Por J.C. Ryle
Auto exame
Nós
vivemos num tempo de peculiar perigo espiritual. Talvez nunca, desde
que o mundo começou, tenha havido uma tal imensidão de profissão de
religião meramente exterior, como existe nos dias atuais. Uma proporção
dolorosamente grande de todas as congregações da terra consiste de
pessoas não convertidas que nada conhecem sobre uma religião do coração e
nunca confessam Cristo nas suas vidas diárias. Milhares daqueles que
estão seguindo pregadores e amontoando-se para ouvir sermões não são
melhores do que címbalos que retinem, sem uma gota de cristianismo
verdadeiro em casa.
As
vidas de muitos crentes professos, receio, não são melhores do que um
trajeto contínuo de embriaguez espiritual. Estão frequentemente sedentos
de novos excitamentos, e parecem pouco se importar com significados e
consequências, contanto que consigam a excitação almejada. Toda pregação
parece ser igual para eles. E são aparentemente incapazes de ver
diferenças, contanto que ouçam o que é talentoso e sintam seus ouvidos
deleitados. Muitos destes professos, ah!, comportam-se como jovens
recrutas que mostram quão pouco profundas são suas raízes e conhecem
pouco seus próprios corações — pelo barulho, exterioridade, prontidão
para contradizer e censurar cristãos antigos e confiança presunçosa em
sua própria imaginária sanidade e sabedoria recente. Certamente, em
tempos como estes há grande necessidade de auto-exame.
Deixe-me
perguntar se você está tentando satisfazer sua consciência com uma
religião meramente formal. Milhares há que estão naufragando neste
rochedo. Como os fariseus de outrora, eles têm em alta conta o
cristianismo exterior, enquanto que a parte interior, espiritual, está
totalmente negligenciada. Eles são cuidadosos em assistir a todos os
trabalhos do seu lugar de adoração e são regulares em usar seus ritos e
ordenanças. Frequentemente eles são vivos partidários da sua própria
igreja ou congregação e estão prontos para brigar com qualquer um que
não concorde com eles. Contudo, o tempo todo, não existe coração em sua
religião. Qualquer um que os conheça intimamente pode ver até de olhos
fechados que sua afeição está colocada nas coisas de baixo, não nas
coisas de cima, e que estão tentando compor a falta de cristianismo
interior com uma ênfase excessiva na forma exterior.
Esta
religião formal não lhes faz bem realmente. Eles não estão
verdadeiramente satisfeitos. Começando pelo lado errado, fazendo
primeiro as coisas exteriores, eles nada conhecem da paz e alegria
interiores, passando suas vidas num constante esforço, secretamente
conscientes de que existe algo errado, embora não saibam porque quando
cristãos professos desta espécie são tão dolorosamente numerosos, a
ninguém causa admiração se eu pressiono sobre eles a suprema importância
de um íntimo auto-exame; se você ama a vida e o Senhor, não se contente
com a casca e o invólucro da religião. Meios de graça e ritos de
religião são úteis a seu modo e Deus raramente faz algo para a Sua
Igreja sem eles. Mas, tenhamos cuidado para não nos chocarmos contra o
mesmo farol que mostra o canal para o porto.
Deixe-me
perguntar: “Você conhece algo, por experiência, de conversão a Deus?”.
Sem conversão não há salvação. Nós somos por natureza tão fracos, tão
mundanos, tão propensos ao que é terreno, tão inclinados ao pecado, que
sem uma profunda mudança não podemos servir a Deus em vida nem
usufruí-lo após a morte. Um senso de pecado e profunda aversão a ele, fé
em Cristo e amor por Ele, deleite na santidade e desejo ardente por
mais santidade, amor ao povo de Deus e aborrecimento das coisas do mundo
— são estes sinais e evidências que sempre acompanham a conversão.
União na Comunhão
Você
conhece alguma coisa do viver a vida de comunhão habitual com Cristo?
Por comunhão eu quero dizer aquele hábito de permanecer em Cristo, do
qual nosso Senhor fala como algo essencial para a fertilidade cristã (Jo
15.4-8). Fica entendido que União com Cristo é uma coisa e Comunhão
é outra. Não pode haver qualquer comunhão com o Senhor Jesus sem
primeiro haver união; infelizmente porém, frequentemente há união mas,
depois, pouca comunhão. União é o privilégio comum de todos quantos
sentem seus pecados e, verdadeiramente se arrependem e vêm a Cristo pela
fé, e são aceitos, perdoados e justificados por Ele. Receia-se que
muitos crentes jamais ultrapassam este estágio. Em parte por ignorância,
em parte por preguiça, em parte por medo dos homens, em parte por um
secreto amor ao mundo, em parte por bloqueio de algum pecado não
mortificado, eles contentam-se com uma fé pequena, uma pequena
esperança, uma pequena paz e uma pequena medida de santidade. E
continuam vivendo suas vidas nestas condições — duvidando, fraquejando,
vacilando e dando frutos apenas “a trinta” até o fim de seus dias.
Comunhão
com Cristo é o privilégio daqueles que estão continuamente procurando
crescer na graça, fé, conhecimento e conformidade à imagem e mente de
Cristo em todas as coisas. União é o botão, mas comunhão é a flor; união
é o bebê, mas comunhão é o homem forte. Aquele que tem união com Cristo
faz bem, mas aquele que goza comunhão com Ele faz muitíssimo melhor.
Ambos têm uma vida, uma esperança, uma semente celestial em seus
corações — um Senhor, um Salvador, um Espírito Santo, um lar eterno,
mas, união não é tão bom quanto comunhão. O grande segredo da comunhão
com Cristo é estar continuamente “vivendo a vida de fé n’Ele” e retirar
d’Ele, cada hora, a provisão que cada hora requer. “Para mim”, diz Paulo, “o viver é Cristo”, “Eu vivo; não mais eu mas, Cristo vive em mim” (Fp 1.21 Gl2.20).
Comunhão
como esta é o segredo de permanente “alegria e paz em crer”, o que
eminentes santos como Bradford e Rutherford possuíram. A comunhão
genuína é o segredo de vitórias esplêndidas que homens como aqueles
tiveram sobre o pecado e o medo da morte. A comunhão com Cristo é uma
coisa comum? Ah! E’ muito rara, realmente! A maioria dos Cristãos parece
satisfeita com a mais pobre e elementar posse da justificação pela fé e
uma dúzia de outras doutrinas, e continuam duvidando, manquejando,
lamentando ao longo do caminho para o céu; e pouco experimentam do senso
de vitória ou júbilo. As igrejas estão cheias de crentes fracos, sem
poder e sem influência, salvos no fim das contas, “como que pelo fogo” porém jamais abalando o mundo e nada sabendo sobre uma “entrada abundante” (1Co 3.15; 29 e 1.11). Em “O Peregrino” os personagens Desânimo, Débil e Muito-Medroso alcançaram a Cidade Celeste, como também Valente Pela-Verdade e Grande-Coração,
mas, certamente, não com a mesma comodidade. Acho que assim é com
muitos em nossos dias. Leitor, em matéria de comunhão com Cristo eu
pergunto: ”como está a sua alma?”
J.C.Ryle
(1816-1900) serviu como bispo de Liverpool, Inglaterra, durante vinte
anos e foi um ávido escritor da teologia Reformada, prática.
Algumas diferenças entre Justificação e Santificação
1. A substância da justificação é a justiça de Cristo. A substância da santificação é a graça de Cristo.
2. Justificação muda nosso estado. Santificação muda coração e vida.
3. Na justificação, a justiça de Cristo é imputada aos crentes. Na santificação a graça de Cristo é infundida neles.
4. A justificação é perfeita. A santificação é imperfeita
5. A justiça da justificação é meritória. A graça da santificação não é
6. A justificação é igual para todos os crentes. A santificação é desigual.
7. A justificação diz respeito a nossas pessoas. A santificação diz respeito a nossas naturezas.
8.
A justificação revela o amor de Deus em nosso perdão e aceitação. A
santificação expressa nosso amor em Seu serviço e na obediência.
9. A justificação liberta os crentes da lei como um pacto. A santificação os prende à lei como uma regra de vida.
10.A justificação jorra principalmente do ofício sacerdotal de Cristo. A santificação jorra principalmente do seu ofício real.
11. A justificação dá aos crentes um título para o céu. A santificação prepara-os para o céu.
12.
A justificação é ato de Deus removendo a culpa e declarando os crentes
justos. A santificação é obra de Deus removendo sua iniquidade e
fazendo-os justos.
13. A justificação estabelece-nos no favor de Deus. A santificação conforma-nos à sua imagem.
14. A justificação é pela graça por meio da fé somente. A santificação é pela graça por meio da fé e boas obras.
15. O sujeito da justificação é uma pecador crente. O sujeito da santificação é um pecador justificado.
Fonte: Os Puritanos
Fonte: Os Puritanos
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