No início de meu ministério na Cambuí, em Campinas, uma
pessoa me disse ter mudado há pouco para a cidade e estava frequentando as
igrejas, analisando-as e vendo o que cada uma tinha para lhe oferecer. Como
pastor rodado, conhecedor dos vários tipos de membros de igreja, desejei que
Cambuí não fosse a “agraciada”. Felizmente não foi. As pessoas que se
supervalorizam e desejam que o mundo se encaixe em sua visão não são boas
companhias. Geralmente azedam o ambiente por onde passam, e logo precisam mudar
de ambiente. Não se pode contar com elas para projetos sérios que não tenham
sua grife pessoal. Estão sempre indo ao
shopping de igrejas escolher uma que lhe seja mais agradável.
Nesta mentalidade, “igreja” deixou de ser a comunhão dos
salvos, onde os remidos se reúnem para adorar a Deus e testemunhar de Jesus, e
passou a ser uma prestadora de serviços. A ideia de muitos cristãos é esta: sua
fé em Cristo lhes deu um cartão de crédito sem limites e elas cultivam a
cultura do consumismo espiritual. Não foram salvas para servir a Deus e à
igreja de Cristo, mas para serem agraciadas e servidas. Impressiona-me como as
pessoas se queixam de igrejas! Na realidade, é o culto à vontade própria e a
incapacidade de se relacionar com os outros que gera a maior parte dos
queixumes. Sou reticente quando alguém briga em sua comunidade quer vir para a
comunidade a que sirvo. Em vindo, será que não haverá o transplante de um
problema? Porque pé de espinho é pé de espinho em qualquer canteiro… Não é a
terra que produz espinho, mas a natureza da planta.
O número de servos nas igrejas diminuiu e surgiram coisas
como “adoradores extravagantes”(!). Aliás, muitos querem ser adoradores. Poucos querem ser
servos. Por que, em vez de “adorador extravagante” a pessoa não almeja ser
“servo incondicional”? Poucos querem servir, mas muitos querem ser servidos. Muitos
têm expectativas sobre como a igreja deve servi-los. Deveriam pensar: “Qual é a
expectativa de Deus para minha vida?”. Ou: “O que Deus quer de mim?”. Mas
sempre dizem o querem de Deus. Com isto há um número elevado de evangélicos no
Brasil, mas poucos estão servindo mesmo a Deus. Muitos servem aos seus
interesses. Há massa, mas sem qualidade espiritual.
Para muitos membros, frequência é opcional e a igreja não
tem autoridade sobre eles. A igreja presta serviços, e elas, possuidoras de um
cartão de crédito espiritual, escolhem qual lhes é mais adequada. Assim temos
poucos engajados e muitos clientes. Gente assim se frustra, porque vida cristã
não é isto. Gente assim não descobre a beleza de uma vida comprometida com
Jesus. Prejudica a igreja local porque deixa de ser militante e passa a ser consumidor
desengajado. E prejudica a obra de Deus porque é inútil. Não ajuda o reino.
A obra de Deus necessita de servos, não de clientes. De
gente engajada e não de frequentadores episódicos e sem vínculos. A igreja
precisa de quem a ame e não de quem a use. Ela é o corpo de Cristo na terra, e
já foi bastante maltratada pelo mundo. Não deve ser pelos que dizem ser de
Cristo.
Não vá ao shopping
de igrejas. Vá à arena, lutar pelo evangelho e pelo nome de Jesus. Seja servo e
não dono da igreja. Seja mais um e não “O Cara”. Sua vida será grandemente
beneficiada. Quem encontra seu lugar e serve a Deus ali é uma pessoa realizada.
Não tem tempo nem vontade de se queixar. O reino de também será beneficiado.
Fonte: O Jornal Batista
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