segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Igreja está cheia de hipócritas?

Por R.C. Sproul

Há 30 anos, meu colega e amigo íntimo Archie Parrish, que naquela época liderava o programa de Evangelismo Explosivo (EE) em Fort Lauderdale, veio até mim com um pedido. Ele percebeu que, nas centenas de visitas evangelísticas feitas pelas equipes do EE, havia um registro das respostas que as pessoas davam nas discussões sobre o Evangelho. Eles coletaram as questões e objeções mais frequentes que as pessoas levantavam sobre a fé cristã, e agrupou essas perguntas ou questionamentos nas 10 mais frequentemente feitas. Dr. Parrish perguntou se eu poderia escrever um livro respondendo a essas objeções, para ser usado em sua missão. Esse esforço resultou no meu livro Objections Answered, agora entitulado Reason to Believe. Entre as 10 objeções mais levantadas estava a objeção de que a igreja está cheia de hipócritas. Naquela época, o Dr. D. James Kennedy a respondeu dizendo: “Bem, sempre há lugar pra mais um”. Ele alertou as pessoas que, caso encontrassem uma igreja perfeita, elas não deveriam congregá-la, pois isso a estragaria.

O termo hipócrita vem do mundo do teatro grego. Era usado para descrever as máscaras que os atores usavam ao dramatizar certos papéis. Ainda hoje, o teatro é simbolizado pelas máscaras gêmeas da comédia e da tragédia. Na antiguidade, certos atores atuavam em mais de um papel, e eles identificavam seu personagem ao segurar uma máscara em frente ao rosto. Essa é a origem do conceito de hipocrisia.

Mas a acusação de que a igreja está cheia de hipócritas é claramente falsa. Embora nenhum cristão alcance a medida perfeita da santificação nesta vida, e que nós todos lutemos com o pecado constantemente, isto não justifica o veredito de hipocrisia. Um hipócrita é alguém que faz coisas que ele afirma não fazer. Observadores externos da igreja cristã veem pessoas que professam ser cristãs e veem que elas pecam. Uma vez que veem o pecado na vida dos cristãos, se apressam em julgar que, portanto, esses cristãos são hipócritas. Se uma pessoa diz não ter pecado e então se mostra pecadora, certamente essa pessoa é hipócrita. Mas o simples fato de um cristão demonstrar que é pecador não o condena como hipócrita.

Essa lógica invertida funciona mais ou menos assim: Todos os hipócritas são pecadores. João é um pecador; portanto, João é um hipócrita. Qualquer pessoa que conheça as leis da lógica sabe que esse silogismo não é válido. Mas se simplesmente mudarmos a acusação de “a igreja está cheia de hipócritas” para “a igreja está cheia de pecadores”, aí seríamos rápidos em nos declarar culpados. A igreja é a única instituição que eu conheço que exige o reconhecimento de ser pecador para alguém tornar-se membro. A igreja está cheia de pecadores porque a igreja é o lugar onde pecadores que confessam seus pecados encontram redenção de seus pecados. Então, neste sentido, simplesmente porque a igreja está cheia de pecadores não se justifica a conclusão de que ela está cheia de hipócritas. Novamente: toda hipocrisia é pecado, mas nem todo pecado é o pecado da hipocrisia.

Quando observamos o problema da hipocrisia na época do Novo Testamento, vemos mais claramente expresso nas vidas daqueles que clamavam ser mais justos. Os fariseus eram um grupo de pessoas que, por definição, se enxergavam como separados da pecaminosidade normal das massas. Eles começaram bem, procurando uma vida de piedade e submissão devotadas à Lei do Senhor. Entretanto, quando seu comportamento falhou em alcançar seus ideais, eles começaram a abraçar o fingimento. Eles fingiam que eram mais justos do que eles eram. Usavam uma fachada externa de justiça, o que servia simplesmente para mascarar a corrupção radical de suas vidas.

Embora a igreja não esteja cheia de hipócritas, não há dúvidas de que a hipocrisia é um pecado que não está limitado ou restrito aos fariseus do Novo Testamento. É um pecado que os cristãos devem combater. Um alto padrão de comportamento reto e espiritual foi proposto para a igreja. Nós frequentemente somos envergonhados por nossas falhas em alcançar esses objetivos altos, e somos inclinados a fingir que alcançamos um ponto mais alto de justiça do que realmente conseguimos. Quando fazemos isso, colocamos a máscara de hipócrita e estamos debaixo do julgamento de Deus sobre esse pecado em particular. Quando nos encontramos enrascados neste tipo de fingimento, um alarme deve tocar em nossas mentes, a fim de que corramos de volta para a cruz e para Cristo, e entendamos onde nossa verdadeira justiça reside. Devemos encontrar em Cristo não uma máscara que esconde nossa face, mas um verdadeiro guarda-roupas, que são a Sua justiça. De fato, é somente debaixo da veste que é a justiça de Cristo, recebida pela fé, que qualquer um de nós pode ter esperança de permanecer diante de um Deus santo. Vestir pela fé os trajes de Cristo não é um ato de hipocrisia. É um ato de redenção.

Fonte: Ipródigo

 

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