segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

É Importante o Quarto Mandamento Para Hoje?

É Importante o Quarto Mandamento Para Hoje?

Gunnar Vingren Lima Ferreira

Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; Porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou. Êxodos 20:8-11

Introdução

Eis a pergunta que visamos responder em nosso estudo de hoje, ou seja, é importante o Quarto mandamento para hoje? É notório que este mandamento é o mais negligenciado em nossos dias; sem sombra de dúvidas é o que é mais desprezado em nossas reflexões. A massa dita evangélica na sua grande maioria é quase unânime em única coisa, desprezar os Mandamentos do Senhor. O Sábado Cristão, o Domingo, é usado para ir ao shopping center, ao cinema ou passarmos horas assistindo televisão etc.
Por que tudo isso? A razão é simples, nós enfrentamos dois grandes perigos: o primeiro deles é o dispensacionalismo que nega a validade da Lei de Deus para os nossos dias; segundo esse ensino o Antigo Testamento é mofo judaico e a Lei do Senhor é mosaica e não divina (Êx 20.1: “Então falou Deus todas estas palavras...”).
O segundo e não muito melhor que o primeiro é o sabatismo, onde muitos sustentam que o sétimo dia da semana deve ser observado; e aqueles que guardam outro dia que não o sábado tem o sinal da besta.[1]
Como ficamos?  Bem, uma vez que nós não somos nem dispensacionalista (cremos na vigência da Lei do Senhor) e nem sabatista (cremos na mudança do dia, mas com sua obrigação como dever moral para ser observado) o que devemos fazer com o quarto mandamento? A nossa resposta depende primeiramente, de como encaramos esse dois desvios e assim, seguirmos a teologia bíblica do texto para descobrirmos o que este mandamento realmente significa e como ele é aplicado a nós. Mas antes, analisaremos a validade da Lei de Deus e o ensino dispensacionalista.

I) O Ensino Dispensacionalista[2]

O ensino dispensacionalista faz um contraste ou separação entre o Antigo e Novo Testamento, de sorte que, os evangélicos de hoje por conta desse ensino pressupõe mentalmente o seguinte quadro:
Desta forma os crentes são “forçados” a não verem que há unidade cristocêntrica e pactual, assim como, a continuidade e descontinuidade do Antigo e Novo Testamento. O crente dispensacionalista percebe varias dispensações (da inocência, da consciência, do governo humano, da promessa, da lei, da graça e do reino) sendo uma suplantando a outra (Deus de maneiras inconstante mudou sua vontade sete vezes, a respeito do homem). Dessa maneira, há um desmembramento das Escrituras, e uma denúncia impossível de se negar, de que está havendo uma desarmonia entre o Antigo e Novo Testamento. Enquanto aqueles que professam a Fé Reformada veem uma unidade entre os Testamentos:
Enquanto o dispensacionalista Charles C. Cook, afirma:
Que no Velho Testamento não há uma única sentença que se aplique ao cristão como regra de fé e prática – nem um só mandamento que o obrigue, como também não há ali uma única promessa dada a ele em primeira mão, exceto aquilo que está incluído na vasta corrente do plano de redenção, ali ensinado por meio de símbolos e profecias.[3]
A teologia Reformada ao contrário do ensino Dispensacionalista crer como Santo Agostinho (354-430) no século V que “no Antigo Testamento esconde-se o Novo, e no Novo encontra-se a manifestação do Antigo”.[4] Há um evangelho cheio de graça no Antigo Testamento, assim como a Lei graciosa do Senhor como norma aos crentes do Novo Testamento. Berkhof com propriedade diz:
Desde o princípio, as igrejas da Reforma distinguiam entre a Lei e o Evangelho como as duas partes da Palavra de Deus como meio de graça. Não se entendia esta distinção como à que existe entre o Velho Testamento e o Novo, mas era considerada como uma distinção aplicável a ambos os Testamentos. Há Lei e Evangelho no Velho Testamento, e há Lei e Evangelho no Novo. A Lei compreende tudo quanto, na Escritura, é revelação da vontade de Deus na forma de mandado ou proibição, enquanto que o Evangelho abrange tudo, seja no Velho Testamento seja no Novo, que se relaciona com a obra de reconciliação e que proclama o anelante amor redentor de Deus em Cristo Jesus[5] (Ênfase acrescentada).   
No entendimento reformado o Antigo Testamento foi dado “para regra de fé e prática”.[6] Os crentes sob esta dispensação (Gr. Oikonomian[7]) foram salvos e justificados “em todos estes aspectos, uma e a mesma justificação dos crentes sob o Novo Testamento”.[8] O fundamento dessa Teologia Reformada dar-se justamente porque, “não há, pois, dois pactos[9] de graça diferentes em substância mas um e o mesmo sob várias dispensações”.[10]
O Reformador Martinho Lutero (1483-1546) sobre os sacramentos do Antigo Testamento escreveu:
É erro crer que os sacramentos do Novo Testamento diferissem dos sacramentos do Antigo Testamento segundo o poder e significado [a saber, como meios de graça designados por Deus]. [...] Tanto os nossos sinais e sacramentos como os dos pais têm presa a eles uma palavra de promessa que exige fé e não se pode cumprir com nenhuma obra. São, por isso, sinais ou sacramentos de justificação[11] (Ênfase acrescentada).     
O teólogo luterano, Jonh Theodore, conclui dizendo:
Assim, também no Antigo Testamento, o Evangelho e os sacramentos (circuncisão e páscoa) ofereciam e transmitiam aos crentes divina graça e perdão. Em outras palavras, a sua função era precisamente a mesma que é a dos meios da graça instituídos por Cristo no Novo Testamento[12] [santa ceia e batismo] (Ênfase acrescentada).
O Antigo Testamento para o crente reformado é tão novo quanto o Novo Testamento. A ideia de partir as Escrituras ao meio e pressupor o livro da Lei para a dispensação do Antigo Testamento sem a revelação da graça e a dispensação da graça sem nenhuma revelação da Lei não somente é errado, mas no todo antibíblico, pois nunca houve um tempo que a graça não existisse.
Dessa forma, não há dois evangelhos, dois modos distintos de Deus tratar na salvação com judeus e gentios. Também não há o surgimento da igreja como acidente e sua criação apenas no Novo Testamento, como ensina e imagina o sistema dispensacionalista.

________________________
Notas:
[1] “Visto os que guardam os mandamentos de Deus serem assim colocados em contraste com os que adoram a besta e sua imagem, e recebem o seu sinal, é claro que a guarda da lei de Deus, por um lado, e sua violação, por outro, deverão assinalar a distinção entre os adoradores de Deus e os da besta. Enquanto os adoradores de Deus se distinguirão especialmente pelo respeito ao quarto mandamento – dado o fato de ser este o sinal de Seu poder criador, e testemunha de Seu direito à reverência e homenagem do homem – os adoradores da besta salientar-se-ão por seus esforços para derribar o monumento do Criador e exaltar a instituição de Roma... Que é, pois, a mudança do sábado senão o sinal da autoridade da Igreja de Roma ou “o sinal da besta”?... A imposição da guarda do domingo por parte das igrejas protestantes é uma obrigatoriedade do culto ao papado – à besta. Os que, compreendendo as exigências do quarto mandamento, preferem observar o sábado espúrio em lugar do verdadeiro, estão desta maneira a prestar homenagem ao poder pelo qual somente é ele ordenado”. Visto que, o selo estar posto no sétimo dia “O selo da lei de Deus se encontra no quarto mandamento. Unicamente este, entre todos os dez, apresenta não só o nome mas o título do Legislador. Declara ser Ele o Criador dos céus e da Terra, e mostra, assim, o Seu direito à reverência e culto, acima de todos. Afora este preceito, nada há no decálogo para mostrar por que autoridade a lei é dada”(WHITE, Ellen. O Grande Conflito, Versão eletrônica: www.osadventistas.com.br/livros.htm, Págs. 445-452 (acessado em 18/10/10). Para uma refutação Reformada sobre esta Monolatria e Sabadocentria ver o artigo do Reverendo Onezio Figueiredo: www.ebenezer.org.br/Download/Onezio/ADVENTISMO.pdf, Págs. 11,19 (acessado em 18/10/10).
[2] Sobre a corrente dispensacionalista ver: ICI, Thomas. Entendendo o Dispensacionalismo – Interpretação literal e coerente da Bíblia, São Paulo: Actual Edições, 2004. Para um exame critico ver: SANTOS, Valdeci S. As Anotações da Bíblia de Scofield sob uma Ótica Reformada In: Fides Reformata 5/1 (2000).
[3] Apud, BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Ed. Luz Para o Caminho, 1990, Pg. 292.
[4] FERREIRA, Franklin. Agostinho de A a Z. São Paulo: Ed. Vida, 2006, Pg.91(Série Pensadores Cristãos).
[5] BERKHOF, Op. Cit; Pg. 617.
[6] Confissão de Fé de Westminster, São Paulo: Ed. Cultura Cristão, 2001, Cap. 1, Sec. 2. Padrão de Fé das Igrejas Presbiterianas juntamente com os Catecismos Maior e Breve (1646-1648).
[7] Berkhof escreve que “a palavra dispensação (oikonomia), que é um termo bíblico (cf. Lc 16.2-4; 1Co 9.17; Ef 1.10; 3.2,9; Cl 1.25; 1Tm 1.4), aqui é empregado num sentido antibíblico. A referida palavra indica mordomia, uma disposição ou uma administração, mas nunca um período de prova ou de experiência” como é comumente ensinado pelo dispensacionalismo (BERKHOF, Op. Cit; Pg. 291).  
[8] Confissão de Westminster, Op. Cit; Cap. 11, Sec. 6.
[9] Para o entendimento da teologia pactual sob a ótica reformada ler: MEISTER, Mauro. Uma Breve Introdução ao Estudo do Pacto (I) In: FIDES REFORMATA, 3/1(Janeiro – Junho 1998), Págs. 110-123. E sua continuação: Uma Breve Introdução ao Estudo do Pacto (II) In: FIDES REFORMATA, 4/1 (1999).
[10] Confissão de Westminster, Op. Cit; Cap.7, Sec. 6.
[11] Apud, MUELLER, Jonh Theodore. Dogmática Cristã – Um Manual Sistemático dos Ensinos Bíblicos. Porto Alegre: Ed. Concórdia, 2004, Pg. 440.  
[12] MULLER, Op. Cit; Pg. 440.


Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org

2 comentários:

  1. Este artigo resume a série em 6 segmentos do site "Eleitos de Deus" que se tornou inacessível. É uma pena. . . Parece que é necessário se revalidar o site com renovação de assinatura.

    ResponderExcluir
  2. Caso alguém queira o mesmo, posso mandar por e-mail.
    gunnarlima@hotmail.com

    ResponderExcluir