sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Doutor Bíblia Responde:
Pode ou não pode? Sexo entre casados!

Por Marcelo Lemos

São tantas emoçoes”. São tantas as perguntas sobre...

Nunca fui muito dado a palestras sobre sexualidade cristã, seja como espectador, seja como palestrante. Por algum motivo, sinto que elas são, em muitos casos, inapropriadas, e tendem a transmitir aquela ideia de que algum líder religioso tenha a autoridade final sobre o leito do casal cristão. Que o Senhor nos livre desta heresia. Não me entendam errado, não quero com isso dizer que sejam inúteis, mas que sejam improprias, precisam ser melhoradas, moldadas por uma teologia consistente e realmente bíblica.

Apesar disso, nas vezes que fiz, ou só participei, de uma ou outra palestra sobre o assunto, deparei-me com questões curiosas, para dizer o mínimo. “Minha esposa pode me masturbar?”. “Sinto muito desejo quando estou menstruada, mas, é pecado ter relação neste período?”. “Quando estamos no FOGO, gosto que meu marido me chame de 'gostosa', 'tesuda',... é pecado?”. “No dia de tomar a “Ceia”... pode?”. Outras questões são bem mais complexas, evidentemente. Acredito que sexo anal e oral sejam os campeões de perguntas e dúvidas.

I

Antes de qualquer outra coisa adianto: nenhum líder religioso é autoridade sobre o seu leito. De modo que, não tenho a menor pretensão de lhe ensinar o que você vai fazer, ou deixar de fazer, em matéria de sexo. Posso lhe ensinar princípios teológicos que, por si mesmos, abarcam princípios éticos, mas não tenho qualquer lista de 'faça-não-faça', uma vez que a mesma inexiste nas Escrituras Sagradas.

Há algo mais a ser dito logo: a maior autoridade humana sobre o leito do casal é a esposa. Lamento decepcionar, mas não é o seu pastor, ou sua bispa, viu? É sua esposa! Respeitar os limites da esposa é tão importante, que as Escrituras afirmam que não o fazê-lo impede nossas orações:Igualmente vós, maridos, coabitai com ela com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações .” (I Pedro 3.7). Que solene advertência!

Homens e mulheres não são iguais. Quando nos casamos somos excessivamente românticos. Quem nunca se imaginou, por exemplo, o exímio amante que levaria a esposa ao clímax justamente no mesmo momento de alcança-lo juntos, num momento eterno, no melhor estilo de Hollywood ? Mas, na prática, descobrimos, um tanto decepcionados, e ofegantes!, que sexo não é um relógio no qual damos corda, trata-se de algo muito mais complexo, e que exige, não poucas vezes, uma boa dose de improviso, e de criatividade...

Homens e mulheres não são iguais. Cabe a mulher conhecer as limitações do marido, e ao marido, conhecer as limitações da esposa. Há mulheres que roubam de seus maridos o prazer que lhes é de direito, e homens que fazem o mesmo com suas esposas. Há mulheres que exigem demais, e também homens. Sexo é uma parceria, um diálogo, uma aventura, sempre a dois; dois, que são diferentes e, por isso, há de se ouvir o que diz S. Paulo: “O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também, da mesma maneira, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher” (I Cor. 7.3,4).

II

Infelizmente, para muitos cristãos, a sexualidade é algum tipo de força potencialmente destrutora que, não tendo como ser diferente, 'controlamos' por meio do Casamento. Por este prisma, ainda que não se use tais palavras, o casamento é tido como um mal necessário. Temos tantas neuras com o sexo que, em nossas palestras cristãs, gostamos de enfatizar que o sexo, no casamento, é apenas uma parte, talvez importante, mas só uma parte da vida conjugal.

Evidentemente que, em certo sentido, o sexo é apenas uma parte de nossas vidas, até porque ninguém 'transa' 24 horas por dia, nem mesmo todos os dias - dizem que há exceções para esta segunda afirmação (risos)... Assim, penso que estamos diante de um problema de definição. Dito isto, discordo veementemente de quem pensa que sexo é apenas “uma parte” da vida conjugal. Sexo, meus amigos, é tudo; tudo e mais um pouco. Sexo é tudo, inclusive trabalho doméstico. Segurem o riso, vou explicar. Alguns estudiosos afirmam, por exemplo, que nada predispõe tanto a mulher para o sexo que um marido bem dotado... nos deveres domésticos. Maridos que reclamam da falta de 'gás' em suas esposas, talvez devessem experimentar lavar a louça de domingo, ou dar banho nas crianças, etc.

Mas, o que é sexo? Me parece que, antes de qualquer outra coisa, precisamos responder a esta questão aparentemente tão óbvia. O grande problema é que, respondendo a esta questão simples, nos deparamos com outra bem mais complexa: por qual razão Deus criou o sexo? A resposta mais obvia a tais questões é que Deus criou nossa sexualidade como um meio de perpetuarmos a raça humana, como se faz ver em Gênesis: “E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a...” (1.28).

Se paramos aqui, e não investigamos todo o ensino bíblico sobre nossa sexualidade, tendemos a sobrepor a função reprodutora do sexo as suas demais funções, as quais também foram criadas por Deus. O prazer, então, é apenas o meio pelo qual Deus motivou o homem ao ato sexual; primeiro, a reprodução e, coadjuvante, subordinado, o prazer. De certo modo, é algo bem parecido com a visão que os evolucionistas possuem sobre a sexualidade. Os professores da Evolução afirmam que, para convencer os seres a se reproduzirem, a Mãe Natureza criou o prazer. O prazer é um engodo, uma armadilha, como a cenoura pendurada na frente do nariz do burro, convencendo-o a caminhar...

A subordinação do prazer na vida conjugal não é bíblica. Para desfazer este mito basta lermos o Livro de Cantares, por exemplo; ou, voltamos para o texto de I Coríntios 7.3.4. Nesta passagem, que citamos agora apouco, Paulo enfatiza o valor do prazer na vida matrimonial. Um prazer que segundo o apóstolo reside na aventura de desfrutar do corpo de nossos conjugues. Um prazer tão natural, e desejado aos olhos de Deus, que o conjugue que recusa seu corpo ao outro, comete pecado.

Em certo sentido, boa parte dos cristãos olham o “corpo” com alguma desconfiança; provavelmente, este desconfiar do corpo tenha por base alguma exegese manca dos diversos conselhos bíblicos contra a “carne” e suas “obras”. Carne e corpo se transformam, então, numa mesma coisa diante dos olhos do Legalismo religioso. Vem dessa 'exegese' (sic) a ideia de que devemos mortificar nossos corpos, para sermos santos, quando, na verdade, o que deve ser mortificado é nossa carne. Carne e corpo, nas Escrituras, não são sempre a mesma coisa. É preciso entender que a Bíblia usa o termo “carne” para falar dos nossos pecados, pois pecamos, quase sempre, por meio de nossos corpos, usando-o como instrumento da “injustiça” (Romanos 6.13), mas não porque nossos corpos sejam maus por si mesmos. A carne a ser mortificada, portanto, é a nossa natureza pecaminosa, quer se manifeste por meio do corpo, ou não (Rom. 6.19; 7.5,18; 8.1; 8.13; Gal. 3.3; 5.16,17, etc).

III

Aos olhos de Deus, como somos informados pelas Escrituras, o prazer do corpo não é um engodo pelo qual a natureza nos convence do nosso dever de reproduzir, antes, o prazer é uma dádiva de Deus e, portanto, precisa e deve ser desfrutado. Querer, buscar, e sentir prazer, não é pecado, desde que em nosso caminho não violemos as regras elementares da Lei de Deus. Sim, há Leis Divinas que nos falam sobre a sexualidade humana. Por meio delas podemos até listar aquilo que é abominável aos olhos do Senhor.

a) A Bestialidade (Êxodo 22.19).
b) O homossexualismo (Levítico 20.13).
c) A fornicação (I Coríntios 7.9).
d) O adultério (Êxodo 20.14; Deuteronômio 5.18).
e) A pornografia e a lascívia (Mateus 5.27,28).

No entanto, para a surpresa de muitos, a Bíblia não contém uma lista de “faça-não-faça” para os casais cristãos. A proibição bíblica aqui é completamente positiva: não deixar de dar ao outro o que lhe é devido; ou seja, o prazer a dois. Por isso, me é tão custoso saber que boa parte de nossos irmãos vivem sob os mais diversos tabus sobre sua sexualidade.

Com efeito, a Bíblia tem uma visão holística sobre nossa sexualidade. Em nenhum lugar das Escrituras se ensina que sexo tem como função principal a reprodução da espécie. Muito pelo contrário, a Bíblia louva o sexo em detalhes impressionantes, o que pode nos levar a uma reflexão mais profunda, como faremos daqui a pouco:

a) A Bíblia louva o beijo: “ Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho” (Cantares 1.2). “Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano” (4.11).

b) A Bíblia louva a cosmética usada no corpo: “Suave é o aroma dos teus ungüentos...” (Cantares 1.3). “Que belos são os teus amores, minha irmã, esposa minha! Quanto melhor é o teu amor do que o vinho! E o aroma dos teus ungüentos do que o de todas as especiarias!” (4.10)

c) A Bíblia louva a beleza da estética do corpo, e a sensualidade do casal: “Formosas são as tuas faces entre os teus enfeites, o teu pescoço com os colares. Enfeites de ouro te faremos, com incrustações de prata” (Cantares 1.10,11). “Enlevaste-me o coração, minha irmã, minha esposa; enlevaste-me o coração com um dos teus olhares, com um colar do teu pescoço” (4.9).

d) A Bíblia louva o desejo: “Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor” (Cantares 2.5). “O meu amado pós a sua mão pela fresta da porta, e as minhas entranhas estremeceram por amor dele” (5.4). “A sua boca é muitíssimo suave, sim, ele é totalmente desejável” (5.16).

e) A Bíblia louva as carícias: A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace” (Cantares 2.6).

Aqui há, observem, o louvor das Escrituras posto sobre todos os aspetos da nossa sexualidade, desde o desejo que se desperta pela visão, até o desejo que vem à tona por outros sentidos, como o tato, o paladar e o olfato. Sentimos desejos, e sentimos prazer, não porque nosso “corpo” seja uma máquina produzida no Inferno, mas sim, por termos sido criados na prancheta do Deus Triuno.

Podemos, assim, expandir bem mais o nosso conceito de sexo e sexualidade, livrando-a das amarras da mera reprodução. Deus dotou nossos corpos com áreas erógenas - que nos dão prazer; e fez isto, não para brincar conosco, mas para nos deliciar. Sob este prisma, não existe esposa que masturba o esposo, ou marido que faz sexo oral na mulher, nem qualquer coisa deste tipo. Nossa sexualidade é um todo, e cada casal deve aventurar-se por si mesmo, com diálogo, respeito e amor; a semelhança do que é descrito em Cantares de Salomão.

Qual o motivo de rotularmos tudo, como numa banca de feira? Rapidinha, demorada, oral... Não sei o que são estas coisas! Minha e esposa e eu nos amamos, e desfrutamos da nossa sexualidade, vivenciando nosso prazer a dois, do modo mais completo possível, dentro dos limites e das possibilidades que Deus nos concedeu. Temos nossas limitações, e nossas ousadias; e acredito que todo casal tenha as suas. A dois, procuramos não nos importar tanto com rótulos, ou nomenclaturas, para que possamos priorizar a adequação do nosso “ninho” às palavras do poeta inspirado: “ó amor em delícias!” (7.6).

Amor em delícias! Que benção se cada leito cristão pudesse descrever a si mesmo com estas palavras. Que benção se cada casal cristão se dispusesse a desfrutar do prazer sexual, sem os tabus do legalismo religioso. Que benção se pudêssemos parafrasear, sem medo do estigma de heresia, as palavras do esposo, ao deliciar-se no corpo da amada...

“Quão formosos são os teus pés nos sapatos, ó filha do príncipe! Os contornos de tuas coxas são como jóias, trabalhadas por mãos de artista.

O teu umbigo como uma taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre como montão de trigo,cercado de lírios.

Os teus dois seios como dois filhos gêmeos de gazela.

O teu pescoço como a torre de marfim; os teus olhos como as piscinas de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim; o teu nariz como torre do Líbano, que olha para Damasco.

A tua cabeça sobre ti é como o monte Carmelo, e os cabelos da tua cabeça como a púrpura; o rei está preso nas galerias.

Quão formosa, e quão aprazível és, ó amor em delícias!

A tua estatura é semelhante à palmeira; e os teus seios são semelhantes aos cachos de uvas.

Dizia eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos; e então os teus seios serão como os cachos na vide, e o cheiro da tua respiração como o das maçãs” (Cantares 7.1-8).

Que seja assim, um amor em delícias... Que Deus nos conceda esta graça.

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