segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Série - Calvinismo

Eleição Incondicional

Duane Edward Spencer

O segundo dos Cinco Pontos do Calvinismo é, também facilmente lembrado porque começa com a letra U que é a segunda letra do acróstico que forma a palavra TULIP. U é a primeira letra da palavra inglesa unconditional (= incondicio­nal). A doutrina da Eleição Incondicional é afirmada também na Baptist Confession of Faith (Confissão de Fé Batista) de 1689 em termos quase idênticos aos da Confissão de Fé Westminster e dos termos dos Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, como também dos termos da Confissão Belga, da Confissão de Heidelberg e dos Cânones de Dort. Eis os termos:
“Antes da fundação do mundo, e de acordo com seu eterno e imutável propósito, de seu secreto conselho e do bom prazer de sua vontade - movido por sua só livre graça e sem qualquer outra razão que, na criatura, ser­visse de condição para movê-lo a agir assim -, Deus predestinou para a Vida àqueles que escolheu em Cristo para a glória eterna”.
Lembramos que, sobre este ponto, a posição arminiana sus­tenta que o pré-conhecimento [de Deus] está baseado no ato positivo da vontade do homem, como condição ou causa que move Deus a elegê-lo para a salvação. Todas as Grandes Confis­sões, de acordo com os Reformadores Protestantes, declaram que a eleição é incondicional. Em outras palavras, o pré-conhe­cimento de Deus está baseado em seu decreto, plano ou propó­sito que expressa sua vontade, e não num ato previsto de voli­ção positiva da parte do homem. Devemos, portanto, voltar nos­sa atenção para a Escritura, a fim de descobrir se o pré-conheci­mento de Deus está baseado na vontade e propósito do homem, ou na vontade e propósito de Deus mesmo. Paulo afirma:
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo seu propósito. Porquanto aos que de ante­mão conheceu, também os predestinou...” (Rm 8.28-29).
Vemos, na passagem acima, que a eleição está baseada no plano divino (“de acordo com seu propósito”), de modo que o pré-conhecimento de Deus também está fundamentado nesse propósito e resulta dele, e não nas obras do homem que é eleito. É por isso que Paulo afirma:
“E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por causa das obras, mas por aquele que chama)... está escrito: Amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú” (Rm 9.11-13).
Na passagem acima, o Apóstolo declara que a base da elei­ção está em Deus mesmo, ou seja, está na vontade e propósito de Deus, e não no ato de fé ou de alguma outra condição (como diria Arminius) existente na criatura humana, condição tanto para o bem quanto para o mal! A eleição é incondicional. O homem nada pode fazer: para merecê-la!
As Escrituras acentuam que Deus não elege pessoas para serem salvas por causa de algum bem ou de alguma coisa eminente que veja nelas. Ao contrário, Deus se apraz em usar o fraco, o vil e o inútil, de modo a assegurar que somente ele seja glorificado!
“Irmãos, reparai, pois, em vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fra­cas do mundo para envergonhar as fortes, e Deus esco­lheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (1 Co 1.26-29).
Em sua segunda Carta a Timóteo, Paulo reafirma a eleição incondicional, quando escreve:
“... segundo o poder de Deus que nos salvou e nos cha­mou com santa vocação; não segundo nossas obras, mas conforme sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos” (2 Tm 1.8,9).
Mais uma vez nossa chamada ou eleição não é condiciona­da por qualquer coisa que o homem possa fazer para Deus (tal como exercer volição positiva), mas depende exclusivamente do “propósito de Deus”. A eleição é incondicional e em nada, depende das obras do homem. Com relação à afirmação de que o homem nada pode fazer para merecer a escolha de Deus - ­uma vez que sua natureza depravada só é capaz de responder positivamente a Satanás -, Jesus testifica, dizendo:
“Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrá­rio, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis fruto...” (Jo 15.16).
De fato, segundo Paulo, a escolha foi feita por Deus antes que ele tivesse feito qualquer outra coisa:
“... assim como nos escolheu nele [em Cristo] antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele...” (Ef 1.4).
A qualquer um equivale a blasfêmia afirmar que o homem é capaz de, por sua própria “livre vontade”, decidir-se por Cristo, quando o Filho de Deus, que tem autoridade para fazê-lo, diz de maneira inequívoca:
“Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44).
Somente àqueles a quem o Pai considera convenientemente escolher, por sua livre vontade, sem qualquer tipo de condição da parte deles, é dada a fé que os habilita para a salvação. Notemos o claro testemunho de Lucas:
“Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificam a ­palavra do Senhor, e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48).
O Senhor Jesus insiste em que a Vida e a Fé são concedidas como obras de Deus, e não como obras do homem. Diz ele:
“... o Filho vivifica àqueles a quem quer” (Jo 5.21).
“... A obra de Deus é esta, que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6.2.2).
Com toda imparcialidade, o evangelista que diz à multidão:
“E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”,
Deve dizer também antes:
“aquele que o Pai me dá esse virá a mim” (Jo 6.37).
 A quem Jesus não lançará fora? Àquele que vai a ele! E quem vai ao Salvador? Ele responde: “Todo aquele que o Pai me dá!” A decisão de ir a Cristo, portanto, é obra que Deus realiza no homem, e não escolha da “vontade livre” do homem!
Efetivamente, há esplêndida amostra da eleição incondicio­nal dada por Jesus, quando diz aos líderes de Israel:
“... digo-vos que muitas viúvas havia em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou por três anos e seis meses... e a nenhuma delas foi Elias enviado, senão à viúva de Sarepta... Muitos leprosos havia também nos dias de Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Na­amã, o Siro” (Lc 4.25-27; cf. lRs 17.8-24; 2Rs 5.1-17).
Não havia, da parte de Naamã nem da parte da viúva de Sarepta, qualquer condição que pudesse ser descrita como “boa”; contudo, Deus considerou oportuno agir, por sua livre graça, em favor deles, não obstante serem ambos pagãos. Deixou de lado aqueles que estavam ativamente envolvidos com a “observação” da Lei de Moisés, e cobriu de favor imerecido aos que não o conheciam.
Naturalmente, aconteceu o inevitável, quando Jesus tornou público o assunto da eleição incondicional, isto é, o ato da esco­lha da parte de Deus, pela graça e segundo seu propósito, sem qualquer condição de bem da parte do homem. Os ouvintes ten­taram matá-lo e quiseram atirá-lo penhasco abaixo. Homens re­beldes, intratáveis e amargos, em seu estado natural de não-regenerados, odeiam qualquer doutrina que negue ao homem uma parte mínima de sua glória!

Eis um outro exemplo: Quando Jesus terminou seu grande discurso sobre ser ele “o pão que desceu do céu”, ele disse:
“Por causa disto é que vos tenho dito: Ninguém poderá vir a mim, se pelo Pai não lhe for concedido. À vista disso, muitos de seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele” (Jo 6.65-66).
Por quê? Porque o Filho de Deus insistia em que a eleição está baseada na vontade de Deus e não na do homem! Jesus despojou-os de seu ego exaltado, de que alguma condição boa ou favorável deve existir neles, para que Deus os eleja.
Se a eleição dependesse do homem, ele nunca creria, por­que o homem é totalmente depravado e incapaz de fazer aquilo que é bom aos olhos de Deus. Deixado a si mesmo para decidir-se por Cristo, sem que antes a fé lhe seja outorgada por um ato de Deus, o homem nunca irá a Cristo!
“Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.40).
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Fonte: TULIP – Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras, Edições Parakletos, 2º Ed., 2000.

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