quarta-feira, 23 de maio de 2012

UM DESABAFO E ESCLARECIMENTO SOBRE SALÁRIO, PREBENDA, CÔNGRUA (ESMOLA), REMUNERAÇÃO - CHAMEM DO QUE QUISER:

Falo Como Pastor Presbiteriano (IPB), mas não falo pelos Pastores da IPB e nem por minha denominação.

Sou Pastor há 23 anos, todos em tempo e consagração integral. Isto é, não divido meus afazeres, dons, talentos e potencialidades e tempo com nenhuma outra atividade a não ser o exercício do Pastorado. Consagro todo o meu tempo integralmente ao Pastorado. Com poucas e tristes exceções, sempre fui tratado com honra e dignidade.

Sou Pastor porque sinto que Deus me chamou para essa tarefa. Podia ser advogado, professor e trabalhar na área comercial de qualquer empresa. Aliás, foi o que fiz até meus 30 anos quando ingressei no STPJMC. Sempre fui muitíssimo bem remunerado. É que, imaturo, por motivos e razões que prefiro não expor aqui, gastava mais do que ganhava.


Não sou Pastor porque me faltam habilidades para ganhar salário, remuneração (ou chamem do que quiser). Não sou aquele tipo de pessoa que tentou de tudo e não tendo dado certo em nada, resolveu ser Pastor. É triste dizer isso, mas eu conheço alguns que vestem essa carapuça. Se fosse por isso eu não seria nem advogado, nem professor, nem palestrante em encontros motivacionais, nem trabalharia na área em que tenho mais conhecimento que é a área comercial;
eu teria seguido a carreira como cantor, interprete de peças musicais, na condição de barítono. Não me faltaram oportunidades, nem no âmbito secular assim como também no mercado fonográfico "evangélico".

Dedico todo meu tempo ao rebanho (I Pedro 5.1-4) colocado sob meus cuidados. Não bato cartão, não assino ponto de entrada e saída, não tenho horário fixo no gabinete pastoral,
mas trabalho com extremada dedicação a maior parte do meu tempo. Levanto cedo por um hábito e sou notívago (gente que dorme tarde) por outro hábito. Minha esposa diz que não viverei muito tempo se continuar madrugando e levantando cedo.

Já estou ficando meio "deprimido" porque tenho 57 anos e por amar tanto o Pastorado, (apesar das múlplices e multiformes agruras), daqui 13 anos penduro as chuteiras se Deus em sua graça me conduzir até lá (A IPB aposenta compulsóriamente os Pastores no dia do seu 70º aniversário. É um presente que a IPB dá ao Pastor que chega aos 70 anos de idade. Paradoxal, não) .


Mas não deixarei de cantar e pregar. Ninguém precisa ser Pastor para fazer isso.


Não sou um Pastor visitador
, mas não deixo ovelha nenhuma que necessite de acompanhamento, sem assistência. Nisso incluo, idosos, hospitalizados, órfãos, viúvos e viúvas e também novos membros. Posso dizer que se houver necessidade estou disposto a varar noites em claro ao lado de uma ovelha que demande cuidados.

Tento fazer o máximo e o melhor,
mas a demanda é sempre grande e por isso, por mais que me esforce, sempre alguém é deixado sem a assistência devida. E também há, entre nossas ovelhas, os reclamões de carteirinha. Por mais que você faça, nunca lhes é suficiente. Penso que deveríamos ser um maior número de Igrejas com um menor número de membros. Igrejas com 400, 500, 1000 membros torna o relacionamento do Pastor com as ovelhas muito impessoal e distante.

Não desligo meu celular no meu dia de "folga". Lamentaria muito saber que uma ovelha minha tenha realmente necessitado de meus cuidados e eu não fui contactado. Se for o caso, trabalho no dia de minha "folga" e "folgo" outro dia.  Se você é um dos que desliga;
respeito seu ponto de vista. Espero que você faça o mesmo com o meu ponto de vista. Deus é quem nos julgará. Sejamos amigos e irmãos.

Se tiver que entrar em uma boca de fumo para resgatar minha ovelha, eu entro.  Se tiver que ir a uma delegacia para assistir uma família em conflito pelo aprisionamento de algum dos seus eu vou. Se tiver que fazer vigília e companhia para uma ovelha enferma no hospital eu faço.


Se tiver que estudar 15, 16, 20, 25 horas preparando um bom sermão que alimente e desafie minha ovelha a ter uma vida mais digna e honrada na presença de Deus eu gasto esse tempo (e só me levanto quando estiver convencido que aquilo que eu vou dizer está alinhado com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra).


Se tiver que escrever Pastorais, em vez de ficar copiando (crtl c, crtl v) de livros e da internet, eu escrevo sempre em oração (quem me conhece sabe que é assim), mesmo porque Deus me deu facilidade nessa área,
e quem não tem essa facilidade tem que buscar se desenvolver. Se tiver que aconselhar casais e chorar com eles eu aconselho e choro. Se tiver que fazer aconselhamento pré-nupcial eu faço;

Se tiver que ir às reuniões das Sociedades Internas e Departamentos da Igreja eu vou (na verdade tenho mesmo que ir). Se tiver que trafegar entre os jovens e adultos eu o faço com a mesma solicitude e disposição. Se tiver que ir na casa do rico e do pobre eu o faço sem levar em consideração o patrimônio, as coisas, mas sim as pessoas.


Se eu tiver que ensaiar  4, 5 horas à exaustão (quem me conhece sabe que faço isso) para cantar uma música no afã de abençoar minha ovelhas com meu talento eu faço isso, e muito, muito mais....
eu faço e farei.

Como se vê tem sobrado pouco tempo para mim, para minha esposa (os filhos já se casaram e não estão mais conosco, mas sofreram demais e pela graça de Deus são servos e servas de Deus). Não tenho tempo para fazer mais nada e às vezes o sono dura chegar. Tenho derramado lágrimas em ver as ovelhas colocadas sob meus cuidados passarem determinadas situações e eu não ter uma
varinha de condão ou não ser tão "milagreiro" quanto alguns "tele-evangelistas" são para ajudá-las a não ser cair de joelhos e orar por elas.

Tudo isso, e muito mais, toma meu tempo todo. Certo dia uma amiga de minha filha Fernanda, perguntou a ela:
- Seu pai é só Pastor ou trabalha em quê? Ela riu e respondeu: - Meu Pai se dedica tanto ao Pastorado que não tem tempo nem para trabalhar. Riu, é claro, da ignorância de sua amiga, porque ela, sua mãe, irmã e irmãos, seus cunhados e cunhadas, sobrinhos, sabem como eu levo a sério o que faço, mesmo porque sei a quem irei dar contas.

Já que não tenho tempo para mais "
trabalhar", por conta de que o Pastorado toma todo o meu tempo, peço por favor que não me deixem morrer de fome, não me deixem sem roupas, não me deixem sem moradia, não me deixem sem o mínimo de conforto e de dignidade.

Não quero morar em uma mansão, não preciso comer manjares, nem me vestir de linho fíníssimo ou viver regaladamente, não preciso andar de BMW, Corola, Honda, etc..Aos meus irmãos Pastores que têm carros dessas marcas, aproveitem. Se vocês podem, amém. Não lhes invejo. Tenho um Logan, comprado com o suor daquilo que muitos
não chamam trabalho. Sim porque se acham que eu não deveria ser remunerado é porque pensam que Pastorado não é trabalho o que é um enorme absurdo. 

Eu só quero viver com dignidade
. Eu só quero dignidade para poder pagar minhas contas. E hoje eu gasto menos do que ganho.

Eu só quero dignidade
para poder levar minha esposa para passear, porque afinal de contas o vocacionado sou eu e não ela. Afinal de contas meus filhos não são vocacionados. Eles só deram o "azar" de serem filhos de Pastor (estou sendo irônico, eu admito).

Ah! os membros podem ir ao cinema, ao teatro, viajar em férias, mas o Pastor não.
Se ele quiser que trabalhe. Essas coisas são para humanos normais (mais uma vez estou sendo irônico). O membro comum, o humano normal pode crescer em sua carreira profissional e como resultado auferir melhores remunerações, mas esse Pastor aqui, já foi Presidente (e é atualmente) de Presbitério e de Sínodo, Segundo Secretário (aquele sortudo que faz as atas dos Concílios), mas mesmo que tenha chegado até esses honrosos status, ele não recebe melhores ganhos e remunerações. O que ele faz mesmo é enfrentar a dura situação da "mais valia". O que lhe cabe é mais por fazer e nada mais receber em troca, a não ser confiar que o Deus de toda providência lhe dará saúde para desempenhar bem esses variados papéis.

Eu só quero dignidade
para poder ir a um restaurante bom com minha esposa e filhos em uma ocasião especial e comemorativa e poder ajudar pagar a conta. E não é que um certo Presbítero motejou de mim por ter me encontrado em um restaurante com meus filhos, em uma disfaçada ação de crítica? Ele podia estar ali com sua esposa e filhos. Eu não. Bem afinal das contas ele tinha uma faculdade. Ele nem se deu conta de que esse Pastor ignorante tem três faculdades e um curso de pós-graduação. A esposa e os filhos dele podiam desfrutar de um restaurante e não ter que lavar louça de domingo, mas a minha esposa e filhos além de terem que me acompanhar em minhas atividades na Igreja ainda tinham que incluir isso tudo em sua agenda de domingo. Mas que falta de carinho e de amor por seu Pastor. Já que ele era tão importante deveria ter pagado a minha conta. Mas ele saiu e de fininho e nem se despediu de mim e de minha família. Lindo papel de cristão!

Um recado aos tolinhos que vivem dizendo que o Pastor deve viver pela fé. Sim eu vivo pela fé. 
Mas vivo pela fé que eu tenho em Deus e não a fé que eles têm, porque se depender da fé que eles têm eu vivo como um mendigo e de favores.

Eu ainda tive que viver a triste experiência de ser criticado por conta do salário que eu ganhava, mas pasmem vocês que leêm meu desabafo;
esses que assim agiam não eram e nunca foram dizimistas fiéis. Nem ofertantes eles eram....só críticos.

Eu só quero dignidade.....
isso mesmo, aquilo que podemos chamar de salário, remuneração, côngrua (esmola), prebenda. Chame do que você quiser. Eu chamo de dignidade.

Um forte abraço.


Maurão

Um comentário:

  1. Caros amigos, este aí é um pastor de verdade, pois nossas igrejas estão cheias de profissionais de púlpito, que vão ao seminário para ter um emprego garantido. Ev. José Bezerra

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