sexta-feira, 28 de outubro de 2016

A graça preveniente está na Bíblia?


Por Joseph M. Gleason 

A doutrina do pecado original leva a uma das duas conclusões: a soberania de Deus na salvação, ou uma versão arminiana da graça preveniente. Ambos calvinistas e arminianos dizem que eles acreditam no pecado original. Adão era o pai da raça humana, e quando ele pecou, seu pecado foi imputado a todos os seus filhos, incluindo você e eu. Adão morreu espiritualmente, e todos os homens já entram no mundo mortos em pecados, sem justiça qualquer, e sem sede por Deus. 

Para os calvinistas, a conclusão é simples. Antes de nós podermos nos tornar crentes, o coração de pedra deve ser trocado por um coração de carne (Ez 36.28). Até que Deus opere a regeneração no coração de uma pessoa, a fé em Cristo para a salvação é impossível (Jo 6.44). Mas após Deus regenerar o coração, uma pessoa certamente virá a Cristo e será salva (Jo 6.37). Se mortos em pecado ou vivos para Cristo, nós devemos escolher de acordo com nossa natureza. 

Os arminianos, entretanto, não aceitam a doutrina da eleição. Eles não acreditam que Deus é soberano na salvação das pessoas. Portanto, eles não seguem a doutrina do pecado original a uma conclusão calvinista. Eles ignoram as escrituras que falam sobre o controle soberano de Deus em quem ele salvará, e quem ele não salvará. Em vez disso, para preencher a lacuna, eles postulam a doutrina da graça preveniente, a qual eu espero mostrar ser sem fundamento bíblico. 

A palavra “preveniente” significa “vir antes, precedendo, ou antecedendo.” De acordo com o wesleyanismo/arminianismo, a graça preveniente de Deus neutraliza o nosso total estado de morte em pecado, mas não totalmente nos regenera. De acordo com os arminianos, Deus nos desperta ainda em nosso estado não regenerado, de modo que todos os pecadores têm uma real “chance” de se voltarem para Deus para salvação. Mas a graça preveniente arminiana não garante salvação. De acordo com os arminianos, Deus dá a graça preveniente para todos, esperando que alguns responderão e serão salvos, mas sabendo que a maioria escolherá retornar para a morte espiritual. 

A doutrina arminiana da graça preveniente se encaixa dentro do seu esquema total de teologia e permite manter a doutrina do pecado original e ainda rejeita a soberania de Deus na salvação, portanto rejeitando a eleição incondicional também. 

Mas o maior problema com a graça preveniente arminiana é que não há claro suporte bíblico para ela. Nenhuma vez a escritura fala de graça preveniente que possibilita salvação sem também garantir salvação. A doutrina parece boa para os arminianos, mas não pode ser encontrada em nenhum lugar da Bíblia. 

Uma das razões-chave pela qual a graça preveniente soa tão bem às pessoas é porque ela implica o desejo de Deus por cada pessoa para ser salva. Mas a Bíblia ensina que este é realmente o desejo de Deus? Se nós pudermos mostrar claramente na escritura que Deus “não” deseja a salvação de todas as pessoas, então nós teremos êxito no enfraquecimento da doutrina não-bíblica da graça preveniente. Primeiro, vamos dar uma olhada no livro de Mateus : 

Graça preveniente refutada e Mateus 11 

Mateus 11: 

21 - Ai de ti, Corazin! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em vós se operaram, há muito elas se teriam arrependido em cilício e em cinza. 22 - Contudo, eu vos digo que para Tiro e Sidom haverá menos rigor, no dia do juízo, do que para vós. 23 - E tu, Cafarnaum, porventura serás elevada até o céu? até o hades descerás; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. 24 - Contudo, eu vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para ti. 25 - Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. 26 - Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. 27 - Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece plenamente o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece plenamente o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 

Note que Deus na verdade previu que o povo de Tiro e Sidom “teriam se arrependido”. (Aparentemente o povo em Sodoma teria se arrependido também). Eles foram cegados por satanás (2 Co 4.3,4), mas Deus sabia com certeza que eles se arrependeriam se simplesmente Ele enviasse milagres. 

E ainda, qual foi a resposta de Deus ao seu pre-conhecimento sobre estas pessoas? Ele os predestinou para salvação? Ele respondeu à fé prevista enviando milagres de modo que eles se arrependeriam e seriam salvos? De modo nenhum! 

A doutrina da graça preveniente sugere que Deus realmente quer que todas as pessoas recebam a salvação, e que ele está realmente “fazendo tudo que possa” para conseguir isto. Os arminianos sugerem que Deus lamenta por todas as almas perdidas, e que ele envia sua graça preveniente para todos eles, esperando que alguns deles responderão. Mas o Deus da Bíblia é muito diferente desse! Aqui nós vemos em Mateus 11 que Deus “sabia” o que levaria muitas pessoas a se arrependerem e serem salvas e não obstante se recusou. Isso não soa como Deus “está fazendo tudo que pode” para mim. E isso certamente não augura nada de bom para a doutrina do homem centrado da graça preveniente. 

“Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece.” (Rm 9.18) 

“Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?” (Rm 9.21) 

Graça preveniente refutada em Marcos 4 

Agora vamos dar uma olhada na razão de Cristo para o ensino em parábolas, e nós veremos a contradição direta à graça preveniente na Bíblia. 

Marcos 4: 

11 - E ele lhes disse: A vós é confiado o mistério do reino de Deus, mas aos de fora tudo se lhes diz por parábolas; 12 - para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e sejam perdoados. 

Note que esta passagem particular está falando sobre conversão, e o perdão dos pecados. 

E note que Jesus não quer que algumas pessoas sejam convertidas; Ele não quer que eles tenham seus pecados perdoados. Ele prevê que eles teriam fé se eles verdadeiramente entendessem a sua mensagem, mas ele explicitamente diz que ele usa parábolas de modo que eles não entendam. Novamente, Deus não responde à fé prevista. 

Observe que Marcos 4.11,12 na verdade demonstra o “oposto” da graça preveniente. Isso é mais como um exemplo do divino “endurecimento preveniente”. Considere esta comparação: 

• Arminianos pensam que Deus quer que tantas pessoas quanto possível se arrependam e sejam salvas, e que ele dá a todas as pessoas a graça preveniente para possibilitar a salvação de todas as pessoas. 

• Mas Marcos 4.11,12 nos ensina que Deus sabia sobre algumas pessoas que se arrependeriam e seriam salvas, e então Jesus falou em parábolas para certificar-se de que isso não aconteceria! Jesus absteve-se de falar para eles claramente, “para que vendo, vejam, e não percebam; e ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam e sejam perdoados.” 

As duas afirmações acima estão completamente em oposição uma a outra. A graça preveniente arminiana é uma doutrina que diretamente contradiz as escrituras. 

Conclusão 

Em Mateus 11.21-27, nós podemos ver que Deus às vezes retém coisas das pessoas, mesmo quando ele sabe que aquelas coisas teriam trazido arrependimento para elas. Estas ações de Deus não ressoam em tudo como as ações de alguém que deseja possibilitar a salvação de todos. 

Em Marcos 4.11,12 nós podemos ver que Jesus intencionalmente falou em parábolas, em vez de linguagem clara, de modo que muitas pessoas não entenderiam, se arrependeriam, e seriam perdoadas. Isto é claramente o oposto da graça preveniente arminiana. 

Muitas outras passagens poderiam facilmente ser tratadas. Mas as duas acima são bastante efetivas, em que elas oferecem evidência que diretamente contraria a ideia da graça preveniente arminiana. 

Os arminianos as vezes admitem que não há uma passagem em nenhum lugar da Bíblia explicitamente ensinando a graça preveniente. Porém, há um punhado de passagens que os arminianos usam, tentando sustentar a ideia da graça preveniente. Para uma crítica saudável dos argumentos dos arminianos pela graça preveniente, eu recomendo a página 18 do artigo de Thomas Schreiner intitulado, “A escritura ensina a graça preveniente no sentido wesleyano?”. Este artigo compõe um capítulo do livro, Still Sovereign (ainda soberano), editado por Bruce A. Ware e Thomas Schreiner. Seus capítulos neste livro oferece uma excelente refutação da doutrina da graça preveniente arminiana. 

Fonte: Monergism 
Tradução: Francisco Alison Silva Aquino 
Divulgação: Bereianos

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