segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Série - Calvinismo

Depravação Total

Rev. José Roberto de Souza

1. O que é Calvinismo?

Gostaria de fazer uso dos questionamentos e respostas do Rev. Paulo Anglada, os quais podem ser encontrados na introdução do seu livro: Calvinismo As Antigas Doutrinas da Graça. Indaga ele: “O que é calvinismo?  Que sistema doutrinário é este que ficou conhecido pelo nome do grande reformador francês do Séc. XVI? Quais as objeções feitas a ele? Qual a sua história? Faz justiça à revelação bíblica?”
O calvinismo na realidade é a síntese das doutrinas dos reformadores. As confissões de Fé das igrejas: Luterana, Reformada, Presbiteriana, Anglicana, Congregacional e Batistas professam, todas pelo menos nas suas confissões de fé originais, o sistema doutrinário conhecido como calvinismo.
Se faz necessário sabermos disso, porque na maioria das vezes, algumas pessoas associam a doutrina a uma igreja em particular. Por exemplo: A predestinação é doutrina da Igreja Presbiteriana.
O calvinismo na realidade é um sistema doutrinário bem mais amplo, harmônico, sistemático, e consequentemente mais sólido. Ou seja, o calvinismo não está limitado aos cinco pontos que serão expostos durante esta semana, ele vai mais além até porque os cinco pontos estão associados basicamente a questão soteriológica.
Paulo Anglada diz que: “O evangelho, conforme crido e proclamado pelo calvinismo, é o evangelho do Senhor Jesus, do Apóstolo Paulo, de Agostinho, de Lutero, de Calvino, de J. Knox, de J. Edwards, de Spurgeon, de Ryle, de Lloyd Jones, e tantos outros”.

2. Breve Histórico dos Cinco Pontos do Calvinismo

Precisamos começar pela Holanda, no ano de 1610. James Arminius, um professor holandês, acabava de morrer, e seus ensinamentos haviam sido formulados em cinco pontos principais de doutrina pelos seus seguidores – conhecidos como arminianos. Foram aproximadamente quarenta simpatizantes das idéias de Arminius, os quais redigiram uma declaração de fé conhecida como The Remonstrance (A Representação). Até este momento as igrejas da Holanda, assim como as outras igrejas protestantes importantes da Europa, subscreviam a Confissão de Fé Belga e de Heideberg, ambas firmemente baseadas nos ensinamentos da Reforma. Mas os arminianos queriam mudar essa posição e por isso apresentaram seus cinco pontos em forma de objeção – ou protesto – ao Parlamento Holandês. Os cinco pontos do arminianismo eram, de modo geral, os seguintes:
  • Livre arbítrio, ou capacidade humana (Depravação Total);
  • Eleição Condicional (Eleição Incondicional);
  • Redenção Universal, ou Expiação Geral (Expiação limitada);
  • A obra do Espírito Santo na regeneração limitada pela vontade humana (Graça Irresistível);
  • Cair da Graça (Perseverança dos Santos).
Os cinco pontos do arminianismo foram apresentados ao Estado, e um Sínodo Nacional da Igreja foi convocado para se reunir em Dort em 1618, afim de examinar o ensinamento de Arminius à luz das Escrituras. O Sínodo de Dort reuniu-se durante 154 sessões em um período de 7 meses, mais ao seu término não encontrou campo para reconciliar o ponto de vista arminiano com aquele exposto na Palavra de Deus. Reafirmando a posição sustentada pela Reforma, e formulada pelo teólogo francês João Calvino, o Sínodo de Dort formulou seus “Cinco Pontos do Calvinismo” para fazer frente ao sistema arminiano. As vezes esses pontos são colocados em forma de um acróstico baseado na palavra TULIP.

3. Definição do que é Depravação Total

Não podemos negar que de forma quase que generalizada a doutrina da Predestinação é vista com bastante aversão. Ou seja, as pessoas geralmente vêem mais a injustiça por parte de Deus, do que mesmo a sua bondade. Todavia, isto acontece pelo fato dessas mesmas pessoas não conhecerem nada sobre a Depravação Total. São pessoas que tem uma perspectiva deficiente e amena sobre o pecado. Paulo Anglada definindo o que seria a Depravação Total afirma que:
“Em decorrência da queda, o homem ficou totalmente inabilitado espiritualmente. Ou seja, ele não pode, por si mesmo, fazer nada para mudar o seu estado de pecado. A corrupção original impregnou de tal modo toda a natureza humana que alcançou seu espírito, mente, vontade, sentimentos, e o próprio corpo, inabilitando-o a fazer qualquer coisa espiritualmente agradável a Deus”.
Em oposição os arminianos, defendem o livre-arbítrio afirmando que o homem natural tem em si mesmo a capacidade para responder positivamente ao evangelho. Todavia, o Calvinismo prega que o homem está cego para as realidade espirituais, que se tornou escravo do pecado, que está morto espiritualmente. Para os calvinistas, a queda foi realmente uma queda e não um tropeço, ou um escorregão sem maiores conseqüências.” Veja o que pensava Calvino sobre o estado do homem pecador:
“As Escrituras atestam que o homem é escravo do pecado; o que significa que seu espírito é tão estranho à justiça de Deus que não concebe, deseja, nem empreende coisa alguma que não seja má, perversa, iníqua e impura; pois o coração, completamente cheio do veneno do pecado, não pode produzir senão os frutos do pecado.”
As Confissões Reformadas, juntamente com os Catecismos tem também aceito a doutrina da Depravação Total, isto serve para ratificar a doutrina bíblica da Depravação Total. Como o tempo não permite citar todas as Confissões e os Catecismos, vejamos o que diz a C.F.W.:
“Por este pecado (original) eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma. O homem caído em um estado de pecado perdeu totalmente o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso ao bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isto” (Cap. VI, Par. II e Cap. IX, Par III).

4. Definição do que não é Depravação Total

Gostaria de fazer uso das palavras de W. J. Seaton:
“Quando os calvinistas falam em Depravação Total, entretanto, não querem dizer que todo homem é tão mau quanto poderia ser, nem que o homem seja incapaz de reconhecer a vontade de Deus; nem ainda que seja incapaz de fazer o bem para os seus semelhantes, ou até de ser submisso externamente ao Culto de Deus. O que querem dizer é que quando o homem caiu no Jardim do Éden, caiu em sua “totalidade”. A personalidade do homem foi afetada como um todo pela Queda, e o pecado atingiu a todas as faculdades – a vontade, o entendimento, as afeições, etc.”
Uma pessoa não convertida pode ser tão generosa até mesmo a causa cristã, que em muitos casos ela é até denominada de “amigo do evangelho” (algo que eu particularmente não concordo).

  • Base Bíblica da Depravação Total

  • Como resultado da transgressão de Adão, todos os homens são nascidos em pecado e são, por natureza espiritualmente mortos.

  • Adão foi  advertido e a penalidade por causa da desobediência seria imediatamente a morte espiritual, e posteriormente a física.

Gn 2.16: E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente;
Gn 2.17: mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.
  • Adão desobedeceu, e trouxe a morte sobre si mesmo e sobre toda a raça humana (Gn 3.6). De imediato foram afetados (Gn 3.8-10,23,24); tornaram-se incapazes (Gn 3.7,21,15), e afetaram os seus próprios descendentes. Veja o exemplo de Caim e Abel (Gn 4.8). Paulo escrevendo aos Romanos ratifica a gravidade da queda (Rm 5.12).

Gn 3.6: Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.
Gn 3.8-10,23,24: Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? 10  Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. O SENHOR Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida.
Gn 3.7,21,15: Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si. Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
Gn 4.8: Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estando eles no campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou.
Rm 5.12: Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.
  • Davi confessou que tanto ele, como os demais homens, já nasceram em pecado.

Sl 51.5: Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe.
Sl 58.3: Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras.
  • Como resultado da queda, os homens estão cegos e surdos para a verdade espiritual (a mente humana está entretecida pelo pecado; seus corações são corruptos e malignos).

Gn 8.21: ...porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade”.
Ec 9.3: ...o coração dos homens está cheio de maldade, nele há desvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos.”
Jo 3.19: O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.
Rm 8.7-8: Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus.
Ef 4.17-18: Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração;
Aqui inevitavelmente surge algumas indagações: Podem os CEGOS dar-se visão, ou os SURDOS audição?
  • Os pecadores são escravos do pecado.

Jo 8.34: Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado.
Rm 6.20: Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça.
Tt 3.3: Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros.
Neste caso o homem não é pecador porque peca, mas ele peca porque ele é pecador.
  • O domínio do pecado é universal. Não há um justo sequer.

Sl 130.3: Se observares, SENHOR, iniqüidades, quem, Senhor, subsistirá?
Sl 143.2: Não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente.
Pv 20.9: Quem pode dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado?
Ec 7.20: Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.
Is 64.6: Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam.
Rm 3.9-12: Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
I  Jo 1.8: Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós .
Aqui mais uma vez surge uma indagação: poderá um dia este homem que é dominado pelo pecado, chegar a presença de Deus e afirmar: “Senhor eu queria que o Senhor soubesse que eu estou aqui por causa do meu livre-arbítrio.”
  • Os homens são incapazes, por si mesmos, de se arrepender, de crer no evangelho.

Jó 14.4:  Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém!
Jr 13.23: Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal.
Jo 6.44;65: Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
Jo 6.65: E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido.
I Co 2.14: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
Rm 8.23: Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus.
Por  melhor que seja a sua proposta para um MORTO, ele vai continuar MORTO.

Conclusão

A Queda, segundo os arminianos, produziu escoriações e ferimentos espirituais sérios no homem, deixou-o ferido, ao ponto de precisar ser levado para o hospital. Quem sabe, até se lhe quebraram alguns ossos e alguns de seus órgãos espirituais importantes foram afetados. Não obstante, na verdade, para os arminianos, a queda não passou de um acidente; Para os calvinistas, entretanto, a queda não foi um acidente; foi uma tragédia tão grave que inutilizou espiritualmente o homem. Mais que isso, foi uma precipitação em um abismo tão profundo, que resultou em nada menos que a morte. O homem espatifou-se espiritualmente; suas entranhas espirituais se despedaçaram, morrendo instantaneamente. A diferença entre um ferido e um morto não é apenas questão de ênfase! (Anglada, As Antigas Doutrinas da Graça, p.9).

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