segunda-feira, 28 de novembro de 2011

“Pare de sofrer” é uma frase bíblica


Por Maurício Zágari
Desde o surgimento da igreja neopentecostal, a frase ” Pare de sofrer” causa arrepios em qualquer cristão ortodoxo, que leve a Biblia a sério. Pois nós sabemos que uma igreja que pregue o Cristo que diz “aquele que quiser vir após mim tome sua cruz e siga-me” nunca diria que Jesus promete que você vai “parar de sofrer” nesta vida. Isso porque o Evangelho autêntico não nos promete apenas beneficios, mas sabe que seremos afligidos e exige de nós muitos sacrifícios. Afinal, dar a outra face, andar a segunda milha, orar pelos inimigos e perdoar quem nos faz mal não é pra qualquer um não, são exigências sacrificiais de um Deus que se sacrificou por nós. Diante disso, o que você, que busca a ortodoxia bíblica, falaria se eu dissesse que o lema da mais famosa igreja (?) neopentecostal, “Pare de Sofrer”, é uma frase 100% canônica?
Calma, calma. Antes que você ache que eu aderi a essa “igreja” neopentecostal e agora faço campanhas do óleo santo de Israel ou que frequento “cultos de milagres”, deixe-me explicar. Continuo tão ortodoxo, radical, dogmático e fundamentalista como antes – e, que me perdoem os moderninhos, mas não, esses termos para mim não são palavrões, não me ofendem nem um pouco. Pelo contrário, explicam conceitos teológicos claríssimos e nada antiquados ou ultrapassados que me orgulho de ter em meu cardápio teológico. Ou seja, Ortodoxo: continuo crendo na ortodoxia bíblica; Radical: continuo tendo minhas raízes bem fincadas no terreno sólido da Palavra de Deus; Dogmático: continuo me guiando por dogmas bíblicos como Jesus sendo amor, a existência da Trindade e a pecaminosidade do homem; e Fundamentalista: continuo tendo meus fundamentos cravados na Rocha inabalável que é Jesus de Nazaré. Mas, esta semana, num dos meus momentos de leitura bíblica, percebi que parte da humanidade foi feita de fato para parar de sofrer. Não agora. Não ainda. Mas sim, podemos prometer “pare de sofrer” a todo aquele a quem convidamos mediante a proclamação do Evangelho para uma vida em Jesus. Mas atenção, muita atenção: é uma promessa com hora marcada.
Na verdade, deixe-me fazer uma correção. A humanidade não foi feita para parar de sofrer, foi feita para não sofrer. Adão e Eva desconheciam o sofrimento. Vem o pecado e com ele a dor e suas variações. Herdamos isso. Vivemos isso. Como consequência, somos obrigados a ralar no trabalho, sentimos dores no parto e colhemos espinhos e abrolhos. Ou seja: vamos sofrer. É a vida que nossos antepassados nos legaram, alea jacta est. É quando chega um pregador da Teologia da Prosperidade e diz que esse sofrimento que injetamos em nosso DNA espiritual pode ser anulado em vida. Só que não, lamento informar, não pode. Mas pode ser anulado na morte.
Em Apocalipse 7, a partir do versículo 14, a Bíblia promete o fim do sofrimento para “os que vêm da grande tribulação”: “Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima“. Que linda promessa! Sim, mesmo aqueles que passarem pela maior das tribulações aqui na terra terão seus olhos enxutos pelo Rei dos Reis! Que impressionante! Que bela esperança. Sim, pararão de sofrer… só que na hora certa.
Ainda no livro de Apocalipse, no capítulo 21, versículos 3 e 4, vemos que o “pare de sofrer” é explícito: “Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram“. Parafraseando: “Vamos parar de sofrer quando as primeiras coisas passarem”.
Quando leio essa passagem, tudo o que desejo é me lançar com o rosto no pó e repetir no minimo umas cem mil vezes “obrigado, Senhor”. Se nós, cristãos, refletíssemos com um pouco mais de profundidade acerca do que as Escrituras dizem, nossa segurança ante as agruras da vida seria multiplicada à enésima potência.
O resultado prático da aquisição dessa consciência seria uma Igreja muito menos murmuradora, muito menos lamurienta e que carregaria em si a mesma certeza que os mártires da Igreja primitiva carregavam e que os fazia serem trucidados por feras selvagens ou sofrerem as piores torturas sem gemer: já já vamos parar de sofrer. Um passo após a morte e pronto: toda dor sumirá. Todo choro cessará. Toda aflição se extinguirá.
A todos os justos Jesus concedeu, por exemplo, uma escritura definitiva do que, imagino, será um belo imóvel. Essa é a melhor “campanha da casa própria” que uma igreja pode oferecer aos seus fieis: pregar Jesus. Pois Ele prometeu aos que disser “vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” o seguinte: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E. quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também“. Que promessa magnífica! Que certeza deslumbrante. Sim, a eternidade ao lado do Mestre nos promete a chave da casa própria. Mas é muito importante frisar: depois. Não ainda. Não agora.
Pare de sofrer. Essa promessa me remete a imagens de alegria e gozo. Que é exatamemte o que Ap 19.7 aponta: “Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro“. Ah, que casamento glorioso e indolor será esse! Aleijados, cegos, deprimidos, pobres, cancerosos, pacientes de hemodiálise, fibromiálgicos, aidéticos, torturados, assassinados, abusados sexualmente, espancados, vilipendiados, traídos, amargurados, bipolares, presidiários, desprezados, solitários, mal-amados e todo tipo de sofredor: todos reunidos numa grande celebração onde a única coisa que você não encontrará será justamente… sofrimento.
Sim, paradoxalmente essa é a mesma esperança do joio e do crente em Jesus: parar de sofrer. Só que o joio acredita nas falsas promessas de que o “pare de sofrer” aplica-se ao aqui e agora. Já o verdadeiro cristão sabe que nesta vida que é pura canseira e enfado (Sl 90.10) o que nos espera são dores, aflições e sofrimento, pontuados por momentos felizes. E que o “pare de sofrer” virá. Mas virá somente quando dermos aquele tão misterioso passo além do glorioso momento em que nossos olhos humanos se fecharem para sempre.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Fonte: Apenas
 
Extraído de www.ministeriobbereia.blogspot.com

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