segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Existem Apóstolos Modernos




Por Marcelo Lemos

Como escrevi semana passada, são várias as questões que chegam a nós, sendo que algumas delas acabam se repetindo. Dentre as mais comuns,  estão aquelas referentes a prática do Dizimo – e mesmo depois que publicamos o texto “Sobre a obrigatoriedade do dizimo”, nova versão da mesma dúvida nos foi enviada. Outra classe de perguntas frequentes diz respeito a atualidade dos dons, e hoje, com a Graça de Deus, queremos responder uma delas.

Antes de prosseguirmos, recomendo a leitura dos textos publicados em nossa categoria sobre “Atualidade dos Dons”, nela reúno textos que refletem extratos da minha teologia sobre este tema. E, a fim de auxiliar o leitor a ter uma compreensão mais abrangente do meu pensamento, aconselho em especial o texto “O Batismo com o Espírito Santo”, de minha autoria. O texto é meu, mas não advogo qualquer originalidade no tratamento da questão, de fato, minha teologia carismática recebe forte influencia do Bispo anglicano John Stott, em seu livro “Batismo e Plenitude do Espírito Santo” (altamente recomendado!).

As minhas observações que se seguem são bem especificas, e pretendem responder a algumas questões também específicas que chegam.

Pergunta do leitor: “Existem apóstolos na Igreja de hoje?.

Nominalmente falando, existem. Muitos homens e mulheres, sem se esconderem da luz do dia, advogam para si status “apostólico”. Mas, obviamente, a dúvida dos nossos leitores não se refere ao fato, mas a validade do fato. Em se compreendendo a função do Ministério Apostólico no Novo Testamento, compreende-se também a impostura e a perniciosidade do movimento apostólico atual.

Esta minha convicção nasce da função claramente atribuída por S. Paulo a função apostólica: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Efésios 2.19-20).

A figura a descrever a Igreja é de fácil compreensão: um edifício que vai sendo construído sobre um firme fundamento. Há na figura o estático, o imutável, e o dinâmico, que tanto cresce e evolui, quanto se deteriora e se reforma. O fundamento é o imutável, o que não se altera no tempo. O fundamento é Cristo, a pedra angular, revelado a nós hoje, por meio de seus mensageiros, ontem inspirados pelo Santo Espírito (profetas e apóstolos). Defender a existência de apóstolos atuais, equivale a negar a Escritura (Antigo e Novo Testamento) como único fundamento da fé cristã. A existência de autoproclamados apóstolos atuais, desnuda o desprezo da cristandade atual por um dos pilares da fé reformada, Sola Scriptura.

O edifício místico, a Igreja mesma, não é estático, esta ainda sendo construído, e assim é enquanto houver o homem não-glorificado, pecador. Ao contrário do Fundamento, o edifício não é perfeito, nem imutável; antes, evolui, erra, e carece de Reforma. Como evolui? Pela produção teológica, que nasce da reflexão do Fundamento. Como erra? Afastando-se, em sua reflexão e prática, do Fundamento. Como é capaz de se reformar? Recusando-se a tornar o status co coisa sacrossanta, obrigando-se a autocritica a luz do Fundamento.

Por isso, negue a imutabilidade do Fundamento, torne-o atualizável e passível de evolução, e transforme a fé cristã em algo moldável aos caprichos e as alucinações dos poderosos. Faça isso, e ampute o cristianismo de seu dorso original, relegando-o a um lugar desonroso no Panteão de falsos deuses, que disputam a preferencia da humanidade. Sim, pois o poder fé cristã reside em seu fundamento histórico, sem isso, ela é como outra religião qualquer.

Defender a existência de homens com função apostólica hoje, equivale a dizer que a Bíblia não é suficiente para nossa vida e prática, que ainda precisamos de novas orientações apostólicas, ou seja, carecemos de homens que desfrutam de uma comunhão especial com Deus, com acesso a novas revelações, e sob a autoridade dos quais, devemos nos comportar sem maiores questionamentos.

Conclusões inevitáveis, pois, segundo as Escrituras, a função do apóstolo é servir como “fundamento” da fé, da Igreja. As orientações de Márcio Valadão são fundamentos para a sua fé, e possuem a mesma autoridade da Bíblia? As orientações de Rene Terra nova são fundamentos para a sua fé, e possuem a mesma autoridade de S. Paulo? Se a resposta é afirmativa, então, você tem em tais homens seus apóstolos, mas abre mão da Escritura como sendo sua regra suficiente de fé; se a resposta é negativa, você relega os autoproclamados apóstolos, e se mantem firme no único fundamento: as Escrituras.

Pergunta do Leitor: “S. Paulo era um falso apóstolo?”.

Com a morte de Judas (o traidor), decide a Igreja que se deveria eleger alguém em seu lugar. Na votação que escolheu Matias como substituto, descobrimos algumas credenciais importantes que se exigia do apóstolo: “... é necessário, pois, que, dos homens que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que de entre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da sua ressurreição” (Atos 1.21,22).

1) Cada um dos candidatos deveriam ter convivido com Jesus, desde o dia em que batizou a João, o Batizador. Uma exigência que assegurava que tal homem seria capaz de transmitir as futuras gerações os ensinamentos de Cristo.

2) Cada um dos candidatos deveria ter estado presente no dia da Ressurreição de Cristo, e também no dia de sua Ascensão. Essa exigência assegurava que tal homem seria capaz de servir como testemunho, como diz o texto de Atos, “da sua ressurreição”.

Não por menos, admitir o próprio S. Paulo ser um apóstolo “abortivo”. Todavia, demonstra Paulo em sua defesa, que apesar de sua tardia experiência de vocação, que o exclui do     grupo que andou com Jesus desde o batismo de João, ele possuía todos os requisitos para exercer o ministério de apóstolo: “... que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos. E por derradeiro de todos apareceu também a mim, como a um abortivo. Porque eu sou o menor dos apóstolos...” (I Cor. 15. 4-9).

Nem todos que presenciaram a vida, a morte e a ressurreição do Cristo foram feitos apóstolos; estes, careciam ainda de uma vocação especial, a incumbência de serem transmissores fiéis da Revelação, que é Cristo. Por isso, S. Paulo não apenas demonstrar ser testemunha, ainda que tardia, da Ressurreição do Cristo, como também de ter sido especialmente vocacionado a tarefa de lançar os fundamentos teóricos da fé nascente, como os demais apóstolos: “Mas, faço-vos saber, irmãos, que o Evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Galátas 1.11,12).

De fato, ninguém evangelizou S. Paulo diretamente, mas foi convencido pessoalmente pelo próprio Senhor Jesus, no caminho para Damasco. Até aquele momento, Saulo, seu nome original, estava convicto de que Cristo era um farsante, os relatos correntes de sua ressurreição, mitos, e a fé evangélica, mera superstição. Todavia, o próprio Cristo revelou-se ressuscitado perante ele, transformando sua mente (Atos 9). Depois, durante três anos de isolamento na Arábia, ele recebeu a doutrina que deveria ensinar aos gentios (Galátas 1.15-17), que foi posteriormente validada e autorizada pela Igreja de Jerusalém, sede dos primeiros apóstolos (Galatas 2.9-10).

Não há, portanto, qualquer coisa no Novo Testamento que justifica rejeitarmos S. Paulo como um apóstolo verdadeiro. E sua vocação tardia em nada justifica a consagração de novos apóstolos atualmente, pois o Novo Testamento defende a autoridade de Paulo como uma exceção a regra, de modo que, havendo exceção, não se destrói a regra, antes, a estabelece!

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