminação geral, ela é a atribuição de cada coisa a seu próprio propósito, segundo a qual Deus, antes de as criar, destinou todas as coisas solidariamente da eternidade para algum uso fixo. Neste sentido, há ainda uma predestinação dos ímpios, pois assim como Deus os formou também a partir do nada, assim Ele também os formou para um fim definido.
Deus faz tudo com sabedoria, sem excetuar o predeterminado e bom uso dos maus 8, porque até mesmo os ímpios são skeuē ferramentas e instrumentos de Deus, e “Deus fez todas as coisas para seu próprio propósito, até mesmo o ímpio para o dia do mal”.9 Os teólogos, entretanto, recusam-se a chamar isso de “predestinação”, preferindo, ao invés, “reprovação”. 10 No entanto, Deus faz todas as coisas bem e sabiamente, e assim não faz nada exceto pelo desígnio escolhido. Ele deu a Faraó uma mente depravada e levantou ele com o propósito de demonstrar o seu poder ao puni-lo. E também odiou Esaú antes que ele tivesse feito qualquer coisa má.11
A Escritura fala em termos tão simples como estes. Na verdade, quem negará que quando Deus formou estes e todos os ímpios ele sabia de antemão, antes que os tivesse feito, o propósito para o qual pretendia usá-los, e que Ele os ordenou e os destinou para esses fins? Então, o que nos impede de chamar de "predestinação" também esses casos? De qualquer forma, Deus não falha em colocar nenhum dos ímpios para um bom uso, e em cada ato de pecado de nossa parte há uma boa obra de Deus. Mas tanto na presente passagem e em Efésios 1, o apóstolo usa a palavra proorizein quando lida com a certeza da boa vontade de Deus para com seus santos, e, portanto, a predestinação divina da qual ele está falando aqui é a marcação dos santos para a participação na salvação .
Essa, porém, não é a razão pela qual muitos afirmam a predestinação somente dos santos, e a reprovação dos ímpios, mas sim porque lhes parece indigno de Deus dizer que Ele tem pré-determinado alguém para a perdição. No entanto, a Escritura não se inibe de afirmar que Deus abandona certos homens a uma mente depravada e trabalha neles para sua ruína, 12 por que, então, é indigno de Deus dizer que ele também decidiu anteriormente abandoná-los a uma mente depravada e trabalhar neles a sua ruína? Mas é intolerável para a razão humana que alguns homens devam, por Deus, ser endurecidos, cegados e entregues a uma mente depravada, e isso é porque é um pensamento ímpio atribuir a Deus a predeterminação e a destinação de qualquer um desses destinos.
Porque o intelecto reconhece que entre os homens, uma pessoa que cegou seu servo e exigiu dele algum serviço que ele não poderia cumprir exceto com o uso da sua visão, e, em seguida, o castigou pelo não cumprimento das suas ordens, seria condenado como absolutamente injusto e cruel. Pelo mesmo critério o homem passa também a julgar a Deus, e decreta que é injusto da parte Dele exigir daqueles a quem Ele endurece, cega e abandona a um espírito de depravação, o tipo de obediência que nenhum homem pode ter, a não ser que para esse mesmo propósito o próprio Deus os regenere, ilumine e conceda um novo e reto espírito, e que é cruel da parte Dele punir esses homens por cometer o tipo de ofensa que é produzida por sua dureza, cegueira e depravação de mente.
A agitação ocasionada por este veredicto de nossa razão tem levado alguns a se desviarem e afirmar, contrariando inúmeras declarações explícitas das Escrituras Sagradas, que Deus iluminará e, no fim, salvará todos os ímpios.13 Outros, no entanto, têm mantido uma honesta e universal crença nas Sagradas Escrituras tem começado a interpretar “endurecido, cegado, entregues à depravação” em termos de “retirou seu Espírito de, permitindo que fossem endurecidos e cegados”. Mas nenhum curso pode satisfazer o intelecto humano, pois é incapaz de reconhecer a justiça com que Deus, mesmo que temporariamente, cega, endurece e entrega a uma disposição depravada os homens de quem ele demanda que seja em todas as suas partes reta e justa. Também não pode deixar de julgar desumano que Deus ainda permita que os homens caiam quando só ele pode salvá-los da queda, e cruel, que castigue os caídos quando, despojados de Sua ajuda, eles não poderiam levantar de seu estado.
Devemos, portanto, rejeitar o juízo da razão nesta área, e confessar que os juízos de Deus são "um abismo grande e inescrutável, mas justo”. Porque Deus é justo em todos os seus caminhos, mesmo quando diante de nossa razão, Ele pareça de outra forma.14 Portanto, devemos confessar que Deus justamente exige de nós uma vida santa, adornada com todas as virtudes, e justamente também endurece, cega e abandona [411] a um espírito da depravação quem ele quer, e ao final, justamente, os condena e pune, enquanto a nós é atribuída toda a culpa de nossa perdição.15
Conseqüentemente, uma vez que esta assentado que diz respeito a glória de Deus declarar que Ele endurece, cega e entrega a uma razão depravada quem Ele escolhe, será óbvio que pode também ser dito que Deus previu e ordenou todas essas pessoas para esse destino, antes de criá-los, pois ele faz todas as coisas de acordo com um plano pré-determinado e imutável. No entanto, deve ser observado neste ponto que para Deus o objetivo final, no caso daqueles que ele endurece e cega, não é a sua perdição. É para seu próprio fim e para sua glória que Deus faz todas as coisas, até mesmo “o ímpio para o dia do mal "e, portanto, as palavras do Senhor para o Faraó foram “Eu levantei você com o propósito de demonstrar meu poder em ti, para que meu nome seja anunciado em toda a terra”.16
De fato, em toda parte nas Escrituras a glória do Senhor, é declarada ser o objetivo de sua vingança dos ímpios. Portanto, ao proclamar a expulsão de todas as nações com terrível vingança, Isaías repete várias vezes a frase "só o Senhor será exaltado naquele dia" 17 Apesar disso, no entanto, o próprio Senhor alardeia o fato de que a perdição dos ímpios é para ele o objetivo imediato, quando os cega e endurece, 18 porque quando Ele está falando em Isaías 6 do endurecimento e da cegueira dos ímpios, acrescenta esta razão, “para que não se arrependam e sejam curados”. Assim também, no capítulo 9 da epístola aos Romanos, os ímpios são chamados “instrumentos da ira, formados e prontos (katērtismena) para a destruição" .19
A natureza da predestinação, então, deve estar clara agora. Em geral, é a divina atribuição de cada coisa a seu próprio propósito, mas a predestinação dos santos, que é o assunto do apóstolo aqui, é a eleição e destinação dos santos para a salvação eterna.
Agora a segunda parte de nossa investigação: por que nós deveríamos considerar a predestinação? O ensino de Philip Melanchthon responde a essa questão de forma muito fiel e devota: é somente a fim de que você possa estar mais certo da sua salvação e poder se agarrar mais firmemente às promessas de Deus.20 A primeira demanda que Deus faz a nós é crer que ele é Deus, isto é, o Salvador, de modo que quando nós o ouvimos convocando para si todos os que estão aflitos e angustiados, 21 nós nos apressamos ansiosamente para ele. Agora, se aqueles a quem Deus chama prestam atenção ao seu apelo, Ele certamente os tem predestinado e conhecido de antemão, e também os justificará e glorificará.
Portanto, o primeiro dever que você deve a Deus é crer que você foi predestinado por ele, porque a menos que você creia nisso, você representá-lo como fazendo uma brincadeira com você quando Ele te chama para a salvação através do evangelho. Porque pelo evangelho Ele convoca você à justificação e à compartilhar da Sua glória, mas essas coisas só podem ser experimentadas por aqueles que foram predestinados, conhecidos de antemão e eleitos para fazê-lo. Todas as obras de Deus são feitas em sabedoria e, portanto, pelo seu desígnio predeterminado. Conseqüentemente, se você duvida que você está predestinado, você também está obrigado a duvidar que você tenha sido chamado para a salvação, que você é justificado, e que, no final, será glorificado: o que significa que você é obrigado a duvidar de todas as promessas relativas à sua salvação e a duvidar do próprio evangelho, isto é, crer que Deus não te dará nada do que Ele oferece no evangelho. Porque é verdade que os crentes tem a vida eterna, e eles não podem duvidar que eles a tem mais do que duvidar da promessa do Senhor que "Aquele que crê em mim tem a vida eterna" .22
Desses comentários, então, será evidente que a razão pela qual nós e os outros devem refletir sobre a predestinação de Deus é que assim a nossa fé na promessa de Deus pode ser reforçada pelo reconhecimento de que, como o apóstolo aqui afirma, os santos podem ter certeza absoluta que aqueles a quem Deus predestinou, ele também chamará, justificará e glorificará, e aqueles a quem já chamou Ele tem, sem dúvida, também conhecido de antemão e predeterminado. Esse é o propósito por trás de cada menção feita pelo apóstolo sobre eleição e predestinação, onde quer que ocorra. Se nós ponderarmos cuidadosamente nisso no que diz respeito a nós mesmos, nossa confiança em Deus será aumentada e com ela o nosso amor por Ele e por todas as coisas boas, assim como, ao entretermos dúvidas quanto à nossa predestinação, juntamente com desprezo e inimizade para com Deus todo tipo de mal encontra uma entrada.
Portanto, devemos rejeitar como a fonte de todas as tentações nocivas à pergunta “nós somos predestinados?” Porque, como já dissemos, a pessoa que tem dúvidas sobre este ponto será incapaz de crer que foi chamado e justificado, o que significa que ele não pode ser um cristão. Nós devemos seguramente confiar, portanto, como fundamento da fé, que todos nós fomos conhecidos de antemão, predeterminados, separados do resto e escolhidos por Deus para este fim, para que possamos desfrutar a salvação eterna, e este é o propósito imutável de Deus. Portanto, devemos dirigir toda nossa atenção e preocupação [412] a nossa resposta a essa predestinação e chamado de Deus, para que possamos trabalhar juntos com Deus para a vida eterna, de acordo com a força que o Senhor já tem nos fornecido e para cujo aumento devemos orar sem cessar.
Mas talvez você esteja se perguntando sobre palavras tais como “Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”, e “Nem todo mundo que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a minha vontade” .23 A primeira expressão que diz “Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”, refere-se ao fato de que muitos dos que são chamados através do evangelho, no entanto, não vêm a Cristo, porque não são eleitos. Quanto a ti, portanto, creia no evangelho e venha a Cristo.24 Então, doravante, não haverá nenhuma possibilidade de dúvida, no seu caso, de que você é conhecido de antemão, chamado segundo o Seu propósito, predestinado e eleito.
A outra expressão que diz, entretanto, “Nem todo que me diz: 'Senhor, Senhor'”, destina-se a estimulá-lo a um fortalecimento de zelo pela vontade de Deus, porque é por isso que o Senhor disse isso, e não a fim de gerar dúvidas sobre a sua vocação e eleição. Certamente, é verdade que por mais forte que seja o seu zelo por justiça, mais forte será para você e para os outros se tiver convicção de sua vocação e eleição, 25 porque um zelo ardente de justiça é assim o sinal de um dom de Deus a ser concedido apenas aos predestinados e eleitos. Assim, uma devoção séria à justiça é prova completa de que um homem é predestinado e eleito. Mas, como todas as nossas justiças são tão aleijadas e mutiladas, nós nunca poderíamos ter a certeza de nossa salvação apenas pelos nossos méritos (por não satisfazer a lei de Deus), a garantia da nossa predestinação e eleição deve ser procurada apenas na promessa e no chamado de Deus, e nossa atenção deve ser sempre dirigida para longe de nossa própria justiça, que por si só, é permanentemente uma abominação aos olhos de Deus, e dirigida para a promessa divina.
Por isso o versículo na Segunda Epístola atribuída a São Pedro- “Portanto, irmãos, sejam mais zelosos para confirmar a vossa vocação e eleição, pois se vocês fizerem isso isso vocês nunca cairão” - não deve ser entendido como se a estabilidade da nossa eleição e vocação dependesse em qualquer grau de nossas obras. Em vez disso, por sermos zelosos por boas obras nós cumprimos o propósito para o qual fomos chamados e eleitos, ou, melhor ainda, nos dedicamos a trabalhar juntamente com o Senhor para a sua realização. Por “vocação e eleição” aqui se entende a vida para a qual nós somos escolhidos e chamados, e assim as palavras seguintes “se vocês fizerem isso isso vocês nunca cairão”, equivale a estas palavras “Do caminho do Senhor, que é sua vocação e eleição, você nunca vai cair ", embora, naturalmente, devamos evitar isso pela busca sincera da piedade com a ajuda do Senhor.
Algumas passagens das Escrituras a fim de expor a hipocrisia e estimular o zelo por pureza nos convidam a examinarmos nossas próprias obras e testificam que sem um zelo genuíno para viver de forma a agradar ao Senhor, nós o invocamos em vão. Cada uma dessas passagens devem ser entendidas e consideradas por nós de tal forma que, abandonando a auto-confiança e contando todas as nossas justiças como nada, nós venhamos a, antes de tudo, reforçar nossa confiança na bondade divina e, em seguida, com os gravetos, assim, de uma sólida esperança em Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, ardentemente desejar nos tornar aceitáveis a Ele. Como resultado nós devemos prontamente ser estimulados a aspirar a um zelo inabalável em mortificar a nossa carne e buscar a justiça. Até o presente estas observações devem ser suficientes como as razões pelas quais devemos refletir sobre a predestinação de Deus.
A má-compreensão dos Santos Pais, por vezes, tem dado origem à idéia errônea de que nossas boas obras são em algum sentido, a causa da nossa predestinação, alegando que Deus prevê que seu povo abraçará a oferta da sua graça e fará uso digno de sua dádiva, e por esta razão os predestina e predetermina para a salvação. Mas isso é um erro que até mesmo São Tomás corretamente refuta, dizendo que nada de bom em nós é a causa da predestinação.26 O que, entretanto, Deus pode prever em nós, que venha a existir do nada, exceto aquilo que Ele determinou em sua bondade nos dar? Não há absolutamente nada em nós, portanto, que Deus poderia levar em conta ao nos predeterminar à salvação futura; Seu próprio prazer decide tudo o que Ele faz e nos dá.
Naturalmente, um efeito da predestinação se torna a causa de outra: a inspiração do Espírito Santo cria a solidez do juízo, um sólido juízo gera retidão de vontade, uma vontade reta produz santidade de conduta, e conduta santa obtém a recompensa que o Senhor, com sua bondade sem limites, concede. Mas todos esses são apenas o resultado da bondade imerecida de Deus. É estabelecido, portanto, que a nossa confiança de salvação deve ser reforçada pela consideração da predestinação, mas que a segurança da predestinação não deve estar depositada nas nossas próprias obras, mas na promessa divina. E assim [413], com o objetivo de confirmar nossa fé, a predestinação deve ser mantida continuamente em mente, mas nunca devemos permitir que dúvidas sejam lançadas sobre ela a partir de qualquer fonte.
A terceira parte de nossa investigação é saber se a predestinação anula a liberdade da vontade. Estaremos a falar mais longamente sobre o assunto em um capítulo posterior, 27, mas a reflexão sobre a natureza da liberdade da vontade e um firme domínio sobre os resultados da nossa presente discussão da predestinação deve deixar-nos sem qualquer dúvida sobre esta questão. Agora, a liberdade da vontade é a faculdade de agir segundo a própria escolha e decisão sem qualquer compulsão. Repare que eu digo “sem compulsão” e não “sem necessidade”, pois Deus de necessidade quer o que é certo e não pode querer de outro modo, e ainda assim Ele tem a maior liberdade de vontade.28 Nós também, ao final, desfrutaremos plena liberdade quando nós já não formos capazes de querer o que é mau e, necessariamente, querer o que é bom.
Liberdade de vontade, portanto, e livre vontade (isto é, autexousion) é a capacidade de agir de acordo com sua própria decisão, de modo que você age por sua própria iniciativa e não age de forma contrário a sua vontade de assim agir, e isso exclui qualquer poder que venha a compelir ou restringir você contra a sua vontade, mas não o dom de Deus de invariavelmente e necessariamente fazer o que é certo. Predestinação, como essa discussão terá deixado claro, é a divina assinalação dos santos para serem participantes da salvação eterna através de Cristo, o Senhor, Salvação, que por sua vez, significa o gozo, pela inspiração do Espírito de Deus, de discernimento perfeito e de se sólido juízo no que diz respeito ao que é verdadeiramente bom, e a busca dessas coisas com zelo incansável e persistente. Na verdade, na consumação da nossa salvação, quando cada erro e cada corrupção de nossa natureza for dissipada, seremos capazes de aprovar e depois procurar nada, a não ser o que é verdadeiramente bom.
Disso, portanto, se segue que, longe de destruir a liberdade da vontade, a predestinação só realmente a estabelece. Porque o Espírito da verdadeira liberdade que lhe capacita aprovar o bom por si mesmo e buscá-lo de sua própria escolha, por sua própria iniciativa, não sendo compelida por nada contra sua vontade, torna-se sua somente porque Deus tem conhecido de antemão e predeterminado você a ser inspirado e dirigido por este Espírito. Ela é dificilmente livre, de qualquer modo, para abraçar o mal ao invés do bem; ela é antes o erro e a escravidão de Satanás. A verdadeira liberdade, como Santo Agostinho escreveu sagazmente, é "fazer o que quiser e querer o que resulta por salvação” .29
Estar na pressão de um espírito depravado e de um vergonhoso e eternamente ruinoso desejo para o mal é mais verdadeiramente cativeiro do que servidão, como ensina o apóstolo no capítulo 7 da Epístola. Na nossa loucura supomos que a liberdade implica a habilidade de aceitar ou rejeitar a vida de Deus, quando na realidade a sua rejeição é obra da miserável escravidão e cativeiro do pecado. A verdadeira liberdade da vontade consiste em viver de acordo com os mandamentos de Deus, de sua própria espontânea decisão e volição, e ainda com o mais vivo amor e zelo. Predestinação não pode destruir isso, uma vez que apenas a estabelece.
E assim isso também é agora claro, que a certeza da salvação, que é baseada na predestinação, em nenhum grau prejudica a liberdade da vontade, mas na verdade a aperfeiçoa. Como Santo Agostinho escreveu de forma tão verdadeira “Como Deus não pode cometer um erro, assim nenhum dos predestinados podem falhar em ser salvos" 30
Nossa discussão de um tema tão fértil foi muito breve. mas quem reverentemente ponderar sobre estas observações estará prontamente equipado sobre o assunto da predestinação tão bem que nada será escondido dele do que podemos saber sobre a predestinação para a promoção da piedade. Ao comentar sobre o próximo capítulo da Epístola, trataremos da inocência de Deus em relação a culpa de nossa perdição quando ele não nos predestina para a salvação, mas nos rejeita e endurece.31
Martin Bucer, “Predestination,” in Common Places of Martin Bucer, trans., and ed., D.F. Wright (England: Sutton Courtenay Press, 1972), 96-105. [Some reformatting; footnotes and values original; bracketed inserts original; some spelling modified; and underlining mine.]
___________________________
1Bucer’s word here is praefinitio, In view of the undertone of meaning attaching to predetermnation’, ‘foreordination’ might have seemed a preferable rendering, However, ‘predetmination’ preserves the mot meaning of the Greek which Bucer is anxious to bring out in hi Latin, and so we have used it consistently in this extract. The verb proorizein occurs in Rom. 8. 29 f.
2‘polluted mass’–colluvies.
3Bucer refers to Lev. 20. 24 ff. and Numb. 16.9.
4It is not completely clear whether Bucer ascribe to Paul two different meanings of proorizein or is speaking. of two aspects of one meaning. If rte former seems more likely, it is then difficult to imagine how he would have divided Paul’s uses of the verb (Rom. 8. 29 f.; Eph. 1.
5praescire, praefinire, praeeligere.
6Eph. 1.4 f.
7Cf. Acts 2, 23; Eph. 1. 11.
8. . . omnia, nihil non ad malorum, praefinitum, et bonum usum (?).
9Rom. 9. 22, Provo 16.4.
10Cf., for instance, Peter Lombard, Sentences 1. 40. 1, 4 (PL 192, 631 f.), Aquinas, Summa Theol. 1. 23. 3, Summa contra Gentiles 3. 163. This was also true of Duns Scotus and William of Occam, and of Gabriel Biel; see H. A. Oberman, The Harvest af Medieval Theology: Gabriel Bid and Late Medieval Nominalism, 2nd edit., Grand Rapids, 1967, pp. 187 f.
11Cf. Rom. 1. 28, 9.17,13, Mal. 1. 2 f.
12Cf. Rom. 1. 24, 26, 28, and perhaps also Rom. 9.22, 11. 7 ff., 1 Pet. 2. 8, Jude 4.
13Several of the leading figures in the ‘Radical Reformation’ believed in at least the possibility of the ultimate salvation ‘Of all men, and even of demonic beings as well (cf. G. H. Williams, The Radical Reformation, London, 1962, pp. 843 f.). Conspicuous among these were Hans Denck (who was opposed by Bucer over his belief inter alia in universal salvation when he took refuge in Strasbourg for a short period late in 1526 (ibid., pp. 159 f., 252, with literature noted there; Eells, p. 581; the universalist tendency in Denck’s thought can be observed in convenient translation of his Whether God is the Cause of Evil by Willams in LCC 25, 86-111), Sebastian Franck, Melchior Hofmann and Balthasar Hubmaier. Such Anabaptist exponents of the doctrine of apocatastasis were not above appealing to the speculations of Origen in the same direction. Further documentation of this aspect of the confrontation with the Radicals in Strasbourg can be consulted in Krebs-Rott, of. Index s.v. ‘Wiederbringung’, 2, p. 541.
14Cf. Ps. 36. 6, Rom. 11. 33, Ps. 145. 17.
15At this point Bucer refers to his discussions of this subject above on pp. 70-3 of the Commentary (on Rom. 1. 24), and below on pp, 455-60 (On Rom. 9. 18).
16Rom. 9.17, quoting Exod. 9.16.
171sa. 2.11,17; cf. 19, 21.
18At proximum tamen finem, perditionem malorum sibi esse, dum excaecat et indurat eos, Dominus ipse gloriatur. Cf. Isa. 6. 10.
19Rom. 9. 22.
20Cf. Melanchthon, Loci Communes, 1535, soo. ‘On Predestination’ (CR 21, 451 ff.).
21Cf. Matt. 11. 28.
22John 3. 15.
23Matt. 22. 14, 7. 21.
24Tu ergo crede Evangelio et venisti. Cf. Augustine, credendo venisti; crede et venis; crede et manducasti, etc. (Sermon 30.10, CCL 41, 389; Sermon 131. 2, PL 38, 730; Homiles on John’s Gospel 25. 12, CCL 36,254). Similar formulae are frequent in Luther.
25Cf. 2 Pet. 1. 10.
26Aquinas, Summa Theol. 1. 23. 2, 5.
27I.e., pp. 460-5 Of the Commentary, on chapter 9. 14-21 on the Epistle, translated in this volume, ch. 5.
28The same distinction between sinning of necessity and sinning by compulsion was made by Luther (The Enslaved Will, W A 18, 634) and Calvin (Institutes 2. 3. 5, LCC 20, 294 ff.)
29These words do not appear to be a direct quotation from Augustine. For statements that are more or less close to Bucer’s words of. Homiles an John’s Gospel 41. 8, 10 (CCL 36, 362 f.), The Grace of Christ and Original Sin 1. 14 (CSEL 42, 137), Grace and Free Will 7 (PL 44, 886), The Perfection of Man’s Righteousness 4 (9) (PL 44, 295 f.), Unfinished Work Against Julian 1. 86, 93, 3. 120 (PL 45, 1105, 1110, 1298).
30 ‘words which we cited a short while ago from his work Rebuke and Grace‘, i.e., Rebuke and Grace 14 (PL 44, 924), quoted by Bucer on p. 405 of the Commentary an Romans (1562 edition).
31See n. 15 above.
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