segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

KING - O Homem e o Mito



Na revista Ultimato, de novembro/dezembro de 2000, um articulista escreveu o seguinte, sobre Martin Luther King: “Em 4 de abril de 1968. uma bala assassina silenciou esse profeta de Deus. Contudo. sua vida continua inspirando milhões de homens e mulheres. Martin Luther King Jr. não pode ser esquecido pela geração evangélica deste novo milênio. Que ele nos inspire a desejar mais profetas na igreja. Precisamos de homens e mulheres que não nos deixem acostumados com a ordem natural das coisas. Precisamos de gente cuja voz troveje ira contra a iniquidade e a injustiça, mas que nunca fale sem a ternura de Deus”.

Há décadas, esse é o mito criado ao redor de Martin Luther King: um profeta, um cristão comprometido, um exemplo para as gerações futuras. Não há dúvidas de que ele foi um hábil político, um orador excepcional, um articulador poderoso, um líder de massas e até um provocador de mudanças necessárias. Mas partir desse ponto, “canonizá-lo evangelicamente”, só deliberadamente ignorando alguns fatos que claramente comprometem o seu testemunho cristão. É verdade que a grande mídia estabeleceu a santidade de King a um ponto em que ninguém levanta qualquer questionamento sobre a auréola de pureza idealista criada em torno de sua pessoa. Apresentar a lembrança de suas falhas equivale a suicídio político e é o ápice do politicamente incorreto. Os evangélicos entraram na onda; hoje ele é capitaneado como sendo um líder cristão de primeira estirpe. Uma editora, no campo presbiteriano, chegou a lançar uma coleção de “Heróis da Fé”, na qual sua biografia ocupa um volume inteiro, ao lado de outros volumes dedicados a Martinho Lutero e outros verdadeiros baluartes cristãos.

Oferecemos aqui outro aspecto, geralmente esquecido, sobre Martin Luther King, não para apagar suas conquistas, mas para colocá-lo e posicioná-las dentro do contexto completo. Estas observações abaixo são públicas e estão disponíveis em livros e na internet, para quem quiser se certificar de sua autenticidade.

1. O destaque de Martin Luther King foi evidente na esfera político-social, mas no campo eclesiástico ele não se sobressaiu: nunca teve um pastorado produtivo de uma igreja; nunca trafegou na esfera teológica com pertinência; não deixou legado expositivo da Palavra de Deus.

2. Na esfera acadêmica, King tem sido constantemente acusado de ter plagiado sua tese de doutorado – isso é fato, e não calúnia, para quem quiser verificar. Um dos mais intensos pesquisadores (mas não o único), desse viés de Martin Luther King, foi Theodore Pappas (The Martin Luther King, Jr., Plagiarism Story). Ele prova categórica e comparativamente (com os originais) que King plagiou não apenas a sua tese de doutorado, mas diversos ensaios em vários cursos da Universidade de Boston. Na análise que fez da tese de King, Pappas demonstra a identidade em dúzias de trechos de uma tese de doutorado anterior, da mesma universidade, de autoria de Jack Boozer.

3. No campo matrimonial, infelizmente, ele envolveu-se com outras mulheres, mesmo sendo casado. A sua infidelidade conjugal não foi pontual, mas perene, enquanto se dedicava à causa política que abraçou. Quem comprovou isso, além de outros, foi o próprio Ralph Albernathy, um dos seus companheiros constantes e o seu sucessor à frente da AACP (Association for Advancement of Colored People). No seu livro de 1989, And the Walls Came Tumbling Down, Albernathy, afirma que no próprio dia em que foi assassinado, em um motel, Luther King “participou de uma pequena orgia com duas mulheres”. Teria ainda agredido e abusado de uma terceira.

4. Na esfera teológica ele pode ser classificado como liberal. James H. Cone é um de seus biógrafos, identificando-se com ele tanto pela cor da pele, como no abraçar do liberalismo teológico. Na página 29 do seu livro, além de apontar a grande influência de Paul Tillich na teologia e na vida de King, ele afirma que “King... se firmou no liberalismo teológico que dominava a Universidade de Boston”.

5. Seu maior pronunciamento ("I Have a Dream"), em que pese o anseio e a visão tão patentes por um tempo melhor e mais justo, é ao final, do ponto de vista cristão, um libelo existencialista que não passaria num teste de ortodoxia bíblica (o que não era, obviamente, sua preocupação). Leia esse discurso cuidadosamente e verá, que mesmo empolgante, do ponto de vista social e no contexto em que foi proferido, ele acena para situações inatingíveis na terra e constrói uma visão humanista da sociedade. Na realidade, por mais empolgante que seja o texto e a retórica, deveria ser evidente aos cristãos que King substitui escatologia por utopia.
Em última análise, King virou mito, tanto por seu ativismo político-social, como em função de seu brutal e injustificado assassinato (nenhum assassinato é justificado), por James Earl Ray, e todos passaram a bater palmas à sua memória, criando-se até um feriado específico para ele, nos Estados Unidos. Até aí, tudo bem. Mas, o que espanta, é que o mito é deglutido de forma indolor pelos cristãos que passam a compará-lo com os baluartes da fé. Pouquíssimos levantam a voz para dizer, ou pelo menos pesquisar, como foi o seu caminhar como crente. Quem quiser admirá-lo como expoente político, que o faça – ele merece. Mas, seria ir longe demais colocá-lo como exemplo de cristão.

Solano Portela

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