quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Deus o Centro de nossas vidas: A importância do Primeiro Mandamento para a vida cristã


João Ricardo

Êxodo. 20.3 – “Não terás outros deuses diante de mim.”

Introdução
Estamos vivendo dias em que a lei de Deus tem sido de fato rejeitada. As dez palavras do Sinai tem sido desprezadas pela Igreja da atualidade; a forte ênfase dispensacionalista. Se tem tornado um problema constante para aqueles que desejam de fato encarar a atualidade da lei de Deus. Vimos em nosso último encontro que o prefácio nos fala verdades negligenciadas na vida da Igreja da atualidade.
Hoje nós vamos começar a trabalhar o primeiro mandamento da Lei de Deus. Que trata especificamente de quem é Deus. Aqui neste mandamento Deus deve ser visto como o centro de nossas vidas é nisto que nos concentraremos nesta noite. Aqui nós sumarizaremos os nossos deveres diante deste mandamento e os pecados contra ele.

I – Os Deveres no 1º Mandamento
Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 104.
Os mandamentos começam com uma tônica negativa o termo hebraico é: “Lo” “não” o uso deste advérbio de negação nos ensina que não se trata de uma mera negação, mas é uma negação enfática: “Nunca!” Esta é a força do hebraico; em outras palavras, não trata-se de algo opcional, mas reveste-se de capital importância para cada um de nós aqui nesta noite.
O que é proibido aqui? “yheyeh leka elohim aherim” - o trazer cativos para nós deuses outros. Mas surge-nos uma pergunta: O substantivo elohim não é usado para descrever o Deus criador, então, como aqui o mesmo substantivo é usado para descrever outros “deuses” que não o Criador? A resposta a esta questão está na gramática; pois, quando o termo é usado para “referir-se ao Deus de Israel, este termo usualmente concorda no singular...; quando usado para referir-se a vários deuses, ele concorda no plural”. (WALTKE & O’CONNOR, 2006, p.122) como é o nosso caso aqui.
Quais são os deveres que são exigidos de nós aqui neste mandamento?
1. Conhecer e Reconhecer a Deus
Quando lemos este mandamento nos cercamos da verdade de que Ele dever ser conhecido; ele se revela a nós pecadores, isto já se percebeu no prefácio; quando ele diz que não dever ter outros deuses – no texto hebraico seria “não terás tu” ele individualiza o povo da aliança; outras nações podem até possuir outros deuses, mas o povo redimido não.
A realidade ensinada aqui no mandamento é que apenas Deus deve ser conhecido como de fato Deus; mas não apenas isso, também se requer de cada um de nós é que ele seja reconhecido como nosso Deus. Como isso pode tornar-se uma realidade? Como Deus pode ser Conhecido e Reconhecido como tal. A Bíblia ensina de uma forma surpreendente “Tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai e serve-o de coração íntegro e alma voluntária; porque o SENHOR esquadrinha todos os corações e penetra todos os desígnios do pensamento. Se o buscares, ele deixará achar-se por ti; se o deixares, ele te rejeitará para sempre.” (1 Crônicas 28.9).
1.1 Ele deve ser visto como Deus Único: A súmula disso é que o monoteísmo deve ser afirmado neste mundo o povo da aliança deve apenas crer na existência de um único Deus. Esta é a real concepção que este mandamento nos autoriza. Deus deve ser nosso Deus “Hoje declaraste ao SENHOR que ele te será por Deus, e que andarás nos seus caminhos, e guardarás os seus estatutos, e os seus mandamentos, e os seus juízos, e darás ouvidos à sua voz.” (Dt.26.17 – ACF).
1.2 Ele deve ser contemplado como Deus verdadeiro: Ele é o verdadeiro Deus, quando o mandamento diz que devemos não Ter outros deuses, isto implica dizer que todos são falsos, pois, existe apenas um que é verdadeiramente Deus. A falsidade dar-se também no campo religioso, muitas vezes estamos servindo a um Deus que não é verdadeiro. Este é um aspecto que precisa ser levado em consideração.
2. O Mandamento nos exige o culto e Glorificação a Deus
O primeiro mandamento nos obriga ao culto a Deus observe o que diz o salmo 95:6-7: Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou. Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas de sua mão. Hoje, se ouvirdes a sua voz”. A centralidade de Deus é vista quando diz “não terás outros deuses “diante de minha face” no hebraico é Al-Paney. Algumas verdades se desprendem aqui:
1. Que estamos sempre diante da face de Deus. Não importa se estamos em outro país, cidade ou mesmo região, estamos sempre diante da face de Deus[1]. A nossa vida é para Deus. É para glorificá-lo, este mandamento nos levar a pensar nisso que forma profunda. Por mais que estejamos em outro lugar, estamos diante do soberano do universo.
2. Que Deus é onipresente. Esta é outra verdade que aprendemos com a expressão “Al-Paney” - isto significa que ele sempre está nos vendo em nossas transgressões no que respeita a este mandamento. Disto podemos concluir que este mandamento exige de nós:
A. O Pensar em Deus: Quando o mandamento nos diz que não devemos ter outras divindades diante da face de Deus, está nos obrigando a ocupar a nossa mente, nutrir a nossa mente somente com Deus; Deus deve ser o centro de nossos pensamentos, de nossas palavras e atitudes. “Malaquias 3:16: Então, os que temiam ao SENHOR falavam uns aos outros; o SENHOR atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do seu nome.”
B. Meditar em Deus: “Salmo 63:6: no meu leito, quando de ti me recordo e em ti medito, durante a vigília da noite.” A meditação em Deus é reconhecê-lo como o único centro de nossas vidas, o nosso Sumo Bem.

II – Os Pecados que são proibidos neste Mandamento
Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 105
Este mandamento não apenas nos ordena o que devemos fazer, mas também nos indica o que não devemos fazer. O mandamento condena determinadas atitudes que o homem tem tomado em relação a Deus e a sua revelação na Lei dos Dez Mandamentos. Que pecados são condenados no primeiro mandamento?
1. O Ateísmo: O que é o ateísmo? Não outra coisa senão a negação de Deus. O mandamento não só proíbe o Ter outro deus, mas também nos proíbe de negar o legítimo e verdadeiro Deus. Mas será que estamos insetos desta realidade? A resposta é não. Nós muitas vezes somos ateus; pois, queridos existe dois tipos de ateísmo: O prático e teórico. O ateísmo prático resume-se no fato de que nós tomamos muitas de nossas decisões sem pedir orientação a Deus; sua direção para os nossos empreendimentos é necessária. Mas não é somente isso, o ateísmo prático também se torna evidente em nossas vidas quando não contamos com a sua providência, com o seu cuidado sobre cada um de nós; muitas vezes reclamamos da situação na qual estamos mergulhados, muitas vezes são situações que não nos agradam, mas que Deus planejou para cada um de nós. É pecado contra o mandamento quando ignoramos a oração; quando deixamos de buscar a face de Deus em oração é um sinal de que estamos de fato vivendo como ateus neste mundo. Um texto que nos fala sobre isso é Salmo 14.1 – “o mestre de canto. Salmo de Davi Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação; já não há quem faça o bem”.
2. A Idolatria: Outro pecado que é proibido aqui neste mandamento é a idolatria. Esta consiste na adoração de seres, objetos que não seja Deus; a Bíblia acentua isso de forma clara: “Jeremias 2:27-28:
Que dizem a um pedaço de madeira: Tu és meu pai; e à pedra: Tu me geraste. Pois me viraram as costas e não o rosto; mas, em vindo a angústia, dizem: Levanta-te e livra-nos. Onde, pois, estão os teus deuses, que para ti mesmo fizeste? Eles que se levantem se te podem livrar no tempo da tua angústia; porque os teus deuses, ó Judá, são tantos como as tuas cidades.
A idolatria é algo abominável aos olhos de Deus. A invocação de qualquer ser que não seja Deus é uma flagrante manifestação de rebeldia contra este mandamento.
3. A Ignorância: Quando o homem decide ignorar a Deus; não deseja conhecê-lo. E de que forma isso ocorre? Na rejeição de Sua palavra. Quando não lemos, não ouvimos a pregação, a exposição da Palavra de Deus. Um exemplo está em: “Deveras, o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios e não inteligentes; são sábios para o mal e não sabem fazer o bem.” A igreja hoje peca contra este mandamento porque não busca conhecer este nosso Deus no tempo de Oséias isso era verdadeiro de uma forma acentuada. (veja-se: Oséias 4:1-6):
Ouvi a palavra do SENHOR, vós, filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra, porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus. O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar perecem. Todavia, ninguém contenda, ninguém repreenda; porque o teu povo é como os sacerdotes aos quais acusa. Por isso, tropeçarás de dia, e o profeta contigo tropeçará de noite; e destruirei a tua mãe. O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.
O povo é destruído por causa dos seus líderes que deveriam conhecer a Lei de Deus, mas a ignoram não querem conhecer a Lei de Deus para ensiná-la aos homens. Este é o ponto que percebemos neste texto de Oséias.
4. A Heresia: O primeiro mandamento condena toda e qualquer heresia a respeito da pessoa de Deus e da sua revelação. Isto incluí todas as nossas falsas opiniões sobre Deus e a sua palavra. As falsas concepções estão de fato destruindo a unidade da Igreja de Cristo. No texto de Paulo em Gálatas 5.20 a palavra “facções” no texto grego é “haireseis” ou seja, toda facção religiosa sustenta as mais gritantes heresias e concepções equivocadas a respeito de Deus e de sua palavra.
É pecado contra o primeiro mandamento tem uma falsa doutrina sobre Deus. Qual é a nossa atitude para com aqueles que sustem heresias. Não pode ser outra senão a que nos ordena Paulo em Tito 3.10 “deixa-o”, pois, o herege não tem comunhão com os santos, ou seja, com a Igreja que proclama fielmente a Lei de Deus. Pois, toda falsa doutrina vai gerar desconfiança no crente e cair em desespero e não confiar mais na providência de Deus.

III – O Primeiro Mandamento e a Providência de Deus
A grande verdade aprendida neste mandamento é a providência de Deus. Pois, somos ensinados por Deus aqui que apenas ele, e somente ele de fato cuida de nós. Isto significa que devemos elevar os nossos corações a ele, pois, somente nele encontramos repouso seguro. Pois, não existe outro Deus em quem devemos depositar as nossas orações.
Em sua providência devemos estar fincados, abalizados. É aqui que precisamos ser mais crentes. O mandamento diz que não devemos trazer diante da face de Deus outros deuses. Isto significa que a nossa boa posição não deve ser colocada diante de Deus como se não precisássemos de Deus nesta vida.
Quando se nos diz “diante de minha face” implica em não confiarmos em nossas próprias forças pelo que somos ou pelo que possuímos, e atribuirmos tudo o que temos e somos a nós somente; mas, se nos ensina aqui que apenas Deus e somente ele deve receber a glória em tudo o que temos e somos.
Isto nos impele para outra verdade, é que tudo o que fazemos na escola, no trabalho na faculdade ele está sendo glorificado. Ou seja, em tudo estamos servindo a Deus (1 Co.10.30). Deus está sempre diante de nós; e nós, estamos sempre diante dele, pois, tudo o que fazemos ou deixamos de fazer ele está vendo (Hb. 4.13). Diante disso que aplicações podemos tirar deste mandamento?

1. Que Deus se revelou a nós para ser Conhecido e Reconhecido: não foi do seu agrado ficar escondido, mas quis revelar-se ao homem.
2. Que é nosso dever viver par tê-lo como nosso único e verdadeiro Deus: A revelação de Deus nos conduz para termos o autêntico conhecimento de Deus, então, é nosso dever tê-lo como o centro de nossa vida.
3. Devemos viver com a perspectiva de que sempre estamos diante de Deus: Não importa onde estejamos, pois, ele é o nosso Deus soberano; e a nossa vida visa glorificá-lo. Vivamos uma vida que vise apenas à glória de Deus neste mundo.

Nota:

[1] Teologicamente entende-se esta perspectiva como Coram Deo – diante da face de Deus – para uma introdução a esta perspectiva reformada recomendamos a leitura do belo artigo de OLIVEIRA, Fabiano de Almeida. Philosofando Coram Deo: Uma Apresentação Panorâmica da Vida, Pensamento e Antecedentes Intelectuais de Herman Dooyeweerd In: Fides Reformata XI, Nº2 (2006), p. 73-100. Este artigo também se encontra publicado no site: www.eleitosdedeus.org

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