“A minha graça te basta” (2Coríntios 12:9)
“...Filho
meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando
por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo
filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais ( Deus vos trata
como filhos ); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais
sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois
bastardos e não filhos.” (Hebreus 12:5-8)
No
capítulo 12 da segunda carta aos Coríntios, Paulo descreve que em sua
carne fora posto um espinho (não descrito com clareza), pelo qual orou
três vezes a Deus para que ele fosse retirado, porém o que ouviu do
Senhor foi “a minha graça te basta”. O autor do livro de Hebreus 1 discorre acerca da prova do amor de Deus na correção. Mesmo sendo epístolas que buscavam tratar de assuntos diferentes 2 ambas
mostram o tratar de Deus com o homem nas adversidades. Há quem diga que
o sofrimento não é algo que os verdadeiros cristãos passem, mas veremos
que esse tipo de pensamento está em disparidade com o evangelho das
Escrituras.
Imagine
se nenhum dos personagens bíblicos tivessem sido sujeito à provações ou
a certas afrontas e ultrajes. Imagine agora quem seria você se não
tivesse passado por alguma adversidade na vida. Certamente se tais
coisas deixassem de acontecer não conheceríamos nem o pouco que
conhecemos sobre a misericórdia e graça divinas e com toda certeza não
teríamos crescido na fé. E assim confesso que a cada adversidade que
vivo e após seu termino, lembro das outras e me pergunto duas coisas:
onde eu estaria e como eu seria, caso elas não tivessem acontecido em
minha vida. E é interessante porque na mesma medida que perguntas como
essas aparecem lembro-me do paralelo que certa vez pude perceber: Paulo e
Esaú.
Lembrando que Esaú, filho de Isaque e neto de Abraão, foi homem perito em caça, homem do campo (Gn 25:27)
e uma de suas características era ser impulsivo e por isso acabou por
vender a sua primogenitura a seu irmão em troca de uma refeição (pois
havia voltado do campo e se achava bastante fraco e faminto) e em um
momento mais a frente, perde a benção do seu pai. Pela venda de sua
primogenitura Esaú foi considerado por Paulo como um desrespeitador das
coisas sagradas, abdicando de um direito tão impar quanto o de ser peça
importante no plano de Deus. Não, não ache que fugi ao tema, pois se
continuar lendo a história de Esaú verá que ele foi alguém que viveu a
seu bel prazer, ou em outras
palavras, a vida deste homem foi entregue a sua vontade errante de
viver a vida como bem quis. Esaú foi um típico filho bastardo, sem
correção; alguém que simplesmente viveu sem buscar o conhecimento de
quem era Deus e qual a importância disto para Ele.
Olhando
para vida de Paulo, notamos claramente por tudo o que viveu e escreveu
era reflexo de uma vida transformada pela ação divina. Paulo quando
buscou fazer aquilo que bem queria (perseguir os cristãos da época),
Deus o impediu, literalmente derrubou-o do cavalo, o fez cair de seu
ego. E para que Paulo não esquecesse de que dependia totalmente de Deus,
tinha uma dificuldade (espinho na carne, como dito acima)
Existe
uma diferença entre a forma que cada um dos personagens citados agiu.
Enquanto um, atraído pela graça de Deus, foi moldado e aperfeiçoado
outro foi quem ele “desejou” 3 ser.
O mais miserável dos seres humanos é aquele que Deus simplesmente deixou ser o que bem quis ser,
por assim dizer. Ou seja, os que estão sem repreensão, constituem, na
verdade aqueles que são obras da criação de Deus, mas que se apresentam
como filhos bastardos, mas que nesse caso, foram os filhos que não
reconheceram Deus como pai, assim como Esaú desconsiderou a
primogenitura, assim como o rei Saul foi o rei que desejou ser e não que
Deus o ordenou a ser.
Spurgeon em um de seus sermões devocionais sugeriu a pequena “parábola” :
Há um
farol em alto mar: a noite está calma - não posso dizer se sua estrutura
é sólida ou não; a tempestade precisa desabar sobre ele, e só assim
saberei se continuará em pé. Assim é com a obra do Espírito Santo: se
ela não fosse cercada por águas tempestuosas em muitas ocasiões, não
saberíamos que é forte e verdadeira; se os ventos não soprassem sobre
ela, não saberíamos o quanto é firme e segura. As obras-primas de Deus
são aqueles homens que permanecem firmes, inabaláveis, em meio às
dificuldades: "Calmo em meio ao choro transtornado Confiante na vitória."
Em qualquer situação, a graça de Deus nos basta. Se estamos sendo açoitados pelas dificuldades nesse momento é por uma razão, é para o nosso aperfeiçoamento, para o crescimento do cristão.
Soli Deo Gloria
[1] Não se sabe ao certo quem escreveu, porém supõe-se Paulo como um dos mais prováveis.
[2] Em 2ª Coríntios o propósito era Afirmar o ministério do Paulo e defender sua autoridade como apóstolo, assim como refutar aos falsos professores em Corinto. Já no livro de Hebreus, Apresentar a suficiência e a superioridade de Cristo.
[3] Logicamente, desejou viver de acordo com a influência pecaminosa natural e também inerente a todo homem não regenerado.
Felipe Alexandre Medeiros
@felipe_ipb
Fonte: www.ump-da-quarta.blogspot.com/
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