O que devemos guardar da Lei?
Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. (Mateus 5:12)
Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas. (Mateus 7:12)
Entretanto, os fariseus, sabendo que ele fizera calar os saduceus, reuniram-se em conselho. E um deles, intérprete da Lei, experimentando-o, lhe perguntou:
Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?
Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas. (Mateus 22:34-40)
Muitas vezes nós achamos que sabemos muito sobre a Bíblia...até o momento em que somos confrontados com algumas perguntas. Qual o maior problema enfrentado pelos apóstolos dentro das igrejas cristãs do século I? Seria a imoralidade sexual? O problema da idolatria? Talvez o desânimo dos fiéis com um Estado hostil e perseguidor da igreja? Nada disso. O grande problema é um assunto pouco estudado nas igrejas do século XXI: qual o lugar da Lei após a vinda do Novo Testamento?
Puxa, mas qual a relevância de se discutir isso em pleno século XXI? Maior do que parece. Há igrejas que dizem que a Lei não tem mais relevância alguma para nós. Porém, muitas dessas mesmas igrejas parecem estar voltando ao Antigo Testamento, celebrando festas judaicas e resgatando práticas cúlticas anteriores a Cristo, com o uso do shofar. Não há concordância também sobre como deve ser o dia-a-dia de uma igreja formada por cristãos de ascendência judaica...ou seriam judeus conversos ao cristianismo? A dúvida já mostra a tensão. E há cristãos defendendo a aplicação até mesmo das penas civis da Lei de Moisés. Isso sem falar na réplica do templo de Salomão que está sendo construída pela Igreja Universal do Reino de Deus.
Cristãos? Ou judeus? |
E aí, como sair desse nó teológico?
A Lei não acabou
A primeira coisa que precisa ser dita é que o Antigo Testamento (resumidos por Jesus como a Lei e os Profetas) não foi revogado por Cristo. Existe uma escola teológica chamada de dispensacionalismo, que ensina exatamente isso. A História seria dividida em diferentes estágios, chamados de dispensações. A dispensação mais nova suplanta a mais velha, de forma tal que as leis e preceitos de uma não se aplicam a outra, a não ser que sejam repetidas.
Por causa disso, os pregadores dispensacionalistas tendem a se concentrar apenas no Novo Testamento, já que o Antigo não tem mais autoridade. A Bíblia deixa de ser vista como uma unidade e é transformada um livro fragmentado, uma colcha de retalhos. Alguns estão na moda, mas outros já são démodé.
No entanto, o próprio Jesus derruba esta forma de enxergar a Bíblia quando Ele diz que não veio revogar a Lei ou os Profetas. A Lei ainda continua válida, embora não da mesma forma que no Antigo Testamento. A graça e a verdade vieram com Cristo, mas a Lei ainda tem um papel a desempenhar: levar os pecadores a Jesus.
De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. (Gálatas 3:24)
Só vai atrás de justificação quem se enxerga como injusto e pecador. Na verdade, o próprio conceito de justificação pressupõe uma Lei que tenha sido quebrada, razão pela qual existem os injustos. Ao revelar aos homens os seus pecados, a Lei é usada por Deus para conduzir os eleitos a Cristo.
Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. (Romanos 3:19-20)
Além disso, o próprio Jesus ensinou que a Lei será o parâmetro usado por Deus no Dia do Juízo:
Não penseis que eu vos acusarei perante o Pai; quem vos acusa é Moisés, em quem tendes firmado a vossa confiança.(João 5:44)
O amor é o cumprimento da Lei
Isso significa que toda a Lei deve ser observada, exatamente como nos dias do Antigo Testamento? Temos que comemorar as festas, seguir o cerimonial, as restrições alimentares e aplicar as leis civis? Não. Embora Lei e Evangelho andem juntos e a Bíblia seja uma unidade, há uma mudança real e profunda entre o Antigo e o Novo Testamento.
Com a chegada de Jesus, tanto os aspectos civis (Lei civil) como os cúlticos (Lei cerimonial) da Lei de Moisés são abolidos. O testemunho bíblico é o de que essas dimensões da Lei eram apenas sombras de uma realidade superior, que se torna evidente com a chegada de Cristo.
Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. (Hebreus 10:1)
Com a chegada dos bens, as suas sombras (Lei) se tornam obsoletas e inúteis. Logo, o que fica da Lei? Fica apenas aquela parte que é o cerne do Antigo Testamento, a qual é escrita no coração dos fiéis:
Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados.
E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo; porquanto, após ter dito: Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei, acrescenta: Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas iniqüidades, para sempre. (Hebreus 10:10-17)
Resumindo, ficam apenas os dois grandes mandamentos ordenados por Jesus Cristo: ame a Deus e ao seu próximo. Se amarmos a Deus com todo o nosso coração e fizermos aos outros seres humanos o mesmo bem que desejamos a nós mesmos...então estamos cumprindo todo o Antigo Testamento. E é apenas com isso que devemos nos preocupar.
"O Bom Samaritano", de George Frederic Watts |
Claro que nem sempre é fácil entender algo que é tão simples. Mas, em caso de dúvida, a essência da Lei e os Profetas é o que os teólogos chamam de lei moral, aquelas normas e princípios que dizem respeito ao caráter, à mente e ao coração. Cristo resumiu essas normas nos dois grandes mandamentos, mas um detalhamento maior deles é dado nos Dez Mandamentos. Os quatro primeiros falam do nosso amor por Deus e os seis últimos sobre como devemos amar ao nosso próximo.
Ao meu ver, todo o resto do Antigo Testamento deveria ser enxergado dentro desta perspectiva dada pelo próprio Jesus. E isso até mesmo na hora de confrontar os pecadores. Não devemos mostrar apenas que mentir ou adulterar é errado, mas também que são pecados que atentam contra a ordem divina de amar. A disciplina e até mesmo a exclusão, por mais duras que sejam, sempre devem ser feitas por amor a Deus (obediência aos Seus mandamentos) e ao próximo (bom exemplo para que os demais não pequem, esperança de que o rigor da punição desvie o pecador do erro).
E o que fazer com a Lei civil e cerimonial? Devemos interpretar essas partes da Lei como símbolos de uma realidade maior, dada pelo Evangelho. Uma realidade onde o culto exterior não conta, porque Deus olha para a adoração que é em espírito e em verdade. Onde a justiça exterior não pode salvar a ninguém, porque Deus busca a verdadeira justiça e obediência, que Cristo escreve pelo Espírito Santo, conforme a predeterminação do Pai, no coração dos filhos de Deus.
Graça e paz do Senhor,
Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro
Este artigo é muito bom e contradiz frontalmente não só os neo-antinomistas dispensacionalistas, como o próprio calvinista Onézio Figueiredo em matéria indicada até pelo pesquisador Gunnar Vingren Lima Ferreira.
ResponderExcluirNo objetivo de justificar a guarda do domingo como cumprimento do 4o. Mandamento (o que não tem fundamento bíblico algum), ele começa MENTINDO! Pois é, diz na introdução de seu longo artigo que tem grande respeito pelos adventistas quando NÃO DEMONSTRA ISSO DE MODO ALGUM ao distorcer grosseiramente o pensamento adventista, colher trechinhos pinçado desonestamente de seu contexto da literatura ASD, e JAMAIS preocupar-se em citar o que OFICIALMENTE os adventistas ensinam, como do documento "Nisto Cremos", dando interpretação particular e corrompida ao pensamento destes cristãos.
Só para terem uma ideia, gasta um tempão dando "golpes no ar" ao alegar que os adventistas ensinam o "sono da alma" quando NÃO É ISSO o que ensinam. Não há nada que prossiga vivo, dormente, na morte. A alma não é um 'algo' que fica dormindo, e sim o próprio homem integral, feito como "alma vivente" e não feito como TENDO uma "alma" imortal (Gên. 2:7).
Sua interpretação de Luc. 16:16 é RIDÍCULA, pois se "a lei e os profetas duraram até João", como explica que depois de João continuou a haver tanto 'lei' (Mat. 19:17; Luc. 23:6; Rom. 3:31) como 'profetas' (os muitos de Atos, 1 Cor. 12, 14, etc.)?
Não dá como analisar todas as distorções e análise falsa desse cidadão aqui, mas ficam só esses pensamentos para verem como o homem não só corrompe a doutrina adventista na sua desonesta análise, como contraria O PRÓPRIO PENSAMENTO PRESBITERIANO, como expresso na 'Confissão de Fé de Westminster', e contradiz o que o próprio G. V. Lima Ferreira expõe, como, por exemplo, ao incompetentemente alegar que Jesus violava o sábado, o que Lima Ferreira chama de "absurdo dos absurdos" na sua matéria em 6 segmentos.
Só isso mostra a confusão babilônica do cavaleiro.